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Conhecendo um filósofo.
O dia seguinte, terceiro depois do primeiro encontro com Arki, começou sem nenhum incidente especial. O trabalho no porto continuou em ritmo redobrado. Os trabalhadores olhavam o novo chefe com respeito. Ele fizera por merecer, comandando a defesa do estreito, contra o ataque pirata. Depois, defendendo a manutenção da vida dos prisioneiros, ele se insinuara na alma de todos como alguém cheio de misericórdia. Não seria jamais um chefe desumano, cruel e violento. Saberia respeitar os limites de cada um, sem, no entanto, pecar por ser brando. Sabia, na hora certa, ter o pulso firme, sem dar oportunidade a atitudes de “corpo mole” de parte de alguns subordinados. Havia sempre quem se julgasse com direito a ser tratado com alguma regalia, a que definitivamente não fazia jus. A cada dia Sock voltava para casa cansado, embora não usasse mais tanto sua enorme força física, mas era a tensão a que ficava submetido o tempo todo. Isso deixava-o exausto ao final da jornada de trabalho.
Por toda parte que Minck aparecia, logo alguém vinha indagar como era ser filho do novo chefe dos trabalhadores do porto. Ele sempre encontrava uma maneira delicada de responder, mesmo quando percebia que a pergunta era feita com malícia. Não deveria jamais dar motivo para despertar ódio, rancor de parte de ninguém. Um comportamento comedido e ponderado lhe granjearia a simpatia das pessoas. Não teria necessidade de ser grosseiro jamais. Logo pela manhã voltou ao alto do penhasco e perscrutou o horizonte. Depois de alguns minutos viu um navio se aproximando. Nisso lembrou dos navios piratas afundados no estreito. Teriam que ser removidos antes de permitir o acesso do outro barco. Com eles ali, causariam uma colisão com o casco causando uma tragédia. Não pensou duas vezes. Rapidamente foi para o porto e falou ao pai novamente. Foi informado de que já havia uma equipe trabalhando na remoção dos destroços. Mas enviariam um outro barco para sinalizar ao navio e fazê-lo esperar fora do estreito.
Seria permitido o acesso depois da desobstrução do canal. Isso poderia durar um ou dois dias, talvez mesmo mais. Melhor isso do que causar um desastre de ter um navio enorme naufragado logo ali. O capitão do navio que esperava e o do outro que estava sendo agora carregado, se encontraram e contribuíram com sua experiência para orientar o trabalho dos homens que ali estavam. Dessa forma o processo foi acelerado. Conseguiram, mergulhando sucessivamente, elevar o casco, retirando um pouco da carga existente no porão. Assim os cascos não flutuaram, mas ficaram mais fáceis de serem puxados para fora do estreito. No final do segundo dia, um grande número de homens, puxando várias cordas amarradas ao casco, um foi puxado para o interior e o outro para o exterior, no mar aberto. Assim o navio que aguardava, poderia adentrar o porto na manhã seguinte. O outro ficaria pronto por volta do meio dia e poderia partir em busca do próximo porto de destino.
Mais um fato extraordinário a ser creditado ao pequeno Minck, que logo passou a ser conhecido como um menino capaz de adivinhar coisas. Ele não gostava disso, pois não se tratava de adivinhar. O que fizera era consequência de observação atenta do que acontecia ao seu redor. Ele apenas estava no lugar certo, na hora certa para ver o que acontecia. Nem todas as negativas de sua parte, fizeram a fama diminuir. Na tarde desse dia, caminhava pelas vielas da aldeia, a procura de uma pessoa a quem pudesse auxiliar de alguma forma. Sentia-se induzido a procurar, sem saber ao certo quem procurava. Viu, a alguma distância, uma figura levemente encurvada. Parecia estar indagando informações de uma pessoa que estava à porta da casa em frente. Sentiu-se atraído pela figura e caminhou em sua direção.
À medida que se aproximava, percebeu tratar-se de um homem de idade indefinida. Usava barba longa, pouco espessa. Os cabelos eram aparados na altura dos ombros e usava uma túnica que denotava ser bastante usada. Trazia também suspensa ao ombro uma forma de bolsa, parecendo conter pertences pessoais. Quando estava a poucos metros o homem se virou em sua direção e o fitou com olhos serenos, parecendo convidá-lo a se aproximar mais. Além dos olhos, os lábios esboçaram um sorriso encorajador. Minck seguiu até ficar numa posição que permitia conversar, sem precisar elevar a voz, nem olhar para cima, por ser de estatura inferior. Parou e correspondeu ao sorriso, merecendo dessa forma o cumprimento do homem:
– Como vai, pequeno grande homem?
– Eu estou bem, senhor. Posso lhe ser útil em alguma coisa?
– Estou vindo de muito longe. Foram muitos dias de caminhada, estou bastante cansado. Estou procurando um lugar temporário para descansar até encontrar trabalho e poder pagar por uma moradia.
– O senhor vem de onde? Se é de muito longe, pode ser do reino da China, da Mesopotâmia, ou mesmo de um lugar chamado Egito ou Grécia. Que motivo fez o senhor caminhar tanto para chegar aqui, nessa aldeia pequena e sem importância?
