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Mineiro sovina! – Capítulo XV

Mapa de Minas Gerais.

 

Rodoviária de Sete Lagoas.

 

Laga no perímetro urbano em Sete Lagoas.

 

O encontro de 
 
conciliação.
        Tendo recebido de coronel Onofre o sinal verde para marcar o encontro com Jerônimo, José Silvério telefonou para o colega Estevão, naquela tarde mesmo. Pela manhã tivera um compromisso com uma audiência no forum e não sobrara tempo. Pediu a Roberta para fazer a ligação. Em alguns minutos o aparelho tocou. Ao terceiro toque ele levantou o fone:
            – Fala Roberta.
            – O doutor Estevão está na linha.
            – Deixa comigo agora.
            A conexão foi completada e ouviu-se do outro lado da linha a voz típica do doutor Estevão, um pouco anasalada:
            – Doutor José Silvério?
            – Sim, colega. Sou eu mesmo.
            – Tem boas novas para me dar?
            – Meu cliente concordou em conversar com o seu, mas tem que ser aqui na minha sala. Pode ser?
            – Eu até preferiria um lugar neutro, mas dadas as circunstâncias, não se pode fazer exigências. Aceito. Pode marcar data.
            – Para nós pode ser qualquer dia, menos hoje e amanhã. Que tal semana que vem, na segunda de manhã?
            – Deixe-me ver minha agenda.
            Tapou o bocal do fone e falou para sua secretária verificar a disponibilidade do horário da próxima segunda feira pela manhã. Ela verificou e informou não haver compromisso nesse horário.
            – Pode ser colega. Não tenho compromisso nesse horário. Dessa maneira dá tempo de avisar tranquilamente o meu cliente para evitar contratempos.
            – Combinado, colega. Lhes esperamos aqui na próxima segunda às 10 horas.
            – Eu havia esquecido. O seu Jerônimo pediu para sondar se é possível aliviar a queixa relative ao atentado. Se ele for condenado e ficar preso vai ficar difícil de cumprir os demais compromissos.
            – Quanto a isso não posso falar nada por ora. Vou ter que sondar o coronel. Ele não tem falado mais nada a respeito, já está praticamente recuperado do tiro. Só não posso responder por ele agora.
            – Se fosse possível retirar a queixa ou algo assim, seria mais fácil. O delegado e o juiz estão dispostos a levar ele julgamento. Se tiver uma atenuante, pode ser que consiga o regime de prisão domiciliar. Mesmo que tenha que se apresentar todas as semanas ao juiz ou delegado. Assim ele poderá administrar a propriedade e sair do atoleiro em que se meteu.
            – Um atoleiro sério. Se ele não tivesse inventado a história do atentado, acabava tudo facil, se houver um acordo.
            – Nem adianta ficar conjuturando agora. O que está feito, está feito e pronto. O remédio é minimizer os efeitos.
            – Se o coronel concordar, não tenho nada a opor. A questão é essa. Pelo que conheço do velho ele é um bocado sistemático e quando embirra com uma coisa, custa a mudar de ideia.
            – Vamos ver se conseguimos amaciar ele com um bom acordo. Talvez consigamos selar a paz entre eles e acabar com essa pinimba. Aliás toda ela culpa do meu cliente. O coronel não tem culpa nenhuma. O próprio Jerônimo reconheceu na minha frente.
            – Haveremos de encontrar uma saída para a questão. Depois eles precisam aprender a conviver como bons vizinhos.
            – Assim espero, colega. Dá licença agora. Está chegando um cliente nesse momento. Outra hora nos falamos.
            – Até logo, doutor Estevão.
            Desligaram os aparelhos aoa mesmo tempo. Coincidentemente José Silvério também estava diante de um cliente novo, que entrava no exato momento em que a ligação era desfeita. Mal colocou o fone no gancho e ele tocou, avisando da chegada do cliente. Mandou entrar.   
