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Fantástico Mundo Novo- Vol. III – Recomeço em Orient, Cap. VII – Conquista do espaço segue.

  1. Conquista do espaço segue.

 

Os componentes da equipe de tripulantes, dividiam-se em dois grupos. Dois permaneciam na nave, enquanto os outros quatro saiam em expedições de exploração pelas regiões mais próximas. Levavam dispositivos elétricos, capazes de disparar descargas, cujo efeito seria de paralisar e pôr fora de ação algum animal agressivo. Sabia-se muito pouco e a cada instante deparavam-se com exemplares representantes da fauna ou flora de Luxor. Havia flores e também frutos. As árvores não eram exageradamente altas, pelo menos na região onde haviam pousado. Afastavam-se até distâncias consideradas seguras, para o caso de ser preciso retornar depressa. Andavam sempre carregados de equipamentos diversos, fazendo imagens, capturando espécimes de vários tipos de animais. As plantas, com suas folhas estranhas, tinham um brilho próprio. Deveria ser causado por alguma substância contida nelas.

Os frutos eram de vários tamanhos e iam sendo colhidos para acondicionamento sob refrigeração a bordo da nave. A longa viagem de retorno, as estragaria sem esse recurso. Levariam animais vivos apenas de espécies para as quais poderiam levar alimento, uma vez que não dispunham desse recurso a bordo. Tudo era pesado e anotado, para evitar algum eventual excesso de peso, o que poderia pôr em risco sua missão. Ninguém queria ficar no espaço ou sobre a superfície de Luxor. A mesma ansiedade que precedera a partida do solo de Orient, começava a fazer-se sentir pelo momento do início do retorno. Ao final de cada período de claridade, aproveitavam para descansar por algum tempo. Dessa forma, ao chegar o momento de partir, haviam percorrido praticamente cada ponto de uma região aproximadamente circular em torno do local de pouso da nave.

Os sistemas de refrigeração estavam abarrotados de peças para estudos nos laboratórios de Orient, onde eram aguardados por cientistas animados. Na hora determinada, os propulsores foram acionados e o movimento lento de decolagem vertical teve início. Ao atingirem a altitude apropriada, já em aceleração constante, o comandante e o piloto estavam atentos aos instrumentos para o momento da saída de órbita. A velocidade de escape tinha que ser atingida com precisão, para não haver risco de seguirem em direção errada. Pequenos desvios eram passíveis de correção, porém um erro muito grande, tornava a manobra irrealizável. Os mapas precisos do espaço circundante, com pontos de referência bem definidos, permitiram a localização exata e aceleração para velocidades cada vez mais elevadas. Em alguns minutos atingiam as proximidades do limite suportado pela nave, sem riscos de causar danos à estrutura.

Durante os dias de permanência na superfície do satélite Luxor, em horários previamente determinados pela equipe de Orient, eram feitas transmissões de som e imagens, que posteriormente eram respondidas, uma vez que demoravam algum tempo para chegar ao planeta. Assim era preciso esperar pelas respostas, antes de enviar novas mensagens. As imagens também levavam novas informações para complementar o que já se sabia através das imagens obtidas pelas sondas automáticas. A cada dia de viagem, o tempo decorrido entre a emissão e recepção das mensagens era reduzido, pelo encurtamento da distância. Alguns exemplares de animais levados vivos, não suportaram o longo período de viagem. Os alimentos naturais que compunham sua dieta, perderam o viço e com isso eles morreram de fome.

Seria um problema a resolver em novas expedições. A questão era descobrir como conservar esses alimentos para levar os animais por tão longo percurso. O mais interessante seria trazer material e equipamentos para montar um laboratório básico e fazer as análises mais urgentes. Assim poderiam dispensar o transporte de animais vivos. A vertiginosa velocidade com que se deslocavam, fazia mudar o panorama divisado do espaço, a cada momento. Estrelas e planetas ficavam para trás, outros se aproximavam. Os tripulantes, ocupavam suas horas de vigília a bordo, cuidando dos animais que traziam, supervisionar a carga, completar análises visuais, descrições, registrar observações que haviam feito. Cada fragmento de informação era necessário anotar, para no final compor uma imagem mais completa de toda aventura.

