Caminhando.
Sérgio Venturini, professor da rede de ensino público do Estado do Rio Grande do Sul, lotado em escola na cidade de São Luiz Gonzaga. É natural de Ivorá, no mesmo estado. Sua formação é na área de História e Geografia. Alia à atividade magisterial a pesquisa histórica, especialmente no que tange às reduções jesuíticas, tanto no território brasileiro, como nos países vizinhos Paraguai, Argentina e Uruguai. É devoto do agora Santo Roque Gonzales de Santa Cruz, jesuíta nascido no Paraguai e fundador de um grande número de reduções nos quatro países. O resgate dos fatos históricos da vida do santo, é objetivo de Sérgio.
Depois de muito pesquisar, visitar pessoalmente as reduções jesuíticas em território nacional e também na Argentina e Uruguai, ele se propôs realizar caminhadas refazendo o caminho de Roque Gonzales. Enfrentou dificuldades diversas, desde uma proibição existente a nível estadual de ausentar-se do território nacional, enquanto em exercício de função pública, até falta de apoio financeiro e logístico. Depois de enfrentar a tudo com garra e coragem, iniciou a primeira caminhada em San Ignácio Guazú, Paraguai, passando por Encarnacion, Posadas, retornando ao território brasileiro pelo local em que Roque Gonzales realizou a travessia em barcos de pequeno porte, expondo-se à riscos em época de cheia.
No Brasil ele teve a companhia de grupos de amigos e apoiadores, percorrendo o que veio a se denominar de Trilha dos Santos Mártires. Repetiu o feito em 2004 e 2006. O último foi feito em época diferente e não contou com a companhia em sua caminhada. Diversas pessoas generosas, tanto do Paraguai como da Argentina, forneceram local para dormir, alimentação, deixaram registros escritos em seu diário de caminhada. É notável o fato de diversos membros do clero recusarem apoio, assim como pessoas bem situadas financeiramente renegarem seu esforço e dedicação. Por outro lado há também a compensação de quem se importa, estimula e reconhece a importância do esforço, injetando novo ânimo no coração de Sérgio.
Em 2008 iniciou a parte mais ambiciosa do projeto. Caminhar de Assunção, capital do Paraguai, passar pela Argentina, ingressar no Brasil por São Borja e em Livramento, transpor a fronteira do Uruguai, chegando à Montevidéu, depois Buenos Aires. O objetivo era comemorar sua aposentadoria do serviço público, porém, esta foi negada em face de mudanças nas regras, obrigando-o a trabalhar por mais tempo até conquistar o direito à aposentadoria. Confiando na concessão do direito, quis celebrar seu quinquagésimo quinto aniversário, iniciou a caminhada no Colégio Cristo Rei e não tardou a receber a notícia de que seria preciso interromper a jornada, pois a aposentadoria fora adiada. Caminhou até a cidade de Posadas, onde interrompeu e voltou ao trabalho. Cerca de um ano e meio depois retomou o percurso, com apoio de um amigo argentino, Larguia. Seguiu até Rivera, onde cruzou a ponte e chegou a São Borja. Na continuação visitou a fazenda onde morou Getúlio Vargas entre 1945 e 1950, quando retornou à presidência. Encontrou-se em São Borja com escritores amigos como Israel Lopes, Ramão Aguilar e outros.
As mesmas atitudes de aprovação de uns e desaprovação ou desconfiança de outros encontrou no território brasileiro e uruguaio. Chegou a capital Montevidéu, visitou o Carmelo e dali passou para o lado argentino, entrando em Buenos Aires pelo lado de Tigre. Conheceu um estabelecimento jesuíta, onde trabalhou como professor Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco. Assim completou o objetivo de percorrer todos os caminhos palmilhados por Roque Gonzales de Santa Cruz em sua atividade apostólica junto aos índios guarani. Fez um relato detalhado de suas caminhadas, coletou informes preciosos sobre o atual estado do que restou das reduções fundadas por ele, seus companheiros e outros que vieram depois.
É um trabalho valioso para quem tem interesse em conhecer as origens dos povos que hoje habitam grande parte do território do sul brasileiro, boa parte da Argentina, Uruguai e também Paraguai. É inegável a importância do trabalho desses intrépidos missionários, que, bem antes da fundação das primeiras colônias portuguesas no litoral sul do Brasil, haviam criado um florescente conjunto de cidades, com avançado grau de desenvolvimento para a época. O mais importante era a vivência da fraternidade em conformidade da mensagem deixada por Jesus Cristo. Intrigas políticas, ambições e disputas territoriais causaram a destruição quase total desses centros de civilização. Em seu lugar restou um imenso contingente de descendentes vivendo em condições geralmente precárias.
Parabéns ao professor Sérgio Venturini pelo belíssimo livro. Encontramo-nos em Puerto Iguazu, nos dias 09 a 12 de outubro passado, durante o XIº Encontro de Escritores do Mercosul. Trocamos exemplares de livros e assim tive acesso a esse trabalho. Espero encontrá-lo em outros momentos no decorrer dos anos.
Décio Adams
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