            A tarde transcorreu entre diversos clientes de causas menores vindo trazer documentos, assinar procurações e outros detalhes necessários. Pouco depois das 5 horas, Roberta lhe trouxe uma pilha de processos em cuja montage final estivera trabalhando. Precisavam de uma conferência final do advogado e aposição de sua assinatura em petições, mandados e outros documentos. Não havia nenhuma outra entrevista marcada para aquela hora. Houve tempo suficiente para conferir meticulosaamaente cada processo, verificando estarem na mais perfeita ordem. À medida que os conferia, assinava onde fosse preciso. Dava graças a Deus por ter convidado Roberta para sua secretária. Era de uma competência inigualável. Sabia a ordem correta dos documentos para facilitar o acesso a eles pelo juiz ao analisar cada um.
            Lembrou de sugerir ao diretor da empresa uma gratificação ou um aumento de salário para a secretária. Fazia por merecer. O esquecimento com relação a essa questão poderia significar a perda de uma funcionáriaa competentíssima. Depois arranjar outra do mesmo nível, seria demorado. Sem contar com o período de adaptação ao serviço, pois, por mais esforçada que fosse, demoraria algum tempo para ficar a par de todas as minúcias do mundo jurídico. Isso é coisa que não se aprende de uma hora para outra.
            Na quinta-feira a tarde, foi surpreendido pelo coronel Onofre ao telefone. Estaria ele na cidade e ligara para saber do andamento das coisas?
            – Boa tarde, coronel. Como tem passado?
            – Tive uma boa surpresa essa semana. Os home da companhia de telefone vieram instalar o dito cujo. Tô le ligando aqui de casa memo.
            – Que beleza. Agora fica tudo mais fácil. Parabéns.
            – Tô inaugurando a linha. Hahahahah!
            – Vamos aproveitar para combinar o encontro com seu vizinho. Marcamos para segunda feira às 10 horas.
            – O home tá com pressa de resolver as pendenga. To gostando de ver.
            – Ele quer colocar a vida em ordem, pelo jeito. Não sei se o senhor vai concordar, mas ele pediu se daria para retirar a queixa do atentado, ou algo assim para aliviar a pena.
            – E essa agora! Ele manda dois capanga atirar em mim, quase me mata e quer que retire a queixa? Acho que ele tem que arcar com as consequência do mal feito.
            – Eu não dei resposta. Sugiro conversar primeiro sobre o acordo da divisa e acertar tudo aí. Depois temos tempo para tratar do resto. Concorda comigo, coronel?
            – Uma boa ideia. Num dianta esquentar a cabeça antes da hora.
            – E Isabel terminou de pintar o quadro para apresentar na exposição?
            – Sei não. Hoje de manhã tava lá no atelier mexendo com suas pintação. Tá que é uma pilha de nervo. Deixou até a Lourdes meia dos casco vir-ado.
            – É a ansiedade pela estreia. Faltam poucos dias. É assim mesmo. Igual estudante em tempo de provas finais ou véspera de concurso.
            – Inté parece muié buchuda em véspera de pari.
            – Acho que a situação é semelhante. O senhor deve saber melhor que eu. Nem sou casado, quanto mais tive mulher gravida, perto de ganhar filho.
            – Nem queira saber. Elas fica um nervo só e a gente que guenta as consequência.
            – É a parte que nos cabe, já que não podemos ser mães.
            – Te esconjuro, home! Eu lá ia quere ter filho? Isso é coisa das muié.
            – Dê lembranças a dona Lourdes e Isabel, coronel. Está na hora de voltar para casa. Estou um caco hoje de tanto ouvir histórias e depoimentos no forum.
            – Vai descansar, doutor. Lhe desejo uma boa noite de sono.
            – Até segunda feira, coronel. Não esqueça. Às 10 horas.
            – Isqueço não.
            A sexta-feira era em geral pouco movimentada na área jurídica. Os juízes via de regra não marcavam julgamentos, especialmente juris para esse dia. Se demorasse, avançariam para o sábado e domingo. Isso ninguém queria. José Silvério aproveitou para por em dia todos os pequenos servicinhos que tinham sido deixados para depois por conta do era prioritário. Assim o dia passou, deixando a impressão de não ter feito nada, mas na verdade haviam sido um número enorme de pequenos detalhes que estavam agora devidamente encaminhados.
Cine Fox em Sete Lagoas.

