Uma vida que termina.
Em 21 de agosto de 1924, nasceu na região de Lnha Acre, hoje município de Cândido Godoy, Leo Anselmo Adams. Sexto ou sétimo filho do casal Reinoldo e Leopoldina Adams. Ficou mais conhecido entre familiares e conhecidos como Anselmo, parece para diferenciar de um tio que tinha o nome Leo Adams. Tanto foi que, em seu sepultamento no dia 21/06 deste, vários sobrinhos dele me perguntaram sobre o nome, pois apenas o conheciam pelo segundo nome, jamais tendo ouvido o primeiro.
Isso aconteceu com vários filhos do casal Reinoldo e Leopoldina. Havia dois com o nome João, sendo um João Armando e outro João Ignácio. Ficaram conhecidos como Armando e Ignácio, espantando muita gente ao ouvir-lhes o primeiro nome. Há também dois com o nome Afonso e Affonso. Eram Afonso Pio e Affonso Roque. Ninguém os chamou jamais por Afonso ou Affonso.
No dia 08 de setembro de 1929, nascia Maria Dewes. Terceira filha do casal Mathias Dewes e Bertha Seibt Dewes. Seus irmãos anteriores eram Ottmar e Raimundo Dewes. Cresceu na região da Linha Marquês de Paranaguá e adjacências, onde mais tarde conheceu Leo Anselmo.
Já aos 21, prestes a completar 22 anos, Leo Anselmo foi incorporado às fileiras do exército, na cidade de Santo Ângelo, poucos meses depois de encerradas as atividades bélicas da Segunda Guerra Mundial contra as nações do eixo Alemanha, Itália e Japão. Seu tempo de serviço foi de seis meses e alguns dias. Durante esse período, teve contato com as armas de guerra, sempre temendo um retorno do conflito, a qualquer momento. Eis algumas imagens desses dias da vida de Leo Anselmo, durante o serviço militar.
Logo depois de ser excluido do exército, como reservista de primeira categoria, Leo Anselmo, tendo como objetivo reunir dinheiro para começar sua vida familiar, foi trabalhar na propriedade do Senhor Adalberto Bogorni, pai de duas filhas adolescentes e um menino menor. Os braços de Leo Anselmo vieram fazer o serviço pesado, que o senhor Adalberto não podia fazer, pois possuia também uma linha de ônibus, que ele dirigia.
Nesse tempo, conheceu Maria Dewes e, em princípio de junho do ano de 1948, casaram-se. Foram morar e trabalhar em Salvador das Missões, na época parte do Município de São Luiz Gonzaga, distrito de Cerro Largo. Haviam comprado, com dinheiro na maior parte emprestado, um moinho no estilo antigo. O milho e o trigo eram moídos na pedra, produzindo farinha de qualidade mais rústica. Hoje seriam bem valorizadas, pelos consumidores de produtos integrais. Naquele tempo, era o momento da expansão das moagens de trigo com processos modernos. Isso trouxe problemas de rendimento e o casal passou sérias dificuldades. Mesmo assim, conseguiram gradativamente juntar o dinheiro para pagar a dívida e comprar um pequeno pedaço de seis hectares de terra. Após dez anos, houve a possibilidade de vender o moinho e comprar uma colônia de terra, na Linha Paranaguá. Era tida como a pior colônia de terra na região inteira, ao ponto de haver quem dissesse: “Esse Adams, vai morrer de fome naquele morro vermelho, onde só dá formigas”.
Realmente, foi preciso gastar, para conseguir fazer crescer alguma coisa no primeiro plantio, 38 latinhas de formicida Blemco, que era usado para combater a saúva. Além disso, durante o trabalho de capina, cada um carregava no bolso um vidro com formicida granulado, para combater a praga. Os efeitos da erosão desenfreada, por falta de melhores cuidados, haviam deixado amplas áreas degradadas, ao ponto de os pés de milho atingirem, não mais de 25 ou 30 cm. Em lugar de verdes, ficavam azulados e nada produziam. Nem a mandioca, que gosta de terra ácida, crescia. Muitos cuidados, jogando qualquer palha e folhas disponíveis, nos locais degradados, plantando fileiras de capim limão, acompanhando a curvatura, aos poucos o solo foi recuperado. Tanto que, na época da venda, o valor foi idêntico ao que era cobrado por uma outra colônia, antes bem mais valorizada. Já havia sido comprada uma porção de terra no Paraná e a safra 1966/67, colhida no princípio de 67, foi excelente. Foi toda vendida, para reforçar o caixa da familia, que iria mudar-se para o Paraná.
