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Um tropeiro na família
Quando o pai Antônio retornou da Guerra do Paraguai, João Maria contava com dezesseis para dezessete anos de idade. Desde cedo andava a cavalo, tendo começado em um petiço manso e muito apegado ao menino. Todas as manhãs, quando via o dono sair de dentro de casa, estava na beira da cerca nas proximidades e sossegava apenas depois de receber sua dose de afagos, acompanhados de uma pequena espiga de milho, ou um generoso torrão de açúcar. Na maior parte do tempo o menino o montava em pelo, sem ao menos usar rédeas. O comando era feito com a pressão dos joelhos e o ficho sabia qual era a vontade do dono.
Esse idílio seguiu por vários anos, até que o animal, já de idade um pouco avançada, pois fora destinado ao guri já calejado da vida, sentiu o peso dos anos. Sua saúde deteriorou e não era mais possível carregar o dono. O olhar era triste, parecendo implorar a morte, não sendo mais capaz de desempenhar a tarefa que por tanto tempo era o prazer da sua vida. Negou-se a comer e nenhum recurso havia para reverter a situação. Num dia cedo, amanheceu morto em seu estábulo. Ajudado pelo avô e os irmãos, cavaram uma cova e arrastaram com uma carreta o corpo até a beira, sepultando-o. O lugar ficou marcado e mesmo o capim crescendo viçoso, os outros animais parece que respeitavam a sepultura do petiço.
Foi então que o tio João lhe presenteou um potro recém domado e fogoso. O menino, acostumado ao andar pachorrento e calmo do petiço, precisou acostumar-se aos modos da nova montaria. Era emocionante sentir o vento batendo do rosto enquanto o tordilho galopava, veloz pelos campos. Começou a participar dos trabalhos de vaqueiro na fazenda, a título de aprendiz. Em pouco tempo era um hábil laçador, além de ágil na imobilização de bezerros para curar bicheiras, marcar e outras atividades. Sempre que tinha ocasião, conversava com o avô e indagava sobre o seu padroeiro, o Monge João Maria. O que sabiam a respeito da vida do eremita, ele conhecia de memória, mas queria saber mais.
Vez ou outra surgia algum tropeiro narrando alguma história ocorrido nas andanças do Monge pelo interior do Brasil, nos campos de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Ele investigava todos os pormenores, cada detalhe que pudesse acrescentar ao que conhecia. Desejava saber de onde ele viera, para onde fora, se ainda estava vido ou já estava no céu. Por tudo de bom que ouvia contar do homem, tinha certeza de que, se já tivesse morrido, estará no céu certamente.
Numa dessas ocasiões um lhe contou que conhecia diversos lugares em que o Monge vivera por algum tempo em grutas, ao longo do caminho dos tropeiros. Havia a Gruta do Monge na cidade da Lapa no Paraná, no morro do Araçoiaba em Sorocaba, diante da Fábrica de Ferro, além de outras menos conhecidas. Surgiu no espírito do jovem a ideia de percorrer, ao menos uma vez, o caminho dos tropeiros e visitar o máximo de grutas que haviam servido de moradia do seu padroeiro João Maria. Em segredo preparou-se, depois de combinar com o tropeiro sua integração na equipe de tocadores de mulas na próxima viagem. O seu potro estava bem acostumado com seu modo e se tornara companheiro inseparável.
Com o dinheiro que ganhara no trabalho, comprou a equipagem para enfrentar a estrada, sabendo que não raramente seria obrigado a pernoitar ao relento, enfrentar chuvas e trovoadas no meio do caminho. Na véspera da partida, anunciou à família sua intenção. Estava com 18 anos, recém completados e estava decidido. Iria seguir um caminho diverso do que a família vinha levando desde o seu bisavô, há mais de um século. Experimentaria ser tropeiro e talvez adotasse esse meio de vida para sempre. Sem meios para o reter, a mãe o abençoou, o pai lhe recomendou cuidado e em especial, ser honesto e justo. Deveria honrar o nome da família onde quer que fosse.