– É verdade menino. Você é muito inteligente. Eu venho da Grécia. Passei pela Mesopotâmia, estive também no Egito, passei pela Índia. Se eu ficar aqui, teremos oportunidade de conversar bastante e lhe contarei todas minhas andanças.
– Ouvi dizer uma vez que na Grécia vivem muitos filósofos. O Senhor é filósofo?
– Eu era considerado filósofo e os governantes me expulsaram por não concordarem com minhas ideias. Depois disso passei a percorrer os outros países mais importantes, encontrei com pensadores, filósofos, geômetras, astrônomos e outros sábios. De todos eles eu absorvi alguma coisa de ensinamento e eles também ouviram as minhas ideias. Mesmo discordando, discutimos o que penso e encontramos um modo de aplicar tudo, sem os inconvenientes que havia.
– Eu não posso lhe garantir, mas talvez consiga um lugar para o senhor ficar, pelo menos alguns dias. Vou falar com minha mãe e meu pai. Se quiser me acompanhar vamos para lá agora.
– Vamos caminhando e enquanto isso aproveitamos para conversar mais um pouco.
– Venha comigo. Aliás eu sou Minck, filho de Sock e Muhn. E o senhor como se chama?
– Eu sou Zósteles. Tive uma escola em Athenas durante vários anos. Um discípulo entrou em conflito comigo e obteve a adesão dos governantes às suas ideias filosóficas. Ele conseguiu fazer com eu fosse proibido de continuar a manter minha escola. Os discípulos me abandonaram e não sobrou alternativa, além de sair pelo mundo, em busca da verdade.
– Eu tenho só dez anos e sou o caçula da família. Meu pai passou a chefe dos trabalhadores do porto, onde também meus cinco irmãos trabalham. Eles são mais velhos que eu. Tenho também duas irmãs.
– Aqui tem alguma escola? As crianças aprendem a escrever e ler?
– Os mais ricos pagam para os filhos irem para cidades grandes aprender a ler e escrever. Depois alguns voltam, mas a maioria fica por lá e nunca mais aparece. Assim a cidade perde as pessoas que poderiam ajudar a melhorar as coisas.
– Será que as pessoas permitiriam que eu começasse a ensinar as crianças?
– Isso eu não posso dizer. Eu sei que gostaria de aprender, mas não sei se meu pai poderá pagar por isso.
– Não se trata nem de muito pagamento. Se eu tiver onde ensinar, dormir e comer, já estarei satisfeito.
– Isso torna as coisas mais fáceis. Quando perceberem o valor de aprender, vão valorizar mais o seu trabalho.
– Pode ser. Mas vamos conversar bem sobre isso.
No momento do encontro não estavam muito longe de casa e logo se viram diante da porta da moradia de Minck. Ele falou:
– Senhor Zósteles, essa é nossa humilde casa. Faça o favor de entrar.
Muhn apareceu na porta e olhou indagadora para o filho. Ele não se fez de rogado e apresentou:
– Mamãe, este é o senhor Zósteles, filósofo. Vem da distante Grécia e conviveu com sábios do Egito, na Mesopotâmia, Síria, Índia e chegou aqui em nossa aldeia.
– Bem-vindo senhor! Como é mesmo o nome?
– Zósteles, senhora.
– Faça o favor de sentar-se à sombra. Posso lhe oferecer uma caneca de refresco com suco de frutas?
– Eu acho que vai ser algo muito bem-vindo. Estou realmente com sede.
Sentaram-se sobre um banco de pedra que havia ao lado da moradia. Logo chegou Song, trazendo o suco que Muhn preparara. Zósteles observou a moça e falou:
– Essa é uma de suas irmãs?
– Sim. Ela se chama Song e está com 15 anos.
– Muito bonita, sua irmã. Sua mãe está de parabéns.
– Obrigada, Senhor.
Ela serviu o refresco ao visitante e também ao irmão. Ele andava com a cotação em alta nos últimos dias e as irmãs faziam questão de estar em bons termos com ele. A aldeia inteira falava do menino e o tempo todo perguntavam de onde vinha essa informação de que o menino adivinhava as coisas. Elas não sabiam o que responder e davam respostas vagas ou evasivas. Mesmo desconhecendo a origem da suposta capacidade supranatural do irmão, elas sentiam uma ponta de orgulho por ser sua irmã. Muhn apenas sentou por um pequeno intervalo de tempo, para saber das informações essenciais, como a procedência, atividade em que atuava e, de forma discreta, indagar do motivo de sua estadia ali. Na qualidade de mãe era sua obrigação de saber quem estava em seu lar, conversando com seu filho. Estranhos eram sempre vistos com alguma reserva, até que se pudesse ter algum parâmetro que permitisse avaliar seu caráter.
