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Um pouco da história de minha vida – em Brasnorte – MT (4)

Voltando com carroça carregada de pasto(cana) para os animais durante a seca. (O carro do ano).kkkk.
Decio Junior, Augusto e Anselmo, com Kity e Keko, bezerros gêmeos.

Cunhado Edegar Baldin, “tirando” leite.kkk.

  Um pouco da vida na chácara!

No artigo anterior, mostrei um apanhado geral do período que vivemos em Brasnorte, até o retorno para Curitiba. Agora quero mostrar algumas passagens que marcaram os anos que ali passamos. Coisas que vivemos e traremos para sempre ma lembrança em nossas vidas. 

O ano de 1987 terminou com as madeiras serradas na “pica-páu” do senhor Arlindo Braun, colocadas próximas ao local em que iriamos contruir nossa casa. As telhas também estavam ali depositadas, trazidas de Santa Catarina pelos caminhões de uma das madeireiras que estavam ali instaladas, na viagem de retorno quando levavam madeiras para os estados do sul. 

Como eu havia sido eleito para o cargo de diretor da EEEMR (1988/89), tinha necessidade de participar de uma semana de treinamento na DREC em Diamantino. Logo no início de janeiro fiquei uma semana fora, enquanto isso a família morou provisóriamente em uma casa que se encontrava desocupada. Nessa casa morou posteriormente a família Brephol, um grande amigo, de saudosa memória. 

Ao retornar, iniciamos a construção e desses dias já falei anteriormente, mostrei fotografias, deixando bem clara a condição em que começamos. Minha família, esposa e filhos, haviam vivido sempre na cidade. Foram transplantados para um lugar e condições totalmente inóspitas comparadas às que haviam enfrentado até ali. Enfrentamos tudo com coragem e dedicação. Com sacrifício chegamos ao ponto em que foi possível nos abrigarmos em nosso “galpão”. As janelas estavam fechadas por cortinas de lona preta, presass por ripas. Nos dias de chuvas com ventos, frequentemente eram arrancadas e molhava tudo por dentro. 

Aos poucos cercamos o pasto plantado no final de 1987; meu irmão Agileu me ajudou a preparar as “lascas” ou palanques para a certa, colocar ou mourões, enfim fazer a cerca. Era tudo novidade para mim, mesmo tendo crescido na roça, esses trabalhos estavam prontos na minha infância lá no Rio Grande do Sul. Com alguma demora, consegui comprar a primeira vaca, a Pintada, que mostrei no outro artigo. Começamos a criar as primeiras galinhas, pintinhos nasceram, colhemos os primeiros ovos. 

Em uma ocasião, durante 1988, uma professora de nome Márcia, que estava voltando para o Paraná, acompanhando o marido que perdera o trabalho na madeireira, veio nos visitar. Ao percorrer os 800 m da vila até a chácara, deparou-se com dois filhotinhos de Cutia, provavelemnte privados da mãe por algum caçador. Conseguiu pegá-los e os levou envoltos na blusa lá em casa. Às pressas foi feira uma gaiolinha para abrigá-los e chegou o dilema de como alimentar os bichinhos. Minha esposa Rita, de modo criativo encontrou um meio de fazê-los ingerir o precioso leite que os levou a se fortalecer. Por último eles mamavam em uma bisnaga vazia de novalgina. Ao crescerem um pouco, foi possível fazê-los mamar em uma chupeta pequena. Um deles, num momento de descuido, soltou-se das mãos dela e caiu no chão. Infelizmente morreu logo. O outro cresceu e estava bem grandinho. Adorava ficar semi-deitado no colo, segurando a mamadeira e depois receber coçadinhas na barriga quando estava satisfeito. 

Em junho/julho, chegou nossa mudança que ficara em Curitiba. Junto veio o cão pastor alemão, o Pray, além de coelhos, um pombo, Dudle, uma cachorrinha fox branca e outra Lulu da Pomerânia. Em um dia, após alimentar a pequena cutia, meu sobrinho Evandro não fechou direito a gaiolinha e ela escapou. O pastor, não conhecendo animal selvagem, a abocanhou e matou. Ficamos tristes,
mas a vida continuou. Eu cuidando da direção da escola, frequentemente sendo obrigado a me deslocar para Diamantino e Cuiabá em busca de solução para problemas diversos. Até os contratos dos professores que vieram de Cândido Godoi principalmente, bem como os outros não concursados, tinham que ser levados para a DREC. Na época das chuvas sabia-se quando partia, mas a volta era uma incógnita, devido à precariedade das estradas. 