Essa união completou, há menos de três semanas, 68 anos de existência, tendo nascido dessa união, este que escreve estas linhas, no dia 23 de dezembro do mesmo ano de 1948.
Nascido, na antevéspera de Natal, fui batizado no dia 31 de janeiro, tendo como padrinhos, João Ignácio Adams e Clara Bogorni (Filha de Adalberto). Pouco tempo depois também fui crismado, por ocasião da visita do bispo de Uruguaiana.
Aos dez anos ocorreu a Primeira comunhão de Décio. Aos 12 anos ingressou no Seminário São José em Cerro Largo, onde cursou até o início da 4ª Série ginasial em começo de 1965. Permaneceu em casa dos pais, trabalhando até maio de 1967, quando foi incorporado ao exército. Quinze dias depois a família carregava a mudança, sendo que a terra já havia sido vendida e mudou-se para Santo Alberto, no município de Foz do Iguaçu, hoje não mais existindo, pois faz parte do território do Parque Nacional do Iguaçu.
No dia 28 de agosto de 1950, nasceu Genésio Evaldo Adams, segundo filho de Leo Anselmo e Maria. Quando ele nasceu, a saúde de Décio era frágil e a avó Bertha decidiu levá-lo a sua casa, onde poderia cuidar melhor de sua saúde. Em 28 de maio de 1952, nasceu Agileu Aloísio, terceiro filho. Era sem dúvida o mais forte dos três nascidos até aquele momento. Cresceu com saúde, sem grandes problemas e tornou-se um dos de maior estatura da família.
Continuando a vida, o casal Leo Anselmo e Maria, viram nascer-lhes em 23 de maio de 1954 mais um filho, José Valdemar.
No dia 11 de dezembro de 1956, nasceu Ervídio Lourenço, quinto filho. Em 09 de abril de 1959, nasceu a primeira filha, Elvenete Maria Adams. Era bebê, quando a família se mudou de Salvador das Missões, para a Linha Paranaguá, onde permaneceu, por menos de 10 anos.
Neste ano, 1959, o vovô Mathias Dewes adoeceu. A falta de medicamentos e cuidados mais avançados, inexistentes e indisponíveis na época, fizeram seu cérebro ser gradualmente destruído, falecendo em 1964. As artérias foram sendo obstruídas uma a uma.
Em 7 de fevereiro de 1963, com quatro anos de diferença em relação à Elvenete, nasceu Tito Jorge Adams. Em 13 de setembro de 1965 nasceu Terezinha Marisa.
Com a mudança para Santo Alberto, deixando Décio servindo o exército, Maria ficou muitíssimo preocupada com o filho distante, vivendo em meio a perigos mil, segundo suas suposições. A tragédia veio se abater sobre a família no mês de outubro, quando Genésio Evaldo, caindo sobre um toco do a espingarda carregada nas mãos, detonou um tiro, que lhe perfurou a mão esquerda e penetrou profundamente na cabeça, causando danos extensos. sobreviveu ainda por algumas horas, quando veio a falecer.
Para completar, Maria estava grávida de seis meses e alguns dias, daquele que nasceria no dia 21 de dezembro, o nono e último filho, Clicério Tomé. Assim a família estava completa, embora faltasse Genésio e Décio estivesse prestes a voltar do exército. Este retorno ocorreu no começo de maio de 1968. Já no dia 09 tinha início seu período de trabalho e estudos em Foz do Iguaçu. Ingressou no extinto Banco Comercial do Paraná S.A, e deu continuidade aos estudos no Colégio Estadual Monsenhor Guilherme.
Enquanto isso, a família seguia sua luta diária na agricultura, onde estava instalada. Não tardou e receberam a notícia de que estavam proibidas novas derrubadas de mata, pois a área onde estavam instalados pertencia ao território do Parque Nacional do Iguaçu. A abertura da área, permitia o acesso às margens do Rio Iguaçu, divisa com o país vizinho, Argentina, que mantém na sua margem também um território igualmente na forma de Parque Nacional. Ocorreram alguns incidentes de pessoas, aproveitando o acesso às águas do rio, usarem de recursos para chegar à outra margem e ali fazer caçadas ilegais. Houve uma ocorrência mais grave em que um guarda parque argentino teria sido ferido ou mesmo morto, gerando um protesto do país vizinho.