Minck sentiu-se inteiramente à vontade com Zósteles. Tinha a impressão de se conhecerem desde sempre. O filósofo estabelecia em sua proximidade uma esfera de bons fluídos, onde as pessoas de índole pacífica e cuja alma estivesse minimamente sintonizada na esfera sobrenatural, logo se sentiam em casa. Começaram a palestrar alegremente. O filósofo, pensando estar diante de um candidato a discípulo, atento e pronto para receber os primeiros ensinamentos, começou a discorrer sobre os deuses do Olimpo, desde seu princípio. Minck ouvia embevecido. Julgando ter dado ao ouvinte uma primeira noção suficientemente detalhada sobre as deidades cultuadas em sua terra natal, passou a discorrer sobre os aspectos religiosos egípcios, na era dos grandes faraós. Enveredou depois para os cultos prestados a deuses diversos, em várias partes do mundo conhecido, principalmente por onde peregrinara. Falou das divindades hindus e, como não poderia deixar de ser, também dos cultos chineses.
Quando pensou que seu ouvinte estava cansado, parou e indagou:
– Quais são as deidades que vocês cultuam aqui, nesta aldeia especialmente?
– Aqui não existe um culto específico. Todos falam e acreditam nos deuses, mas cada um tem suas crenças próprias, sem uma organização propriamente dita.
– Isso significa que não existe um culto oficial?
– Não senhor. Não existe culto oficial. Aqui chegam pessoas de todos os lugares. Pode-se ver gente que cultua Vishna, outros Buda, Shiva e uma porção de outras divindades. Em todas as casas existe um nicho onde são colocadas as imagens dos deuses familiares, queima-se incenso, folhas de ervas aromáticas. Isto serve para pedir a proteção sobre o lar e os membros da família.
– Na verdade o ser humano necessita ter um ser superior para se apoiar. Isso faz parte da natureza de todos nós. Os nomes que damos, não tem grande importância. Eu acho que o ser Supremo que criou o mundo com tudo que nele existe, colocou nos humanos uma marca, como algo que o atrai para a divindade. Ainda não entendi direito o que é, mas eu sinto que é isso.
– Foi por isso que os seus conterrâneos o enxotaram de lá? Desculpe se falo nisso, mas parece bem típico de quem não entende nada do assunto.
– Como foi que você adivinhou isso menino? Foi exatamente por esse motivo que meu antigo discípulo se indispôs comigo e voltou a comunidade contra mim.
– Eu sei que é isso que nos move para buscar Deus, o ser Supremo. Também acredito nisso, Senhor.
– Que interessante. Não imaginava encontrar tanta sabedoria num menino, aqui nesse confim do mundo. Em todas as grandes cidades, reinos, impérios por onde passei, não encontrei ressonância para minhas ideias. Eu não as expus diretamente, mas deixei que fosse entendido. Ninguém percebeu, o que significa que não sabem por que procuram encontrar um caminho para esse ser Supremo sendo o menos importante da questão, o nome que lhe seja dado.
– Ele pode ser chamado por vários nomes. Essa marca que o Senhor falou existir no ser humano, eu chamo ela de “fagulha” de Deus que vive dentro de nossa cabeça, na mente. Ela guia nossos pensamentos, mostrando o caminho a seguir. Mas somos livres para fazer o que queremos.
– Que maravilhosa visão você tem do assunto. Faz muito sentido isso. O mais impressionante é ouvir isso da boca de uma criança. Não fique ofendido, mas em geral as pessoas levam anos para compreender as coisas. Depois de muito meditar, discutir com colegas, discípulos, ouvir muitas opiniões, chegam finalmente a esse tipo de resultado. E aqui vejo você, um menino de apenas dez anos, dizer isso com a maior naturalidade, como se fosse a coisa mais simples. Como se bastasse abrir os olhos e ler isso escrito em grandes letras por toda parte.
– Eu tenho um amigo. Ele viaja muito e só o vejo de vez em quando. Ele me falou essas coisas e eu experimentei prestar atenção para comprovar. Em apenas três dias vivi várias situações que comprovaram, para mim, a verdade das palavras do meu amigo.
– Esse seu amigo é sem dúvida um grande sábio. Como é o nome dele? Talvez eu já tenha ouvido falar sobre ele.
– Acho que não conhece. Ele mora bem longe, em outra direção da que o Senhor veio. Ele se chama Arki e está a serviço de Mikael.
– Esses nomes me são estranhos mesmo. Não havia ouvido falar deles antes de você citar agora. Mas vou querer conhecer, se isso for possível.
– Depende do tempo que vai demorar para ele voltar. Mikael eu também não conheço. Só ouvi falar.
Nesse momento o pai Sock, acompanhado dos irmãos de Mink entraram pela porta de entrada para a casa. Antes de entrarem, viram o estranho sentado ali perto, palestrando animadamente com Minck. Sock chegou perto e perguntou:
– Quem é seu amigo, Minck?
– Pai, encontrei Zósteles na rua. Ele vem de muito longe, de um país chamado Grécia, onde há muitos filósofos. Viajou por todo mundo praticamente. Ele está sem ter onde dormir e quer arrumar um lugar onde possa ensinar a ler e escrever, quem quiser aprender é claro.
