Meses de espera passam depressa.
Meados de outubro e logo já seria Natal, novamente Ano Novo. Dessa maneira os dias se sucederam em rápida sequência. Manoel sempre preocupado com o estado da esposa. Procurou sem descanso por uma moça que se dispusesse a fazer o serviço da casa, pelo menos as tarefas que mais esforço exigiam. Também queria que a mesma acompanhasse Eduarda nas idas ao mercado, em busca de mercadorias para o estabelecimento. Por mais que os fornecedores fossem gentis em não deixar qeu ela carregasse objetos pesados, temia que ela, em sua voluntariosidade, excedesse em suas atividades. Nada poderia dar errado.
Quando a encontrou teve a tarefa de convencer a esposa da necessidade de ter mais uma pessoa a serviço. Preferia economizar o dinheiro que isso iria custar para outras coisas. O argumento de Manoel foi mais forte. Não havia problemas com o caixa. Sempre havia suficiente para saldar as contas e ainda sobrava um bom montante para aplicar no final de cada mês. Os filhos por nascer valiam muito mais que alguns milhares de cruzeiros no banco. Foi taxativo e no final a moça iniciou seu trabalho. Era de boa índole e tinha iniciativa. Aprendeu logo identificar as vontades da patroa e, ao final de algumas semanas, estavam se relacionando mais como duas amigas.
Manoel ficou satisfeito com esse estado de coisas. Assim poderia confiar a Eduarda as tarefas de percorrero os fornecedores, fazendo as compras e mandando carregar na Kombi, sempre ajudada pela empregada. Vergínia Santos Silva era o nome da moça. A única exigência que tinha era ser liberada para frequenter a escola no período noturno. Conseguira a transferência para uma escola próxima, o que facilitava sua vida. Em poucos minutos percorria o trajeto até o estabelecimento de ensino e depois retornava. Vários colegas percorriam o mesmo caminho, de modo que não lhe faltava companhia tanto na ida quanto na volta. Eram as horas menos preocupantes, pois, em caso de necessidade, Eduarda poderia ser atendida sem problemas.
Dezembro trouxe um significativo incremento de garrafas na vitrine, onde a variedade de nomes, cores, formas e figuras ilustrativas ia criando uma verdadeira coleção. Havia tantas garrafas por experimentar que poderiam fazer uma degustação diária, mas não era conveniente exagerar. A finalidade era manter isso como um atrativo especial e não algo banal, corriqueiro. Assim a expectativa pelo dia em que veriam o já famoso japonês da cachaça experimentar mais uma e dar sua identificação, deixava um bom número de frequentadores ansiosos. As comemorações natalinas foram acompanhadas de enfeites com guirlandas, luzes piscantes, galhos de pinheiro ou plantas similares, fixados em diferentes combinações. O exterior convidada a entrar. Depois de entrar, a diversidade de opções para diversão era o forte do estabelecimento.
Na noite de Natal, foi servido uma ceia especial, para a qual todos que iriam participar, deram antecipadamente sua contribuição. Os mais interressados eram aqueles que viviam em pensões, quartos alugados e ou sozinhos. Assim tinham com quem partilhar o momento de alegria. Trocar presentes, pois até uma brincadeira de amigo oculto foi organizada. As mesas foram dispostas em fileiras, cobertas com toalhas apropriadas e os pratos foram dispostos para a participação dos comensais. Formou-se uma verdadeira festa de natal, como uma grande família de pessoas habitualmente solitárias. Nesse Natal tinham com quem festejar. Havia uma boa quantidade de cameras fotográficas presentes, de modo que não faltariam fotografias para registrar os diversos momentos.
Ao faltarem alguns minutos para a meia noite, as luzes principais foram desligadas e todos os presentes cantaram Noite Feliz. Ao terminar, as taças foram distribuidas, contendo champanha e todos brindaram ao aniversariante. Até mesmo um ou dois que se diziam ateus, participaram do momento de alegria. Assim eles tiveram a chance de sentir a alegria do momento. O que isso significaria em suas vidas posteriormente, não importava. A questão primordial era celebrar o nascimento do Menino Jesus, com fraternidade, harmonia e muita alegria. Alguns fogos foram queimados, mas logo cessaram. O jantar estendeu-se até por volta das 2 horas da madrugada, quando os presentes, muitos deles um pouco altos dos vapors etílicos, se retiraram para descansar.
