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Os tons do monocromático panteão político brasileiro.

OS TONS DO MONOCROMÁTICO PANTEÃO POLÍTICO BRASILEIRO:

Raul Longo

Obs: Peço permissão ao jornalista Raul Longo de reproduzir no meu blog seu texto, que me foi repassado pela amiga comum Urda Alice Klueger. 

 

Oxumaré é um orixá metá-metá que na língua ioruba do reino de Oyó refere-se às entidades e pessoas de um determinado gênero que manifestam características sexuais do gênero oposto.

Oxumaré é o arco-íris. A grande Dã. A cobra com um rabo na cachoeira e a cabeça no oké, o castelo do rei Xangô.

Oxumaré é criado de Xangô e como toda pessoa servil é dúbia, pois nunca se sabe se o servil é mesmo prestativo ou é servil por interesses escusos.

Mas Oxumaré não é hipócrita. Quando no desespero da fome do seu povo Oxóssi caçou Oxumaré, a grande Dã avisou: “- Eu não sou bicho de pena pra Odé matar”.

Apesar da fome, o povo de Ketu não quis comer a carne de Oxumaré com medo do retorno da quizila e, amargurado, Oxóssi, ainda Odé, teve de comer a grande Dã sozinho.

A lei é de que o caçador não pode caçar só para si. Tem de caçar para toda gente e só comer de sua parte partida pelo axogum, o mão de faca. É a lei.

Oxumaré é cobra de vidro e – depois de comer por onde é de comer – cortado por dentro Odé teve de deixar Oxumaré sair por onde é de se devolver à terra o que se come. Assim morreu Odé. E ficou para sempre Oxóssi, o caçador que saciava a fome do povo ketu.

Mas Oxumaré não é hipócrita. Tem em si todas as cores do arco-íris, e não é dúbio por ser metá-metá. É dúbio porque tudo é dúbio. Tudo é mais de um, porque se único nada se suporta.

Xangô, que é macho definido, também é dúbio porque até a justiça é dúbia e num dia que Xangô se arretou com as quizilas do povo aos preceitos, acabou com o reino de Oyó como Jeová acabou com Gomorra. E Sodoma.

Depois Xangô se arrependeu do desatino, chorando pelas tantas criancinhas inocentes que nada tinham a ver com preceito algum e só tinham mais é de comer, brincar, estudar e ter teto para dormir.

Então Xangô, que é justo de verdade, julgou a si mesmo pelo crime cometido contra o povo. E condenou a si mesmo. E foi o carrasco de si mesmo enforcando-se no ayan, a grande árvore da história.

Ah se aqui no Brasil os juízes fossem justos como Xangô!

Poucas árvores e muitas togas, os males do Brasil são.

Muita toga para pouca soga. Pouca história pra tanto golpe.

Muitos chapéus para poucas cabeças! Para tantas gargantas e pescoços carece replantar uma Mata Atlântica do pau-brasil que o português levou. Como é levado o petróleo de Oyó, onde hoje é Nigéria, Benin, Dahomey. Região rica no petróleo e prolífera em miséria mantida pela Grande Grana Mundial. A eterna guerra da Grande Grana Mundial que levará o Pré Sal também.

Mas é lembrando o negro do petróleo, o belo negro reluzente da pele de ébano e voz de encanto, que busco cores sob as leituras de dúbios relatórios do monocórdico senador Anastasia.

Em qual das escalas do colorido Oxumaré se encaixará Anastasia?

Presto atenção no inexpressivo do olhar patético, catatônico. Busco na rigidez do pescoço fixo. No gesto que não há. No corpo sem ginga e movimento.

Lembra-me Temer. Um monobloco quase pra lá ou quase pra cá. Michel ou Temer?

Mas Temer ao menos aponta aleatórios dedinhos para depois desprezar, com as costas das mãos para um lado e outro, tudo o que vier à frente. E Eduardo Cunha às costas.

É um Marawô selecionando as almas.

Almas selecionadas. Poucas almas para tantas denúncias.

Marawô é da cor do luto com o vermelho-sangue nos olhos. Qual a cor dos olhos do Anastasia?

Ou não tem? Onde tem Anastasia?

Achei ter encontrado Anastasia no sorriso estático, milimétricamente único de orelha à orelha ao longo de todo o discurso do José Eduardo Cardozo decompondo, peça a peça, o relatório do crime que não houve, da pedalada que não aconteceu.

Peça a peça como preciso relojeiro. Descompondo como criança enojada com brinquedo enfadonho e sem conteúdo.

Sorriso vítreo o do Anastasia. Como o do lagarto de João Ubaldo quando bom baiano, antes da doença que o matou triste e refém dos reis do écran, os donos da mídia que tinge o inexistente e esconde o arco-íris da vida brasileira para borrar monocrômicas mentiras.

Procuro no écran por onde se esconde a cor do sorriso de Anastasia?

Sorriso de máscara. Mas é sorriso e sorriso tem cor. Uma que seja.

Enxerguei amarelo, mas difícil definir a cor do servo sem arco-íris. Prestativo ou hipócrita?

