11. Chega o momento da partida.
Com a aceitação de novos adeptos da doutrina, a revelação trazida por Arki alcançou boa parte da população de Kibong e mesmo nas localidades próximas. O movimento constante de comerciantes, viajantes diversos, se encarregou de estabelecer o contato de muitos com os ensinamentos. Onde a mensagem encontrava eco em velhas lembranças, passadas através de inúmeras gerações, não tardava a estabelecer-se a sintonia. Os anos passaram e a aceitação entre o povo tornou-se cada vez mais intensa. Muitos adoradores de deuses de barro, fenômenos naturais e outras crenças, viram na fé em um Deus de amor, todo poderoso residente na Ilha do Paraíso, algo mais convincente do que seus ídolos.
Os grupos concluíram seu período de preparação. Cada integrante, por sua vez, formou outro grupo de dez pessoas, cujos avanços se tornaram mais firmes e sólidos. Já haviam participado das orientações prévias dispensadas ao povo. A pregação pacifista, a mensagem de amor fraterno, tornaram-se o ponto forte dos seguidores. Kibong transformou-se em centro de peregrinações realizadas por pessoas, residentes em lugares distantes, que guardavam resquícios das revelações anteriores. Mesmo deformadas pelas influências da miscigenação com povos de diferentes origens, eram suficientes para despertar nas mentes o desejo de encontrar o verdadeiro Deus. A fagulha divina, residente em cada mente, entrava em ação, guiando aos sedentos da verdade na direção de onde poderiam obter a orientação necessária.
Depois de permanecer semanas, mesmo meses ouvindo as preleções dos discípulos da Ordem dos Círculos, como era chamado, voltavam para suas comunidades, levando os ensinamentos. Isso trazia novos grupos que se submetiam ao mesmo processo.
Edith, esposa de Mink deu à luz um belo menino, cheio de saúde e vitalidade, alegrando o lar do casal, bem como dos avós de ambas as partes. Depois de dois anos e meio, novamente estava a jovem mãe em vias de trazer ao mundo mais uma contribuição para o crescimento da população. Mink, encantado com o filho que crescia em estatura e força, por vezes tinha dificuldades em atender a todos os compromissos. Tinha suas atividades como preceptor dos discípulos de leitura e escrita, além de ser líder de um grupo crescente de adeptos da fé no Pai Universal. As presença era seguidamente solicitada em diferentes oportunidades. Quer fossem novos adeptos vindos de longe, quer os grupos diversos desenvolvendo atividades correlatas, exigindo sua participação.
Os encontros com Arki continuavam ocorrendo invariavelmente no alto do penhasco, onde em algumas oportunidades era acompanhado por um ou dois integrantes do primeiro grupo. Vinham sempre em busca de orientações, esclarecimento de dúvidas, proposição de atividades para as quais consideravam importante obter a aprovação do anjo que os guiava. Os seres intermediários se revezavam em um grupo de vinte e quatro integrantes. Serviam como uma espécie de examinadores dos estágios de desenvolvimento dos grupos. Estes eram formados por pessoas provenientes de variadas profissões, diferentes classes sociais e origens étnicas. Por orientação de Arki, procuravam aglutinar a maior diversidade possível, em todos os sentidos.
O número de casamentos entre membros dos grupos crescia constantemente. Os filhos nasciam e eram educados, desde cedo, na fé no Deus único, o Pai de amor e bondade. Isso possibilitava aos pequenos, atingir a maturidade para suas primeiras decisões morais, dentro da idade prevista e até um pouco antes. Para os membros que haviam atingido maior nível de sintonia com sua centelha, era possível perceber o momento em que as mentes das crianças se tornavam resididas pelo ajustador. Isso levava a parcela da população que caminhava na mesma trilha, cada vez mais significativa.
Não poderia haver unanimidade, nem um caminho livre de tropeços. Em determinado momento surgiu um pequeno grupo de indivíduos, no seio da comunidade, que aceitavam a doutrina em geral, mas discordavam da existência da fagulha ou centelha divina. Afirmavam que, ao nascer, cada ser humano traz o seu espírito, criado especialmente pelo Pai. Sendo liderado por um elemento de grande influência sobre os demais, logo reuniu um número significativo de adeptos de sua dissidência. Mink e os primeiros dez, reuniram-se e confabularam. Ficou resolvido que tentariam a via do diálogo, para solucionar o impasse. Infelizmente não tiveram êxito. O líder dissidente e seus seguidores, estavam irredutíveis.