Entre o dia de Natal e a noite de Ano Novo, é apenas uma semana. Dessa maneira uma nova comemoração foi preparada. Dessa vez com participação de maior número de frequentadores. Muitos deles trouxeram as esposas e filhos em idade de participar. A quantidade de gente deixou o espaço lotado, dificultando até a movimentação dos garçons e alguns fregueses que se dispuseram a ajudar na preparação da mesa. Quando o relógio apontava cinco minutos para meia noite, iniciou-se uma queima de fogos intensa em todos os locais. Nas casas, nos clubes, restaurantes, em toda parte haviam sido instaladas baterias de fogos. Iniciou-se um ruido ensurdecedor.
Enquanto isso, os convivas presentes brindavam e bebiam champanha alegremente. Depois atacaram com vontade os assados de pernil suino, lombo, carneiro e outras variedades de carne, menos galinhas ou perús. Por superstição não se deveria comer carne de animais que ciscam para trás no primeiro dia do ano. O que não poderia faltar era um prato de lentilhas, sinal de nunca faltar dinbeiro no decorrer do ano entrante. Nada além de superstições, mas ninguém queria arriscar ficar sem cumprir esses rituais.
Enquanto os fogos estouravam por toda parte, uma grande quantidade de cães escapou de seus donos, pulou certas, arrebentou coleiras e correntes, pondo-se a correr pela rua. A manhã do dia primeiro provavelmente apresentaria uma porção de cadaveres atropelados. Alguns carros, tendo ao volante motoristas alcoolizados, desenvolviam velocidades acima do recomendado, envolvendo-se em acidentes, alguns deles de elevada gravidade.
Em dado momento, Manoel ouviu ruidos na porta da garagem e foi verificar. Ao abrir deu de cara comum enorme cão pastor alemão, que quase o atropelou, entrando e indo se esconder em um canto. Fechou a porta e conversou calmamente com o animal. Logo ele abanou a cauda e se pos a choramingar. Parecia pedir Socorro. O forte ruido dos fogos maltratava seus ouvidos sensíveis. Manoel o acariciou e ele logo fez festa, lambendo a mão e depois ergueu pata em cumprimento.
– Olá, amigo! Muito bom, – disse Manoel.
– De onde saiu esse cão? – era Eduarda que viera ver o que acontecia.
– Ele estava raspando na porta e entrou aqui, para se seconder. Acho que vou abrir o quartinho aqui, colocar um pano no chão e um pote com água. Ali ele fica mais protegido.
– Vou trazer um balde para por água, – disse Eduarda.
O cão foi acomodado e, depois de beber bastante água, deitou-se como quem diz: Me deixem dormer, pois estou cansado.
Voltaram para o salão do bar e ali a festa continuava. Houve quem perguntasse onde tinham ido e lhes falaram por alto do que se tratava. Tinham tido ambos a mesma ideia. Se não aparecesse o dono do cão, ficariam com ele. No fundo do terreno ficava um bom espaço que estava pedindo por um cão de guarda. Até mais de um se possível. A festa continuous e novamente em torno das duas horas da madrugada os convivas estavam se retirando. Um ou dois que pretendiam ficar ali até amanhecer, foram convencidos a permitir que os donos e funcionários se recolhessem, fechando o estabelecimento. Haveria muito tempo no ano que iniciava para poderem beber e festejar.
Em fins de janeiro, o obstetra marcara nova consulta e durante sua realização solicitou nova ecografia. Agora já seria possível determinar todas as características das crianças. Confirmar o sexo, até o rostinho era visível, embora em tamanho miniature. Começaria agora o período de maior desenvolvimento. Eduarda fez questão de fazer o novo exame na mesma clínica e com o mesmo médico que fizera o primeiro. Ele poderia dar uma ideia mais precise sobre o desenvolvimento, uma vez que vira as imagens da primeira, poderia fazer a comparação. Não que isso fosse impossível ao eventual substitute, de posse das imagens captadas no primeiro exame.
No dia 05 de fevereiro foram bem cedo até a clínica. O exame estava marcado para as 8h30. Não queriam chegar atrasados, pois estavam demasiadamente ansiosos pelo resultado. O médico os recebeu com um sorriso e olhou para o ventre de Eduarda que crescera uma enormidade, dizendo:
– Vamos ver como está essa dupla aí dentro. Pelo tamanho da “tenda” a festa deve estar ótima.
– O senhor acha, doutor?
– A senhora pelo visto não engordou quase nada, mas esses dois cresceram uma enormidade.