Em menos tempo do que esperavam, pelo menos era essa a impressão que tinham, verificaram que em pouco mais de dois dias estariam em casa. A adrenalina subiu nas alturas e todos ficaram um tanto alvoroçados. Tinham andado tão ocupados com as várias atividades que o tempo parecera voar e começaram a imaginar o momento de abraçar os parentes, esposos, filhos, irmãos, amigos e vizinhos. Imaginavam as intermináveis perguntas que teriam que responder, pois, por mais que relatassem, sempre haveria mais alguma coisa a ser dita. Seriam precisos longos meses para terminar esse processo. Já haviam transmitido alguma coisa durante a viagem, na forma de textos e imagens associadas. Tudo fora colocado à disposição do público, ansioso por novidades. Mesmo assim, sabiam que as conversas com filhos, esposos, irmãos e amigos, seriam longas.

Finalmente chegou o momento do pouso. O local determinado ficou livre para a eventualidade de um pequeno desvio ocorrer por conta de algum imprevisto. A nave entrou na camada superior da atmosfera, com velocidade já bastante reduzida em relação ao que viera desenvolvendo. Usando de um sistema de freios especialmente desenvolvidos para tal fim, conseguiu ficar estacionária por uns poucos segundos, iniciando então a descida até o solo. Uma multidão estava sendo mantida afastada, por um cordão de isolamento. Antes de poderem ter contato com o povo, teriam que passar por um programa de checagem completo em todos os sentidos. Era possível trazer algum tipo de micro-organismo, existente em Luxor e que poderia afetar a saúde dos humanos. Durante a estadia no satélite, o constante monitoramento realizado, não constatara nenhuma alteração no organismo de nenhuma das seis pessoas de bordo.

Mesmo assim, todo cuidado era pouco. Expor a população inteira do planeta à uma eventual contaminação por algo desconhecido e potencialmente letal, seria muita temeridade. A tecnologia disponível permitia verificar completamente todo corpo humano, em busca de quaisquer alterações, quer na pele, quer nos órgãos internos mais sensíveis. O pouso havia ocorrido pouco depois do meio dia no local e, menos de um dia depois, já estava tudo controlado. Nenhum micróbio alienígena e letal havia vindo de “contrabando”. Os tripulantes estavam em perfeito estado de saúde e tudo que haviam trazido, estava isento de agentes nocivos. Os seis foram liberados para poderem se encontrar com as famílias, que os aguardavam num espaço especial, destinado a esses momentos. As pessoas mais próximas tinham o direito de matar a saudade primeiro, já que havia decorrido mais de meio ano desde a partida da equipe.

Os abraços foram intermináveis, risos e choro se misturaram, algumas perguntas receberam respostas, porém, a maioria teria que ser refeita posteriormente para obterem respostas adequadas. Por fim, terminada a emoção do reencontro, foram encaminhados para um gigantesco anfiteatro, onde a acústica era perfeita e grande parcela da população regional estava ali, esperando. Uma salva de palmas ressoou no recinto enquanto eles se encaminhavam para o estrado, de onde poderiam ser vistos e ouvidos por todos. Começaram por relatar, de modo resumido, suas impressões da longa aventura. O primeiro a falar foi o comandante, seguido pelo piloto, que era responsável pela manutenção da direção e controle da velocidade a cada instante. Quando ele descansava, o comandante se encarregava desse controle, ou um dos outros. Na verdade, cada um tinha a condição de desempenhar as funções necessárias a bordo, pois nunca se sabia o que poderia ser esperado em um empreendimento de tal envergadura.

Quando todos terminaram de fazer seus relatos, uma lista de perguntas havia sido selecionada para que fossem respondidas. Algumas dirigidas a alguém especificamente, ou a equipe como um todo, podendo ser respondida por um deles, ou receber contribuições dos demais integrantes. Todas foram respondidas na medida do possível, embora algumas fossem tão minuciosas que nem eles mesmos tinham certeza do que dizer sobre a questão. Responderam o que foi possível dizer, ficando alguns detalhes por conta dos cientistas. Eles iriam estudar os animais, plantas, sementes, frutos, raízes e rochas que estavam depositadas nos locais adequados dos laboratórios. Suas conclusões iriam dar resposta a algumas das questões propostas. Ao anoitecer, finalmente a multidão se retirou voltando para suas casas. Não que estivessem saciados de novidades, porém, era preciso cuidar dos afazeres, da alimentação e outras ocupações.

Os próximos meses foram de frequentes viagens dos tripulantes, geralmente dois a dois, para os vários pontos do planeta, onde o povo também estava curioso por chegar perto de pessoas que haviam viajado para local tão distante. Eram, de certo modo, a realização dos sonhos da maioria da população. Como era impossível levar todos, era importante matar sua curiosidade a respeito dos astronautas. Foram dias cansativos, pois não lhes sobrava muito tempo para cuidar de suas próprias vidas. O frenesi foi arrefecendo, quando foi anunciada a partida da próxima missão. Uma grande quantidade de informações sobre a vida no satélite, sua utilidade, a possibilidade de exploração para uso no planeta, eventual cultivo de espécies nativas de Luxor, em solo de Orient ainda esperava por uma análise mais detalhada. O volume de informações colhidas era muito grande e sua análise envolvia um grupo gigantesco de especialistas.

