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Livro de Urantia – Evangelhos truncados. Foi proposital ou não?

Por que os evangelhos não contam toda vida pública de Jesus?

 

 

Se somarmos as páginas dos quatro Evangelhos que nos foram deixados pelos seguidores de Jesus Cristo, iremos encontrar uma ínfima parte do que é ocupado pelos relatos constantes no Livro de Urantia, somente sobre a vida pública do Mestre. O tempo que passou ensinando os apóstolos, a escola dos evangelistas e as caminhadas evangelizadoras, perfazem um total muito mais volumoso e amplo de relatos, ensinamentos e fatos ocorridos, do que conseguimos reunir nos Evangelhos juntos. Se reunirmos os evangelhos ditos “apócrifos”, eliminados por razões, nem sempre muito claras, ainda assim, ficaremos distantes das mais de setecentas páginas do capítulo IV do Livro de Urantia. Tampouco temos nenhuma informação sobre a vida da infância, adolescência e primeiros anos de adulto do divino Mestre. Mesmo existindo na Israel daquele tempo um sistema de ensino bastante avançado e eficiente, ele não teria omo adquirir tantos conhecimentos, se ficasse vivendo apenas e tão somente em Nazaré. Com certeza ele teve contato com pessoas vindas de outros pontos do globo, outros costumes, crenças e hábitos. 

Se os apóstolos passaram tanto tempo convivendo com o Mestre, sendo constantemente advertidos e orientados sobre a importância de dar ênfase à pregação espiritual, o aspecto imaterial do Reino, o que os levou a nos legar tão pouco de sua experiência? O que os induziu a narrar quase exclusivamente os milagres, dos quais, muitos sequer assim podem ser classificados? É certo que eles nasceram nessa cultura, foram educados na esperança de ver a realização de prodígios, esperavam um Messias guerreiro para ocupar o trono de Davi, que destruiria com o poder do seu braço todos os inimigos. Mas, depois de passarem mais de metade da vida pública de Jesus, recebendo ensinamentos, quase diários, sempre enfatizando a questão do Reino espiritual, o amor do Pai, sua misericórdia, o que os levou a empobrecer tanto o que ficou relatado? É claro que deixaram, na somatória, uma boa parte, mas poderiam ter sido muito mais enfáticos no tocante ao que o Mestre ensinou e dar menos importância ao que ele fez, ou melhor, que o Pai e suas hostes fizeram em atendimento à misericórdia do coração amoroso e terno do Filho, encarnado na forma humana.

Me ocorre que há mais de uma razão para isso. Uma delas é que eles, principalmente os seis primeiros, presenciaram o Mestre destruindo tudo o que havia restado de escrito com sua caligrafia, na casa de Nazaré, depois do retiro de 40 dias nas montanhas. Em nenhum momento ele permitiu que alguém elaborasse uma espécie de diário, relatando os acontecimentos e ensinamentos do dia. Ele jamais, durante seus ensinamentos, fez uso de material escrito. Talvez isso os tenha induzido a não escrever de próprio punho o que haviam vivenciado, logo depois da ascensão ao céu ou do Pentecostes. Passaram-se muitos anos antes que se iniciasse a redação do que nos ficou. Quem na verdade escreveu tudo, foram discípulos dos apóstolos. O próprio apóstolo Paulo, sequer fez parte do grupo dos doze, sendo convertido posteriormente. Adaptou muito de sua cultura greco/romana, judaica, aos moldes da doutrina do Mestre e afirmou como sendo a doutrina original. Dessa forma algumas coisas fantasiosas foram provavelmente introduzidas e outras, bem mais verdadeiras e consistentes, foram omitidas, por razões diversas. Talvez tenham considerado o que ficou sem registro, de menos importância do que aquilo que relataram. Isso os levou a dar origem a uma religião “sobre Jesus Cristo” em substituição à religião “de Jesus Cristo”.