Ela foi preparada e deitou-se na mesa de exames. As previsões do médico se confirmaram. Os meninos estavam com o desenvolvimento igual ao de crianças na mesma fase, mas com gestações únicas. Eram dois meninos, os rostinhos eram idênticos e Manoel começou a chorar copiosamente. Gostaria de poder mostrar essa imagem à sua mãe, que infelizmente estava em estado de saúde precário. Qualquer dia poderia receber a notícia de seu falecimento. Infelizmente não poderia deixar tudo para ir vê-la. Pensou consigo mesmo: Paciência. Nem tudo é como se quer que seja.
Ao concluir o exame e elaborar o laudo, o médido lhes disse:
– Parabéns. Os seus meninos não poderiam estar melhor desenvolvidos. Francamente, muitas mães com apenas uma criança, chegam aqui aos sete meses e o nenem está muito menor do que estão esses dois.
– Isso é ótimo. Eles vão nascer fortes e saudáveis, tenho certeza, – disse Manle.
– Não resta dúvida. Só continuar cuidando como até aqui e não vai haver nada de anormal.
Eduarda agora poderia começar a definir o enxoval. Até ali tinha optado mais por roupas de cores que servissem tanto para meninos como meninas. Manoel perguntou ao médico se algum fotógrafo poderia fazer uma fotografia, com razoável nitidez na imagem tirada durante o exame.
– Para que tu queres essa fotografia, Manoel?
– Eu queria mandar para minha mãe. Ela está bastante doente e não vai dar tempo de levar os meninos para ela poder ver. Menos ainda ela vir até aqui.
– Acho que um profissional competente conseguirá fazer algo razoável. Não vai ser uma imagem limpa de todo, mas será possível ver os rostos deles.
– Obrigado doutor. Vou ver se encontro um que faça isso. Alias conheço um que sempre revelou minhas fotografias e filmes. Ele vai me fazer algo caprichado.
Sairam da clínica e foram até a casa dos pais de Eduarda. Queriam comunicar as boas notícias. E assim a manhá passou quase toda. Ao chegarem ao bar esse já estava funcionando há tempo. Providencialmente as compras haviam sido feitas na tarde anterior, prevendo aquele evento pela manhã. Eduarda foi recebida de braços abertos pela empregada e também por Arminda. Passaram meia hora conversando e contando as novidades. Ali mesmo apareceram promessas de trazer um casaquinho de lá, feito a mão, tricotado. Além de cozinheira, era habilidosa no manejo das agulhas. As outras, confessando-se menos prendadas, prometeram comprar camisetinhas, fraldas e outras coisas mais.
Nada disso seria preciso, na opinião de Eduarda, mas não era de bom tom dizer isso a elas. Ficariam ofendidas e não tinha isso em mente. Agradeceu e esperou o almoço ficar pronto. Não iria fazer comida naquele dia. Almoçaria ali mesmo na cozinha grande. Manoel foi verificar como estava o Lobo, nome que dera ao belo cão, cujo antigo dono não aparecera. Provavelmente ele correra quilômetros em pouco tempo. Talvez o dono estivesse viajando e quando se desse conta do sumiço, nem o procuraria, na certeza de ser inútil a busca. Dessa forma, uma acomodação apropriada foi construida no patio, já prevendo a vinda de um outro para fazer companhia. Queria trazer um filhote para crescer e aprender com Lobo.
O animal, parecendo grato pela acolhida e bom tratamento recebido, fazia festa ao novo dono cada vez que o mesmo se aproximava. Estava sempre atento, latindo ao menor sinal de algo estranho ocorrendo na redondeza. O carnaval estava se aproximando e era provável haver alguma queima de fogos, porém menos intensa do que no Revelion. Lobo agora estava bem protegido e pouco se importaria com o espoucar dos tiros. Poderia se refugiar na sua casinha, onde tinha um acolchoado macio para deitar. Provavelmente o antigo dono lhe ensinara a não carregar o seu “colchão” para o meio do patio. Um amigo havia dito que isso não adiantaria, pois o cão carregaria o objeto para o patio, brincaria com ele. Depois, ao chover, estaria molhado e ao se depararem com ele estaria estragado.