Na próxima vinda de Arki, Mink levou consigo dois casais dos dez e apresentaram a ele a dificuldade surgida. No momento da chegada, ele os saudou e os observou detidamente. Pareciam todos tensos e preocupados.
– Qual é o mal que vos aflige, meus amigos?
– Surgiu uma dissidência no meio dos adeptos. Um líder de excelentes qualidades, cismou de questionar a existência da fagulha. Afirma que cada homem e mulher nasce com um espírito novo, criado especialmente pelo Pai. E há um número considerável de seguidores que o acompanham. Tentamos dialogar, fazendo-os ver que a revelação nos diz que não é dessa forma que acontece, mas eles estão teimando em seu descaminho.
– Isso era esperado. Sempre ocorrem desvios. Façam o seguinte. Coloquem claro para eles que estão seguindo o caminho errado. Se reconhecerem o erro e voltarem, nada há a mudar. Porém, se insistirem no erro, divulgue aos demais esse fato e deixe-os caminhar por sua conta. Talvez eles venham a reconsiderar depois. Irão perceber que não mais terão a assistência invisível dos intermediários, perderão algumas facilidades, o que pode trazê-los de volta à razão.
– Creio que não devemos falar que perderão algo, pois parecerá que estamos fazendo chantagem.
– Se queremos conduzir alguém à verdade, devemos viver a verdade. Devem dizer a eles que ficarão por sua própria conta, não havendo necessidade de dizer que serão privados de algumas vantagens. Mas o mais importante é não faltar com a verdade.
– Eles devem entender que se desviando, estão se afastando da verdade e isso, no final, conduz ao mal. Devemos tentar trazê-los de volta, falando do amor e misericórdia do Pai Universal.
– Eles podem alegar que não estão negando o Pai. Apenas creem em uma alma imortal pronta que receberam ao nascer. Isso não é verdade. A fagulha, ou centelha é um pedacinho do próprio Pai. Vocês têm, residindo em vossas mentes, um pedacinho de Deus. Vocês são corpo e mente mortal, mas também são espírito, que é o próprio Pai. Tem a essência dele. Nenhuma outra categoria de seres criados tem esse direito. E há muitos que desejariam ter em suas mentes um fragmento do Pai.
– Os anjos sentem inveja de nós, humanos?
– Não chega a ser inveja no sentido que vocês entendem. Apenas o desejo de partilhar a Infinitude do Pai. Se estivéssemos sujeitos a ter esse sentimento, chamado inveja, certamente haveria muitos de nós que a sentiriam, com relação a vocês. Pelo menos no tocante à fagulha do Pai.
– Isso significa que, apesar de tudo, somos ainda assim, seres privilegiados.
– Basta que cada um decida fazer a vontade do Pai, colocar-se sob a orientação do seu ajustador e ele o conduzirá diretamente aos braços dEle.
– E como podemos fazer isso?
– Aí reside a dificuldade. A fagulha não tem poder para forçar o humano, em cuja mente reside, a mudar seu caminho. Tudo depende da decisão voluntária do humano. Ele pode apenas indicar, orientar, mostrar o rumo.
– Me parece que temos um longo aprendizado pela frente. Entrar em sintonia com nossa fagulha, até conseguirmos “ouvir” seus conselhos.
– Agora você disse uma grande verdade. Quanto mais estiverem em harmonia com a fagulha, mais facilmente conseguirão seguir o caminho que ele aponta.
– Essas orientações são importantes para argumentar com eles. Se pudessem saber de onde vêm essa revelação.
– Eles necessitam da confiança, da fé. Mesmo estando desviados no momento, no futuro poderão ser ótimos integrantes da missão.
– Mesmo se persistirem no erro?
