05. Colônias recebem denominação.
Durante as reuniões mantidas com a equipe administrativa central, nos dias subsequentes ao retorno, Mink sentiu falta de uma denominação para as várias colônias. Sempre era necessário citar os nomes dos membros e nem sempre todos tinham em mente todos os nomes. Isso criava algumas dificuldades de comunicação, quando se tratava de um ou outra colônia. Em dado momento pediu um instante de silêncio e propôs:
- Devemos providenciar um nome para cada colônia, bem como uma denominação para a colônia aqui de perto do lago. Isso tornará mais fácil nossas comunicações e evitará enganos de encaminhamentos de algumas decisões.
- E como iremos fazer essa escolha de nomes? Vamos assumir esse encargo, ou pediremos que o povo escolha o nome? – Perguntou o ministro Gamal.
- Creio que seria conveniente deixar essa escolha a critério do povo, – sugeriu Cassiel intervindo.
- Tive uma ideia. Para acelerar o processo, podemos sugerir alguns nomes e enviá-los por mensageiro. Os chefes reúnem o povo e escolhem um nome, ou sugerem outro que seja de seu agrado. O que lhes parece? – Opinou Mink.
- Eu proponho que façamos essa lista, com sugestões de cada um de nós, talvez trocando impressões com amigos e familiares. No final selecionamos três ou quatro nomes para cada colônia, – falou Gamal por seu turno.
- E aproveitamos o mensageiro que irá levar as nossas decisões sobre os projetos de cada colônia, para enviar a lista de nomes. Na volta ele traz a resposta, por escrito, assinada por uma comissão encarregada da escolha – falou Cassiel.
- Vamos marcar essa escolha entre nós para daqui a uma semana, durante uma das reuniões. Assim teremos tempo de pensar bem nos nomes e colher sugestões. Seria bom também pensarmos em um nome para a sede central, sem esquecer a colônia do lago, onde começamos nossa colonização.
- Concordo, Mink e creio que agora é hora de irmos descansar. Afinal estamos bem cansados e teremos amanhã o dia inteiro para continuar as nossas deliberações. Cada um dos presentes, mesmo vocês que são escribas, pode trazer sua listinha de nomes. Entendido?
Todos concordaram e começaram a guardar seus materiais de trabalho, deixando todo o ambiente preparado para a próxima reunião. Ela teria início na manhã seguinte, bem cedo. Não havia tempo a perder, havendo muitos detalhes a analisar sobre as propostas trazidas das colônias por Mink em sua viagem de vistoria. Não iriam inibir as iniciativas, apenas procurar dimensionar os projetos, evitando que houvesse exageros, que poderiam depois causar problemas. Saíram do recinto em clima de camaradagem, dirigindo-se cada um para seu alojamento. Formavam um grupo bastante numeroso, pois todos os especialistas das diversas áreas de atividades, eram convocados para contribuir com sua opinião mais abalizada. Os administradores precisavam se apoiar na sabedoria desses elementos, para não tomar decisões erradas. O planejamento era essencial se desejassem alcançar um desenvolvimento equilibrado e vigoroso. O excesso de produção em determinada área ou deficiente, seria prejudicial, exigindo concentração de esforços em momento futuro.
Na manhã seguinte, quando a reunião teve início, já circulavam alguns nomes sugeridos. A pedido de Gamal, ficaram restritos aos pequenos grupos, ou de preferência, com cada um que quisesse contribuir. Deveriam pensar bastante sobre o assunto, dedicando-se por ora, à análise de todos os detalhes dos projetos, o que sem dúvida era mais importante. Em pouco tempo todos estavam profundamente concentrados nos trabalhos. Cada projeto, conforme suas características, estava entregue a uma equipe especializada. Depois de concluída a análise, sugeridas as alterações e detalhamentos feitos, passariam pela aprovação do grupo em geral. Mesmo quem não fosse especialista, poderia ter alguma sugestão ou propor um questionamento, que levaria ao aperfeiçoamento final.
Nesse ritmo os trabalhos prosseguiram por uma semana e pouco, antes de iniciar-se as apreciações finais. Quando o grande grupo se reuniu para isso, foi o momento de ouvir as sugestões de nomes para as várias colônias. Cada um deveria escrever os nomes em um pedaço de pergaminho e colocar em uma pequena caixa. O secretário de Gamal ficou encarregado de listar os nomes para depois ser feita a escolha em conjunto.