Naquele ano de 1988 vieram de uma única vez para Brasnorte os professores Luiz München de educação física, Terezinha Pazdiora de português, Claudete Trevisan de história e geografia, Silvestre Guth magistério(1ª a 4ª séries), Inês Pazdiora, Cladis München, Ivete Seibt Weschenfelder. No meio do ano eles fizeram concurso e foram aprovados, sendo nomeados, tornando-se efetivos. A maioria está lá até hoje, inclusive se aposentando. A EEEMR era naquela região do estado de Mato Grosso, a que tinha o melhor quadro de professores. As disciplinas básicas estavam cobertas com pessoas habilitadas para atuarem na área. As improvisações, antes rotineiras, haviam se tornado esporádicas. Depois que voltei para Curitiba, uma das professoras que foi no ano de 1989 para lá, ocupou a Secretaria de Educação Municipal, desenvolvendo trabalho de grande relevo. Recebeu mais de uma honraria a nível nacional como latino americano no tocante à gestão da educação no município. Estou falando de Teresinha Assmann. Terezinha Pazdiora, em vias de se aposentar, atua atualmente junto às tribos indígenas num trabalho de integração dessas populações. Não lembro se esqueci de algum dos professores, mas faz tempo e a memória não guarda tudo. 

Em julho de 1989, minha esposa acompanhou a prima Roseli Wagner a Tangará da Serra, onde ela iria comprar o enxoval para seu casamento. Eu e os filhos continuamos a roçar uma parte da área desmatada que queimara mal e crescera muita brotação, formando uma verdadeira capoeira. Em dado momento, de cima de um toco de árvore, cercado de densa brotação, voou um pássaro(um jacú) e ao levar a foice para cortar os brotos, vi alguma coisa branca. Eram dois ovos da ave. Sabendo que ela não voltaria ao ninho depois de roçarmos o lugar, levei os ovos e os coloquei sob uma galinha garnizé que estava chocando. Os ovos que ela chocava haviam passado por umas peripécias e nenhum descascou. Uns quinze dias depois, vimos surpresos alguma coisa se mexendo e vimos que haviam descascado os dois ovos de jacu. Dois pintões, bem maiores que os de galinha, estavam ali mas demosntravam logo sua selvageria. Queriam sair correndo e se esconder. Para protegê-los, colocamo-los em uma gaiola de metal grande junto com a mãe garnizé. A coitada queria aconchegar os “filhos” como o faz com seus pintinhos, mas eles queriam sentar sobre os poleiros. Por fim chegaram a um acordo. Ela sentava-se sobre o poleiro e eles ficavam um debaixo de cada asa. Cresceram até estarem quase emplumados, quando um ficou doente e, de um momento para outro, morreu. 

O sobrevivente cresceu forte e saudável. Ficou adulto, tornando-se um exemplar soberbo de sua espécia e o chamávamos de Teko. Não sei dizer se era fêmea ou macho, pois não sou especialista em identificar sexo de aves. Mas extremamente manso, sentava-se no colo para ganhar carinho, acompanhava a gente até a roça, ou vinha voando para o lugar em que estivéssemos trabalhando, ficando por ali. Tínhamos que tomar cuidado para não atingí-lo com as ferramentas que estivéssemos usando. Nas noites de lua subia nas cumeeiras do telhado e ficava passeando de um lado para o outro, fazendo ouvir seus passos com as unhas raspando nas telhas. Em dias qeu tínhamos visitas e sentávamos para conversar, era de seu hábito começar a correr igual um “maluquinho”. Dava voltas, cruzava e entrecruzaba pelo meio das cadeiras e pernas igual um raio preto brilhante. Em dado momento parava, pulava no colo, preferencialmente da visita ou uma delas, ali se sentava para descansar. Olhava ao redor como que dizendo: “Eu quero carinho! O que está esperando?” Quando se fartava de ficar ali, pulava para o chão e ficava por ali piando. Na hora de coar o queijo, era uma luta. Ele adorava comer os pedaços de coalhada. Se deixasse ele comeria metade do queijo. 