– Se vocês pensam que todos os membros da comunidade que participa do vosso grupo, recebem a instrução e a levam para suas vidas, tem a mesma fé que vocês, estão enganados. Muitos com certeza estão cheios de dúvidas. Isso é próprio do ser humano. Eu acabei de falar que o ajustador, ou fagulha, não tem poder de mudar a mente humana, apenas apontar o caminho. O mesmo acontece com vocês. Receberam e aceitaram a mensagem. Cada um a entendeu da sua maneira e a transmite com base nesse entendimento. Podem imaginar quantas formas de entendimento existem em toda comunidade. A fé é um ato de vontade, de aceitação da revelação.
– Então nunca poderemos ter certeza de termos um grupo unido, forte e coeso. Cada um crê de sua própria maneira.
– O Pai concedeu a cada um de vocês, ao nascerem, uma personalidade. Ela confere a cada um as características de comportamento, atitudes, maneiras de agir. Entre todas as personalidades do Universo da criação, não há duas que sejam absolutamente iguais. Há tipos com semelhanças, porém a igualdade não existe. A personalidade de cada um é única. Por isso o Pai e todos os seres criados que o ser em nos diferentes serviços, reconhecem essa personalidade.
– Esse conceito é novo, amigo. Nunca havia nos falado dele.
– Há tantas coisas a revelar, que não é possível dizer tudo. Mas agora falei e isso faz parte da revelação. Guardem e não esqueçam.
– Sabemos que os seres Intermediários residentes levam a vocês as informações do que acontece aqui. Segundo as informações deles, como estamos indo em nosso trabalho?
– Mink, aprenda a confiar. Se houvesse algo errado, nós saberíamos e eu daria as orientações para corrigir. Além disso, há necessidade de autoconfiança. É preciso analisar os fatos, à luz da revelação, da razão e tomar decisões. Não deve ficar inseguro e vacilante.
– Acho que isso é também parte de nossa natureza. Vou necessitar de muita meditação para conseguir superar minhas dúvidas e incertezas. Tenha paciência comigo.
– Nos fazemos isso todos os dias, todas as horas. Você e seus amigos, foram escolhidos para liderar. Mesmo não estando habilitados, cabe a nós habilitá-los para isso. Não escolhemos os habilitados, mas habilitamos os escolhidos.
– Poderiam ter escolhido os mais inteligentes e não foi isso que fizeram, creio eu.
– Não confunda inteligência, com conhecimento. Se escolhêssemos pessoas com conhecimento, correríamos o risco de escolher pessoas falsas, traiçoeiras, desleais ou outras qualidades negativas. Escolhendo pessoas de bom caráter, personalidade firme e determinada, basta lhes dar a habilitação e estarão prontas.
– Deve ser bem complicado administrar todos esses Universos que o Pai criou. Quanta coisa para controlar, saber, acompanhar.
– O Pai nunca se ausenta do Paraíso. Ele é o sustentáculo da Ilha do Paraíso. O que mantêm ele informado de tudo, são os circuitos que existem em todas as partes. Assim parece que está em todos os lugares ao mesmo tempo. Em cada Universo Local, há um Filho Criador, que é a imagem do Pai. Isso permite dizer que quem conhece o Filho, conhece também o Pai. O Filho Criador, é acompanhado pela Ministra Divina, criação da terceira pessoa da Trindade. Juntos eles criam e governam o universo.
O grupo ficou silencioso, meditando as últimas palavras do anjo. Acabavam de ouvir algo diferente. Nem mesmo Mink ouvira estas palavras nos anos precedentes. Por fim, ouviu-se:
– Não fiquem preocupados com essas coisas. Nem nós, seres das categorias angelicais, sabemos ou entendemos tudo. Não pode ser exigido dos mortais, vivendo na carne, que consigam o que nós não conseguimos.
– Cada dia aprendemos alguma coisa nova. A vida é um aprender sem fim. E pelo que pude entender, vai continuar assim após a morte, na evolução até o Paraíso.
– Sem dúvida, amigo Mink. Quando deixarem para trás o corpo material, começará verdadeiramente a aventura eterna da evolução. Jamais poderão dizer que atingiram o fim último, conhecem ou sabem toda verdade. Isso significaria tornarem-se absolutos, iguais a Deus. Essa é uma prerrogativa única dEle. A experiência de vossa vida evolutiva, pertencerá também ao ajustador, que se tornará um com vocês. Sendo uma partícula de Deus, ela passará a fazer parte de dEle, ajudando-o a completar sua manifestação.