Aconteceu que, a área de terras em questão, havia sido concedida a uma empresa ou pessoa, com documento de propriedade em épocas passadas. Quando da promulgação da lei criadora do Parque Nacional do Iguaçu, estes documentos foram ignorados, ou sequer eram do conhecimento de quem elaborou a lei e fez a demarcação da área. Assim sendo, o cartório de Registro de Imóveis concedeu registro às escrituras elaboradas, o que tornava os agricultores legítimos donos da terra, permitindo-lhes exercer seus direitos como tal. Mas os interesses nacionais e tratados internacionais, ficavam acima disso, obrigando o governo brasileiro a realizar um processo de desapropriação e reassentamento dos agricultores. Assim, o processo todo, até a transferência final dos moradores, para a nova área, localizada nas margens do Rio Ocoí, afluente do Rio Paraná, no município de São Miguel do Iguaçu. A área desapropriada era inclusive, bem maior que o total da área loteada no Parque. Isso permitiria que cada agricultor recebesse uma fração um pouco maior, dando assim possibilidade de assentar os filhos que estavam em idade de constituir família.
Porém, nesse ínterim, foi celebrado o acordo bi-nacional com o governo do Paraguai, tendo início a construção da barragem, que viria a ser a Usina Hidroelétrica de Itaipu. O lago formado, inundaria mais da metade da área destinada ao reassentamento. Assim, foi preciso restringir a distribuição da terra, sendo inclusive distribuída, a título precário, uma área posteriormente indenizada pela Itaipu Binacional, que foi cultivada durante os anos que transcorreram entre o início das obras de construção e o fechamento das comportas, para formação do lago. Dessa forma, em 1975 ocorreu a transferência da família de Leo Anselmo para a localidade denominada Santa Cruz do Ocoí.
Mesmo as limitações da área cultivada, não impediram a família de prosperar. Plantavam, colhiam e criavam suinos, chegando a adquirir em 1973 um trator com demais equipamentos. Em decorrência disso, arrendaram uma área de terra destocada, na fazenda de Valter Keller, a alguns quilômetros de distância. Ali realizaram uma safra de soja, com a qual foi comprada uma caminhonete Chevrolet, modelo Veraneio, ano 1972, pouco usada e bem conservada. Foi o primeiro automóvel da família. Eis imagens dela junto com a família inteira.
Em dezembro de 1974, Agileu Aloísio e Leo Anselmo estavam trabalhando na área que lhes coube em Santa Cruz e voltavam para casa, no trator. Era necessário percorrer um pequeno trecho da rodovia BR 277, para chegar em casa em Santo Alberto. Agileu dirigia o trator e Leo estava apoiado sobre tábuas fixadas no sistema de levantamento hidráulido. Num dado instante, um veículo modelo Kombi, Volkswagen, vindo por trás, bateu na larteral esquerda do trator, ferindo Leo Anselmo, que foi levado para um hospital em Foz do Iguaçu. Sofrera fratura exposta na perna direita e foi submetido à cirurgia. Mesmo transcorrido o período necessário para a consolidação, o local da fratura apresentava sinais de infecção e problemas de cicatrização. Ele foi transportado para Curitiba, onde foi consultado no Hospital de Clínicas e ali se tratou, tendo ficado algum tempo hospedado próximo ao hospital e depois retornado em viagens para revisão até a alta final, no término de 1977.
Em 1974, no dia 22 de maio, ocorre casamento de Décio com Rita Conti. Moraram até o começo de 1976 em Foz do Iguaçu, mudando-se então para Curitiba, onde vivem até hoje.
Em janeiro de 1975, casam-se Agileu Aloísio com Catarina Knapp, e pouco depois mudaram-se para a primeira área aberta em Santa Cruz, do Ocoí. Em julho do mesmo ano, casam-se José Valdemar com Lúcia Knapp. No princípio da primavera, ocorre a mudança da família para Santa Cruz. A casa, remodelada foi reconstruida na nova terra, existindo até hoje, com alcuns acréscimos e modificações. Após alguns anos, a propriedade foi fotografada por via aérea, mostrando todas as instalações e árvores frutíferas, mostradas nas imagens que seguem.
Muito trabalho e suor derramado para fazer produzir essa terra, onde foram assentados. Mas preguiça e falta de vontade, nunca fizeram parte do vocabulário da família. Com o tempo, o progresso chegou. Outros filhos casaram e foram viver suas vidas. Agileu e Catarina, que trabalharam em conjunto por algum tempo, mudaram-se para o Mato Grosso, na localidade Brasnorte, onde vivem até hoje, além de seu filho Evandro Luiz. Formado em Agricultura do Trópico Úmido, pela Escola Internacional de Agricultura do trópico Úmido, localizada na Costa Rica, onde estudou por um período de quatro anos. Passou cerca de 10 ou mais anos no cultivo de bananas no estado do Rio Grande do Norte. Com a decadência do setor, retornou para Brasnorte, trazendo com ele a esposa e uma filha.