Sock coçou a cabeça por um momento, refletindo sobre a conveniência de abrigar alguém totalmente estranho. Era por natureza hospitaleiro, mas acolher em casa, onde havia duas filhas na plena força da juventude, um homem completamente estranho, era uma temeridade. Resolveu sentar-se e indagar sobre a vida do homem. No momento mesmo em que se aproximou, sentiu como que uma onda de bem-estar invadir seu corpo, sua mente e coração. O estranho emitia uma estranha energia que influenciava os circundantes. Pensou tratar-se de um esperto mágico, capaz de influenciar as pessoas, para mais facilmente induzi-las a fazer o que ele queria. Isso era perigoso. Mesmo assim não conseguiu levantar e convidar o intruso a se retirar. Ao contrário, olhou-o bem nos olhos e ali viu brilhar uma luz serena, convidando ao acolhimento. Perguntou:
– Se importaria de me contar algumas de suas andanças pelo mundo, Senhor Zósteles.
– Com todo prazer. Quero começar por lhe dizer que tem um filho muito desenvolvido na esfera espiritual. O jovem Minck sabe de coisas que a maioria dos adultos ignora e nunca virá a saber. Vou começar falando dos últimos meses que vivi nessa parte do mundo conhecido. Estive na China, onde conheci o imperador, o palácio, os templos dedicados aos deuses que eles cultuam. Eles têm grandes sábios por lá, mas não conseguiram entender minha filosofia. Também estive na Índia, na Pérsia, Babilônia, Egito e sou nativo da Grécia. Conheci uma boa parte da terra, até chegar aqui em sua aldeia. A primeira pessoa com quem falei, me mandou procurar seu filho e, quando me virei para a rua, ele estava diante de mim, como se tivesse sido levado ao meu encontro. Para lhe narrar todas as minhas andanças, encontros e desencontros por onde andei, demoraria algumas horas ou mesmo dias para relatar tudo.
– E o que levou um homem assim sábio, deixar sua terra e correr pelo mundo?
– Eu era mestre de uma escola e tinha meus discípulos. Um deles discordou de mim, fundou sua própria escola e lançou uma filosofia contrária à minha. Conseguiu levantar os governantes contra mim, e resolvi partir, para evitar maiores dissabores. Resolvi buscar a verdade onde quer que ela esteja. Pelo que conversei com seu filho, tenho a impressão que, pelo menos uma pista eu achei.
– Em tão pouco tempo? Pelo que sei o Senhor chegou hoje.
– Em poucas palavras o seu filho me fez ver que minha filosofia está no caminho certo. Mas ele foi um pouco além, entrou em detalhes que eu não tinha entendido ainda. Por isso eu disse que seu menino é um futuro sábio.
– O que o Senhor pretende fazer para ganhar o sustento?
– Eu posso ensinar a ler e escrever em grego, também conheço Mandarim chinês, hindustani. Espero que haja quem queira aprender.
– Isso é possível. Até hoje, as famílias abastadas mandavam seus filhos aprender essas coisas nas cidades grandes, nos países vizinhos. Pior que quase nunca eles querem voltar a viver aqui, depois que se acostumam com a vida na cidade.
– Não preciso de muita coisa. Se tiver o que comer e onde dormir, um agasalho contra os rigores do clima, é o que basta. Não tenho ambições materiais.
– Acho que vou convidá-lo a ficar aqui em casa, até que encontre o lugar para desenvolver seu trabalho de ensinar e também onde morar. Isso se ainda não encontrou.
– Eu acabava de chegar à aldeia, quando encontrei o Minck. Logo me convidou a vir para cá. Posso dizer que só conheço sua família aqui.
– Seja bem-vindo, Senhor Zósteles, a minha humilde casa. O conforto não é grande coisa, mas abriga do sol e da chuva. Nem falta comida para matar a fome.
– Com certeza que o conforto deve ser bem maior do que o relento, ao lado de uma árvore, ou sob uma gruta de pedras. Estou acostumado a recostar a cabeça sobre uma raiz mais grossa, ou uma pedra que encontro. Não se preocupe quanto a isso, Senhor.
– Sock. Meu nome é Sock e minha mulher é Muhn.
– Obrigado Senhor Sock. Já troquei algumas frases com sua mulher Muhn e também vi sua filha Song. Falta conhecer os seus outros filhos que acabaram de chegar com o Senhor.
– Venham aqui, filhos. Venham conhecer o filósofo Zósteles, que veio de muito longe e nos honra com sua presença em nossa casa.
Os rapazes vieram e Sock fez as apresentações.
– Esse é o filho mais velho Sumok. Tem vinte e dois anos. Este é o segundo filho, chama-se Banik, com vinte anos, falta pouco para vinte e um. Este aqui é Kulik, com dezenove anos. O quarto, esse rapagão aqui, tem dezoito anos e se chama Kantur. Depois vem o Ballak, que tem dezesseis anos. A filha que conheceu, Song, tem quinze anos e a outra, Xing tem treze anos e o caçula o Senhor conheceu primeiro, é o Minck com dez anos. Depois disso minha mulher perdeu a fertilidade e não nasceu mais nenhum filho.