– Nosso destino é grandioso, eu sei. O que não devemos é ter pressa. A pressa só traz problemas à evolução.
– A pressa, a impaciência, causou a rebelião de Lúcifer e seus seguidores. Eles quiseram ter o que lhes seria de direito, se tivessem tido paciência para aguardar o momento oportuno. Quiseram ter tudo imediatamente e caíram no erro. O que foi uma lástima. As coisas andavam bem encaminhadas na época. Vocês estão sofrendo as consequências dos atos de rebeldia deles.
– Mas, pelo menos, temos a oportunidade de evoluir. Eles serão julgados e, se condenados, deixarão de existir. Isso é bem triste para seres considerados como possuidores de elevadas qualificações e experiências no serviço dos universos.
– Você falou bem. Apesar de sofrerem as consequências da rebelião, vocês tem a oportunidade de evoluir. Se Adão e Eva tivessem aderido à rebelião, a humanidade toda estaria fadada à extinção na face da terra. Eles descumpriram a vontade do Pai, mas não se rebelaram e, apesar de tudo, deixaram um belo legado aqui no planeta.
– Nossa situação seria outra, se eles não tivessem errado?
– Vocês não podem sequer imaginar qual seria a diferença. Não vou tentar descrever, pois iria baixar a autoestima de vocês e isso não faz bem a ninguém. Mas nem tudo é desastre. Malgrado o erro do casal adâmico, ainda existem pontos positivos que resultaram da quarentena imposta ao planeta, junto com outros 37, cujos príncipes também aderiram à rebelião.
– Tantos assim? Quem poderia imaginar uma coisa dessas?!
– Seres de ordens elevadas se rebelando contra o poder do Pai amoroso que é o Deus único do Paraíso.’
– Pelo menos serve de consolo para o caso dos dissidentes do nosso grupo. Não é nada espantoso ver seres humanos imperfeitos desviar-se do caminho que lhes foi mostrado.
– Foi isso que eu falei. Deixe que caminhem e tenham a oportunidade de retornar ao caminho reto. Se rejeitarem, não podemos obrigá-los a nada. Eles tem o seu livre arbítrio em conformidade do Pai Universal.
– Para minha sorte, tenho os amigos para repartir a responsabilidade. Sozinho eu não suportaria o fardo.
– Eu repito e repito sempre de novo. Precisa aprender a partilhar a carga da missão. Você será o líder, mas auxiliado por um grupo numeroso de líderes menores para levar a missão a bom termo. Agora preciso voltar para meu lugar. O “chefe” me chama, pois necessita de meus serviços. Até daqui a quatro semanas, ou então, em caso de urgência, sabe como me chamar. Lembra da primeira vez, Mink?
– Lembro. Vou pedir ajuda se precisar.
Com um aceno o anjo se despediu e voltou ao seu lugar nos céus, no lugar de sempre. Mink convidou os amigos a descerem e se encaminharam para casa. Antes de se separarem ainda trocaram algumas palavras, lembrando do que tinham planejado para o outro dia. Em pouco tempo chegavam às suas moradias. Mink beijou o filho e a esposa que adormecera com a demora. Ela acordou e o abraçou carinhosamente, devolvendo o beijo recebido. Pediu sorridente que se apressasse a deitar ao seu lado. Mesmo após vários anos de casados, eram profundamente apaixonados. Não saberiam viver um sem o outro. Significavam-se mutuamente o mesmo que o ar que respiravam. Logo estavam deitados e trocando carícias, antes de dormir.
No dia de descanso os dissidentes vieram procurar o grupo, propondo discutir suas divergências. Antes que alguém dissesse alguma palavra mais definitiva, Mink calmamente convidou o líder dissidente a apresentar seus argumentos. Ele discorreu longamente sobre os pontos em que discordava da doutrina, apoiando-se em evidências e lembranças de velhas doutrinas, modificadas e mutiladas pelo tempo. Depois de esgotar suas palavras, ouvidas por Mink e os demais, sem interferir em momento algum, calou-se, depois de acrescentar:
– Proponho que nossa doutrina geral mude no que diz respeito ao fragmento de Deus, chamado de ajustador, substituindo esse conceito pelo de uma alma espiritual, habitando o corpo material. Ao nascer, cada ser humano recebe o seu espírito, criado especialmente para ele, no momento do nascimento.