 

Uma outra razão talvez seja o fato de o povo só acreditar, vendo a realização de milagres. Os portentos atribuídos à Jesus Cristo, eram de domínio geral e facilmente serviam de apoio à pregação de sua doutrina. No final, o que realmente ficava na mente dos convertidos, eram os milagres. Muitos deles foram contados e recontados tantas vezes que ficaram grandemente distorcidos. As traduções feitas para outras línguas, no decorrer da história, certamente introduziram algumas modificações. Não podemos esquecer que os apóstolos eram judeus e galileus, que traziam profundamente entranhada em suas mentes, toda teologia e doutrina judaica, o que certamente prevaleceu ao longo do tempo, entremeada em suas pregações. A própria vaidade pessoal talvez os tenha induzido a omitir os longos meses de ensinamentos pessoais dados pelo mestre para prepará-los. Era mais grandiloquente falar das caminhadas e milagres, do que das longas, quase intermináveis horas de palestras e discursos do mestre, frequentemente até altas horas da noite. Isso provavelmente lhes pareceu contraproducente na conversão dos descrentes. É compreensível o fato de que não quiseram dar testemunho de sua ignorância e dureza de espírito em compreender a grandiosidade da doutrina do Mestre. Há uma única referência, no Evangelho de João, sobre outras coisas que o Mestre fez e disse, mas apenas estas foram narradas para que possamos crer, como se o restante fosse de pouca importância. Não podemos esquecer que João, ordenou a redação do Evangelho, quando já estava em idade avançada. Deve ter esquecido muita coisa, atendo-se a alguns fatos mais destacados.

O lamentável em tudo isso, é que um volume considerável de ensinamentos, ocorrências de valor moral e educativo, ficaram sem ser relatados. Talvez o que sobrou, fosse o que o povo daquele tempo tinha aptidão para compreender e não foi feito nenhum esforço no sentido de resgatar alguma coisa que ficou para trás. Até mesmo os reveladores do LU fizeram atualizações na linguagem para tornar possível a compreensão à luz da vida do século XX e agora XXI. Em muitos momentos lemos trechos em que os reveladores se colocam na condição de limitados ou proibidos de revelar determinados assuntos ou detalhes. Prometem, por outro lado, que haverá novas revelações após transcorrido algo como um milênio, após a promulgação dessa revelação.

A Igreja que resultou da mensagem de Jesus Cristo, na verdade desde o início está dividida em vários ramos. Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Ortodoxa Grega, Igreja Ortodoxa Russa, sem contar as muitas heresias surgidas ao longo dos dois milênios. Estas talvez tenham como origem o fato do enrijecimento da doutrina, a dogmatização, os rituais rígidos, a inflexibilidade das regras, que tornaram a Igreja um organismo engessado e inadaptável. Depois veio a reforma de Lutero, onde novamente a intransigência levou à cisão, dando origem à um grande leque de divisões, que continuam a ocorrer até os dias atuais.

Se Jesus Cristo tanto trabalho teve em tentar levar os fariseus a aceitar seus ensinamentos, se fizermos uma análise criteriosa, as múltiplas igrejas que tem como origem a sua mensagem, veremos que, em muitos casos, elas se tornaram mais “farisaicas” do que eram os judeus da época de Jesus de Nazaré. É com satisfação que vemos o atual pontífice católico Papa Francisco, tomando atitudes bastante revolucionárias, diante da estrutura rígida da Igreja, chegando ao ponto de haver muitos críticos que o apontam como inadequado. Talvez seja um sinal da renovação e nascimento de uma esperança que possa, futuramente, conduzir a uma maior semelhança da Igreja Católica com a doutrina original do Mestre. Vivemos dias turbulentos, onde os sentimentos de ódio são disseminados diuturnamente nos meios de comunicação social. Os dirigentes de muitas denominações religiosas usam do púlpito, das suas pregações para auferir vantagens e lucros pessoais. Em todas as congregações, sem nenhuma exceção existem pessoas em posição de importância e que praticam os atos mais odiosos que se possa imaginar, usando em geral como argumento a própria fé, a própria palavra, como se tivessem tal direito. Isso é um cenário pavoroso. 

Há urgência na tomada de posição de parte de todos para trazer de volta a verdadeira fé, o retorno ao caminho da vontade do Pai Universal, pois foi em verdade isso que Jesus veio trazer: “A boa nova, ou seja, revelar o Pai em sua insondável misericórdia, seu infinito amor por suas criaturas, esperando no final do caminho de braços abertos para acolher a todos os que demonstrarem boa vontade”.

Curitiba, revisado em 09/02/2019

Décio Adams

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