Amarelo é de Nanã. Amarelo-terra. Ancestral.

Não! Nanamburuke é mãe. Não é metá-metá. Nada contra os metá-metá do belo arco-íris de Oxumaré, mas mãe é mãe e por mais servil, o amarelo do indefinível sorriso de Anastasia é esmaecido, biliar. Quase verde.

O verde das matas de Oxóssi? Das matas de minha bandeira de tantos lápis de cor?

O verde amarelo e anil das cores do meu Brasil. E também o branco da paz de Oxalá. Mas jovem e guerreiro Oxaguian, o Oxalá do futuro. Do que virá. Do desejo que nascerá. Indomável. Inevitável.

À que vinha o verde-amarelo do sorriso anfíbio do Anastasia?

Verde de inveja por Cardozo sacar de memória tantos artigos, cláusulas, parágrafos e incisos? Do discorrer fluído de elegantes vernáculos? Do rubro pulsar de sentimentos em cada afirmação, em cada alegação, em toda conclusão?

Rubra é a cor de Ogum, guerreiro de peito aberto. Vermelho é a cor da coragem e paixão de Ogum na forja do ferro da ferramenta que constrói.

Paixão não se esconde. A paixão se revela na certeza por inteira e na transparência.

Anastasia não aparenta. Em Minas diz que não construiu nada. Um aeroporto em Cláudio, tão só. Talvez nem ele, talvez algo mais.

Coragem não se limita em altear de voz afetada, monocórdia em estrídulas leituras de laudas de relatórios do que não se prova nem comprova.

Paixão e coragem também não bailam de dedinhos suspensos e ademanes de entojo.

Coragem e paixão dançam como Oxumaré, assumindo-se. Dançam como Pierre Verger, o mais Fatumbi afro-baiano de Paris. Dançam como Clayde Morgan, o mais Alafiju afro-baiano de Cincinnati.

Assumindo-se. E não apenas no vermelho da indignação, também no amarelo da atenção, reflexão. No laranja da alegria e no otimismo do roxo. Na estabilidade do marrom e no azul da calma de Iemanjá.

Iemanjá é mãe, não há esperança em ser mãe para metá-metá. Assim mesmo, no arco-íris de Oxumaré tem azul posto que Oxumaré não é hipócrita.

No sorriso de Anastasia, não.

Sorrisos não são azuis nem vermelhos e para quem tem, o vermelho da vergonha aparece na cara. Mas a vergonha não sorri se não for para pedir desculpas. Não há desculpa no sorriso de Anastasia.

Seria o verde da esperança? Esperança também não sorri, espera. Deseja e espera resguardando risos e sorrisos para aflorar no momento da concretização, da chegança do esperado.

Nem amarelo nem verde, o estático sorriso de Anastasia era o da certeza. Inveja poderia sentir qualquer advogado que concorresse com Cardozo pela compreensão e análise de um juiz. Até Rui Barbosa invejaria num sorriso de satisfação, admiração.

Será admiração? Máscaras podem provocar admiração, mas não se admiram de nada. A do Anastasia provoca admiração pelo sorriso mais estático e fixo do que o que o de qualquer outra máscara.

Dependendo do ângulo que se olhe há diferentes sentidos no sorriso da máscara do V de Vingança. No do Anastasia não havia nem vingança.

Na verdade, pelo conteúdo do acontecimento, pelo sentido do que se passava ali, por se desvalidar mais de 100 milhões de votos de uma eleição, independente de a quais candidatos foram dedicados; nenhum sorriso caberia ali que não fosse o de mofa, desprezo na certeza do veredito já dado.

O sorriso do jogador que da manga tirou a carta indicada nas marcas do baralho e, por mais brilhante o desempenho do adversário, despreza todo o esforço e toda verdade pela certeza de um resultado já definido, sejam lá quais forem as togas.

Eram favas contadas, fardas alcovitadas.

O tempo dos legalistas se foi há muito tempo e de Ás à Rei, Copa ou Paus, todas as Espadas estão pelo Ouro e pelo ouro são todas as togas e fardas. Não há juras nem compromissos. Tampouco escusas.

Por quantos valetes e rainhas, por qualquer 7 ou coringa.

21 ou bacará. Não há truco do que já foi truncado, tramado e trancado entre os interesses de todos os poderes de uma só elite.

Pouca elite e muitos poderes, o mal do Brasil sempre é.

Não importa duplas, trincas, quadra. Seja qual for a sequência, o full ou flush. Que seja canastra ou royal straight, é jogo já batido, fechado, encerrado antes de começar.

E anuncia o crupiê: “Vence o blefe!”

Há que se conformar. No cassino chamado Brasil há que se conformar com a vontade de Ifá porque quando não joga com metralhas e fuzis sobre a mesa, articula farsas sob a mesa.

Mas qual a cor da farsa? “Dizei-o tu, justiça de fancaria!” – clamaria Castro Alves em sua poética indignação, complementando: “Arranca dos olhos a venda, para à democracia servir de mortalha!”.