Tudo ia sendo liberado para o domínio público na medida em que as descobertas iam sendo feitas. Havia vegetais que seriam de grande utilidade por suas propriedades terapêuticas. Não seria necessário um grande volume das sementes ou folhas, cascas e mesmo raízes. Já os animais trazidos, eram em boa parte passíveis de servir como alimento, porém, ao que parecia, seria impossível sua criação em Orient, por causa dos alimentos que ali não eram disponíveis. Com o término dos alimentos trazidos, foi providenciado o sacrifício, não sem antes tentar alimentá-los com plantas e sementes nativos de Orient. Mas eles os recusaram e o sacrifício seria preferível a uma morte lenta sem alimentos. Houve tristeza por isso, mas era a melhor solução. O tempo até a próxima missão, que poderia leva-los de volta, seria muito longo para mantê-los, mesmo com algum recurso de alimentação química.

Com a nova missão, que partiu exatamente um ano e dois dias depois do início da primeira. Dessa vez nova equipe de tripulantes, tendo recebido orientações preciosas dos primeiros sobre vários efeitos a ser esperados. Os dias seguiram seu rumo, agora provocando menos alvoroço, uma vez que a primeira viagem havia tido sucesso. Mesmo assim, os cientistas, engenheiros responsáveis pela viagem, ficavam vigilantes a qualquer sinal que vinha da nave, em seu longo caminho. Dessa vez o pouso seria feito em outro local no solo de Luxor. Queriam investigar mais detalhes da vida e levavam a bordo, um pequeno laboratório, onde seria possível fazer várias análises, cujos resultados seriam enviados aos equipamentos em Orient e ali analisados. Um projeto de nave maior, com capacidade de carga ampliada, estava sendo elaborado. Iria permitir futuramente a ida de grupos maiores de pessoas, que permaneceriam por temporadas mais prolongadas, antes de retornar.

Também poderiam transportar alguns equipamentos para usar os materiais existentes no satélite na construção de abrigos e instalações, para pequenas colônias, nos locais mais apropriados para uma primeira etapa. Mas, enquanto isso, restaria para ser realizada uma série de mais quinze missões, usando o presente modelo de nave, submetido à algumas atualizações e aperfeiçoamentos. A segunda e terceira missões, trouxeram informações preciosas, no tocante à existência de materiais de alto interesse para a indústria em vários campos. Isso levou à intensificação das pesquisas visando desenvolver os modelos de transportadores em cogitação. Era altamente desejável poder trazer os materiais encontrados, para aplicações em vários campos da indústria. Seria importante dispor de meio de transporte suficientemente potente, permitindo levar equipamentos para extração de minérios e sua preparação primária, antes de embarca-los. As autoridades civis estavam empenhadas em levar os benefícios dessas viagens ao máximo de pessoas, no menor tempo possível.

Os tripulantes das primeiras viagens, depois de um período de descanso, voltaram a receber novos treinamentos, visando viagens futuras. Com a aceleração do projeto de construção das naves maiores. Foi revisto o programa de missões usando as naves mais limitadas do começo. Ficando pronto e testado o novo modelo de veículo, passariam a usá-lo. Poderiam assim intensificar as atividades no satélite. O fato de orbitar um planeta de dimensões consideráveis, faziam de Luxor um ambiente sutil. A temperatura nos diversos momentos do dia, apresentava uma variação bem ampla. Os raios de Esplendor, incidiam alternadamente sobre pontos variados. O eixo de rotação, determinando os polos magnéticos e geográficos, ficava com uma inclinação variável em relação à estrela. Isso determinava a grande amplitude de temperaturas.

Sob efeito desse clima, as plantas apresentavam características específicas. Tinham a capacidade de suportar essas variações climáticas em intervalos de poucas horas. Em decorrência dessa capacidade, havia nutrientes específicos em suas sementes, folhas e caules, não encontráveis no planeta. Foi feita tentativa de plantar esses vegetais na superfície de Orient, porém não funcionou. O solo não era tão diverso, mas o clima era inadequado. A falta da variação térmica, levava as plantas a não se desenvolver com a mesma rapidez, além de perder parte de seus nutrientes. Teriam que produzir as quantidades desejáveis na superfície do satélite. Se extraíssem os nutrientes no local, transportando somente os extratos para o planeta, economizariam muito no transporte. O que era altamente recomendável, visando trazer os benefícios, com menores custos.