– Devo congratular-me com o Senhor. Tem uma família numerosa e saudável pelo que pude ver até aqui. Deve agradecer às suas divindades por tanta fortuna.
– Sem dúvida. Sou afortunado. A sorte não foi madrasta comigo e minha mulher. Ela foi abençoada com sua beleza e fertilidade, podendo me proporcionar uma família tão perfeita. Sempre peço aos deuses pela sua saúde. Que a mantenham jovem e bela como tem sido até hoje.
– A beleza amadurece com a idade e se torna mais agradável ao olhar.
Minck estava silencioso, ouvindo os dois mais velhos falando. Fora educado a se manter calado nessas ocasiões, se lhe fosse permitido ficar na presença. O pai falou:
– Minck, avise sua mãe que o Senhor Zósteles será nosso hóspede por alguns dias. Mande preparar um lugar para ele repousar de pois da refeição noturna.
– Já estou indo, pai Sock. – Disse o menino saindo em direção à porta.
Antes que chegasse à entrada, Muhn falou da soleira.
– Eu já ouvi, meu filho. Suas irmãs estão preparando o leito para o seu amigo, Senhor Zósteles.
– Que bom, mãe. Precisa que eu faça alguma coisa para a Senhora?
– Você poderia retirar água do poço para todos poderem se lavar antes da refeição. Talvez o Ballak possa lhe ajudar.
– Eu faço isso. O meu irmão deve estar cansado do trabalho.
O irmão Ballak, mesmo cansado, foi ajudar o pequeno Minck. Passara a sentir por ele uma grande estima, no lugar de uma discreta rejeição que sentia antes. Vira que o tamanho não importa muito, se a pessoa tem cabeça boa para ver algumas coisas importantes. E nisso o pequeno lhe levava enorme vantagem. Não tinha o vigor físico, mas a estatura intelectual, era forçoso reconhecer, compensava sobejamente essa deficiência da força. Enquanto Ballak se encarregava de manejar o sarilho com a pesada vasilha cheia de água até a boca do poço, Minck despejava o conteúdo na talha maior que existia ali ao lado. Em alguns minutos o recipiente estava cheio de água fresca tirada do poço. Minck abraçou o irmão pela cintura e disse:
– Obrigado, irmão. Você foi ótimo.
– Não me custa nada ajudar. Você não poupou esforço em ajudar a todos nós nos últimos dias. Cada um usa as armas que dispõe.
Zósteles, que observara o diálogo, aproveitou para dizer:
– Sábias palavras, jovem Ballak. Se cada um aplicar os talentos com que nasceu, a serviço da coletividade, as coisas caminham muito bem. Parabéns Senhor Sock e Senhora Muhn pelos filhos que têm.
– Obrigada, Senhor Zósteles. Nós nos esforçamos por lhes dar educação digna de uma família de bem. Eles parecem ter aprendido bem as lições recebidas.
– Minha mulher Muhn tem razão. Aguarde um pouco e ela irá lhe mostrar onde poderá colocar suas coisas. Também onde irá dormir.
– Eu quero dizer a toda família aqui reunida, que me sinto muito honrado em partilhar o teto com tão dignos habitantes. Procurarei ser digno de sua hospitalidade.
– Nós esperamos lhe oferecer o conforto que deve estar esperando, depois de tanto perambular por esse mundo afora.
– Tenho certeza que será a melhor noite de sono que terei em muito tempo.
– Venha e traga sua bolsa. Vou lhe mostrar seu aposento.
Havia mandado as filhas evacuar uma peça onde guardavam coisas momentaneamente fora de uso, mas necessárias em determinados momentos. Por alguns dias esse lugar seria o abrigo do hóspede. Zósteles caminhou para o interior, reparando na perfeita limpeza e arrumação da moradia. Era simples com certeza, mas nada estava fora do lugar. A mulher e suas filhas deveriam se ocupar em manter o lar na mais perfeita ordem. Propiciando, dessa forma, aos membros que passavam o dia no trabalho, a satisfação de usufruir de momentos de alegria no lar, além de descansar tranquilos.
O espaço não era grande, mas havia lugar suficiente para guardar seus poucos pertences e depois dormir sem problemas. Esta seria a primeira noite de sono, sem sobressaltos, nos últimos anos de sua vida. Tão logo arrumou tudo no lugar, voltou para o espaço comum, onde a família esperava pelo seu retorno. Ao chegar foi brindado com uma refeição farta e saborosa. Com os mantimentos comprados anteriormente, as mulheres haviam preparado um guisado, cujo aroma se espalhava por toda redondeza. Certamente os vizinhos deveriam sentir-se atraídos por ele. Isso pensado, teve a confirmação. Alguém bateu palmas diante da porta.
– Veja quem é, Ballak!
O mencionado caminhou até a porta e abriu. Do lado de fora estava um vizinho que morava em frente. Fazia parte da turma de trabalho sob o comando de Sumok. Foi logo dizendo:
– Eu precisava trocar duas palavras com o Sumok. É possível?