Antes de o leviatã cuspir a ignomínia na cara da malfada democracia, pude enxergar a cor do futuro sem quartel nem tribunal para assegurar estado de direito ou algum direito ao cidadão. Pátria, nem pensar!

Boys and girls, ladies and gentlemen: o Brasil é vosso!.

Pude vislumbrar a cor que terá meu país quando o Senador Roberto Requião subiu à tribuna e fez o mais conciso e certeiro discurso de todo o processo: “Canalha! Canalha! Canalha!

Em seguida explicou reproduzir as palavras de Tancredo Neves em 1964, dirigidas ao Auro de Moura Andrade quando declarou vaga a presidência no golpe que depôs João Goulart.

Explicação rápida e imediata referência ao relatório do Anastasia, para o foco das câmaras. Atentei na certeza de que então lhe identificaria alguma cor. Mas ainda assim, indefinida. Por sorte, ao seu lado, do semblante do neto de Tancredo refletiu-se alguma cor em Anastasia.

Definitivamente nada tem de Oxumaré, por mais metá-metá na afetação da voz estrídula. No arco-íris não há o cinza.

Tenho resistência aos best-sellers, mas lamentei não haver lido a história da homônima Anastasia do “50 Tons de Cinza” para poder reconhecer qual a graduação do tom daquele cinza do futuro do meu país. Apenas sei que a moça se apaixona por um poderoso magnata, mas pouco me importa os magnatas e poderosos do Anastasia.

Se até plenária do Senado virou sessão espírita para Requião incorporar Tancredo descompondo neto e comparsa, é porque os eguns estão na gira!

Preciso tomar assento pro amacy e tenho de saber o exato tom do cinza do futuro. Tenho de saber para o meu Ori, para o preparo correto do ebó de Onilé.

Preocupo-me em definir o tom do cinza do futuro do meu país, mas  só no final descubro que o pesado tom de cinza é ainda mais escuro do que o do Aécio.

Muito escuro! No Senado não há papelote de “brilho” que nos ilumine (ilustrado no link para quem desconhece o jargãohttps://www.facebook.com/ZEDEABREU3.0/videos/770893326386917/ ).

Esse cinza não é do arco-íris. Não é de Oxumaré nem é do meu país.

Há quem imagine ser de Exu, mas no candomblé não tem bem nem mal, ninguém é anjo nem demônio. Tudo tem acerto, tem erro e tem conserto. Tudo é como todos somos!

Todo fim é começo porque o começo não tem fim. Prenderam-me vivo e escapei morto mais de uma vez, como Paulo César Pinheiro, como Dilma Rousseff. E escapo porque “minha ideologia é o nascer de cada dia e minha religião é a luz da escuridão”, como a do moleque Gilberto Gil.

Gil Orungan, moleque matreiro, menino que arrelia. Saci zambeta, quando se pensa que está aqui, já tá lá. É o meu guri e do Chico Buarque. Meu garoto de recado, a voz do morro.

Exu é o único mensageiro confiável num país em que grampo de telefone incrimina, mas criminoso é privilegiado e inocente condenado.

Quem diz que Exu é demônio, não sabe de nada ou quer fingir choro pelo futuro dos netos de todos os eleitores do Brasil que perderam tempo indo votar pelo que é definido à socapa, em contas de satânicos tribunais, federações patronais, farsas editorias e Voduns Legbas que legislam pelouros para o povo, salvaguardando exceções aos que expoliam por aeroportos e suíças, por metrôs e jatos sem lavagem alguma. E “brilho” no Senado para decidir o futuro do país!

É muito “brilho” pra pouco Senado, mas por mais “branca” que ali brilhe a cor do nosso futuro só se me fez evidente na cara do diabo, onde reconheci quanto é escuro o cinza do futuro do Brasil.

Na face do demônio tentando parecer chorar, se não escorreu pretendidas e sórdidas lágrimas, derramou-se a baba da maldição e nela vi a o tom do panteão do inferno político que Eduardo Cunha prometeu à nação.

Ali, na face do Mefistófeles, vi a cor da escura canalha, a escumalha que Tancredo vaticinou pela boca de Requião.

Na face inumana da mais satânica sordidez, enxerguei e temi pelo futuro do meu país e de cada brasileiro. Talvez, o mais escuro da história. Talvez ainda mais do que aquele que Tancredo Neves previu em 1964 e Requião o incorporou para que mais uma vez desse o tom da cor dos próximos anos do Brasil.

Mas em Auro Moura Andrade, Tancredo só anteviu a cara do neto e dos comparsas do neto. Não viu a cara do demônio.

Eu vi. E quem sabe enxergar, um dia contará a seus netos que esteve cara a cara com Satã pelo écran da TV. E custou R$ 45.000,00 para ver o diabo em pessoa.

Adupé Olorum! Muito obrigado pelo verde, amarelo, cor de anil. Mas livrai-nos desse Valac! Livrai-nos da farsa das asas de anjo e das lágrimas do dragão de duas cabeças de Valac.

Esse demônio não é nosso! Não nos pertence.

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