 

Monumento em homenagem à FEB em Sete Lagoas
            O final de semana foi passado com a família, uma ida ao cinema sábado à noite em companhia da irmã e do namorado. Não lhe agradava muito servir de vigia ou como se dizia “segurar vela”. Pensava que os dois deveriam saber o que queriam da vida. Consequentemente precisavam arcar com as consequências dos seus atos. Orientação ambos tinham recebido dos pais, se isso não bastasse, nem mesmo um guardião seria capaz de impedir alguma coisa se eles assim o desejassem. Mas valeu à pena, pois a fita era muito boa. Pessoalmente gostava de filmes sobre espionage e esse era um dos bons nessa variedade.
            No domingo assistiu ao jogo dos dois maiores clubes da capital se enfrentando pelo campeonato nacional. Ele era cruzeirense até a raiz do cabelo. Já o pai era atleticano convicto. O jogo foi disputado, não que estivesse valendo algum título, mas perder para o maior rival era sempre uma humilhação. Pouco importava se o jogo era oficial ou mesmo amistoso. O resultado final, depois de alguns lances mais rudes, alguns cartões amarelos, foi um honroso 1×1. Ao término as indefectíveis reclamações contra o juiz de parte a parte. A genitora do árbitro foi premiada com vários nomes pouco honrosos. As ruas ao redor do estádio estavam cheias de policiais para garantir a volta para casa em segurança.
            Dessa forma chegou segunda-feira, quando se encontraram frente à frente o coronel Onofre Pires e Jerônimo para uma conversa séria e franca. O começo da reunião foi tenso e José se encarregou de quebrar o gelo:
            – Senhores, estamos aqui para uma conversa franca, visando encontrar um termo de conciliação entre os vizinhos coronel Onofre e Jerônimo. Sugiro que mantenhamos a calma e cada um terá a sua hora de falar. Doutor Estevão, eu lhe dou a palavra para apresentar ao meu cliente a proposta que me apresentou aqui na semana passada.
            – Eu fui encarregado pelo meu cliente senhor Jerônimo de apresentar ao senhor coronel, uma proposta para quitar a indenização relativa à questão da divisa e também a reposição da cerca no lugar de sempre.
            – Pode falar, doutor. É pra isso qui eu estou aqui.
            – O senhor Jerônimo, por conta de uns contratempos, ficou com as finanças abaladas e pede ao senhor coronel, aceitar um parcelamento da dívida.
            – E qual é essa proposta? Quero ouvir do senhor mesmo.
            – Se pudermos parcelar o total em parcelas de valores menores, vencendo uma a cada seis meses. Calculamos os juros devidos, num prazo final de três anos.
            – Eu tinha intendido qui seria em um ano.
            – É o que eu havia proposta, mas o senhor Jerônimo verificou que iria ficar em dificuldades. Melhor estabelecer um prazo maior e pagar direito, que ser curto e depois não conseguir vencer fazer os pagamentos.
            – Coronel, creio que um p:razo maior não irá atrapalhar sua vida financeira. E as palavras do colega são sábias. Não nos vale de nada se o prazo for curto e não cumprido ao final.
            Nesse momento Jerônimo pediu ao seu advogado para deixá-lo falar e ele permitiu:
            – Coronel Onofre, eu preciso lhe pedir perdão por todas as besteiras que eu fiz em relação ao senhor nesses anos todos. Meu pai sempre se deu bem com o senhorr e me falou muitas vezes sobre isso. Eu era um cabeça de vento e deixei os amigos me levar para o mau caminho. Fiz muita coisa errada nessa vida. A última foi essa da divisa e depois o atentado. Depois que fiquei duas noites na cadeia, vi que não sou feito para ficar em gaiola. Vi meu pai, como se estivesse vivo ali na minha frente, falando das cosas erradas que fiz. Resolvi mudar de vida. Sei que vou ter que acertar com a justiça a questão do atentado, mas isso é outro problema. Quero levar outra vida a partir de agora, começando por acertar toda essa questão da divisa de uma vez.
            – Si é assim, Jerônimo, eu até faço um batimento. Vamo deixa por 60 mil invei dos 100 qui o doutor juiz determinou. Dividimo tudo em seis partes iguais e você me paga cada seis meis. Você coloca a cerca no lugar certo e depois eu planto os pé de café de vorta naquela parte. Num sei si vo podê faze alguma coisa na questão do tiro que levei.
            – Isso facilita as coisas, coronel, – falou doutor Estevão. – Fica mais fácil para o senhor Jerônimo pagar sem problemas e só falta resolvermos depois a questão com o juiz.
            – Se o meu cliente concordar, podemos dar um depoimento atenuando a gravidade da queixa e assim diminuir a apena imposta pelo juiz.
            – Concordo. Uai! Seu pai e eu fomos bons amigos e depois nós viramos inimigos. Tá na hora de acaba com essa pinimba de uma vez.
