O professor não é educador!
Este é o título de um livro lançado de forma independente pelo professor aposentado, Armínio Santos Moreira, que usa na literatura apenas o nome Armínio Moreira. Conta hoje com 80 anos de vida, dos quais 43 foram passados em salas de aulas. Nascido em Portugal, após o curso de licenciatura, fez mestrado pela PUC de Salamanca. Lecionou algum tempo na terra natal e também em um país africano.
No Brasil iniciou a atividade como professor na cidade de Foz do Iguaçu. Veio a se aposentar depois de atuar na UNIOESTE. Em seu livro Armínio chama a atenção para vários aspectos importantes no que tange a diferenciação entre educação e ensino. Assistindo aos vídeos gravados pelo divulgador do livro, Edésio Reichert, pude identificar nas palavras do Prof. Armínio minha maneira de sentir o que costumeiramente denominamos educação. Um dos aspectos importantes é o grande valor que ele atribui ao uso da memória, em especial nos primeiros anos escolares. Suas palavras me transportaram para os anos 50/60 do século XX. Foi nessa época que eu tive a base de minha formação escolar. Fui induzido a memorizar a tabuada até o número 10, vindo por iniciativa própria a decorar também as demais até o 15 ou 20, não lembro bem.
Posso testemunhar com minhas palavras. Usar a memória, não prejudica ninguém. Nem crianças, nem adultos, muito menos velhos. Ao contrário, o uso intenso da memória, melhora nosso desempenho, atrasando a degeneração cerebral. Vejam o primeiro vídeo, clicando no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=Ani7tMuJNBU
Uma coisa que nunca me havia ocorrido, é defendido por Armínio e estou inclinado a concordar com suas afirmações. Os estabelecimentos de ensino deveriam ser geridos, administrados, por pessoas com formação na área administrativa. É fácil compreender que, alguém que passou quatro anos ou mais, aprendendo geografia, matemática, ou língua portuguesa, está apto a lecionar os conteúdos dessas disciplinas. Não está apto a administrar uma escola. E eu sou testemunha, pois em 1988/89, estive investido do cargo de diretor de uma escola no interior mato-grossense. Minha experiência me obriga a concordar com Armínio. Eu estava apto a lecionar matemática e física, não a ser diretor. Procurei desempenhar a função da melhor maneira que pude, e não sofri de recaída. Nunca mais quis ocupar novamente um cargo diretivo. Vejamos o vídeo cujo link transcrevo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=vQmUhlVfPr0
Vivemos há algum tempo uma inversão de conceitos. Consideramos educação o que os professores dão aos alunos nas escolas, quando na verdade a tarefa dos professores é transmitir-lhes as habilidades e competências que irão necessitar no desempenho de sua cidadania. A educação é tarefa da família como um todo. Incluem-se aí os pais, irmãos mais velhos, avós, tios, tias e mesmo vizinhos. Infelizmente vemos ocorrer nos dias atuais a transferência dessa tarefa da família aos integrantes dos corpos docente/administrativo das escolas. Esse é o ponto crucial em que Armínio Moreira bate forte em seu livro. Segundo suas palavras, decidiu-se por escrever o livro, movido por longos anos de experiência. Nesses anos diz ter-se visto inúmeras vezes na contingência de fazer o que não lhe competia, isto é, educar os filhos dos outros.
Um fato relevante nesse campo é que na escola a criança/adolescente, passa pelas mãos de vinte, trinta e mais pessoas. Essas pessoas em princípio são estranhas à sua vida e depois continuarão a ser, quando ele concluir o nível escolar correspondente. Irá encontrar mais outro tanto de pessoas, a quem está sendo cobrada a tarefa de dar educação a esse aluno. Afirma Armínio que é impossível querer que alguém acabe educado por tantas pessoas diferentes. Muitas vezes totalmente opostas em suas convicções, personalidades e crenças. Não é de hoje que ouço dizer que “Educação se traz de berço”. É algo com que concordo. Inclusive tenho visto casos de egressos de estabelecimentos encarregados de acolher e educar os órfãos, abandonados, para os quais não foi encontrada uma família substituta, apresentarem desempenho satisfatório na escola. Não houve quem se dispusesse a adotar essa criança/adolescente, nem assim ele deixou de se tornar cidadão. É evidente que irá levar para a vida inteira uma lacuna em sua personalidade que é o carinho, amor, aconchego familiar.
Um outro aspecto a considerar é que o professor, antes de mais nada está na escola, interessado em garantir o seu salário. Já a família tem interesse diferente ao educar a criança. As leis relativas ao assunto, os juizados da infância e demais órgãos devem ser convocados a intervir quando a família falhar na sua tarefa educativa. Lembro que em meus primeiros anos escolares, os pais ou responsáveis pelos alunos, transferiam ao professor (único numa turma multisseriada) a autoridade de educar. Inclusive usar castigos físicos. Se chegássemos em casa reclamando de algum castigo, a primeira pergunta era:
– E por que você recebeu castigo?
