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O professor não é educador! – Parte II

O professor não é educador! – parte II

 

Retomando a questão da transferência da tarefa de educar dos pais para os professores, vemos Armindo Moreira (ontem eu erroneamente o chamei Armínio, peço desculpas), indo mais longe. Segundo suas palavras, ao pesquisar os registros históricos do final do século XIX e princípio do século XX, encontrou em um bom número de países, entre eles o Brasil, que tinham o Ministério da Instrução. As alternâncias de diversas ditaduras em todos os cantos do mundo, levou à trocar essa denominação, para Ministério da Educação. O objetivo era educar os futuros cidadãos para darem apoio e legitimação aos ditadores. Eu não disponho de informações detalhadas para julgar essa questão, mas ao fazer tais afirmações Armindo deve estar apoiado em fatos concretos.

Vamos ao próximo vídeo, que tem menos de quatro minutos de duração.

https://www.youtube.com/watch?v=uefWeVCxPDU

Em virtude dessa postura contrária a adoção pelas escolas da tarefa de educar, em detrimento do “ensinar habilidades e competências”, no próximo vídeo veremos Armindo sugerindo a substituição do nome de Ministério e Secretaria da Educação, para “Instrução”, ou então “ensino”. A competência dos professores ficaria restrita ao ato se ensinar, orientar a aprendizagem. A tarefa de educar voltaria às mãos dos pais ou seus substitutos legais em caso de impedimento. Ele avoca a questão bastante interessante nesse particular. Se a família segue uma determinada denominação religiosa, ou linha de comportamento. Já os professores poderão ser de outra linha religiosa, ateus, liberais, socialistas e tantas outras características escolhidas em sua liberdade. Como ficará a “educação” desse aluno, colocado sob seus cuidados? Ele ficará preparado para seguir os passos da família? Ou ele seguirá qual dos seus professores?

Ressalva:  Como eu já expus na republicação do primeiro post sobre o assunto, venho reiterar minha forma de pensar atualizada. Não retiro das tarefas do professor a mais importante que é a de “ensinar competências, habilidades”, pois essa é a finalidade mais importante. Porém, não posso deixar de adicionar a tarefa  de co-educador, de complementador da educação. Se durante muitos séculos ou mesmo milênios os filhos costumavam seguir os passos dos pais, no mundo moderno,  onde se apregoa a liberdade religiosa, liberdade de convicção ideológica, a figura dos vários professores, com sua diversidade, servirão de parâmetros para a escolha a ser feita pelo aluno.  Em um livro que li, encontrei algo que diz mais ou menos o que segue: Se é desejável que o ser humano seja honesto, deverá ter oportunidade de entrar em contato tanto com pessoas honestas quanto desonestas. Só assim poderá julgar o que mais lhe fala ao íntimo, orientando sua escolha. Se é desejável que o ser humano seja ético, deverá poder confrontar situações em que possa comparar atitudes éticas e também anti-éticas. Se é desejável que ele seja generoso, deverá ser capaz de distinguir entre uma ação generosa e uma ação egoísta, fazendo sua escolha.  Poderíamos ficar enumerando um grande número de comportamentos, onde sempre deve prevalecer a livre  escolha do indivíduo e para isso será necessária a oportunidade de comparar. 

Diante do exposto acima, não posso excluir a figura do professor da tarefa de educar. Os pais e demais familiares servirão para dar os primeiros passos, mas sem outros parâmetros, a formação do futuro cidadão ficará capenga. Tenderá a ser parcial e mesmo preconceituosa. 

O outro vídeo foi gravado durante uma palestra em encontro de professores na região oeste paranaense. Vejam:

https://www.youtube.com/watch?v=LAguEpOEBK0

Muito se ouve falar da aversão que grande parte da população nacional tem pela leitura. Armindo em seu livro O professor não é educador, chama atenção para uma questão fundamental. É habitual a pessoa rejeitar aquilo que não sabe fazer, tem dificuldade em aprender, ou que não aprendeu. É o caso da leitura. Armindo defende que é indispensável a dedicação de tempo especial para desenvolver no aluno a técnica da leitura correta. Significa, ler com rapidez e compreender o conteúdo lido. Para isso é essencial que um tempo significativo durante as aulas nas séries iniciais seja dedicado a isso. Como todo o aprendizado posterior depende de leitura e sua compreensão, de nada adianta congestionar o período escolar inicial com inúmeras atividades, em detrimento do aprendizado da leitura. O mesmo acontece com as noções básicas de matemática. Fica impossível aprender os conteúdos dos níveis posteriores, se os conhecimentos básicos não estiverem sedimentados. Começa pela memorização da tabuada. Novamente aparece a objeção muitas vezes levantada contra o uso da memória. Concordo com Armindo, a memória não gasta, não estraga, não diminui com o uso. Muito pelo contrário. Quanto mais é exercitada, melhor ela fica.