A apreciação e discussão dos projetos demorou pouco mais de dois dias. Quando tudo ficou concluído, foi o momento de passar à escolha dos nomes para as colônias. Havia, ao todo, uma lista de 49 nomes, que restara depois de uma triagem. Os nomes iguais ou muito semelhantes foram unificados. Os muito complexos foram deixados de lado, pois não se pretendia complicações inúteis. Queria-se facilitar a memorização e a escrita. Isso levou à uma lista com nomes de poucas sílabas. Para completar, Gamal havia sugerido que fossem criadas três províncias. As três colônias de leste, pouco distantes entre si, formariam uma província. Ele sugeriu que seu nome fosse Xiang, que foi aprovado pelos demais. Passou-se a escolher nomes para as três colônias da província de Xiang. A mais próxima deveria escolher entre os nomes: Kiang, Kaling e Kuriang; a segunda, poderia escolher entre: Miang, Maling ou Muran e a terceira seria: Lubin, Labung ou Leran. Não se excluía a escolha da população de um outro nome, mais a seu gosto.
As duas colônias situadas mais ao sul, no outro continente, formariam a província de Austran. A primeira colônia escolheria entre: Ustran, Antron e Ustrin; a segunda seria: Lanton, Linin ou Lupan. A terceira colônia ficava mais distante, no próximo continente, mais próxima da linha equatorial do planeta. Ali ficaria sediada a província de Oestrin, podendo sua sede ser: Ostrin, Estran ou Muslin. Depois de tudo decidido, Cassiel lembrou que poderiam já pensar em dar uma denominação à província da sede, bem como nomes às colônias ali formadas. Depois de algumas sugestões, Mink sugeriu que a província central servisse de homenagem ao velho mestre filósofo Zósteles. Propôs que denominassem a região de Zostelon. Apesar dos protestos do velho mestre em sentido contrário, foi aprovada a proposição por unanimidade.
O núcleo que estava sendo formado nas proximidades do acampamento de recepção, recebeu algumas proposições de nomes, mas consideraram melhor deixar isso à escolha do povo. Todos poderiam contribuir e no final fariam a escolha. Havia tempo para isso. O mesmo seria feito com relação à colônia do lago. Estava ali perto e poderiam deslocar uma comissão especial para coordenar a escolha, se fosse considerado conveniente.
Uma vez redigidas as decisões a respeito dos projetos de desenvolvimento das colônias e a sugestão dos nomes, bem como as orientações sobre o procedimento a ser seguido na escolha, foram despachados dois mensageiros, aproveitando a partida de pequenos grupos de navios em ambas as direções, levando as decisões para implementação sem demora. Sabiam que provavelmente os chefes locais não teriam ficado inertes, esperando a decisão, mas era importante disporem das delimitações de seus projetos, dando ao processo todo um sentido de integração. A viagem de ida, o processo de escolha dos nomes e retorno, demoraria algo em torno de dois meses. Esse tempo foi aproveitado para também providenciar a denominação das colônias de Zostelon.
A colônia do lago, optou por denominar-se Singleton, em homenagem à pequena lua que boa parte do tempo aparecia refletida na superfície transparente do lago, no período noturno. Também quando ela se encontrava na posição acima do lago no período diurno, com a água serena, era possível ver sua imagem ali refletida. Faltava o nome para a colônia central. Depois de algumas discussões, sugestões diversas, alguém lembrou que deveriam prestar uma homenagem à Mink. Quando ele percebeu, todos estavam de acordo em dar à colônia sede o nome de Minkling. Não adiantou ele tentar evitar. Não conseguiu demover os demais, nem mesmo os ministros Gamal e Cassiel. Os mestres Zósteles e demais especialistas também estavam de acordo. Assim, passou a existir a província Zostelon, cuja capital foi chamada de Minkling.
Até os moradores das colônias aprovaram os nomes. Quando o processo de escolha dos nomes estava concluído, não tardou o retorno dos barcos, trazendo as respostas das colônias. Haviam sido escolhidos os nomes, dentre as sugestões enviadas. Ninguém quisera fazer mudanças. Assim, as colônias da província de Xiang passaram a ser conhecidas pelo nome de Kaling, Maling e Lubin. Cada colônia enviara uma cópia da ata de escolha do nome, oficializando assim as denominações. Da província de Austran, vieram os nomes Antron e Lupan. Na província de Oestrin, haviam optado por denominar a colônia de Estran. Solicitavam permissão de elaborar um brasão para identificar os documentos oficiais, bem como fazer parte da bandeira provincial. Foi enviada autorização para o pedido. As colônias que formavam uma província em conjunto, teriam que optar por uma das sedes para servir de centro administrativo provincial, onde iria ser organizado um governo mínimo. Mas não havia pressa para isso. Poderiam ter calma na escolha, bem como na formação da administração.