Na manhã do dia marcado, encilhou o tordilho, na mochila estavam seus apetrechos essenciais, recomendados pelo tropeiro. Despediu-se da família, abraçou um por um, especialmente os avós já idosos, prometendo voltar em alguns meses. Montou e deu de rédeas ao cavalo, que saiu em um galope suave e alegre. Chegou à Santa Maria, onde encontrou com os demais membros da equipe. Dali sairiam com uma boa tropa de mulas, sendo algumas mansas e de carga que levavam os petrechos de uso geral durante a viagem, mantimentos, ferramentas e utensílios. Também levavam mercadorias como pelegos, arreios e laços para vender, coisas sempre procuradas no meio em que viviam. Um bom trançador de laços tinha seus trabalhos requisitados, alcançando bom valor. Esses existiam em certa abundância na campanha.
O chefe da tropa era um homem alto, já de certa idade, mas ereto como um pinheiro. Parecia indestrutível. Era sempre o primeiro a estar de pé, enfrentando as intempéries, orientando as ações para defender a tropa e seus pertences contra qualquer situação desfavorável. O jovem João Maria, parecendo ter herdado o espírito aventureiro e nômade do Monge, logo se sentiu no seu elemento natural. Em pouco tempo aprendeu as manhas de conduzir a tropa, compreendeu os segredos de manter os animais calmos e agrupados, mesmo diante de situações de algum perigo. Depois de dois dias de viagem, encontraram-se com outro grupo, vindo da região das missões, trazendo mais um bom número de animais, além de mais homens para ficarem sob o comando do chefe geral.
Foi uma longa jornada, por vezes interrompida durante dias em que as chuvas tornavam as trilhas intransitáveis, os rios impossíveis de serem vadeados. Pontes não existiam, obrigando assim a esperar pela amenização dos elementos da natureza. Depois de algumas semanas, alcançaram as cercanias da Vila do Príncipe, hoje Lapa, na província do Paraná. Haviam conseguido cruzar o rio Iguaçu no último momento, antes do início de uma cheia, tornando a travessia impossível. Chegaram cansados e necessitando de repouso, tanto os animais quanto os homens. Isso deu azo a que João Maria instasse o amigo a lhe indicar a localização da Gruta do Monge.
Depois de descansarem, enquanto os animais se refaziam pastando nos arredores, aproveitaram para subir o maciço rochoso até o lugar onde se dizia ter se abrigado o Monge João Maria em tempos passados. Em verdade não chegava a ser uma gruta propriamente dita. Uma espécie de marquise rochosa se projetava para fora do bloco, formando uma área minimamente protegida de chuva, mas não em quaisquer condições. Se houvesse vento do lado frontal, a água alcançaria até o ponto mais protegido. Mesmo assim ali havia vestígios de visitação de devotos, remanescentes do tempo em que ele ali estivera. Havia quem relatasse três passagens do Monge pela gruta, outros duas. Era difícil tirar a dúvida, pois as datas não coincidiam. O que não restava dúvida era tratar-se de João Maria de Agostini, pois ninguém esquecia o defeito dos dedos da mão esquerda atrofiados. Uma característica inconfundível.
O jovem saiu dali admirado com a rusticidade do abrigo. Seu padroeiro deveria ser especialmente abnegado para se sujeitar a pernoitar, além de passar parte das horas do dia num lugar tão ermo e de pouca segurança. Procurou imaginar como ele era, mas tinha dificuldade em encaixar seu modo de vida no daquele cujo nome carregava, por influência de seu avô Afonso. Mesmo assim não sentiu sua curiosidade e espírito de aventura esmorecer. Depois de um descanso reparador, a viagem continuou, passando por Campo Largo, depois Ponta Grossa, Castro e demais localidades. Havia locais de pouso separados por aproximadamente 25 a 30 km, distância que uma tropa de mulas conseguia percorrer em um dia de jornada.
Os animais de carga não suportariam carregar seus fardos por distâncias maiores, sem logo ficarem estafados, enquanto os destinados à venda, chegariam ao destino magros e maltratados, diminuindo assim seu valor de revenda. Nada isso era do interesse dos tropeiros. Ao chegarem em Sorocaba, João Maria viu-se diante de um espetáculo nunca imaginado. Uma área imensa onde eram negociadas as mulas, mercadorias vindas de todas as regiões. Compradores regateando preços, vendedores valorizando suas mercadorias, dizendo-se roubados e tomando prejuízo ao conceder determinado valor de desconto numa venda. Apenas jogo de cena e maneira de convencer o outro lado a condescender em pagar o valor pedido.