Dessa forma, paralelamente com as pesquisas de novos veículos mais potentes, iniciou-se a busca por meios de obter os nutrientes das plantas de Luxor. Nas pequenas naves era possível trazer a cada missão, uma quantidade limitada de grãos, folhas, caules ou frutos para as pesquisas. Uma vez desenvolvida a tecnologia, bastaria levar o equipamento desmontado e fazer a remontagem no destino. Tal fato abriu um vasto campo de pesquisa e fez surgir atividades antes não imaginadas. Todas as nações do planeta contribuíam para manutenção do programa de viagens espaciais. Em alguns momentos foi sugerida a realização de viagens para pontos mais distantes, em busca de novos mundos e talvez a presença de vida inteligente. Mas no momento esse não era o objetivo a ser alcançado. Convinha dar um passo de cada vez.

Era mais interessante aprofundar as buscas por novos recursos na superfície e subsolo de Luxor, que estava ali, praticamente ao alcance das mãos, se comparado a outras estrelas e seus possíveis planetas. Instrumentos de observação haviam sido instalados em Single e Selington, vasculhando as profundezas do espaço, em busca de informações sobre expansão, surgimento e morte de estrelas. No entanto, ainda estavam longe de identificar algum objetivo mais longínquo, com possibilidades de apresentar vida ou mesmo condições de habitabilidade. Essas pesquisas teriam prosseguimento, mas a atenção maior, ficaria voltada para o que estava próximo, praticamente no quintal de casa. Objetivos mais distantes, ficariam para ocasiões futuras, quando houvesse disponibilidade de recursos e tecnologia adequada.

Quando faltavam cinco missões das planejadas inicialmente, o novo transporte ficou em condições de teste. Os tripulantes mais bem preparados tiveram o encargo de realizar alguns voos experimentais, testando todas as funcionalidades do novo veículo espacial. O dispêndio de energia era significativo, de modo que os testes foram limitados ao necessário para comprovar o funcionamento sem falhas. Haveria a bordo de cada missão uma equipe de manutenção, capaz de corrigir pequenas falhas que poderiam vir a ocorrer. A capacidade de transporte era equivalente ao que 100 (cem) das naves até ali utilizadas poderiam levar. Foi preparada a primeira missão com esse veículo. Partiu levando uma equipagem de 100 pessoas, fora os navegadores e encarregados da manutenção.

Os equipamentos desenvolvidos especialmente para funcionar no solo de Luxor, ocuparam a maior parte do espaço de carga. Iam com a intenção de instalar a primeira colônia. Haviam identificado as espécies de madeira apropriada para realizar construções. Várias espécies de rochas passiveis de serem cortadas para uso nos alicerces e mesmo paredes também estavam determinadas. Para cada tarefa existia a ferramenta apropriada. O espaço exíguo existente, obrigava todos a adaptação para viver em espaços reduzidos. Isso fizera parte do treinamento intensivo levado a efeito na fase final da preparação. Enquanto este fazia o percurso de ida e volta em alguns meses, foram concluídos mais dois veículos iguais ao primeiro, mas incorporando algumas novidades desenvolvidas no decorrer do período.

Ao retornar, já havia um carregamento significativo de materiais processados no período de alguns meses em que lá haviam ficado. Do grupo todo levado na ida, permaneceram no satélite 85 pessoas, encarregadas e continuar os trabalhos, tanto de término das construções, cultivo das primeiras plantações destinadas à colheita futura, bem como extração de minérios em fase inicial. Havia urgência na obtenção desses materiais, para permitir desenvolver alguns processos de fabricação que desejavam implementar. Assim poderiam dar início ao plano traçado, até que um suprimento mais substancial fosse disponibilizado. Além disso, os cientistas que acompanharam a missão, voltaram com mais novidades identificadas em suas incursões até pontos mais distantes do local de pouso. Um veículo pequeno, mas robusto, fora levado e nele haviam se deslocado até lugares mais afastados. Novas plantas foram identificadas, insetos e animais coletados, chegando a algumas centenas de espécies em cada tipo de forma viva encontrada.

Não faltaria matéria de estudos para os cientistas nos próximos séculos, uma vez que as características dos seres encontrados em Luxor eram bastante diversas dos existentes em Orient. Não deveriam também abandonar a continuidade de pesquisas relativas a formas de vida animal e vegetal existentes no planeta. Apesar dos avanços fantásticos, ainda restava muita coisa por decifrar, provavelmente isso terminaria somente em algum dia no futuro distante.