Mink ficou um momento em silêncio, como que avaliando as palavras do outro e depois apresentou como argumentos as palavras ouvidas de Arki na noite precedente. Falou pausadamente, sem alterar a voz, propondo ao final que o grupo refletisse sobre o assunto e, se concordassem com o que tinha falado, retornassem para novo encontro. Não poderiam aceitar uma divergência dessa natureza. Era preciso manter a pureza da doutrina recebida. Nenhuma medida punitiva seria tomada, apenas seguiriam caminhos diferentes.
Um dos membros do grupo dissidente, mais exaltado que o líder, quis defender o ponto de vista do líder. Foi permitido que falasse, mas terminada uma curta peroração, Mink tornou a falar:
– A doutrina que nos foi revelada é a que anunciamos a todos por igual. Não existe possibilidade de adaptações e ajustes, para acomodar discordâncias. Por isso repito. Analisem com vagar e cautela o que falei e decidam o caminho que seguirão. Se quiserem caminhar com a gente, serão bem recebidos. Do contrário, sigam o caminho que sua consciência lhes indicar.
Diante dessas palavras eles se levantaram e saíram sem mais palavras. Lá fora ouviu-se algumas altercações mais exaltadas, mas logo foram abafadas pela distância. Iam para um lugar diferente onde já costumavam se encontrar. Mink e os casais que o acompanharam na noite anterior, relataram novamente as palavras ouvidas do anjo. Exortaram o grupo a permanecer firme na fé, claro na transmissão da mensagem. Deveriam buscar orientação de seu Eu superior, na verdade um fragmento do próprio Deus.
Os outros membros do grupo fizeram algumas indagações que foram esclarecidas por Mink ou pelos dois casais. Cada um havia compreendido as palavras com um enfoque ligeiramente diferente, o que mostrou a todos claramente qual era o motivo da normalidade de ocorrer dissidências. Deveriam dar tempo ao tempo. Um dia, grande parte dos atuais dissidentes, voltaria para o grupo. Talvez surgissem novas divergências e seriam tratadas da mesma maneira. O segredo era confiar, ter fé! Sujeitar a própria vontade a vontade do Pai. Só assim conseguiriam caminhar de forma ordenada e sem grandes percalços.
O tempo mostrou o acerto das palavras de Mink, corroborando o que Arki deixara como mensagem. O grupo dissidente cresceu inicialmente, atraindo um bom número de novos adeptos que deixaram o outro grupo, além de alguns que vieram diretamente a eles. Em alguns meses estabeleceu-se uma competição entre alguns componentes. Queriam ocupar posições de liderança, sem terem aptidão para isso. O próprio líder era um tanto vaidoso, não admitindo concorrência. O resultado foi nova divisão entre eles, com algumas modificações da doutrina, surgidas da mistura feita com crenças em divindades tomadas da natureza. Era a volta ao politeísmo.
Uma boa parte daqueles que haviam migrado para o grupo dissidente, diante dessas novas divergências, reuniram-se e decidiram voltar ao grupo original. Dispuseram-se a professar a doutrina da revelação e manter a fé. Viam claramente que a dissidência se dera, quase exclusivamente por conta da vaidade e egoísmo de alguns. Os demais haviam sido enganados com argumentos falhos e pouco convincentes. O que os induzira ao descaminho, era a verbosidade do líder e seus aliados mais próximos. Logo haviam se desentendido na disputa pela liderança e vice-liderança. Isso era sinal de fraqueza de suas convicções, da tibieza de sua doutrina.
Foram fraternalmente recebidos pelo grupo que crescia a cada dia. O retorno significou um incremento na atração exercida sobre a população pela doutrina dos três círculos, representando a Trindade Divina. O que fez tomar novo impulso de crescimento. Os cem grupos de dez, agora estavam concluindo sua preparação e logo iniciariam a indicação dos mil grupos de dez. A dificuldade para controlar a uniformidade dos ensinamentos passados em tal magnitude, era grande. Exigia de Mink e dos cento e dez primeiros uma dedicação quase exclusiva.