– É o vizinho da frente. Quer falar com o Sumok.
– Diga-lhe que entre e venha comer com a gente! – Falou Sock.
– Pai Sock disse para entrar e participar da refeição com a gente. Temos hóspede em casa.
O homem não se fez de rogado. Entrou e falou:
– Saudações a todos.
– Seja bem-vindo. Sente-se e participe da refeição. Aproveite para conhecer nosso hóspede temporário, o filósofo Zósteles. Vem da longínqua Grécia. Esteve em Babilônia, Pérsia, China e outros lugares.
– Obrigado. O cheiro se percebe lá de casa. Está mesmo um aroma muito bom. Parabéns, Senhora Muhn.
– Sente-se e coma, homem. Não perca tempo. Depois podemos falar o quanto quisermos.
Sentado o novo convidado serviu-se de generosa porção de comida e começou a comer. Parecia ter perdido toda pressa demonstrada inicialmente. Ninguém seria indelicado a ponto de fazer menção desse detalhe, mas era visível que um dos motivos de sua vinda era o aroma da comida. Para tirar a dúvida, bastaria prestar atenção ao assunto que iria tratar com Sumok depois.
As suspeitas seriam comprovadas sem demora. O assunto não era urgente, mas não iriam criar caso por isso, mesmo por que estavam diante de um hóspede que conheciam há pouquíssimo tempo. Tratar o vizinho com alguma grosseria, seria totalmente inconveniente. As mulheres, depois da refeição, enquanto davam conta de arrumar tudo, limpar os resíduos e migalhas caídas ao chão, comentaram entre si aos cochichos. Mas ninguém percebeu o que diziam, pois apenas murmuravam. Estavam habituadas a se entender dessa forma. Não tinham necessidade de elevar a voz para se comunicar.
Após a refeição, conversaram mais um pouco, sentados em pedras e bancos de madeira, antes de começarem a se recolher para descansar. Zósteles também se recolheu e nesse momento Minck voltou do penhasco, onde fora sorrateiro ver se conseguia falar com Arki. Mas, como ele havia dito, viria somente na noite seguinte. Por isso havia demorado pouco em sua excursão noturna. Ao passar diante da porta entreaberta do cômodo do filósofo, ele espiou para dentro, vendo-o ainda acordado, falou:
– Tenha boa noite de sono, Senhor.
– Você também, meu amigo Minck.
Deitaram-se e logo se ouvia apenas um leve ressonar ecoando por todo ambiente. De vez em quando ouvia-se o latido de algum cão nas redondezas, somente isso. Os comerciantes que traziam suas mercadorias para vender no porto, destinados à exportação, pernoitavam em um acampamento existente do lado oposto da aldeia, em relação à localização da casa de Minck.
A aurora estava raiando, quando Muhn, precedida pelas filhas, levantou para preparar o desjejum da família. Em poucos minutos o fogo foi aceso, água foi posta para aquecer, as vasilhas para preparar o chá colocadas com as porções de folhas em cada uma, de acordo com o gosto do dono daquela vasilha. Foi preciso colocar outra, que seria oferecida ao hóspede e Muhn recomendou:
– Deixem o pacote de folhas à disposição, para que ele próprio coloque a quantidade que lhe for de gosto. Não sabemos se gosta com bastante ou poucas a sua bebida.
Alguns minutos mais tarde, Minck apareceu esfregando os olhos, ainda um pouco sonolento, indo lá fora lavar-se. Foi seguido pelos demais um por um. Nesse meio tempo, Zósteles, despertado pelo burburinho que se formou e tendo descansado como há tempo não fazia, também levantou, vindo juntar-se à família. Sendo o último a chegar, esperou sua vez para lavar o rosto. Com uma caneca pegou um gole de água, enxaguando a boca, fazendo bochecho. Cuspiu a água nas raízes de uma planta que havia no pequeno jardim. Logo tomavam um mingau feito com farinha de aveia e arroz, enquanto sorviam a intervalos um ou dois goles de chá de suas vasilhas. Haviam se cumprimentado, desejando um bom dia mutuamente. Minck se encarregou de levar Zósteles aos lugares onde seria possível obter um espaço para realizar sessões de aprendizagem de escrita e leitura.
Quando o sol surgia no horizonte, lançando reflexos dourados por todo lados a partir da superfície da água do mar, estavam todos prontos para iniciar a jornada daquele dia. O primeiro navio havia partido e o segundo estava descarregado, faltando carregar com os produtos estocados e outros que estavam chegando para ser embarcados diretamente dos veículos puxados por bois ou búfalos. Os animais estavam habituados ao movimento do porto e não se importavam com o alvoroço típico desses lugares. Logo depois Minck disse à mãe:
– Vou acompanhar o Senhor Zósteles em sua busca de lugar para ensinar e também de discípulos que queiram aprender. Vamos começar pelos que tem filhos em idade de fazer seu aprendizado. Os outros virão depois sem precisar procurar por eles.