Era um verdadeiro campo do vale tudo. As maiores mentiras eram contadas na maior desfaçatez. Alguns animais, na verdade já velhos e de pouca utilidade, eram vendidos misturados aos demais, como sendo ainda jovens em seu pleno potencial de trabalho. Os próprios compradores se esmeravam em examinar detalhadamente o que compravam, identificando aqueles que sabiam não iriam servir por muito tempo. Ao regatearem, procuravam abater do preço total o equivalente ao valor dos animais que precisariam ser descartados em pouco tempo.
Em princípio João Maria estranhou as negociações, pois aprendera que era preciso ser honesto, dizer a verdade e nunca mentir. Ali estava presenciando aparentemente o contrário. O que faltava a ele aprender era que, os compradores concordavam em se deixar enganar, mesmo depois de haverem verificado a “mercadoria”. Não deixariam de comprar um lote bom de animais por causa de um ou dois que estivessem fora do desejado. Apenas insistiam na redução do preço, de modo a compensar as peças que tinham pouco ou nenhum valor, dessa forma ressarcindo-se do prejuízo.
Já o vendedor se lamentava de um “aparente” prejuízo para não passar por trouxa, mesmo sabendo que havia vendido animais de baixo valor por um valor aparentemente mais elevado. Era essa a regra do jogo e tinha que aprender rapidamente a se mover nesse mundo, se tinha alguma pretensão de fazer parte dessa vida errante de tropeiro. Havia trazido em seus alforjes alguns objetos menores, confeccionados por trançadores de couro, artesãos diversos e procurou negocia-los. Na primeira tentativa, os interessados deixaram de comprar por não haver um desconto significativo e ficou ligeiramente frustrado. Conversando com o amigo, este lhe sugeriu pedir um preço inicial mais alto. Depois poderia baixar um pouco e se houvesse insistência ainda havia tempo de baixar o preço para o valor que pedira naquele dia, como sendo o último preço.
Decidiu seguir a sugestão e colocou um preço praticamente igual ao dobro do que julgara justo. Os primeiros interessados fingiram assustar-se e propuseram um valor menor, ao que ele contrapôs um valor com desconto um pouco menor. Logo havia vendido as primeiras peças. Assim seguiu negociando, chegando ao final do dia com nenhuma peça em suas mãos. Vendera tudo, e por um preço acima do que quisera no primeiro momento. Percebeu logo que não é apenas o preço considerado justo que realiza a venda, mas aquele que o cliente está disposto a pagar, até mesmo um pouco mais do que aquilo que você acha justo. Geralmente o fator que induz à compra, é a obtenção de um desconto razoável, sequer se importando com o fato de estar pagando talvez mais caro do que poderia ser tomado por justo. Aprendera a primeira lição de ser negociante e a guardou com carinho.
Os chefes da caravana, agora livres das tropas de mulas trazidas para venda, terminavam de negociar as mercadorias que haviam trazido, bem como adquiriam produtos manufaturados, café em grão, armas da fábrica Ipanema, ferramentas, utensílios, para serem levados ao sul, onde seriam por sua vez vendidos a bom preço. As mulas de carga voltariam com carga igual ou superior à que haviam transportado na vinda. Teriam nova jornada de cansaço pela frente, até o momento de serem soltas no pasto por algumas semanas, antes do início de nova viagem.
Enquanto os patrões tratavam da negociação prévia antes de iniciar a viagem de volta, Joao Maria fez questão de visitar o morro onde se abrigara João Maria de Agostini, quando ali chegara em 1844. Não conseguiu saber se ele repetira a estadia em outro momento futuro. Mas eram abundantes os testemunhos de pessoas que o haviam conhecido naquela ocasião. Por acaso passaram pelo sítio das goiabeiras e ameixeiras, tidas como abençoadas pelo monge. As duas árvores eram nitidamente mais frondosas e bem servidas de folhas e frutos. Comeram dos frutos e também o sabor parecia especial. A família considerava aquelas fruteiras como uma benção especial deixada pelo Monge Santo.
Havia vários outros episódios tidos como sobrenaturais relacionados ao eremita. Mas os fatos eram contados de maneiras confusas, sendo impossível estabelecer uma linha aceitável de veracidade. Provavelmente isso se devia ao fato de terem transcorrido quase três décadas desde a ocorrência dos fatos. Sendo assim mister era ouvir, mas sem tomar nada ao pé da letra. Muita coisa poderia conter um fundo de verdade, mas provavelmente havia boa dose de recriação dos narradores. O que ninguém duvidava era dos modos simples, da vida frugal e humilde que o Monge levava. Sempre estava pronto a ajudar ao próximo, sugerindo chás, emplastros de ervas, uso de água da fonte para lavar ferimentos, o que em geral trazia benefícios significativos.