Ele ao contrário, parecia muito cioso de seu acolchoado. Antes de deitar ele o arrumava para ficar bem certo no canto que funcionava como sua cama. O Carnaval passou, Eduarda cada dia sentia o ventre mais pesado, volumoso. Temia que não fosse suportar até o dia estimado para o parto. Há tempo que tinha dificuldade de ver os próprios pés, sendo necessário segurar-se em algo e erguer a perna para isso. Voltou ao ginecologista mas a balança indicava um aumento de peso compatível com sua altura e o estado de gravidez avançada, sem estar de forma alguma obesa. O aumento era muito provavelmente devido ao ganho tido pelos filhos, somado com os líquidos contidos no útero. Ela poderia ficar tranquila, pois na forma como caminhava tudo, faltando ainda dois meses, nada indicava um possível parto premature.
Quem nesse período foi de inestimável valia foi a empregada que Manoel a obrigada a aceitar. Verginia estava muito bem encaixada em sua função e não deixava a patroa se exceeder em nenhum momento. Por vezes Eduarda a recriminava, diendo que não estava doente nem inválida. Ao que ela respondia:
– Mas está grávida de dois filhos e são enormes. Não quero que nada aconteça com a senhora, dona Eduarda.
– Deixa essa história de “dona” para lá, Verginia. Me chame de Eduarda e pronto. Somos quase da mesma idade.
– Mas eu fui ensinada a ter respeito com quem me dá emprego. Por isso eu faço isso, Eduarda. – conseguiu dizer com esforço.
– Vamos daqui a pouco passar lá embaixo pegar com o Manoel a lista das compras para providenciar isso logo. O fim de semana é longo e na segunda, nem terça se encontra nada que preste. Troque essa roupa de serviço e ponha uma outra mais ajeitada.
A moça obedeceu e foi trocar sua roupa de trabalho por uma mais adequada para ir ao mercado, armazém e depósitos. Acompanhava a patroa a todos esses lugares. Em alguns era vista como irmã ou prima de Eduarda. Houve inclusive casos de trabalhadores que a olharam com olhos cobiçosos. Ela fizera de conta que não vira e seguira adiante. Eram jovens desconhecidos e não convinha arrumar compromissos a essa altura. Ficara tempo sem encontrar trabalho que oferecesse as condições que tinha ali. Não tivera oportunidade de estudar antes e agora não deixaria escapar a oportunidade. Seu objetivo era fazer uma faculdade. Pouco importava se isso ainda demorasse. Valia o seu sonho e agora via diante de si a oportunidade de realiza-lo. Não deixaria essa ocasião escapar.
As compras iam se acumulando na parte posterior da Kombi, onde os bancos haviam sido removidos, deixando ali um espaço enorme para levar cargas. Ao concluir as compras o motor gemia num trecho de subida mais forte. A carga era pesada. Iria abastecer o bar durante os feriados de carnaval. No ano anterio, quando ocorrera o casamento, haviam sido eleitos em 15 de janeiro de 1985 os integrantes da chapa democrática Tancredo de Almeida Neves/José Sarney, para a presidência. Um grave problema de saúde impediu Tancredo de assumir, sendo empossado em seu lugar o vice José Sarney. Após mais de um mês de agonia, sucessivas intervenções cirúrgicas, transferência para São Paulo, tratamento intensive, Tancredo faleceu no dia 22 de abril. Assim o vice se tornou oficialmente presidente.
Os festejos carnavalescos transcorreram sem grandes novidades. Os frequentadores que não apreciavam os desfiles e bailes de carnaval, aproveitavam a folga para jogar sinuca, pebolim, futebol de botão e fliperama. O movimento no bar era constante. Sempre havia frequentadores. Mesmo alguns dos habituais viajando para outros lugares, havia os que vinham para a capital a passeio e acabavam indo ali se divertir.
A economia do país estava em estado lamentável. A inflação galopante, exigia uma medida drástica. Cerca de duas semanas após o carnaval, mais precisamente no dia 27 de fevereiro foi lançado por José Sarney e seu ministro da Fazenda Dilson Funaro, engendraram um plano, conhecido como Plano Cruzado. Junto com uma série de medidas visando dominar o dragão da inflação, foi efetuada a troca de moeda, com o corte de três zeros, além da mudança de Cruzeiro para Cruzado. Os preços e serviços foram congelados, tendo início uma série de planos sucessivos, sem que o problema crônico da inflação fosse eliminado. Pode-se citar o Plano Verão, Plano Bresser, Cruzado Novo e por último Plano Collor, no dia da posse de Fernando Collor de Melo, eleito em substituição à José Sarney.
