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A gloria humana é fugaz!

Em busca da glória fugaz!

Estamos vivendo em nossa pátria, há uma semana, os Jogos Olímpicos! Evento que começou lá longe, na década passada, com empenho do então presidente da república Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, confirmado em anos posteriores e culminando com a realizaão dos jogos, durante um período de pouco mais de duas semanas. Estamos praticamente pela metade. Milhares de atletas, de todos os cantos do mundo, em grupos grandes de centenas de pessoas, outros pequenos com poucos integrantes, todos na busca do brilho passageiro da medalha de ouro, ou então prata ou bronze, que servem de consolação. 

Há países que ostentam em seu histórico centenas, mesmo milhares de medalhas, de todas as variedades, enquanto outros, as têm em pequeno número, ou mesmo nenhuma. Nem por isso, o empenho é menos intenso. Cada atleta passa o período entre a realização de dois eventos dos jogos, dando o melhor de si para chegar no momento aprazado em sua melhor forma física e técnica. O objetivo, é ser o melhor do mundo, receber a medalha de ouro.

Estive refletindo e já fiz isso em vários momentos anteriores, sobre a duração da glória desse momento supremo da conquista da medalha. Há duas questões a levar em conta. Para cada modalidade, existe apenas uma medalha de ouro, o que significa que, se eu a conquistei, dezenas de atletas ficaram frustrados em suas pretensões. Muitos deles sequer conseguiram qualificação para vir participar dos jogos. Me coloquei no lugar daqueles que não alcançaram o sucesso, que não receberam a medalha.  Será que são necessáriamente incompetentes, incapazes e por isso não mereceram o prêmio? Todos os pretendentes tiveram as mesmas condições prévias para se preparar? É óbvio que não. Milhares de atletas em potencial pelo mundo afora, jamais pisarão numa pista de competição olímpica, por não disporem de condições mínimas para se preparar, desenvolver seu potencial, alcançar o topo de sua capacidade.

Seria muito fácil dizer: “É problema deles. Nada tenho a ver com isso.” Talvez até não tenhamos culpa diretamente, mas o assunto requer, no mínimo, uma reflexão. O Criador, não nos fez todos da mesma matéria, com aptidões semelhantes e obviamente com os mesmos direitos? Em minha opinião, creio que sim e isso me deixa com um gosto ruim na boca, ao lembrar dos milhares, mesmo milhões, de crianças, desnutridas, consumidas por doenças endêmicas existentes por grande parte do globo. Muitas delas sequer terão a oportunidade de saber o que é uma Olimpíada, o que é uma competição de alto nível. Elas sequer irão sobreviver até alcançar uma condição que lhes permita fazer suas opções, decidir sobre suas vidas. Muito antes a vida deixará seus frágeis corpos.

Observando os resultandos dessa semana de competições, alguns fatos chamam atenção. Assisti aos últimos minutos do jogo em que a equipe de Rugby das Ilhas Fiji, um arquipélago com menos de um milhão de habitantes, conquistou a primeira medalha olímpica da sua história, derrotando a equipe da Inglaterra. Tentei imaginar a explosão de alegria desses atletas, bem como de seus preparadores, além dos conterrâneos, ao assistir a esse evento. Mesmo assim, mal passados alguns dias, já estarão pensando na próxima Olimpíada, pois, essa vitória implica em um peso sobre os ombros. Sentirão a responsabilidade de repetir o feito e, de parte de seus compatriotas, haverá a cobrança dessa repetição. Portanto, muito cedo perceberão que o brilho da glória de desvanece rapidamente.

Por outro lado, acompanhei pelas redes sociais o caso de uma nadadora brasileira, especialista na classe meadley e que foi desclassifada por poucos centésimos de participar da prova final da categoria. Mesmo sendo a melhor atleta da modalidade, desde seus jovens anos de adolescente, tendo se empenhado a fundo nos treinamentos, provavelmente sem muito apoio e poucos recursos, sentiu o amargor da frurstração. Humildemente pediu desculpas à torcida e afiançou ter feito o melhor ao seu alcance, na sua rede social. Por conta de suas convicções políticas e seu posicionamento nessa área, ocorreu uma chuva de impropérios, xingamentos e palavras ofensivas, como se algum deles tivesse gastado um centavo que fosse para lhe dar apoio, sendo que nem nesse caso isso se justificaria. Desejar que ela fosse estuprada, que sua mãe morresse e outros votos sem fundamento. Alguém dessa corja de detratores pensou um momento apenas no fato de estar se dirigindo a um ser humano, empenhado a fundo em fazer o seu melhor e mesmo assim fer seus esforços frustrados? A simples frustração já não lhe é “castigo”suficiente, se é que é justo falar nestes termos.

Outro caso é o a atleta do Judô, medalhista de ouro, que no entanto em 2012, na Olimpíada de Londres, havia sido desclassificada da competição, por conta de uma manobra, que recentemente havia sido tornada ilegal. Agora a celebraram e glorificaram, mas naquela ocasião lhe foi lançado ao rosto, por ser afrodescendente, que deveria ter permanecido na sua jaula de macaca. Agora ela lhes respondeu que a “macaca” se tornou campeã olímpica, enquanto seus detratores daquela ocasião, provavelmente permanecem na mesma situação de sempre, ou até pioraram, quem sabe.