Vamos ver um vídeo gravado por Edésio Reichert, tendo por base o livro de Armindo Moreira, abordando a questão da leitura. As estatísticas apontam que temos 70% de analfabetos funcionais. Isto é, pessoas que leem mas não compreendem o que estão lendo. De que nos vale termos a maioria dos cidadãos com um diploma na mão, mas que na verdade não dominam as habilidades necessárias para exercer a função para a qual foram em princípio “formados”? Nos últimos dias foi publicado o resultado do ENEM e uma enorme quantidade de candidatos obteve nota “zero” em redação. O que isso representa? É um alerta para a questão das aprovações sem levar em conta o mérito do aluno. É proibido reprovar. O que é preferível: carregar a frustração de uma reprovação ou levar para o resto da vida a vergonha de não ter habilitação alguma, apesar de um diploma dizer o contrário? Outro exemplo é o periódico exame da OAB, onde milhares de “bacharéis” em direito, tentam em vão conseguir obter seu direito de exercer a advocacia de forma plena. Sem a carteirinha da OAB, assegurando ser o portador apto a defender causas em juízo, fazer petições e toda sorte de demandas jurídicas, nada feito. O diploma não passa de um papel, útil talvez, para emoldurar e pendurar em uma parede e nada mais. Isso é muito pouco.

https://www.youtube.com/watch?v=dcVXx3maSyM

O autor do livro O professor não é educador, vem provocar uma discussão salutar em torno do assunto “educação” e “instrução”. Segundo ele, além de um grande número de profissionais envolvidos na questão, essas palavras não são sinônimos, como é muitas vezes colocado na prática. O fato de termos o MEC – Ministério da Educação e Cultura, é muito mais significativo do que apenas uma sigla altissonante. Em seu bojo reside o fato de tentarmos colocar nos ombros dos professores, preparados para ensinar matemática, português, geografia, história, ciências e todas as demais disciplinas, a carga de “educar” os filhos dos outros. Talvez eles mesmos tenham suas dificuldades em educar os próprios filhos.

Ressalva:

O fato de ser professor, não torna o individuo alheio à tarefa de educar os próprios filhos.  Poderá mesmo levar exemplos de sua experiência doméstica para o meio estudantil, num modo integrado de desempenhar ambas as funções. Se ele (ela)é um bom pai (mãe), tem grande possibilidade de ser também um bom professor. Não se trata de misturar as duas coisas, apenas agir de modo coerente nas ocasiões em que esteja em uma ou outra função. Dessa forma poderá contribuir na complementação da formação dos alunos, não apenas na aquisição de conhecimentos, habilidades e competências, mas em seu modo de viver, de ver a realidade que o cerca, tornando-se um cidadão de verdade. 

Falo por experiência própria. Nossos filhos, adquiriram muito cedo o gosto pela leitura, tanto que mal haviam dominado os rudimentos da escrita e já se lançaram na aventura de ler muitos livros, algumas vezes às escondidas.  Isso por nós os considerarmos ainda não apropriados para a sua idade e não os deixávamos à disposição. Muitos anos depois descobrimos que mesmo assim eles haviam encontrado um meio de te-los em mãos e ler. Não lhes causaram problemas. Tornaram-se sempre ótimos alunos, destacando-se habitualmente entre seus colegas. 

Entre os vários professores com quem tive oportunidade de conviver no período de minha formação, houve alguns, sendo um deles de modo muito especial, marcante na minha vida. Seu nome é Carlos Afonso Schmitt. Foi meu professor de português na segunda série do ginásio, no ano de 1963. Influenciou  minha vida profundamente. Naquele único ano realizou a façanha de me ensinar, assim como aos meus colegas de turma, tudo o que sei da nossa Língua Mãe. Tomei sua figura como exemplo para minha vida posterior quando exerci o magistério por mais de trinta anos. Ser competente, exigente e ao mesmo tempo compreensivo. Essas qualidades eu trouxe daquele ano, hoje longínquo, para minha atuação como professor. Se isso não é educar, eu não sei o que é. Mas é muito mais do que ensinar habilidades e competências. Em muitas ocasiões tenho recebido elogios de antigos alunos, citando muito mais meu comportamento nas salas de aulas, do que minha competência enquanto ensinava matemática e física. E posso dizer de coração. Esses elogios valem muito mais do que qualquer remuneração jamais pode valer ao longo da vida. 

O assunto deve ser longamente debatido, aprofundado e talvez depois, implantada uma mudança real e verdadeira em nosso sistema de ensino. Se queremos desenvolver nossa pátria, não podemos deixar de formar os cidadãos para exercer as diversas atividades que isso traz como consequência.

Décio Adams

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