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Porquê tanta pressa?

REI DEPOSTO! REI POSTO!


                  Assistimos nos últimos dias não a queda de um rei e ascensão de um novo, mas a queda de um técnico da seleção nacional de futebol e a ascensão de outro. Até aí nada de anormal, pois estamos habituados desde muito tempo à dança de treinadores, técnicos, coordenadores, preparadores e seja lá o nome pelo qual queiramos chamar os homens responsáveis por colocar em campo uma equipe de futebol. Acontece tantas vezes em cada campeonato estadual, brasileiro ou seja a competição que esteja em curso, que chegamos a encontrar estatísticas comparativas veiculadas nas emissoras de TV, rádio e mídias sociais. Isso posto, nada mais natural que uma troca de treinador no selecionado nacional. 

O que chama atenção nesse caso?


                   A pouco mais de um ano vimos Luiz Felipe Scolari, sob os aplausos gerais, assumir o comando do selecionado nacional, no lugar do demitido Mano Menezes. Conquistamos a copa das confederações com exibição de um futebol vistoso e convincente. Passou a ser voz corrente a quase certeza da conquista do tão sonhado hexacampeonato da Copa do Mundo, na competição realizada em nosso território. Inumeráveis foram as críticas feitas ao andamento das obras nos estádios, nas infraestruturas de toda ordem, levando a imaginar um caos nunca visto em competição semelhante pelo mundo afora.

            Chegou o dia 13 de junho, a cerimônia de abertura foi uma demonstração de rara beleza e organização. Na continuidade nosso selecionado enfrentou, no jogo inaugural, ao time representando a Croácia, por um placar pouco expressivo, o que foi debitado à conta do nervosismo da estréia. Nada nos tirava a convicção de que no final estaríamos enfrentando, não importava quem quer que fosse, e conquistaríamos o tão esperado título. Os jogos se sucederam, empatamos, ganhamos novamente e nos classificamos em primeiro lugar no nosso grupo, ficando o México com o segundo posto.

                  Nas oitavas de final enfrentamos o selecionado chileno, num jogo difícil que terminou empatado, teve prorrogação, decidido na cobrança de penalidades máximas, ficando a vitória com o Brasil. Vieram as quartas de final e lá estava a Colômbia, que terminou com nosso craque principal lesionado gravemente e o capitão da equipe suspenso por um jogo devido a um segundo cartão amarelo, aplicado por causa de um lance considerado duvidoso por muita gente. A vitória foi nossa e chegou a vez de enfrentarmos a Alemanha, que até aquele momento vinha fazendo uma campanha, se não brilhante, mas sem dúvida muito consistente. Mas tínhamos no comando da seleção o FELIPÃO, capaz de trazer o penta em 2002, depois do fracasso na final de 1998. Ele saberia superar os problemas da ausência de Neymar e Tiago Silva. Os demais atletas jogariam dobrado para cobrir suas ausências e a vitória seria nossa sem dúvida.
             No dia da partida, o país inteiro ficou mudo quando, à menos de treze minutos, estávamos perdendo de 1×0. Nada tão terrível. Perfeitamente possível de ser revertido. Novamente aos 23 minutos e agora eram 2×0, logo 3×0, 4×0 e antes dos 30 minutos 5×0. Nossos olhos custavam a acreditar no que víamos estampado no placar, que assim se manteve até ao final do primeiro período. Um grupo de onze jogadores usando a camisa amarela, mais conhecida como amarelinha, parecia estar perdido no campo de jogo. O segundo tempo começou e todos se contentavam em que o placar permanecesse parado até ao final. Já raros eram os que acreditavam numa virada de jogo, ou até mesmo um empate. Mas o jogo terminou em inexoráveis 7×1. Placar nunca visto quando a seleção nacional esteve em campo, muito menos em uma semi-final de Copa do Mundo. Restava disputar o terceiro lugar e honrar a camisa. Nova derrota, dessa vez para o selecionado laranja da Holanda. Terminamos a Copa do Mundo no Brasil, pela segunda vez na história, sem sermos campeões.

               Ao contrário das previsões catastróficas ouvidas nos meses precedentes à competição, o que estava sendo apontado como um verdadeiro desastre iminente, transcorreu na mais absoluta normalidade.A logística e acessibilidade, se não foram excelentes, não deixaram a desejar. Os elogios feitos ao povo brasileiro por sua hospitalidade e outros atributos, foram eloquentes e não deixam dúvidas. A organização não deixou a desejar.