Depois de todos os nomes escolhidos, a administração central enviou um comunicado a todas as colônias, informando sobre os nomes das demais. Assim, em pouco tempo, todos sabiam como deveriam chamar as colônias irmãs. Em suas comunicações entre si, passavam a usar essas denominações. Desse modo o planeta Orient, passava a contar com alguma coisa em termos de geografia. Ainda faltavam os mapas mais detalhados, mas já havia gente ocupada em efetuar as medições possíveis, dadas as circunstâncias, para elaborar gradativamente os mapas, tão necessários para todos. Os navios, a cada viagem que realizavam, mudando frequentemente a rota, traziam anotações detalhadas de tudo que encontravam e observavam. Ilhas iam sendo descobertas em diversas localizações, áreas de pouca profundidade, que ofereciam riscos para a navegação. Tudo ia sendo minuciosamente comparado e localizado nos mapas, por mais rudimentares que fossem.
Os mapas eram periodicamente atualizados, feitas cópias e descrições minuciosas, posteriormente entregues aos comandantes dos navios que constantemente singravam os mares. Levavam tanto mercadorias para as colônias, como faziam explorações, visando identificar todos os pontos da superfície do planeta. Isso permitiria estabelecer rotas mais curtas para alcançar determinados pontos do globo, quando isso fosse necessário.
Os mesmos mapas eram colocados à disposição dos estudantes nas escolas, visando tornar familiar a todos a distribuição das regiões de terras emersas, passíveis de ocupação futura. Mesmo depois de ter concluído o aprendizado básico, os jovens recebiam incentivo para a continuação de sua participação em atividades educativas, tanto na forma de orientadores, monitores e também sessões de debates sobre assuntos variados. A participação de todos, tanto no aspecto científico, cultura geral e religião, era altamente desejável. Tudo isso visava o desenvolvimento harmonioso da comunidade sob todos os aspectos.
Uma vez feita a primeira divisão política do planeta, cada região recebeu apoio para realizar sua organização administrativa, dentro de alguns parâmetros gerais, comuns a todos. Desta forma seria possível manter o máximo de homogeneidade possível, entre as diferentes regiões. Na província de Xiang, por razões de localização geográfica, a sede administrativa ficou situada na colônia de Maling. Isto permitia a comunicação mais efetiva entre os vários pontos. Na província de Austran, foi escolhida como sede a colônia de Antron, por situar-se mais próxima da costa, porém com indicações de no futuro deslocar a capital para uma localização mais central do continente. Na província de Oestrin, só havia uma colônia, ficando, pois, a capital situada, pelo menos nesse momento inicial em Estran. Ali estavam sendo feitos progressos acelerados no sentido de desenvolver a agricultura e também pecuária. As terras eram férteis e havia boas opções para implantação de criação de animais domesticados. Isso requeria a presença de muitos braços para o trabalho. Os líderes locais solicitaram à administração central o envio de um reforço de gente para assumir o trabalho que se estava expandindo.
Uma consulta à população da província de Zostelon, rendeu o aparecimento de aproximadamente um milhar de pessoas interessadas em ir para a colônia. Eram aproximadamente 50% homens e mulheres, de modo que não haveria desequilíbrio nesse sentido. Muitas famílias, com um, dois e três filhos se integraram ao novo contingente. Navios foram preparados para a longa viagem e zarparam, demandando a colônia, onde foram recebidos com júbilo. Esse grupo de pessoas, permitiria acelerar o desenvolvimento. Por outro lado, a província de Zostelon ficou enfraquecida. Muitos jovens, ainda na adolescência, foram parcialmente integrados à força de trabalho, para suprir a demanda ali existente. Havia constante necessidade de envio de grupos de trabalho temporário para uma ou outra colônia, onde surgiam necessidades de execução de atividades extraordinárias. Este trânsito também ocorria entre as colônias, onde havia pessoas especializadas em uma ou outra área. Iam prestar o serviço e ensinar aos membros da província irmã o necessário para continuar sua atividade depois de implantada.