Ficou conosco aproximadamente dois anos, pouco menos talvez. Ultimamente dormia sobre a carroça que ficava no galpão. Em determinada manhã ele não estava à vista. Coisa estranha pois geralmente ao clarear do dia ele vinha para dentro, pela janela da varanda que ficava aberta, ia até a nossa cama e deitava ao lado do travesseiro de Rita minha esposa. Ali puxava os longos cabelos para se cobrir e depois ficava quieto por longo tempo. Parecia querer se esconder para não ser visto ali. Nunca mais o vimos. Suspeitamos que alguém o tenha roubado, pois era extremamente manso. Há também a possibilidade de que o instinto natural o tenha levado a se incorporar a um grupo de aves de sua espécie que vinha perto de casa. Diveersas vezes os vimos nos pés de manga, caju a poucos metros de casa. Até hoje é uma incógnita o fim que teve o nosso Teko ou Teka. Infelizmente na época não dispunha de câmera fotográfica para registrar as imagens. 

Quando nossa vaca Pintada estava prestes a ter cria, foi preciso deixar de tirar leite dela. Nessa época Alceu Borges, dono de fazenda e uma pizaria na vila, ofereceu trazer uma vaca, a Mansinha para tirarmos leite tão logo ela parisse. Após algumas semanas na chácara, numa manhã a vimos, a pouco mais de 100 m da estrebaria, parada, sem sair do lugar. Fomos verificar e para surpresa a encontramos com dois bezerros. Havia parido um casal, que receberam os nomes de Keko e Kity. São eles que estão no colo dos nossos filhos gêmeos Augusto e Anselmo na foto mostrada acima. Mais ou menos na mesma época, meu tio Dionísio Wagner me emprestou uma carroça para bois e o marido da professora Débora Passamani tinha uma parelha de bois. Fiz uma caixa para a carroça e com ela transportava o pasto, mandioca comprada da família Marcelo para alimentar os porcos e também as vacas. Não tínhamos suficiente na chácara. Na primeira foto deste artigo estamos voltando com a carroça carregada de cana. A vaca Mansinha ficou na chácara por mais de dois anos e os bezerros gêmeos se tornaram os encarregados de puxar a carroça, quando alcançaram a idade para poderem trabalhar. 

Na outra imagem mostrada acima, o cunhado Edegar Baldin, na época residente em Toledo Paraná, está sentado simulando que está tirando leite da vaca Mansinha. Pura “treta”. Não tirou uma única gota de leite. Mas queria mostrar aos demais cunhados e parentes que fora até o Mato Grosso, lá tendo tirado leite. Na época ainda carregávamos água para beber, tomar banho e as vacas de 500 m de distância. Tínhamos vários baldes e todos, sem exceção, entrávamos nesse trabalho, até que um dia conseguimos autorização para canalizar água da rede de abastecimento da vila. Foi um verdadeiro alívio. Havíamos feito um poço que desmoronou antes de ser feito o entijolamento para segurar as paredes. Depois mandamos cavar outro. Tinha água temporáriamente mas depois faltava. Usávamos essa água principalmente para irrigar a horta. Uma bomba com motor a gasolina puxava a água e fornecia pressão para o esguicho. 

“Motores” do carro do ano, sendo soltos no pasto.

Retirando cangaha dos “motores”.
Família manejando os animais da chácara. 
Filhos assistindo retirada da canga dos “motores”.

Depois do trabalho, os “moteres” são soltos para pastar e matar a sede. Os filhos assistindo, depois de apreciar o passeio, evidentemente acompanhado de trabalho.

Anselmo com Gabiroto ao lado de Augusgo.
 Acima, Rita com os dois bezerros gêmeos. Ao lado os filhos gêmeos com o leitão criado guacho, Gabiroto. Muito manso e malandro. 
Outra tomada dos dois com Gabiroto.