O lugar em que ele viveu algum tempo no morro, uma pedra plana servira de suporte para a cama de folhas de samambaias, palmeiras e xaxim, sobre a qual descansava os ossos o Monge João Maria. Era difícil compreender que um ser humano pudesse recusar o conforto de uma cama, em uma casa seca e protegida, preferindo dormis praticamente ao relento, sobre uma pedra dentro de uma gruta. Isso era comum na idade das cavernas, antes de o ser humano aprender a construir suas moradias. Mas agora, no século XIX, quando a indústria provia a cada dia novas formas de tornar a vida mais confortável e cômoda, era bem pouco compreensível tal atitude. O homem era um enigma, sem a menor dúvida.
A viagem de volta teve início e nos primeiros dias transcorreu sem novidades. Quando alcançaram a região de Castro no Paraná, teve início uma intensa chuvarada, estendendo-se por vários dias. Assim foram obrigados a manter-se em lugar abrigado, aguardando o tempo amainar. Sempre disposto a falar do Monge seu padroeiro, João Maria logo soube da existência de uma gruta nas proximidades conhecida como Monge. Ali os vestígios da passagem de João Maria eram mais tênues. Provavelmente sua estadia havia sido mais breve e não se repetira em outro momento. Pessoas que lembravam de sua passagem, não guardavam muitas recordações. Apenas um senhor idoso lembrava do sinal em seus dedos da mão esquerda. Foi o suficiente para associar o local à figura do lendário Monge das Águas Santas, tão famoso nas províncias do sul.
Depois de três dias de chuvas intensas o temporal calmou, de modo que, no dia seguinte as trilhas haviam secado o suficiente para poder reiniciar a caminhada. Tinham uma longa jornada pela frente. No hoje planalto catarinense, era abundante a planta Ilex Paraguariensis, mais conhecida como erva mate. Grande número de caboclos vivia da extração da erva nativa, colocada à venda nos pontos de pouso dos tropeiros. Sempre havia ferramentas e utensílios que podiam ser trocados, aliviando a carga das mulas que era substituída por bruacas recheadas de erva mate. O produto tinha mercado certo na província São Pedro do Rio Grande. Voltar de uma viagem com tropa para Sorocaba, sem trazer um bom sortimento de erva mate, seria estupidez. A procura era intensa e o preço obtido era compensador.
João Maria sentia um pouco de saudade da família, mas as novidades que se sucediam diariamente, eram suficientes para afastar esse fantasma. Em mais algumas semanas estaria em casa e teria uma infinidade de aventuras para contar. Além disso teria no bolso um dinheiro significativo pelo serviço prestado, bem como o obtido com a revenda dos objetos que levara para tal fim. Trazia em seus alforjes uma porção de coisas para revender e presentear os pais, irmãos e avós.
O dinheiro arrecadado seria guardado e investido em novo suprimento para levar na próxima tropeada de que iria participar. Nem por um minuto duvidava de que, em algum tempo, estaria percorrendo o mesmo caminho demandando novamente a feira de Sorocaba. Mesmo ao longo do caminho, encontrava objetos à venda e que adquiria para seu uso ou revenda no destino. Estava desenvolvendo uma habilidade nunca imaginada em negociar. Só no primeiro dia ficara parado e não vendera nada. Depois de aprender a lição, tornara-se hábil negociante, surpreendendo inclusive aos companheiros. Se enfronhara rapidamente no negócio. Se continuasse nesse caminho, não tardaria e seria um dono de tropa ou então de um ponto de pouso à beira das diversas trilhas existentes.
Ao chegarem de volta a Santa Maria, a tropa se desfez em vários subgrupos, levando para sua região os produtos que traziam. João Maria ficou encarregado de ajudar na venda dos produtos destinados à Santa Maria. Havia encomendas que bastavam ser entregues e receber o pagamento, previamente combinado. O preço sempre tinha embutida uma possibilidade de alta do produto na origem, de modo a proteger o tropeiro. Eram suficientemente espertos para não vender por menos do que haviam pago. Depois de entregar as mercadorias, ajudar na venda do que havia sido trazido para comércio geral, João recebeu do chefe o pagamento por seu trabalho.
