Prefeito arrogante e vaidoso.
Na década de 70 do século XX, houve num dos municípios do oeste do Estado do Paraná, um prefeito bastante bizarro. Oriundo do meio agrícola, estabelecera-se no comércio e com o sucesso nessa atividade, ingressou na vida política. A respeito de sua atuação política existem várias histórias, contadas e recontadas, vindo talvez a perder muito de sua originalidade, porém ganhando em diversidade. Isso torna-as um tanto lendárias.
Era o tempo dos carrões como o Ford Galaxie, o Landau, os Dodge Charger RT e outros. O nosso personagem, aproveitando o crescimento econômico do município, encaminhou a aquisição pela prefeitura de um Ford Landau para uso em seus deslocamentos. Determinou a contratação de um motorista para dirigir o carro e ele viajava, especialmente quando ia a capital do estado, sentado no banco do passageiro, apreciando a paisagem.
Em uma dessas viagens, no asfalto recentemente concluído entre Foz do Iguaçu e Curitiba, encontrou um trecho de trânsito interrompido. O motorista pediu a um motorista que vinha em sentido contrário o que ocorrera e foi informado de que havia um acidente mais adiante. Nesse momento o prefeito lembrou de uma recomendação que lhe fizera um amigo:
– Quando encontrar acidente na estrada, diga aos guardas que é parente da vítima e eles te deixam passar.
Não pensou duas vezes, dizendo ao motorista:
– Diga que sou parente da vítima.
Dito e feito, foi lhe sendo aberta passagem e quando chegaram ao local do acidente, depararam-se com um automóvel que atropelara um burro, quando este se atravessara em seu caminho.
Em outra ocasião, viajavam novamente para a capital e em dado momento viram no acostamento placas com a indicação: TRECHO EM OBRAS.
– Mas esse governo continua criando empresas estatais. Eu conheço a PETROBRÁS, TELEBRÁS, ELETROBRÁS, mas EMOBRÁS eu nunca tinha visto. Deve ser nova.
Aliando a política, o comércio e agricultura que começava a florescer, tornou-se um home próspero de verdade. Mandou construir uma casa inteiramente nova. Era nascido no Rio Grande do Sul e tinha seus resquícios de tradições gaúchas. Encomendou a um arquiteto o projeto todo especial e recomendou não fazer economia em detalhes que fizessem jus à sua condição de homem rico, comerciante de sucesso e político renomado. O projeto foi feito e as recomendações seguidas. Chegou o momento de executar a obra. O melhor engenheiro da região e uma equipe dos melhores profissionais da área de construção foram contratados.
A obra foi demorada, mas finalmente ficou pronta. O detalhe de requinte foi o acabamento usado em todas as maçanetas de portas, canoplas de torneiras e registros, havia incrustações de partes de chifres, inclusive as saídas de água nas pias eram feitas desse material. Foi difícil encontrar quem fizesse esse serviço, mas disposto a não economizar para realizar seu desejo, tanto fez até que conseguiu fazer sua vontade. Com a casa pronta, faltava realizar um evento digno de inaugurar o imóvel. Organizou uma festa à altura, convidando para tanto os prefeitos dos municípios vizinhos e outras autoridades. Quem não poderia faltar era o governador. Foi preciso ajustar a data da festa para um dia em que o excelentíssimo senhor governador do Estado tivesse a agenda livre e pudesse comparecer. Tudo resolvido, foi preciso correr contra o tempo para conseguir preparar tudo no prazo, que ficara exíguo, mas não podia perder a oportunidade.
No dia marcado, o padre foi chamado para celebrar uma missa no local e compareceu uma pequena multidão de gente, muitos só para ver de longe a suntuosidade da mansão do prefeito. O governador chegou de avião em Foz do Iguaçu e ali havia um cortejo de carros enviados pelo prefeito para recepcionar o mandatário maior do estado até o local da festa. Lá chegando, foi a vez da celebração litúrgica e depois uma sucessão de discursos, sempre elogiando o bom gosto do dono da casa.
Finalmente terminada a parte do cerimonial, foi o momento de mostrar a casa às principais autoridades. Com muito orgulho guiou todos de um cômodo a outro sempre chamando a atenção para os detalhes de acabamento. Em determinado momento, após visitar o último cômodo, o senhor governador perguntou:
– Me diga uma coisa, senhor prefeito. De onde o senhor tirou tudo isso? – Indicou os detalhes em chifre.
– Isso? Tirei daqui ó! – Falou apontando para a própria testa.
Ouviu-se uma risada geral, mas o anfitrião não perdeu o prumo. Em sua ingenuidade, apesar da aparente rudeza de modos, nem percebeu a interpretação dada pelos convidados às suas palavras. Há muitas outras histórias sobre essa personagem.
Curitiba, 19 de julho de 2015.
Décio Adams