Já residindo em Santa Cruz do Ocoí, ocorre o casamento de Ervídio e Neusa, indo morar numa área de terras nas proximidades. O casal tem os filhos Christian Leo, Ervídio Junior e Aline. Vivem na região de Coromandel no estado de Minas Gerais.
Chegou a vez do casamento de Elvenete, com Romeu Froehlich. Eles moram hoje em Primavera do Leste, estado de Mato Grosso, onde se dedicam ao plantio de soja, algodão e agricultura em geral.
Elvenete e Romeu, tiveram as filhas Kelly, Kátia e Fábio Romeu.
Em 1985, ocorreu o casamento de Terezinha Marisa com Afonso Fank, indo morar em Guarapuava, onde Afonso era sargento do exército. Dessa união nasceram Gustavo e Isabel. Viveram alguns anos em Natal, no estado de Rio Grande do Norte e hoje estão morando na propriedade de Leo Anselmo e Maria, que agora lhes pertence. O filho Gustavo mora em Natal e a filha Isabel estuda medicina na UNILA em Foz do Iguaçu.
Casaram-se primeiro Clicério Tomé e Erlete, hoje residentes em Aparecidinha de Goias. Seus filhos são Fernanda e Thiago.
Por último foi a vez de Tito Jorge, casar-se com Ivete, hoje residentes em Guarapuava, onde mantém uma pequena casa de comércio no ramo de supermercados. Os filhos são Lucas e Simone.
Em 2005, Leo Anselmo e Maria, mudaram-se para Guarapuava, tendo arrendado suas terras para terceiros cultivar, vivendo do arrentamento. Haviam construído uma bela casa no novo endereço, onde moraram até o último dia 21, quando ele faleceu, indo morar no jazigo da família, no cemitério Santa Terezinha, da Paróquia de mesmo nome.
Antes, em 2005, o casal ficou cerca de dois meses em Curitiba, para tratamento da saúde de Leo Anselmo. Havia sido detectado um coágulo em um dos ventrículos do coração, além de ser identificada obstrução das artérias carótidas. Submeteu-se a cirurgia, pelas mãos do Dr. Fernando Franco Pedro, retornando depois para sua casa. Em várias ocasiões voltou para consultas com especialistas em Curitiba, mas o tratamento de manutenção era feito por médicos de Guarapuava. Na ocasião de sua permanência em Curitiba, foram tiradas algumas fotos com familiares que se haviam reunido. Seguem abaixo.
Abaixo, algumas fotografias que foram feitas no decorrer da história de vida de Leo Anselmo. Retratam momentos diversos da vida de Leo e Maria, ao longo de 68 anos de vida matrimonial. Na última terça-feira, 21/06/2016, faltando exatamente dois meses para completar 92 anos de idade e apenas alguns dias depois do aniversário de casamento, nos despedimos de Leo Anselmo nesta vida. Ele agora está iniciando a longa jornada na vida espiritual, até chegar no destino final, o Paraíso, onde o Pai Universal, o Criador de tudo, o espera de braços abertos para acolhê-lo em seu infinito amor e misericórdia.
Aqui ficamos nós, seus filhos, seus netos e diversos bisnetos, no eterno processo de renovação da vida. Por isso comecei o texto, com o título de História de uma vida que termina e vida que se renova!
Obs.: Alguma discordância, com data, nome ou outra informação, por obséquio, me enviem a correação para deixar tudo de modo correto. Pode ser pelo facebook, e-mail, ou no próprio blog. Faça sua observação e eu lhe agradeço.
Curitiba, 23 de junho de 2016. Revisado em 21 de junho de 2018.
Décio Adams
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Telefone: (41) 3019-4760
Celulares: (41) 99805-0732
Marcia Dewes24/06/2016 at 2:59 PM
Muito bom poder acompanhar a história da família, e lamentável a partida do Tio Anselmo, mas é o curso da vida…..:(
Décio Adams24/06/2016 at 10:27 PM
Prima! Espero que tenha gostado. Se você digitar no facebook Família Adams no Brasil, Família Dewes no Brasil, ou Família Seibt no Brasil, vai encontrar os grupos que criei, com objetivo de reunir documentos, fotos, histórias, relatos e qualquer tipo de informação. Tenho em vista formar um arquivo gigante sobre as quatro famílias de que eu descendo para disponibilizar aos que suiserem consultar no futuro. Se quiser participar, convidar os conhecidos e todos os parentes para se engajar, eu agradeço.
Obrigado pela visita ao meu blog. Nele tem mais coisas, além desse relato.