Junto com Orient, orbitavam em torno de Espectron outros 11 (onze) planetas. Em órbitas menores, havia Mercer e Vulcan, com dimensões um pouco menores do que Orient. Saindo para mais distante, encontravam-se, por ordem de distância crescente Waltric, Kasper, Lunardon, Yperling, Postiang, sendo este o gigante, em torno do qual orbitava Luxor, além de Cisper e Caspion, um pouco menores e órbitas diferentes. Os mais distantes eram os que haviam sido descobertos por último, sendo também de dimensões menores. Suas denominações eram Jaspick, Liverger e Ulmer. Estavam em projeto algumas missões destinadas a orbitar os planetas irmãos, principalmente aqueles que mostravam sinais de poder oferecer algum interesse à população de Orient. Os dois mais próximos de Espectron, apresentavam um problema relacionado com a temperatura em sua superfície. Ficavam muito perto da estrela e isso era difícil de contornar.

Não existia pressa nessa questão. A evolução da ciência e tecnologia caminhava par e passo com o crescimento da prática religiosa da população. O corpo de cientistas, em todas as áreas do conhecimento, era dedicado quase integralmente à sua atividade. Estavam, praticamente sempre, ocupados com alguma coisa relativa a área em que atuavam. Por isso residiam fora dos centros de laboratórios, para se afastarem do trabalho, por algumas horas e conviver com as famílias. Trabalhavam por prazer, pois suas mentes funcionavam incessantemente focadas no objetivo alvo de seus estudos. No entanto, mais de 70% da população em geral, tinha um nível de conhecimento bem próximo do que tinham os cientistas. Era possível ver um cidadão, que atuava em uma área mais simples ou comum, dialogando em nível de igualdade sobre os assuntos mais complexos. Mas, os 5% que se dedicavam realmente à pesquisa, tinham um aprofundamento tal, que lhes era difícil desligar-se.

A exploração do solo de Luxor trouxe muitos benefícios para a população de Orient. A expectativa de vida média das pessoas, nesse tempo, oscilava em torno dos 130 anos. Com as inovações introduzidas com nutrientes especiais vindos de Luxor, essa média rapidamente saltou para 150 anos e muitos alcançavam até mesmo 180 anos de vida. O mais importante era que eram vidas longas e produtivas, pois a degenerescência física tornou-se muito lenta. Passou a ser comum ver uma pessoa de 140 ou até 145 anos, em plena atividade no seu dia a dia, sem necessidade de ajuda especial. Com isso, a experiência trazida dos seus anos de juventude, acumulada com todo esse período de existência, ajudava em muito o crescimento religioso de toda população. Os mais idosos eram os orientadores, os contadores de histórias dos mais jovens, das crianças e adolescentes. Estes benefícios foram estendidos a todos os continentes e nações, até mesmo aquelas que um dia haviam se afastado do culto original ao Pai Universa, residente na Ilha do Paraíso.

O ecossistema existente em Luxor, era mais rústico do que o de Orient, por conta das diferenças climáticas. A amplitude térmica fizera um trabalho de artífice, criando um ambiente resistente a muitas variáveis. Mesmo assim, era importante proteger a diversidade encontrada. Não era permitido instalação definitiva de ninguém, em solo luxoriano. A permanência tinha prazo para começar e terminar, mesmo que pudessem ser repetidas as experiências, pois nem todos queriam ir para lá. Muitos não tinham possibilidade de enfrentar a longa viagem, por sua idade avançada, alguma debilidade física não resolvida, ou meramente por questão de vontade. Havia quem tivesse medo de embarcar em uma nave para empreender tal aventura. Respeitava-se a vontade de cada um, pois, no lugar destes, havia aqueles que iam e vinham várias vezes no decurso de sua existência.

As atividades em Luxor atingiram um nível considerado de equilíbrio quando havia transcorrido o primeiro século desde seu início. Julgava-se inconveniente expandir mais o nível de ação humana no satélite. Houve um ponto em que, a alimentação no satélite, era constituída quase exclusivamente de produtos autóctones, sendo trazido de Orient bem pouca coisa. O volume de produtos que saia constantemente do satélite, em direção ao planeta era muito maior. Chegou-se ao ponto de pensar na possibilidade de provocar um desequilíbrio do sistema como um todo. Dessa forma, iniciou-se o controle das quantidades de matéria trocadas entre os dois astros, visando compensar a massa deslocada de um para o outro. Enviava-se máquinas e equipamentos em geral para lá, enquanto vinham produtos semimanufaturados, matérias orgânicas, extratos de plantas e sementes. Seriam utilizados na composição de alimentos, máquinas e equipamentos, medicamentos e demais produtos industriais.