Em cada dia havia o momento de adoração ao Pai Universal, quando todos paravam sua atividade e entravam em meditação. Alguns se mantinham em silêncio, enquanto outros externavam seus sentimentos, agradeciam e louvavam o criador. Cantavam-se hinos, recitavam-se textos relativos à vida espiritualizada, visando unir cada vez mais todos os membros da sociedade. Eram feitos os pedidos de perdão pelas ofensas ocorridas no decorrer do dia. Assim, todos iam para o descanso noturno com o coração leve e aliviado de quaisquer sentimentos menos nobres, ou dignos. Não valia a pena levar para o leito as mágoas ou ressentimentos acumulados durante o dia de atividade. Era frequente alguém, testemunhar ter passado uma noite de sono agitado, por não ter sido sincero em conceder ou pedir perdão na noite anterior. Isso o levava a ser especialmente eloquente, para deixar clara sua intenção sincera de perdoar e ser perdoado.
Cedo surgiram entre os estudantes aqueles que tinham pendores literários, pondo-se a compor pequenos poemas ou redigindo contos, fábulas ou fazendo narrativas de aventuras. Semanalmente era realizado um pequeno espetáculo, onde os aprendizes de literatos tinham ocasião de recitar ou ler suas composições. Outros cantavam canções de sua criação, acompanhados por instrumentos de percussão, feitos com peles de animais ou com sementes perfuradas, marcando assim o ritmo do canto. Grupos de atores, representavam no palco as histórias que criavam ou as criadas por outros. Isso fazia toda população participar dessas atividades. Com o passar do tempo, surgiram pequenos núcleos urbanos em locais próximos e começaram a realizar intercâmbios desse tipo de atividade. Grupos diversos iam para as localidades se apresentar ou vinham de lá apresentar-se na sede da colônia. Sempre havia a reserva de espaço para cenas humorísticas, atividade insistentemente recomendada pelos intermediários, mas muito mais ainda por Arki, durante os longos anos de encontros com Mink. O humor ajuda a descarregar as tensões acumuladas durante as atividades do dia a dia.
Assim, estabelecendo o equilíbrio entre atividades laborais, para produção de riquezas, com os momentos de sintonia com Pai Universal e a atividade intelectual em geral, conseguia-se criar um clima de harmonia entre todos os membros da comunidade. Até mesmo os mais casmurros ou geniosos acabavam por ceder e participavam da confraternização geral, proporcionando um ambiente agradável para convivência.
O mestre samurai Iagushi Tomishi estava entre eles e tinha a seu cargo a difícil tarefa de ensinar, com auxílio de bom número de discípulos destacados, a arte de lutar, usando somente as mãos e os pés. Nenhuma arma era permitida. Aos poucos foram sendo estabelecidos em cada uma das colônias e mesmo pequenas comunidades formadas nas cercanias, grupos de treinamento. Até mesmo as mulheres faziam parte. Haviam desenvolvido uma técnica especial para uso delas, de modo a compensar o menor vigor físico de que elas dispõem. Para testar a evolução das atividades eram organizadas competições periódicas entre as comunidades e também entre as colônias.
Paralelamente às competições de luta, a criatividade de alguns discípulos desenvolveu diversos tipos de jogos, que poderiam servir de competições individuais ou coletivas. Dessa forma havia sempre algum evento esportivo em andamento em toda parte. Dentro do campo de competição a disputa era acirrada, cada qual querendo obter a vitória. Vez ou outra ocorria algum golpe desleal, punido com penalidade arbitrada por um juiz, baseado em uma regra que regia o jogo. Havia jogos com bolas, feitas de couro e recheadas de pelos ou fibras vegetais, bastões, corridas, saltos de diferentes níveis de dificuldade. Isso ajudava a manter o moral da população em elevado grau de autoestima.
Terminadas as competições, ocorria uma confraternização, visando aparar as arestas que por ventura houvessem surgido no decorrer das competições. É natural ao ser humano ressentir-se com alguma coisa que considere injusta ou uma atitude mais brusca de parte de um adversário na hora do jogo. Depois da entrega dos troféus que representavam as vitórias e conquistas dos vencedores, antes de qualquer festividade, fazia-se um intervalo para louvor e adoração ao Criador. Nestas horas, as diferenças eram perdoadas, as amizades reforçadas e depois comemoradas com comida farta, mesmo nos períodos de menor fartura. Era ponto de honra viver com alegria e boa disposição. A depressão psicológica abate as forças vitais, levando à atrofia das energias necessárias à uma atividade de grande intensidade que a situação no planeta exigia. Não havia lugar para desânimo, falta de vontade, preguiça ou indisposição.