– Isso é bem certo. Aqueles que realmente quiserem aprender, não importando a idade, virão depois por sua própria conta procurar.
– Vá com cuidado, filho. Apresente o seu amigo e deixe ele falar com as pessoas. Ele sabe o que tem para ensinar, melhor do que você.
– Pode deixar mãe. Eu apenas vou dizer quem ele é e depois ele irá falar do que deseja fazer.
Saíram e foram procurar o dono de um edifício, onde havia um salão de dimensões razoáveis, e que estava desocupado há algum tempo. Ali funcionara um pequeno comércio em tempos anteriores, mas o dono falecera e não tinha herdeiros. Não existindo quem assumisse o negócio, o dono do lugar vendera o que existia e mantivera o lugar fechado. Minck conhecia bem o velho Sporg. Frequentemente mantinham longas conversas, apesar da grande diferença de idade. O ancião, sentia-se contente em poder dialogar com um menino. Isso lhe dava a sensação de rejuvenescer.
Ao bater palmas diante da porta de sua moradia, viu logo o idoso aparecer no vão de entrada. Sem esperar, Minck falou:
– Tem um instante para conversar, Senhor Sporg?
– É você pequeno Minck. Sabe que sempre tenho tempo para você. Entre e convide seu amigo a vir também.
Os dois entraram e foram convidados a sentar-se sobre uns almofadões ali existentes. Tão logo se acomodaram, Sporg perguntou:
– Você trouxe companhia e isso me parece que tem um objetivo. Fale meu pequeno amigo.
– O Senhor Zósteles é filósofo e professor de línguas. Está querendo fixar-se na aldeia e procura um lugar, bem como discípulos para ensinar leitura e escrita, em várias línguas. Lembrei de seu salão que está desocupado. Que lhe parece?
– Vamos ouvir o que o professor tem a dizer. Pode falar Senhor Zósteles. O que pretende fazer em nossa aldeia?
– Eu quero oferecer meus humildes préstimos às pessoas que queiram aprender a ler e escrever. É uma habilidade que pode ser útil em muitas ocasiões durante a vida. Também podemos fazer algumas discussões filosóficas, se houver quem se disponha a colocar o cérebro em funcionamento. Venho de muito longe, da Grécia, passei pelo Egito, Palestina, Pérsia, Babilônia, China, Índia e agora estou aqui. Em lugar nenhum me adaptei. Espero poder servir a alguém com o que sei fazer.
– E para isso precisa de um espaço coberto. Reunir discípulos sob o sol ou chuva não dá certo, não é verdade?
– Até se pode fazer, mas não é confortável, nem para quem vem aprender, tampouco para quem vai ensinar.
– Pois eu lhe empresto meu salão para uma experiência. Se der certo, tiver sorte e arrumar discípulos que possam lhe garantir uma remuneração, falaremos sobre o aluguel. Está fechado mesmo e não estou passando necessidades. Assim contribuo com o progresso da aldeia, antes de ser chamado para a eternidade.
– Acho que acertamos na mosca, Senhor Zósteles. Já temos um lugar para fazer as reuniões. Agora só faltam os discípulos. Eu tenho uma ideia quanto a isso. Depois de terminarmos nossa conversa com o Senhor Sporg, vamos passar no mercado. Ali há alguns dos homens que podem pagar para que os filhos venham aprender leitura e escrita com o senhor, mas não podem pagar o custo de manter os filhos numa cidade grande. E se arrumarmos uns quinze ou vinte discípulos para começar, poderemos dar início. Os outros, como já comentamos, virão por si só.
– O Senhor arrumou um ótimo “agenciador” Senhor Zósteles. Esse menino tem cabeça. Pensa depressa e vai direto ao ponto.
– Eu tive a sorte de conhece-lo logo ao chegar na tarde de ontem. Fui abençoado ao encontra-lo.
– Eu acho que vou cobrar meu aluguel, participando das sessões de aprendizagem. Onde está escrito ou foi dito que os velhos não podem aprender mais nada?
– Seria um ótimo exemplo para os mais jovens, Senhor Sporg. Nunca é tarde para aprender nada. Enquanto existe vida, existe esperança, existe vontade, capacidade de aprender. Essa capacidade só deixa de existir depois da morte.
– Acho que nem depois da morte física. Apenas mudamos de nível e continuamos aprendendo, Senhor Zósteles. Isso meu amigo também me disse. Nosso destino é o Paraíso, junto ao Deus, Pai Universal.
– Quer dizer que depois que eu esticar as canelinhas aqui na Terra, vou para outro lugar, onde continuarei aprendendo?
– Sim Senhor Sporg. Aqui fica apenas o corpo, que é uma morada temporária do espírito. A alma vai para outra esfera e continua evoluindo.
– Já somos dois discípulos para as aulas de filosofia Senhor Zósteles. Pode fazer nossa inscrição.
– Eu preciso ver com meu pai se ele vai me dar dinheiro para pagar.
– Vou fazer questão de pagar a minha contribuição e a tua, amigo Minck – disse Sporg.
– Assim vai ficar fácil. Com um pouco de sorte, poderemos começar amanhã mesmo.