Há longo tempo os jovens, ao se darem conta de sua própria existência, viam em toda parte referências à existência de colônias localizadas no satélite Luxor, dentro do mesmo sistema planetário. Desse modo consideravam tal fato algo normal e corriqueiro. Só mais tarde, ao aprenderem nas escolas, ou lerem em livros e programas transmitidos por meio de aparelhos especiais, mostrando imagens das primeiras missões enviadas ao satélite, descobriam que isso era algo conquistado em época relativamente recente. Nem sempre fora assim. Aprendiam nos livros de religião que havia muitos mundos habitados no universo, sendo o deles parte do Universo local de Nébadon, cujo soberano era Micael, Filho Criador do Pai do Paraíso. No entanto, nada mais sabiam a respeito de outras civilizações em parte alguma.

Registros antigos davam conta da ocorrência de uma hecatombe em Orient, que levou à extinção de uma raça humana inteira. Para ocupar seu lugar e repovoar o planeta, um contingente havia sido recrutado num outro planeta, de nome Urantia. Imensos transportadores celestes haviam realizado o transporte através do espaço. Depois disso, pouco havia para saber, pois os seres intermediários, que no começo permaneceram com os colonizadores, se retiraram para a invisibilidade. Em raríssimas ocasiões, alguma pessoa da liderança religiosa, mantinha contato com um deles, de nome Nemur. Era encarregado de transmitir algumas informações aos líderes religiosos, sobre eventos que se aproximavam do acontecimento. Mas havia um certo ceticismo sobre a veracidade dessas entrevistas. Ninguém mais via o ser misterioso, levando alguns a pôr em dúvida sua existência real.

No fim, acabavam acreditando mesmo que permanecesse uma pequena dúvida. Pelo menos não questionavam abertamente. Em determinado ponto dessa situação, o principal líder religioso teve contato com Nemur e lhe relatou a situação. Sugeriu que talvez fosse interessante haver uma demonstração de sua existência, para evitar o aumento da descrença, ainda limitada a um pequeno número. O ser prometeu consultar os superiores sobre a conveniência dessa aparição ou demonstração. A base de tudo no campo religioso era a fé e desde o início, ficara subentendido que os homens deveriam caminhar sozinhos, com sua própria força. Alguns fatos ocorreram para amenizar o problema. Em várias ocasiões um par dos seres intermediários, tomando forma de um casal humano, caminhava pela cidade, conversando com uns e outros. Deixando mensagens positivas em vários lugares, fazendo referência ao mundo sobrenatural. Dessa maneira, passaram a ocorrer discussões frequentes sobre o assunto, entre pessoas de diversas idades.

Os mais idosos, eram categóricos em afirmar terem visto em determinadas ocasiões seres sobrenaturais. O resultado foi um avivamento da fé, especialmente entre a faixa mais jovem da população. Nesse ínterim, o líder religioso mais avançado em idade, recebeu a comunicação de que em data próxima, passaria pelo processo de fusionamento com a Fagulha ou Centelha Divina. Seu corpo se desintegraria e o espírito primitivo, resultante do fusionamento de sua mente, com a partícula divina iria direto para o último estágio no mundo das mansões. Dali seria depois transportado para a capital do Universo de Nébadon, iniciando sua ascensão rumo ao Paraíso. Esse acontecimento iria ser presenciado por um grande número de pessoas, no momento de uma reunião de adoração. Dessa forma haveria uma demonstração concreta da existência do mundo espiritual. Somente os mais próximos deveriam ser avisados da ocorrência próxima.

Esses fatos estariam se tornando mais frequentes dali por diante. Deveriam ser utilizados para difundir a verdadeira fé, o culto de adoração ao Pai Universal, junto com o Filho e o Espírito, que formam a trindade do Paraíso. No dia em que era comemorada uma data festiva, uma grande multidão estava reunida prestando adoração e o líder estava diante deles. Em determinado momento, seu corpo passou a emitir uma espécie de aura de luz, parecendo ficar transparente e aos poucos desapareceu diante deles. Nunca mais ninguém o viu e lhes foi informado que ele havia partido para o mundo espiritual, ao ter alcançado o nível máximo de perfeição possível durante a vida na carne. Cada um poderia alcançar tal estágio, desde que se empenhasse em fazer sempre a vontade do Pai, entrando cada vez mais em sintonia com a Centelha. Um estranho silêncio se abateu sobre a assistência. Aqueles que tinham duvidado da existência do sobrenatural, ficaram pasmados diante do acontecimento. Nenhum vestígio do corpo havia ficado presente. A carne se desfizera no ar diante deles.