                  Mal cessaram os fogos comemorativos do encerramento, iniciou um clamor generalizado contra os dirigentes da equipe, tendo no topo da lista Luiz Felipe Scolari, o comandante. Iniciou-se as especulações sobre os integrantes da nova equipe dirigente do nosso selecionado. Hoje estamos no dia 23 de julho, exatamente 10 dias após o término da Copa. A comissão técnica entregou os cargos à direção da CBF, sua demissão  foi formalizada e pasmem! Já temos uma nova equipe completa ocupando os seus lugares. Para maior surpresa, de pelo menos grande parte da população, o cargo de treinador foi entregue às mãos de nada menos do que Dunga, à quem foi debitada nossa eliminação precoce na competição de 2010. Nada contra a pessoa do treinador, nem sua capacidade para ocupar o cargo. Ele foi o xerife da seleção de 1994 que nos trouxe o tetracampeonato.
               Mas agora vem a razão do título dessa postagem: Porquê tanta pressa? Sim, por que tanta pressa em colocar novos nomes no lugar dos recém derrotados? Tenho a impressão de que havia urgência em apagar um fato inegável: nosso time não merecia de modo algum ser campeão. Embora ninguém diga abertamente, no fundo boa parte dos torcedores, culpa a equipe que comandou o selecionado pela derrota.
         Quero tecer alguns comentários sobre a questão da pressa. A meu ver, antes de sair ataba
lhoadamente em busca de substitutos, seria hora de chamar pessoas ligadas ao assunto, como treinadores, preparadores físicos, médicos, psicólogos, nutricionistas, ex-atletas e outros profissionais ligados às competições esportivas, para, num grande debate, analisar os erros e acertos; os pontos fortes e os fracos da equipe que se desfez. Com o resultado dessa reunião em mãos, haveria como estabelecer metas, objetivos a curto, médio e longo prazo para o futebol nacional de modo globalizado. Então sim haveria como fazer uma escolha criteriosa de nomes capazes de desenvolver um trabalho que atendesse ao atingimento dessas metas no correr dos anos. Assim poderíamos aspirar a, daqui alguns anos, comemorar novas conquistas para o esporte que tantas alegrias trouxe ao povo brasileiro. Talvez os novos integrantes fossem os mesmos que lá estão agora, mas haveria um mapa a ser seguido, não uma vaga noção do que se pretende. Apenas se conhece o objetivo, caminho traçado previamente a ser seguido.

                  Infelizmente prevejo que em 2016, viveremos novo fracasso olímpico. Em 2018, provavelmente estará no comando da seleção um nome que hoje sequer imaginamos quem venha a ser. O quarto lugar que nos ficou, quase por herança, talvez nem seja merecido, pois desde o começo da competição era perceptível a fragilidade da nossa equipe. Não quero com isso desmerecer a qualidade dos atletas no aspecto individual, pois ocupam posições de destaque em equipes do primeiro mundo.  Porém, torcer é preciso. Nessa hora o coração verde/amarelo fala mais alto e, mesmo contra as evidências todas, acreditamos que mais uma vez FELIPÃO realizaria um milagre, dando-nos a alegria do título.

                Creio que devemos sim um imenso preito de gratidão ao cidadão Luiz Felipe Scolari. Sob seu comando a seleção ganhou a copa de 2002 e a Copa das Confederações em 2013. Não julgo que seja ele o culpado. Na verdade precisamos reconhecer que o nosso futebol há tempo deixa a desejar. Basta olharmos o nível das competições a nível nacional. Não vemos jogos empolgantes, salvo raras e honrosas partidas. O público presente aos estádios é fraco, tal o desinteresse dos torcedores pelos seus times. Isso em parte pode se atribuído ao frequente acontecimento de fatos trágicos nos encontros de torcidas. Quem em sua preocupação paterna com os filhos leva os pequenos ou adolescentes ao estádio? Quem quer expor seus entes queridos ao risco de serem agredidos, pisoteados ou algo semelhante?

              Temos certamente muito, mas muito mesmo a aprender com os europeus, tanto no que diz respeito ao jogo propriamente dito, quanto ao conjunto de medidas que cercam as competições futebolísticas nos quatro cantos do país. Não quero dizer que devemos sair copiando esse ou aquele modelo, mas nos inspirarmos nos exemplos e reinventar nosso futebol, que durante décadas encantou o mundo. Os depoimentos de atletas do exterior são eloquentes quando declaram admirar o futebol brasileiro por sua beleza e plasticidade, tendo em nossos atletas mais destacados os seus ídolos.

            É possível dar a volta por cima? Com toda certeza. Mas lamento dizer aos nossos dirigentes imediatistas que isso não irá acontecer por milagre, como num passe de mágica. Os grandes craques do passado não renascem aos milhares pelos campos do Brasil. Eles precisam ser preparados fisicamente, psiquicamente e culturalmente para serem os novos campeões do mundo no futuro. Para novamente serem o encanto do mundo no campo dos esportes. Não será uma mera troca de treinador, preparador físico e outros profissionais que fará essa mudança. Há necessidade de uma mudança muito mais profunda. Mudança essa necessária em todos os setores da atividade humana em nosso país. Esse país que eu amo e não troco por outro, por mais atraente que seja ou melhor o pintem seus admiradores. Vamos pensar diariamente no que podemos fazer para melhorar a vida em nossa nação de uma maneira ou outra. Se todos dermos nosso pequeno esforço, o resultado final será gigantesco e muito compensador.

                                                             Curitiba, 23 de julho de 2014.


                                                                      Décio Adams.

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