Manoel foi obrigado tomar muito cuidado com as contas durante essa fase. Não havia como manter a lucratividade, com os preços sendo elevados diáriamente, de maneira incontrolável. Nessa fase foi de fundamental importância o aprendizado que tivera na época em que investira no mercado de ações. Foi esse caminho que ele usou para recuperar de alguma maneira as perdas que a inflação causavam. O congelamento de preços não surtiu efeitos, alias causou mais problemas do que benefícios, pois o problema não eram os preços em si, mas o descontrole dos gastos governamentais, com emissão desenfreada de papel moeda, gerando cada vez mais inflação.
Voltando aos meses iniciais de 1986, temos Eduarda se aproximando a passos largos do dia de nascimento dos filhos. Haviam feito um estudo para escolha dos nomes. Eduarda procurou em revistas, livros e várias fontes, elaborando uma longa lista de nomes diversos. Como católica praticante, fazia questão de ter pelo menos no segundo nome a homenagem de um santo. Pediu conselhos aos pais, irmãos, amigos e depois de muito pensar, conversar com o marido, eles de comum acordo decidiram que os dois seriam registrados com os nomes de José Francisco e João Antônio. Dessa forma levariam a proteção de dois santos considerados importantes em suas práticas religiosas.
O tempo passou rapidamente e o dia do nascimento se aproximava. No final do mês de abril, ocorreu um evento que a levou a procurar o hospital. Depois de examinada, foi encaminhada para casa, pois o momento ainda não havia chegado. Era comum acontecer ameaças de início, especialmente se tratando de gêmeos. Deveria permanecer em repouso, pois algum esforço diferente poderia desencadear o parto. Com os devidos cuidados tudo poderia acontecer na data prevista. Talvez um ou dois dias antes, talvez depois.
Assim no dia 14 de maio a candidata a mãe foi levada pelo marido Manoel ao hospital, onde chegou já em estado avançado de dilatação pélvica. A bolsa d’água não se havia rompido, e isso foi provocado somente momentos antes de iniciar-se realmente o nascimento. Os meninos nasceram sem muita demora. Chegaram na maternidade às 5h da manhã e o primeiro nasceu às 9h15 min. Após mais 20 minutos o segundo menino veio ao mundo. Eram iguais em tudo. Mediam 50 cm de altura; apresentaram pesos de 3,150 kg o primeiro e 3,080 kg o outro. Foi uma grande sensação na instituição hospitalar. Em longos anos, muitos casos de gêmeos haviam nascido, mas jamais com esse tamanho. Foram fotografados, passando a integrar o arquivo do hospital. O médico estava sorridente. Recebia congratulações de todo lado, parecendo que era ele o pai.
Valia receber os cumprimentos por um feito de tamanha envergadura. As crianças nasceram no tempo certo e com tal desenvolvimento era uma façanha rara. Os pais receberam visitas de alguns amigos, sem exageros. O conveniente era aguardar passar as primeiras semanas, para então apresentar os meninos aos amigos, clientes e vizinhos. Nos primeiros dias de vida eles podem ser afetados por vários problemas de saúde, mesmo tendo um ótimo desenvolvimento. Com certeza seu Sistema imunológico não estava ainda preparado para enfrentar todos os perigos existentes no mundo exterior. A mãe os amamentava alternadamente. Com a graça de Deus seu corpo produzia leite abundante, permitindo que eles ficassem satisfeitos sem necessidade de suplementaçao com mamadeiras.
Dois dias depois do nascimento a família voltou para casa. Manoel passara a maior parte do tempo no hospital, vindo para casa apenas em alguns momentos para tomar providências inadiáveis. A chegada foi comemorada pelos empregados, unidos aos avós que haviam vindo para receber os netos em sua casa. Francisco ficara encarregado de manejar a filmadora para registrar os momentos da chegada em casa. Queriam ter como mostrar aos filhos anos mais tarde, como haviam sido recebidos em sua casa, vindo do hospital.
Os primeiros dias foram cheios de sobressaltos, pois tudo era novidade. Os ruidos da casa, acordavam os pequenos e eles se punham a chorar. Tinham que ser acalmados até que se acostumassem com o ambiente. Assim entrariam no rítmo da casa. Na primeira noite, houve vários frequentadores que pediram para ver as crianças, mas lhes foi explicado que não seria possível. Eles precisariam ainda de alguns dias para se adaptar, antes de poderem entrar em contato com pessoas estranhas. Eles compreenderam e não ficaram chateados.