A notícia desse fato extraordinário se espalhou rapidamente por todo globo, por meio das redes de comunicação, inclusive mostrando imagens nítidas do corpo desaparecendo diante da multidão reunida. Houve um afluxo grande de gente vinda de todas as direções, pensando em render homenagens ao líder desaparecido. Os demais que permaneciam à frente no comando, desestimularam tais demonstrações. O único merecedor de culto era o Pai do Paraíso e ninguém mais. Os seres humanos eram apenas isso. Seres humanos, que terminavam sua jornada na existência física e passavam para o mundo moroncial, onde teriam um longo caminho a percorrer até atingirem o Paraíso. Ali o Pai os estaria esperando para acolhê-los em seu abraço paternal. Cada um deveria cuidar de seu aperfeiçoamento constante, empenhando-se em seus momentos de adoração e oração, o que os levaria cada vez mais para perto da perfeição. O líder desaparecido, havia atingido o máximo possível e passara diretamente para o lado espiritual, sem sofrer o transe da morte física.

Assim a fé e os momentos de adoração passaram a ser mais intensamente vividos por todos. A humildade no serviço, a dedicação à vida fraterna eram fatores primordiais no aperfeiçoamento da mente e personalidade. Era importante estar aberto às orientações dadas pela Centelha, que, embora não dispondo de poder para fazer mudar de ideia, era capaz de dar indicações sobre o caminho a seguir. De tal maneira poderiam deixar-se guiar e um dia poderiam estar vivendo o mesmo momento vivido recentemente pelo primeiro humano no planeta Orient. Não deveriam ter pressa, apenas prestar atenção aos acontecimentos de cada dia, procurando dar o melhor de si para uma vida mais harmônica e fraterna. Se alcançassem o estado de perfeição apropriado, teriam a mesma graça. A tarefa cabia a cada um individualmente. Ninguém podia fazer isso pelos demais.

Uma onda de entusiasmo tomou conta de todo globo, bem como os integrantes das colônias situadas em Luxor, os trabalhadores temporários localizados em Single e Selington. Ninguém queria deixar de avançar o máximo em direção à perfeição, por mais difícil que isso pudesse parecer. Quem desejaria voltar a inexistência ao chegar ao final do período de vida na carne? A simples ideia de simplesmente deixar de existir, como se jamais houvesse tido alguém com esse corpo, esse nome, vivendo uma vida inteira, era chocante. Dava uma espécie de nó na cabeça. Tentar imaginar como seria esse momento do “deixar de existir” era um exercício bem complicado. Já imaginar-se acordar em um novo corpo, num mundo diferente para iniciar uma vida de progressão para a eternidade era mais fácil de aceitar.

Mesmo assim, havia indivíduos que consideravam o fim da existência como algo natural e viviam em função disso. Para eles a eternidade não existia, não passava de quimera, invenção dos religiosos para iludir o povo. Quando encontravam ressonância em alguém ou em um grupo, discorriam com entusiasmo sobre suas convicções. Entusiasmavam-se e defendiam suas ideias com palavras grandiloquentes. Mas, quem prestava atenção aos detalhes, logo percebia que todo esse palavreado era na verdade uma quimera. Como explicar o surgimento de todo universo, tão vasto e complexo, se não existisse uma força criadora envolvida nesse processo? Quando lhes faziam uma pergunta mais incisiva, com mais profundidade, perdiam a capacidade de responder e saiam com alguma evasiva.

Não tardou para que se anunciassem em diferentes lugares, a proximidade de ocorrências semelhantes com líderes religiosos, convocava-se a população para vir assistir ao espetáculo. Ao investigar mais detalhadamente a origem de tais boatos constatou-se que eram anúncios falsos. Nenhum dos nomes citados eram líderes de comunidades na área religiosa e nem os lugares eram centros de reunião para adoração e louvor. Na data anunciada, houve a publicação de vários filmes de imagens, mostrando supostas desmaterializações de corpos, que viravam fumaça. O que alguns céticos e ateus pretendiam usar como uma forma de desmoralizar a religião, transformou-se em um grande vexame. Os autores da “pantomima” foram identificados e suas imagens, junto com os nomes publicados em programas de comunicação, bem como sistemas de troca de mensagens entre sistemas eletrônicos.

Houve quem sugerisse um processo contra os autores, exigindo retratação pública, mas foi considerado inconveniente. O fato de terem sido identificados e publicada a verdade, já era suficiente. Não havia necessidade alguma de querer pisar sobre os autores. Os líderes alimentavam a esperança de que esses mesmos ateus ainda mudassem de opinião e viessem integrar as fileiras dos filhos de Deus. Um processo que visasse sua humilhação, poderia afastá-los definitivamente da religião. Se fosse de sua escolha não aceitar a vida eterna, esta deveria ser feita de modo livre e sem coação.