            – Proponho que os dois vizinhos se deem as meem as mãos em sinal de entendimento e vivam de hoje em diante em paz. Aos poucos as mágoas que vão restar virarão apenas lembranças do passado e o tempo se encarrega delas.
            A sugestão foi aceita e Jerônimo esteve prestes a verter lágrimas de satisfação. Estava realamente arrependido do rumo que dera a sua vida. Queria poder esquecer o passado, se isso fosse possível. Combinaram que os advogados preparariam os documentos necessários ao acordo, encaminhariam tudo ao juiz e pediriam o arquivamento do processo, uma vez que estava havendo o entendimento. Aguardariam a fixação da data do julgamento dos acusados pelo atentado. Os capangas estavam da cadeia e seria conveniente que lá ficassem pelo menos até o julgamento. Se fossem soltos, poderiam fugir e causar problemas com o magistrado. Ele fazia questão absoluta de manter a maior lisura nos processos sob sua responsabilidade.
            Depois de realizados os entendimentos, sairam e foram almoçare num restaurante ali perto, a convite de coronel Onofre. Sentia um peso sendo removido de seu espírito. Nunca aceitara que aquele menino que vira crescere, tivesse se transformado em seu mais ferrenho inimogo, coisa que sempre evitara ao longo da vida toda. Fazia questão de pagar a comida naquele dia. Todos aceitaram de bom grado. A reunião estava terminando e a hora do almoço chegava. Lá fora o peão que acompanhara Jerônimo e o outro do coronel olharam para os quatro homens saindo do escritório. Aparentemente conversavam sem ressentimentos. Até ali não haviam trocado palavra, mas vendo os patrões juntos e conversando, se cumprimentaram também. Depois chegaram até o grupo aguardando um pouco afastados.
            – Podem vir os dois. Vamos almoçar todos juntos ali no fim da rua. Servem uma comida muito boa ali.
            Seguiram logo atrás e o grupo inteiro foi almoçar. O coronel tinha razão. Apesar da aparente simplicidade do estabelecimento, os pratos eram preparados primorosamente. José Silvério teve que congratular-se com o seu cliente por saber desse detalhe, uma vez que ele, residente ali não sabia disso. Comeram de se fartar, beberam umas cervejas e depois voltaram para seus afazeres. Os advogados macaram a tarde da próxima sexta feira para se reunirem e elaborar tudo relativo ao acordo, bem como o encaminhamento que dariam no aspecto judicial.
            – Sempre ouvi os professors falarem. Um mau acordo é melhor que uma boa demanda. Pena que o nosso amigo se deu conta disso meio tarde. Teria evitado uma porção de transtornos.
            – Mas podemos nos dar por satisfeitos. Eles parece que vão se entender daqui para frente.
            – O coronel é ótima pessoa. Só não pise nos calos dele, que daí a coisa fica feia.
            – No fundo todos somos assim. Varia um pouco de um para o outro, mas ninguém gosta de ser desrespeitado, ter as propriedade invadida. Isso sempre dá encrenca grossa.
            – Vamos fazer nossa parte para que isso fique resolvido por aqui e não tenha desdobramentos depois.
            – Creio que isso nos torna um pouco amigos também, colega.
            – No que me diz respeito, nada a opor.
            – Vou andando, pois ainda tenho várias coisas para resolver durante a tarde. Até mais ver, colega.
            – Boa tarde. Também vou cuidar da vida.
            José estava próximo de seu trabalho e não tinha nenhum compromisso especial para aquela tarde. Lembrou de falar com o diretor a respeito do aumento para a secretária e comentar sobre a reviravolta no caso entre o coronel e seu vizinho. Alguns dias antes não teria nem imaginado ser capaz tamanha mudança. Por vezes ainda sentia uma pontinha de preocupação. O outro poderia estar tratando de ganhar tempo e depois voltar a carga com mais energia. Procurou lembrar da fisionomia de Jerônimo na hora em que falara e pedira perdão ao coronel. Não conseguiu ver traço de falsidade no rosto. O homem estava sendo sincere, ou então era um perfeitissimo ator, capaz de convencer a todos de sua sinceridade.
            Ao ter semelhantes pensamentos sentiu um leve arrepio. Seria uma frustração imensa se isso viesse a acontecer. Decidiu confiar em Deus, colocar nas suas mãos a questão. Estavam tomando todas as medidas de precaução possíveis, tudo passaria pelas mãos do juiz e levaria sua chancel ao final. No caso da ocorrência de alguma falseta de um ou outro lado, teria que se haver com o representante máximo da lei ali naquela época.
            O aumento para Roberta foi concedido. Ela foi chamada e na presença de José o diretor lhe informou do valor de seu novo salário. Ela teve dificuldade em acreditar no primeiro momento, mas foi tranquilizada quanto a ser uma brincadeira. For a José pessoalmente que sugerira. O diretor, levando em conta a eficiência e dedicação da servidora, concordara em elevar seus vencimentos. Ela agradeceu e saiu sorrindo. Intimamente exultava. Assim seria possível dar à sua mãe uma ajuda mais consistente para manter a casa. O pai estava doente e inválido, recebendo um auxílio doença que não cobria nem os medicamentos, quanto mais outras despesas.