Décio Junior, coçando porquinho Gabiroto.

Um trator de esteiras sob os cuidados do sindicato rural, era de uso comunitário. O proprietário de terras pagava o combustível mais uma pequena taxa para cobrir os custos de manutenção. Havia um número de horas limitado para cada proprietário, visando permitir atender ao máximo de usuários com alguma coisa a cada ano. Na imagem a seguir vemos a máquina executando serviço em nossa chácara. 


Infelizmente, antes de podermos aproveitar a área para plantar mais facilmente, fomos obrigados a vender e retornar a Curitiba, por conta dos problemas de saúde ocorridos com Augusto Mathias. Não havia condições de permanecermos em parte na chácara, parte em Curitiba e ainda Décio Junior na Escola Agrotécnica Federal de Cuiabá, localizada em São Vicente da Serra. Onde se formou em 1975 como Técnico Agrícola, quando já morávamos em Curitiba. 

Novilha Kate, criada na chácara.

Essa novilha foi adquirida de meu tio Dionísio Wagner em troca de madeira de cerejeira para móveis. Foi criada mansa como um cachorrinho. Não foi uma nem duas vezes que escapou do pasto e veio na varanda espiar as panelas em que minha esposa Rita estava cozinhando sobre o fogão caipira que eu havia feito. 

Aniversário de Rita Conti Adams, 24.09.1988.

Mais uma foto do aniversário de Rita.

Era habitual festejarmos os aniversários entre familiares, especialmente com meu Tio Dionísio Wagner, Florida Wagner(irmã de minha mãe), suas filhas e filhos. Assim abaixo mais duas imagens do aniversário de Rita em 1989.
Aniversário de Rita, 24.09.1989.

Aniversário de Rita, 24.09.1989

 Em 1987, em um determinado domingo, ao sair da igreja após o culto, encontrei com Dionísio Wagner, casado com Florida, irmão de minha mãe. Morava na época em Jacutinga, no município de Missal – PR. Estivera em Juína com uma excursão e estavam voltando. Não tivemos muito tempo para conversar pois eles seguiram viagem depois. Na estrada de retorno ele conversou com o proprietário da Serraria Carvalho que estava no mesmo ônibus. Terminaram por combinar negócio e pouco tempo depois Dionísio, o Filho Jaime e Luciano Brixner, namorado da prima Roseli, vieram trabalhar na serraria. Ao final do ano, retornaram e haviam feito negócio com o pai de Arlindo Braun. Ele, em sociedade com o outro filho José, estavam vindo instalar outra serraria nas proximidades. Alguns meses depois vieram de mudança e assim passamos a conviver mais de perto, após alguns anos de distanciamento. Nos auxiliávamos mutuamente em diversas emergências. Inclusive por ocasião do aniversário dele, preparamos a comemoração em nossa casa e o atraimos com uma artimanha. 

Quando tudo estava pronto, Décio Júnior percorreu correndo os mil e poucos metros sob a luz do luar, pedindo socorro. A mãe Rita havia despejado acidentalmente uma panela de água ferventa nos pés e se queimara terrivelmente. Sem pensar, quase deixando a esposa e uma das filhas para trás, pulou no seu Gol chaleira e veio correndo prestar socorro. Mina esposa estava sentada com o pé numa bacia com água, coberta com uma toalha, simulando que estava realmente necessitando de socorro. Ao chegar próximo da porta, as velas do bolo foram acesas e começamos a cantar Parabéns pra você. Ele levou o maior susto da vida dele. Não esperara que estivessem lhe armando uma surpresa daquelas. Era um homem de grande bondade. Incapaz de dizer não, chegava a ser ingênuo. Mas lembro dele com muita saudade e peço que Deus o tenha em sua glória. Infelizmente nos deixou há alguns anos. 

Décio Adams, sentado no meio da coivara, em janeiro 1987.

Edegar Baldin Junior, atrás da casa.

Vista da roça, mandioca, abacaxi e casa ao fundo. 

Rita Conti Adams, sentada na coivara, escutando música no Sony dois em um(radio e toca fitas).

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