Não era uma fortuna, mas, para quem partira em ritmo de aventura, era bem mais do que teria ousado esperar. Somando-se a isso o que arrecadara com a venda do conteúdo de seus próprios alforjes, podia considerar-se um rapaz, rico num primeiro momento. Mostrou aos pais o que ganhara, narrou detalhadamente todas as façanhas e peripécias passadas, as visitas às grutas do Monge. Narrou as várias possibilidades de negócios que vislumbrara no caminho. Além do próprio negócio das tropas de mulas, havia um amplo mercado de mercadorias que podiam ser levadas daqui para lá, bem como outras que poderiam ser trazidas de Sorocaba, ou compradas ao longo do caminho para revenda aqui no sul. Declarou-se disposto a iniciar, depois de participar de algumas tropeadas para pegar o jeito, um negócio por conta própria. Se houvesse quem se dispusesse a participar pessoalmente ou com recursos financeiros, seria bem-vindo.
Era possível sair da vida de peão, tornando-se autônomo, ter seu próprio negócio, ser o próprio patrão. Ele trabalharia apenas até reunir o suficiente em capital para iniciar seu negócio. No momento certo decidiria qual seria a melhor opção. Antônio ponderou que, também estaria disposto a mudar de ares. Nascera na fazenda, participara de duas guerras e estava sempre na mesma. Sempre era peão e continuaria a ser assim, se não tomasse uma decisão para mudar de vida.
Os avós Afonso e Zulmira pouco deram opinião sobre esse assunto. Estavam em seu final de vida. Haviam sempre vivido em fazendas, sendo mandados de um lado para outro e não seria agora que mudariam. Mesmo que houvesse vontade, não havia mais tempo para isso. Os netos e talvez os filhos, que tomassem o rumo desejado. Durante conversa com João, este também se mostrou interessado e apontou a possibilidade de obter uma área de terra como posse, na região de Serra acima, nas proximidades de Passo Fundo. Poderiam começar com uma área pequena, comprar algumas éguas e um ou dois jumentos para criar mulas. Era mercadoria sempre valiosa. Além disso poderiam organizar sua própria tropa, levando tanto as mulas de sua produção, como as compradas de outros produtores.
Ali surgiu a semente do que seria o negócio da família em futuro próximo. João em mais alguns anos estaria em idade de largar da lida com o gado no dia a dia. O peso dos anos começava a se fazer sentir. Se dispusessem de um pedaço de terra próprio e produzissem além de mulas, também gado de corte, teriam no futuro algo para legar aos filhos e netos, além de trabalho e mais trabalho. Começariam a prospectar a existência de alguma área que pudesse ser demarcada e requerida para implantar uma propriedade. João Maria ficou entusiasmado com a sugestão. Em princípio pensar que somente ele estaria disposto a deixar para trás a vida de peão, empregado em fazenda e tornar-se dono de seu próprio negócio. Agora via que até o pai e tio estavam interessados em seguir o mesmo caminho.
Em algumas semanas foi avisado de que a próxima tropeada estava quase pronta. Tratou de adquirir os objetos que poderia transportar sem problemas em seus alforjes. Adquiriu uma espécie de mala, onde poderia levar mais coisas. Assim o volume de seus negócios aumentaria significativamente. Recebeu diversas encomendas de objetos que poderia trazer na volta e levou uma mula com bruacas de carga, inicialmente amarrada na sela de seu cavalo. Depois ela passou a caminhar no grupo das cargueiras da tropa inteira. O chefe da tropa quis saber o que ele levava na carga, sendo preciso explicar detalhadamente, para não criar problemas. Não poderia levar objetos que concorressem com ele, dono da tropa.
A viagem demorou mais ou menos o mesmo tempo da primeira e logo estavam em Sorocaba. Depois de acomodar as mulas da tropa no cercado alugado para tal fim, puxou a própria mula para o lado e começou a retirar os objetos que eram seus. Em pouco mais de um dia, conseguiu vender tudo, obtendo um lucro significativo. Era hora de comprar as encomendas recebidas e também outros objetos que pretendia levar. Se sobrasse lugar, poderia comprar uma ou duas arrobas de erva mate na volta para consumo da família. Eram todos apreciadores do chimarrão e comprar a erva dos comerciantes tornava o hábito bem mais caro.