            Os dois conversaram longamente, tendo José relatado seus últimos feitos no forum ao chefe. Não tinham tempo diariamente de sentarem e narrar os detalhes de alguns processos em que José atuara. Conseguira virar o jogo em várias situações aparentemente de derrota. Um argumento encontrado em suas longas leituras de sentenças e processos famosos publicados em livros ou revistas jurídicas. Isso lhe valera bons desempenhos em diversas ocasiões. A sutileza da argumentação e sequência de apresentação das provas no caso do coronel e seu vizinho tinha sido considerada genial. Haviam temido em alguns momentos que poderia haver uma derrota, mas a sentença favorável não deixara pesar dúvidas sobre o lado em que estava a justiça.
            Depois de colocar as novidades em dia, José voltou para sua sala e se dispôs a ler minuciosamente os autos de um processo em que iria atuar no tribunal do júri em duas semanas. Era um caso de assassinato, mas havia falta de provas concludentes. O reu confessara e depois se retratara afirmando ter confessado sob tortura e caberia a ele, José Silvério atuar no apoio ao promotor, cocntratado pela família da vítima. Procurava um argumento forte o suficiente para desmascarar o reu em sua afirmação de tortura. O laudo do exame de corpo de delito era inconclusivo. O reu afirmava que haviam usado métodos não contundentes, por isso não havia marcas no seu corpo. Já os policiais, o delegado e detetives negava veementemente a ação delituosa. A confissão for a espontânea, sem muita pressão na verdade.
            Leu todo o processo, dedicando especial atenção à primeira confissão, à retratação posterior, acusação de tortura, laudo médico em busca de um mísero fio. Um vestígio apenas poderia ser suficiente para levantar o pano que parecia envolver o caso. Ao reler a confissão e depois a retratação do reu, encontrou o que procurava. Havia incongruência entre as duas situações e ele usaria esse fato para provocar o réu. Era fortemente provável que, ao ser confrontado com a contradição, ele ficaria agitado e se delataria sem muita dificuldade. Haviam passado ao seu encargo esse caso, pois todos os outros haviam concluido ser trabalho insano e infrutífero tentar conseguir a condenação. A acusação de tortura pendente sobre a cabeça do delegado, um detective e dois agentes, significaria um golpe severo para esses profissionais. Depois que se certificou de tudo, escreveu cuidadosamente a forma como faria as perguntas, possíveis variações dependendo das respostas que recebesse. Tudo pronto, tornou para a sala do diretor e lhe mostrou o que estivera fazendo.
            O chefe leu, releu e indagou de onde tirara essa ideia?
            – Do próprio processo. – e abriu onde estavam as duas passagens conflitantes das declarações do reu, feitas em momentos diferentes. Ele tinha previsto eventuais esquivas e saidas pela tangent. Encurralaria o malfeitor de tal forma que não lhe restaria alternative a não ser confessar. Depois de olhar tudo, o chefe lhe deu razão. Aconselhou-o a não deixar escapar uma única sílaba de tudo isso. Poderia por tudo a perder, se alguém, especialmente os advogados de defesa, ficassem sabendo de sua artimanha. Era perfeitamente correta a sua intenção. Colocaria a pergunta de tal forma que o acusado seria obrigado a dizer uma coisa ou outra. Cada uma delas o conduzia a um beco sem saída. Quando se desse conta da cilada, seria tarde.
            Ao olharem viram que passava de 18h 30min. Haviam estado a conversar por tanto tempo que esqueceram a hora. Levantaram-se e verificaram que não havia mais ninguém no prédio. Fecharam as salas e depois a porta principal. Despediram-se e foram para suas casas. O diretor ia pensando em seu íntimo:

 

            – Foi uma ótima decisão contratar esse jovem, recém saido da faculdade. Transformou-se, em menos de dois anos, no melhor causídico da Advogados Associados. Estava se tornando hábito transferir para sua agenda todos os casos mais complexos, se não de todo, pelo menos o comando da equipe que atuaria na defesa ou acusação, conforme o caso. Se não o tivesse contratad na época, oferecendo um pouco mais do que teria sido normal, hoje estaria arrependido, vendo-o atuando em julgamentos no lado oposto ao seu. Seria algo profundamente lamentável. 
 
Vista aérea de Sete Lagoas.

 

Schoping Center Sete Lagoas.

 

Mais um lago no perímetro urbano.
 

Comment (1)

  • Décio Adams14/10/2014 at 8:36 PM

    A obra está chegando ao final. Com mais dois ou três capítulos atingirá o ponto de conclusão.

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