O programa espacial de Orient, continuou com sua atividade no satélite Luxor, trazendo de lá inúmeros benefícios para a vida do povo em geral e o desenvolvimento industrial em geral. O fato de estarem em Luxor, facilitava as pesquisas no outro satélite do mesmo planeta, sendo necessária uma viagem relativamente curta. Era um satélite menor, não dispunha de atmosfera nem vida na forma conhecida. O importante era que foi detectado por meio de análise de fotografias a existência de vários minérios em grande quantidade e sumamente importantes na indústria básica de Orient.

Facilmente foi desenvolvida uma estação de pesquisa e extração desses minérios e posterior transporte para o planeta. O volume necessário era pequeno, porém, a importância era incalculável. Dessa forma, depois de desenvolver uma verdadeira colônia em Luxor por mais de um século, decidiu-se por enviar missão ao satélite vizinho. Ficava ali ao lado, a poucas horas de viagem. A colônia existente em Luxor serviria de entreposto para trazer os minérios. Em poucas viagens, havia sido instalada uma estação de mineração no novo satélite. Em mais uma ou duas viagens, começaram a chegar os primeiros lotes de minérios extraídos no novo satélite. Eram minérios usados em ligas metálicas e outras aplicações, em componentes microeletrônicos, portanto em quantidades mínimas, mas de importância fundamental.

Enquanto isso os ateus que tentavam conquistar adeptos, começaram a ser alvos de chacota por conta do fiasco que protagonizaram com os falsos fusionamento, anunciados e propalados para enganar a população. O povo, tendo visto o verdadeiro fusionamento e a posição serena dos líderes religiosos, colocou-se ao lado das verdades reveladas, praticava as atividades religiosas. Dessa forma, em alguns anos, ocorreu novo fusionamento, dessa vez em um centro onde havia um forte núcleo de ateus. Eles ainda tentaram desconstruir o fato, mas os fiéis presentes, foram contundentes em seus depoimentos. Era um fato incontestável o que haviam presenciado e equipamentos eletrônicos haviam registrado as imagens com nitidez, não deixando dúvidas sobre a veracidade do acontecido.

Depois disso, vários entre os ateus mudaram de posição e começaram a se inteirar detalhadamente de tudo que se sabia sobre a verdade revelada. Puseram-se a estudar em profundidade a vida de Mink e dos primeiros colonizadores, encontrando em suas mensagens fatos verdadeiros que lhes removeram a incredulidade. Tornaram-se assíduos frequentadores das reuniões de adoração, louvor e ação de graças. Começaram a viajar pelo planeta, participando de eventos, palestras e celebrações. Tornaram-se fervorosos adoradores, lamentando, em muitas oportunidades, o fato de não terem tomado essa atitude em um momento anterior de suas vidas.

Sabiam que teriam pela frente um longo caminho na vida moroncial, mas estavam empenhados em conseguir a sobrevivência. Não mais desejavam terminar os dias na inexistência, por ter recusado a eternidade. Sempre que ocorria algum fato extraordinário, ocorria um avivamento da fé. Um crescimento espiritual geral tinha lugar, elevando o nível geral de toda população em alguns degraus na escalada do caminho para o Pai. O gradual retorno à rotina, acabava por trazer um pouco de resfriamento, fazendo com que alguns começassem a fraquejar. Algumas dúvidas se insinuavam em meio aos mais suscetíveis de sofrer essas influências.

Por outro lado, sempre surgiam novos anunciadores, pregadores com renovado ardor e dedicação, capazes de sacudir as cinzas que se acumulavam sobre as brasas, reavivando as chamas. Dessa forma o crescimento da espiritualidade progredia em ritmo cada vez mais acelerado.

Ao alcançar o período de 200 anos após a conquista do satélite Luxor, de onde vinham suprimentos de diversos metais e outros minerais, tornados essenciais à manutenção do processo industrial. Da mesma forma, a existência de substâncias orgânicas, presentes nas plantas e animais do satélite, em parte propiciadas elas sutilezas do clima, oscilando entre temperaturas elevadas e baixas em curtos períodos de tempo, tornara-se inviável o nível de vida longa e com qualidade sobre a superfície de Orient. A essas alturas, ensaiava-se saltos mais ousados, pensando-se em alcançar lugares mais distantes. Restavam alguns problemas técnicos a resolver antes de isso se tornar possível.

Curitiba, 17 de junho de 2016 (Atualizado em 23/08/2016)

Décio Adams

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