O acervo de exemplares de diferentes tipos animais nas escolas era conservado com todo zelo. Os esqueletos e demais tecidos das carcaças secas eram expostos aos raios de Espectron, visando eliminar a umidade e possibilidade de desenvolvimento de fungos. Eram extremamente úteis no ensino a respeito de suas características anatômicas. As pesquisas eram constantes, visando identificar todos os detalhes do ciclo de vida de cada espécie. Um detalhe era importante nessas pesquisas. Saber quais espécies eram, de alguma forma, tóxicas aos humanos, bem como era seu sistema de alimentação. Havia os que se alimentavam de vegetais, servindo depois de alimento para outras espécies carnívoras. Havia uma cadeia alimentar complexa, semelhantemente àquela existente no planeta Terra (Urantia). Cada nova informação obtida era cuidadosamente registrada, testada em diferentes situações para finalmente ser tida como comprovada e ensinada no sistema de ensino. O constante empenho de todos os envolvidos no sistema de ensino, desenvolvendo pesquisas para enriquecer o acervo de conhecimentos, gerou um desenvolvimento acelerado das ciências em todos os sentidos. O que em muitos lugares acontece de modo mais ou menos aleatório, nos primórdios das civilizações, ali em Orient seguia um planejamento bem dirigido. Assim era possível queimar algumas etapas, encurtando o caminho entre a ignorância e um nível científico elevado.
Os mestres de filosofia, tendo no comando o mestre maior Zósteles, encarregava-se de estabelecer a sintonia entre a ciência e a religião. Isso era fundamental, conforme Arki não se cansara de frisar em seus longos anos de encontros com Mink. Isso por enquanto caminhava a contento. Pequenas discordâncias eram até benéficas, pois geravam debates e permitiam aprofundar questões de variada ordem, quando a questão era fé, vida futura, presença do guia de pensamentos ou fagulha como Arki costumava dizer. Ninguém era obrigado a aceitar tudo, sem questionar. Para haver crescimento na religião, era fundamental haver essas discussões, pois todos caminhando como uma tropa de animais conduzidos por um guia, levaria a situações de conflito difíceis de resolver. Se as dúvidas fossem sendo sanadas na medida em que apareciam, as mudanças e correções de rumo seriam feitas antes de se transformarem em problemas.
Zósteles gostaria de visitar todas as colônias pessoalmente, mas sua saúde precária, devido à idade avançada, não permitiria tal extravagância. Dessa forma tinha formado um grupo pequeno, mas coeso, para levar as novas ideias filosóficas que elaborava a todos os recantos povoados, trazendo de lá a repercussão causada. Sempre havia resultados frutíferos decorrentes dessas idas e vindas. Em estreita colaboração com Mink e seus dez assessores, tratavam de organizar o sistema de culto ao Pai Universal. Ele sempre era realizado, desde que haviam chegado ao planeta, mas o passar do tempo, exigia aprimoramentos, adaptações para evitar cair na rotina e transformar-se em uma mera repetição de rituais. Quanto menos ritualística fosse a religião melhor. A adoração, o louvor e a ação de graças deviam ser tanto mais espontâneas quanto fosse possível. A criação de orações repetitivas, não era aconselhada. Tornavam-se algo recitado igual papagaio que aprendeu a falar, mas não sabe o que está dizendo.
Quando menos esperavam, já se haviam passado três anos desde o desembarque naquela bela manhã, cheia de luz. Nemur e seus intermediários há mais de um ano não mais eram mais vistos. Quem de tempos em tempos dava o ar de sua graça era o anjo Arki, sempre em contato com Mink. Passavam longas horas em palestras, onde as bases eram repassadas à exaustão. O emissário celeste não se cansava de repetir os aspectos fundamentais a ser aplicados e seguidos. Eram poucas na verdade as assim chamadas exigências do Pai Universal. Dera em sua infinita sabedoria, o livre arbítrio a todas as criaturas, esperava apenas que, em sintonia com a Centelha Divina, optassem por seguir e fazer a vontade do criador. Para isso bastava viver em harmonia e paz com os irmãos, respeitando a natureza. Empenhar-se em desenvolver a personalidade, buscando o aperfeiçoamento, caminhando para a espiritualização.
Os anos foram se sucedendo, problemas surgiam e eram resolvidos, os mais idosos aos poucos atingiram o limite que seus corpos podiam suportar, tendo lugar as primeiras mortes. Cada partida, era pranteada com sentimento, porém, desejavam que houvesse alcançado a condição de sobrevivência na eternidade.
Curitiba, 23 de agosto de 2016 (Capítulo inserido nesta data)
Décio Adams
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