– Esperem um momento. Vou pegar meu manto e vou com vocês até o mercado. Aproveito para fazer umas compras que preciso e ajudo convencer os donos do dinheiro a pôr os filhos na escola do mestre Zósteles.
– Eu não sei se mereço tamanha gentileza. Mesmo assim, agradeço aos dois por tudo que estão fazendo para me ajudar.
– Nem tem por que agradecer. Nós seremos os maiores beneficiados.
Em pouco caminhavam os três. Dois idosos e um menino, conversando animadamente. Os moradores os viam e estranhavam. O menino era o filho de Sock, agora tido como adivinho. Um dos idosos era o velho Sporg, vivendo de seus haveres acumulados durante longos anos de trabalho e o outro devia ser o hóspede de Sock, segundo rumores que corriam igual rastilho de pólvora.
Ao chegarem no mercado, Sporg logo foi visto e reconhecido pelos comerciantes que estavam habituados a vê-lo mais de uma vez por semana ali gastando algumas moedas na compra dos poucos mantimentos de que necessitava. Ele se encarregou de apresentar o filósofo e já se apresentava como primeiro discípulo do mestre. Conclamava todos a se juntarem a eles para discutir filosofia, assim como colocar os filhos mais jovens para aprender ler e escrever. Estavam começando a transformar a aldeia em um lugar mais civilizado. Pelo que se podia ver no porto, o comércio começava a crescer, aumentando diariamente o número de mercadores que vinham vender e comprar mercadorias. Tornava-se urgente, habilitar a população na arte da leitura e escrita. Do contrário seriam obrigados a importar quem fizesse essas coisas no ritmo que andavam as coisas.
Se andassem ligeiro, poderiam dispensar perfeitamente esse transtorno. As palavras do idoso, que se dispunha a ser o primeiro discípulo, tiveram o efeito desejado. Em pouco tempo tinham uma lista de cerca de quinze discípulos para lições de filosofia, que iriam ter lugar três vezes por semana. Por outro lado, reuniram um grupo de vinte e cinco discípulos para as lições de leitura e escrita. Começariam naquela mesma tarde a preparação do ambiente para o início das atividades. Minck sentia-se eufórico. Zósteles simplesmente não acreditava no que estava acontecendo. Percorrera meio mundo civilizado e não encontrara um dia sequer de vida mais fácil. Ninguém lhe abria as portas. Agora, aqui nessa mísera aldeia, mal chegara e tinha um salão para ministrar as lições e também um grupo bem significativo de discípulos. Isso era muito mais do que poderia desejar em seu sonho mais louco.
Era quase a hora do almoço e acompanharam o Senhor Sporg até sua casa, indo depois almoçar em casa. Ali chegando, encontraram Sock e os filhos que acabavam de pôr os pés na porta, para fazer a refeição do meio dia. Havia um intervalo para isso e não era mais necessário transportar as vasilhas com os alimentos quentes até o porto, o que sempre envolvia algum risco, além de oportunizar o esfriamento dos alimentos. Em poucas palavras foram colocados ao par das novidades e já foram acrescentados mais seis nomes à lista dos discípulos de filosofia. Minck e Zósteles era só sorrisos. Almoçaram e pouco depois foram cuidar dos preparativos do salão. Ao lá chegarem, encontraram o Senhor Sporg com a porta aberta e em plena atividade de remoção da poeira, teias de aranha e outras impurezas que haviam ficado ali por longo tempo.
Vez ou outra aparecia um curioso para perguntar o que iria funcionar ali e era prontamente informado. Dessa forma, até o final da tarde, haviam sido acrescidos mais alguns nomes ás duas listas. Chegou um momento em que Zósteles falou:
– Vamos ter que fazer dois grupos de leitura e escrita. Um pela manhã e outro à tarde. Com um grupo muito grande, a aprendizagem não é boa e irão desistir.
Começaram por separar os novos nomes e avisando que haveria a divisão em duas turmas. Houve quem imediatamente deixava especificada sua preferência. Assim terminaram o dia com a turma de filosofia alcançando mais de trinta integrantes, duas turmas para leitura e escrita com vinte nomes em cada uma. Nem o sonho mais louco poderia prever tal resultado, na manhã daquele dia, quando saíram procurar, primeiramente o espaço físico para as aulas. Depois os discípulos. Um marceneiro foi chamado para providenciar cadeiras e mesas para apoiar o material de escrita. Um comerciante que ia para a cidade, distante cerca de cinquenta quilômetros, recebeu a encomenda de pergaminhos, estiletes e tintas para escrever. Seria preciso haver disponibilidade de tais materiais para que os discípulos pudessem adquirir. Do contrário teriam que ir um a um na cidade comprar, o que significaria um atraso considerável.
Assim, ao chegarem em casa para o jantar, estava tudo encaminhado. A semana estava terminando. Haveria no dia de descanso a festa comemorativa da deusa da fartura. Era uma data como outra qualquer, mas servia para o povo confraternizar. Logo após, poderiam começar com as lições.
Décio Adams
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