Nem adiantava mentir, pois era fácil falar com o professor e a verdade era revelada. Pouco importava que tivessem transcorrido alguns dias. Levava mais um castigo, geralmente dobrado. Um por mentir e outro por desobedecer ao professor. O mais interessante é que, não lembro de nenhum caso de aluno que tenha levado para a vida, marcas desse tempo. Levamos sim o que aprendemos, mesmo à custa de inúmeras repetições. Ao deixarmos a escola comunitária, tínhamos uma boa base de conhecimentos tanto de língua portuguesa, matemática e noções de geografia, história, até mesmo ciências. E nosso professor não possuía sequer o curso ginasial. Não quero com isso desfazer de sua habilidade. Ao contrário, mesmo com formação deficiente, foi capaz de nos transmitir conhecimentos, que hoje muitos alunos ao alcançarem o Ensino Médio não dominam, basta vermos as questões do ENEM e comprovar. Vejam o outro vídeo, clicando no link que segue:
https://www.youtube.com/watch?v=s8BWk1sT35I
Nos próximos dias voltarei a falar dessa obra e colocarei novos links para outros vídeos tratando do assunto.
Revendo esse post, quero fazer algumas ressalvas.
- Não discordo das palavras do autor do livro, quando afirma que o professor é aquele que transmite conhecimentos. Apenas gostaria de dizer que, na verdade, ele não “transmite”, mas apresenta aos alunos esses conhecimentos e orienta o seu caminho na aprendizagem, no domínio dos mesmos. Por outro lado, depois de muita meditação a respeito, lembrando dos mais de trinta anos vividos em salas de aulas, posterior contato com ex-alunos, depoimentos dos mesmos, passei a pensar de modo um pouco diverso. Não retiro da família o encargo da educação básica, da formação moral, ética, comportamental. Mas não posso também deixar de reconhecer ao professor a tarefa de co-educador. Se sem a confrontação do comportamento familiar, com o comportamento do professor e depois dos professores nas séries mais avançadas, o aluno não tem o parâmetro para avaliar o que é melhor. Não raro vemos um jovem, oriundo de estrutura familiar precária, adotar comportamentos muito mais condizentes com o modo de vida de um ou vários de seus professores, inclusive em alguns casos, ter êxito até na transformação da família, levando-a a um modo de vida mais adequado. Isso não é “educar”? Na minha opinião é sim. Educar pelo exemplo. Até mesmo o mau exemplo de algum professor, pode servir de contraponto, para que o aluno opte por um ou outro caminho. Embora a personalidade seja moldada nos primeiros anos de vida, concluindo-se com o alcance da juventude, a vida está repleta de exemplos em que indivíduos, que optaram por um caminho errado, num dado momento mudaram. Ao perceber de alguma forma seu erro, buscam, geralmente com apoio de alguém, modificar seu comportamento. Aliás essa deveria ser a tônica do trabalho com os indivíduos condenados à prisão pelo cometimento de delitos criminais. Não é que o tal “pau que nasceu torto não endireita”. Na verdade não foi aplicada a técnica, a prática adequada. Evidente é que nem sempre teremos êxito. Tudo sempre depende do próprio indivíduo. Para mudar, é preciso ter vontade. Vontade é algo que não se incute, ensina, mas nasce do interior da pessoa. É um algo que decorre de uma decisão voluntária, algo ligado ao tão falado livre arbítrio. Seria possível encher páginas falando desse assunto.
- Em um dos parágrafos do post falei da questão abordada pelo autor do livro no tangente à ocupação dos cargos de diretores de escolas por pessoas com formação na área de administração. Não retiro de todo as minhas palavras, mas coloco um gigantesco ponto de interrogação. Será que alguém altamente qualificado em administração, irá ter um excelente desempenho como diretor de um colégio, escola, universidade? Será que basta ser um bom administrador e tudo estará resolvido? Sem dúvida é um cargo ou função que requer do ocupante uma elevada dose de “tino” administrativo, mas não é só. Um administrador, sem o conhecimento da estrutura do sistema de ensino, sem uma formação pedagógica básica, sem domínio dos inter-relacionamentos das várias disciplinas, estará fadado ao fracasso, pelo menos no plano do ensino/aprendizagem. Poderá ser um primor de gestor financeiro da unidade, eficiente no controle dos gastos e investimentos, mas corre o grande risco de ficar nisso. O objetivo precípuo do estabelecimento ficará relegado a um segundo plano. Isso é tudo o que não se deseja. As escolas sempre foram os centros de irradiação de cultura, desenvolvimento de pesquisas, formação de profissionais de alta capacidade e é urgente que essa característica seja reconquistada. Talvez se deva pensar na existência da figura de um gestor público de carreira, que seja lotado em uma ou mais unidades e se encarregue dos aspectos administrativos puramente materiais, deixando o que concerne ao ensino/aprendizagem a cargo de alguém que tenha conhecimento de causa. Pode ser uma solução.
Curitiba, 29 de maio de 2018 (Revisto e republicado)
Décio Adams
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