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Mineiro sovina! – Capítulo IV.

 

Enfim advogado.
Quando a carteira de advogado chegou, José Silvério fez questão de ir até o gabinete do diretor geral do escritório apresentar o documento.
– Parabéns! Isso é muito bom. O número de clientes tem aumentado consideravelmente. Estava na hora de ter mais um integrante na equipe. Que possa assumir causas, defender réus e por aí afora.
            – Estou a disposição para o que der e vier. Creio que já adquiri experiência durante estes meses que aqui trabalho. Pode contar comigo.
– Vamos providenciar um gabinete para você. Hoje mesmo me reúno com os outros sócios para tratar disso. Já tenho uma ideia para isso. Tem uma peça ali no final do corredor, que está sendo ocupada como depósito. Vamos remover tudo de lá, reformar, mobiliar adequadamente e teremos onde instalar o novo associado.
– Fico agradecido. Vou me esforçar ao máximo para corresponder à sua confiança.   
            – Tenho certeza que vai ser um bom profissional. Já o conheço desde quando ainda usava calças curtas, no mercado do seu pai. Bons tempos aqueles, você não acha?
–  Com toda certeza, mas a vida segue seu curso. Agora vou para minha mesa. Um bocado de processos espera para serem analisado e elaborados os pareceres. Vou deixar a minha pauta limpa, antes de assumir novas funções.
            – Vai e faça o que tem para fazer.
Foi até a sua mesa, pondo-se a trabalhar com afinco mantendo um sorriso permanente no rosto. Não demorou e os outros funcionários notaram a euforia. Alguém comentou com a vizinha de mesa e esta resolveu perguntar:
            – José, você viu passarinho verde na vinda para cá?
            – Por que a pergunta, Roberta?
            – É que está com o rosto radiante. Dá para notar de longe. Até parece que arrumou namorada.
–  Não é nada disso, Roberta. É que hoje encontrei, na caixa de correio, um envelope que me trouxe minha carteira da OAB. Agora sou advogado de verdade, não mais apenas bacharel em direito.
            – Vamos ter que tratar você por Dr. José. Que chique. Você merece, se esforça e cumpre com suas obrigações como ninguém. Vai ser bom trabalhar perto de você. Onde vai ser o seu gabinete?
– O Dr. Arlindo vai resolver isso hoje com os outros sócios. Hão de arranjar algum lugar para me instalar. Vou ter que escolher uma secretária. Você aceita o posto, Roberta?
– Quanta honra. Se precisar, pode contar comigo, Dr. José Silvério.
            – Menos cerimônia, somos antes de mais nada amigos. Apenas muda a minha posição dentro do escritório, o resto permanece na mesma.
– Vai ser um bom chefe, tenho certeza.
Todos se aproximaram para cumprimentar o novo membro da associação de advogados. Até ali haviam sido praticamente colegas, com a diferença de que sabiam ser ele candidato a ocupar um gabinete na organização. Nas semanas seguintes a citada peça do prédio, que servia de depósito, foi esvaziada e um frenético processo de reforma teve lugar. Em duas semanas a reforma estava feita, uma ampla janela fora instalada. Vieram móveis novos, no estilo dos demais gabinetes. Quando tudo ficou pronto, foi oferecido a todos os integrantes da organização um coquetel de inauguração do novo gabinete, onde iria atuar o mais novo membro do já famoso escritório de advocacia.
Na manhã seguinte, José Silvério da Silva, entrou pela primeira vez em seu gabinete, ainda rescendendo a tinta, móveis novos e o sol iluminando o ambiente pela ampla janela. Sentiu-se realizado até aquele momento. Mas esperava muito mais da vida. Tinha objetivos elevados e iria atingir os que fosse possível, reformular os demais e estabelecer novos na medida que as coisas fossem seguindo seu ritmo próprio.
Não tentaria atropelar os fatos. Considerava que tinha a vida pela frente e a seu dispor os instrumentos para realizar seus sonhos. Logo chegou Roberta que confirmara a aceitação de seu convite para ocupar o lugar de secretária. A experiência dela na função era de grande valia.
Atendeu alguns telefonemas de clientes que haviam sido colocados sob sua responsabilidade, bem como alguns novos que tinham questões pendentes de processos judiciais e estavam sendo encaminhados para seus cuidados. Evidentemente, qualquer causa de maior envergadura, contaria sempre com o apoio dos colegas mais experientes. Mesmo em caso de dúvidas, poderia recorrer aos conselhos dos mais antigos na organização.

            Naquela tarde lhe foi passada uma causa que envolvia querelas entre fazendeiros vizinhos no tocante às divisas entre suas terras, cercas deslocadas e animais provocando danos no cafezal de um dos envolvidos. Tivera oportunidade de trocar algumas palavras com o Cel. Onofre Pires, cafeicultor da região. Ele viria no dia seguinte às nove horas, trazer documentos, relatórios e dados para promover uma ação indenizatória contra o vizinho.

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