Seria possível encher uma prateleira inteira com livros relatando as mais variadas histórias relativas aos atletas de uma única olimpíada. Até mesmo os astros de primeira grandeza, tem seus momentos, e não raros, de dor e sofrimento. Convivem com o risco de lesões, os exercícios consntantes e puxados, provocam dores musculares, nas articulações e mesmo assim, em nome do desempenho máximo necessário, continuam a empenhar-se na busca da perfeição. Nem todos os recursos tecnológicos colocados à disposição, substituem o elemento humano, biológico e psicológico.

Ontem à noite, acompanhei a sofrida classificação da equipe de futebol feminino, frente à equipe da Austrália, que apenas se confirmou na cobrança de penalidades, após os trinta minutos de prorrogação. Para nós brasileiros, foi certamente um alívio de alma, ver aquela bola defendida pela goleira Bárbara. Este lance a transformou em herói da partida (para nós). Já pelo outro lado, a jogadora australiana, se não me falha a memória, Kennedy, cobradora que propiciou a defesa, sentiu o mundo desabar sobre seus ombros. Mesmo não sendo a única responsável, ela sentiu certamente toda culpa e não lhe invejo a convivência com esse peso por longos dias. O que para nós foi alegria, para a imensa nação australiana, foi motivo de dor, sofrimento e lágrimas, que vimos rolarem em abundância nos rostos das jogadoras, ali mesmo no campo de jogo, antes de se retirarem. O sonho foi ali bruscamente interrompido. Em uma fração de segundo, foram do céu ao inferno.

As nossas compatriotas, que lutaram bravamente, já estão buscando cicatrizar as feridas do embate, visando o próximo jogo, na partida semi-final contra a Suécia. É certo que já as vencemos pelo placar elástico de 5×1, há poucos dias. Mas cada jogo é diferente e o passado não conta. Será preciso correr novamente atrás da bola para tentar superar mais esse obstáculo, que se interpõe entre elas (jogadoras) e o objetivo ambicionado que é a medalha de ouro. Mesmo conquistado esse ouro, em alguns meses estaremos pensando na próxima competição, visando novamente a conquista do título.

Basta vermos a seleção do Volei feminino, bicampeã das duas últimas edições olímpicas. Mesmo caminhando com passos firmes no rumo da conquista de mais um título, nada tem garantido ainda. Tem conquistada a classificação, mas isso pode ruir na primeira partida da fase decisiva. Bastará uma derrota e, adeus medalha. Não que uma eventual derrota agora, apague o brilho das medalhas de ouro conquistadas em Pequim e Londres. Essas conquistas ficam registradas para sempre nos anais dos jogos. Mas deixaremos de ser “campeãs” olímpicas, até a próxima conquista.

Chego a sentir tristeza ao olhar para o rosto frustrado das adversárias depois que são derrotadas. Por mais acostumadas que estejam com vitórias e derrotas que acontecem em sucessão ao longo de suas carreiras, jamais estarão completamente insensíveis aos efeitos de uma derrota. Cada uma delas, deixa uma marca na alma e esta jamais se apagará. Com o tempo, criam uma espécie de carapaça, capaz de atenuar os impactos e no futuro, quando estiverem distantes das quadras, lembrarão com saudades, nostaligia seus dias de suor, lágrimas de alegria, como de tristeza, durante os aparentemente longos anos de atividade como atleta.

Hoje o COI já tomou providências para evitar que se repitam algumas cenas vividas em edições mais distantes no tempo dos jogos, quando atletas de países mais pobres, com parcos recursos, chegaram a concluir provas de longa duração, com um longo tempo de atraso, chegando a quase se arrastar nos metros finais, mas insistindo em terminar a prova. Com isso deixamos de ver algumas cenas, consideradas deprimentes por muita gente. Não questiono essa parte, mas por outro lado, privamos algumas pessoas da oportunidade de demonstrar a fibra, a têmpera de que são feitas. Não lhes importa a vitória, o título, a medalha, mas o fato de ter competido e concluido a prova. Mas me pergunto: ” Será que nos assiste o direito de privar estas pessoas dessa oportunidade?” Não vai aí nenhuma crítica ao COI, mas uma chamada à reflexão sobre o assunto.

Conlusão.

Embora contagiado pelo espírito competitivo, não consigo me furtar a fazer algumas reflexões sobre essa questão. O mais interessante exercício é colocar-se no lugar dos vencidos, que sempre são a maioria. Como eles se sentem? O que lhes vai na alma, quanta amargura sentem com a derrota de seus representantes? Nós brasileiros, não estamos entre os maiores conquistadores de medalhas, mas tempos algumas modalidades esportivas bastante destacadas. Temos um hábito peculiar de nos considerarmos os “reis do futebol”; nos últimos vinte anos, estamos sempre disputando os primeiros lugares nas competições de volei, tanto masculino como feminino. É bom, é salutar ter algo com que se alegrar. Mas convém não menosprezar aos derrotados. Não devemos esquecer que houve época em que nossas conquistas eram raras, quase sempre derrotados pelos mesmos adversários e que acabavam zombando de nós.

Se fôssemos vingativos, poderíamos dizer, agora é a nossa vez. Mas há uma grande diferença entre vencer e vencer com honra e sobriedade.

Curitiba, 13 de agosto de 2016.

Décio Adams

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