Isso colocou a maioria deles diante de um impasse. Para atender corretamente os compromissos com a doutrina, seria preciso deixar seus postos de trabalho. Mas isso era inviável. Novamente Arki veio em seu socorro. Deveriam pedir, não exigir, pequenas contribuições voluntárias aos membros dos grupos. O total arrecadado seria dividido de forma justa entre todos os envolvidos na gestão do grupo todo. O anjo insistiu no fato de as contribuições serem voluntárias.
Para surpresa de todos, nas reuniões seguintes surgiram proposições de participantes no sentido de contribuírem voluntariamente para a manutenção dos líderes da doutrina. Eles dedicavam suas vidas a isso e tinham seus compromissos familiares. Seria justo que fossem mantidos por recursos advindos dos membros do grupo. Mink hesitou em aceitar, pois Edith havia falado ao pai e este se propusera a subvencionar a família da filha. Mas isso não se aplicaria aos demais, pois nem todos tinham sogro rico. Seriam livres para aceitar ou não, em conformidade com as suas condições próprias.
Não havia intenção de institucionalizar remuneração aos líderes da crença. Foi feita a arrecadação e esta na verdade cresceu, gerando um excedente significativo. Os realmente necessitados receberam o suficiente para cobrir suas despesas básicas. Uma equipe encarregada da tesouraria se encarregou de usar esse recurso como reserva. Não aceitariam novas doações antes que fosse necessário, pois estava fora de cogitação a criação de patrimônio para o grupo. Estavam destinados a viajar ao espaço, em uma aventura inimaginável. Lá onde viveriam, não poderiam levar dinheiro, bens, nada. Apenas suas vidas, para não mais voltar. De que adiantaria amealhar riquezas aqui? Não teriam nenhum valor.
A decisão se mostrou acertada. As contribuições sempre vinham na medida certa das necessidades. Todos sabiam não existir nenhum tipo de exploração no processo. O único objetivo era garantir a subsistência dos líderes, empenhados no aprofundamento da doutrina junto aos inúmeros adeptos que surgiam a cada dia. De todos os recantos mais longínquos vinham pessoas sedentas de saber dos ensinamentos dos fiéis dos Três Círculos. Faziam lembrar a muitos os ensinamentos de Maquiventa Melquisedec, desaparecido há coisa de dois ou três séculos. Sua doutrina ainda era lembrada em muitos lugares remotos e também nos grandes centros urbanos.
Todos eram acolhidos com hospitalidade, tratados como irmãos. Depois de algum tempo, retornavam à pátria, levando no coração e na mente a fé renovada no Deus Único da Trindade do Paraíso. Ao alcançarem seus locais de origem eram recebidos por quem ficara esperando, prontos para saber o que havia de novo, na longínqua Kibong, na margem do oceano. Ali repartiam o que haviam aprendido, confirmando em grande parte os ensinamentos de Melquisedec. Dessa forma, a escola dos Três Círculos tornava-se conhecida em muitos lugares.
Os mil grupos de dez integrantes, estavam prestes a concluir sua preparação e o translado para Orient começou a ser preparado. Todos os integrantes relacionados, homens e mulheres, muitos deles casados e com filhos, foram informados da verdadeira finalidade de sua preparação tão prolongada. Se quisessem desistir, permanecendo em Kibong, eram livres para escolher. Não haveria nenhuma forma de represália. Para evitar que o fato passasse ao domínio público, os desistentes passariam por uma sessão que removeria de suas memórias essas informações. Poderiam viver aqui na fé que haviam abraçado, divulgando-a a toda parte.
Houve algumas desistências, outros tantos foram convidados e aceitaram participar, principalmente os mais destacados nas reuniões de doutrinação. Acabou-se tendo um total de 18870 pessoas, entre homens, mulheres, jovens e crianças. Entre eles havia profissionais especializados em todas as atividades. Filósofos, metalurgistas, agrônomos, matemáticos, engenheiros, construtores e outras atividades. Todos seriam importantes no planeta em que iriam viver. Recomeçariam o desenvolvimento da vida humana naquele planeta em que ela fora extinta. Os seres intermediários retornaram para auxiliar na coordenação da atividade precedente ao momento derradeiro desse grande contingente sobre o planeta Terra, ou Urantia como é conhecido no espaço cósmico.
Décio Adams
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