Ao regressar, o pai e o tio haviam encontrado a área de terras nos campos de Passo Fundo e encaminhado o requerimento de posse. Com a ajuda dos patrões Ribas, seria facilitada a obtenção do terreno. Em algum tempo poderiam começar a preparar o lugar para estabelecer sua criação de mulas e posteriormente de gado de corte. As mercadorias trazidas de retorno foram vendidas e o lucro foi capitalizado. A continuar assim, em mais algumas viagens teriam condições de organizar a própria tropa.
Nessa segunda viagem os colegas de jornada, haviam descoberto ser ele ainda virgem. Nunca deitara com uma mulher. Todos eles, sem exceção, eram habituais frequentadores das casas existentes ao longo do caminho. Em cada pouso, havia alguém que tinha ali seu “cacho” e dava graças a Deus se chovesse para poder passar mais tempo com a mulher. Não raro era acontecer de alguém se engambelar com uma dessas mulheres, reunir suas economias, juntar os trapos e montar um pequeno negócio na beira do caminho das tropas. Outros se embrenhavam em um pinheiral e ali faziam a extração de erva mate, vendendo o produto nos pontos de pouso.
Num pouso mais demorado, pois chovia muito, os colegas instigaram uma empregada do comércio de beira de caminho, conhecida pela sua aptidão em seduzir jovens inexperientes. Ao saber que João Maria era ainda “sem uso” ela ficou acesa, pronta para atacar. Pressentindo que ele poderia se tornar arredio, convidou-o a tomar com ela um copo de vinho que conseguira obter. Depois de levemente embriagado, João se tornou presa fácil e ela o levou para sua alcova. Despiu-se diante do garoto que, no primeiro momento, ficou sem saber o que fazer, mas também não se dispôs a sair correndo. Logo ela o puxava para ela e começou a lhe tirar a camisa. Em pouco começou a beijar o peito ainda com poucos pelos, desceu as mãos para a cintura soltando as calças que logo estavam no chão.
O membro, liberto de sua prisão se ergueu soberbo e ela o abocanhou pondo-se a sugar, depois beijar, enquanto com a mão lhe afagava os acessórios. Inexperiente, ele sentiu uma reação inesperada, seguida de um esguicho de sêmen. Logo depois sentia uma espécie de languidez. Ficou constrangido com o fato mas a mulher, habituada a situações semelhantes, o tranquilizou, dizendo:
– Isso acontece sempre com os meninos na primeira vez. Não sabem controlar e gozam antes da hora. Com o tempo você aprende a esperar a hora certa de soltar o jato.
Limpou o ombro e o seio onde parara o jato, para depois sentar-se ao lado de João, recomeçando as carícias. Em instantes o “herói”, antes derrotado e caído, estava novamente em riste, pronto para nova investida. Dessa vez, a mulher deitou-o de costas, colocou-se sobre de pernas abertas e baixou o corpo, até sentir a glande penetrar em sua vagina. Parou e executou alguns movimentos circulares, arrancando um gemido do menino. Em seguida ela terminou de baixar o corpo e o fez mergulhar em seu sexo até o fundo. Iniciou um lento movimento de sobe e desce, enquanto com as mãos segurava-lhe o rosto. A boca baixou e a língua penetrou em sua boca, fazendo o corpo inteiro tremer de emoção. Depois de algum tempo de vai vem, ela deitou-se de lado e o convidou a inverter a posição. Agora seria ela que ficaria por baixo.
Não foi preciso segundo convite. A natureza falou mais alto e logo ele a penetrava com todo vigor da juventude reprimida até poucos minutos antes. Os peitos se lhe ofereciam generosos e se pôs a acaricia-los, logo os beijava freneticamente. Enquanto isso na outra parte o movimento acelerava. Sentia que aquela sensação sentida no começo, estava se formando novamente, só que dessa vez parecia ser mais profunda e intensa. Tinha a sensação de que iria se derreter totalmente dentro do corpo da mulher. Ao atingir o orgasmo, ela também chegou lá. Era sensível o suficiente para não negar a si mesma o prazer que proporcionava ao parceiro. Dessa forma os gemidos podiam ser ouvidos do lado de fora, pois a casa era de madeira, não limitando a propagação do som.
Isso foi motivo suficiente para depois os colegas fazerem chacota dele durante dias. Agora, em cada pousada, ele ficava olhando se existia alguma mulher disposta a partilhar com ele sua cama. A maioria delas fazia disso um modo de reforçar o orçamento, cobrando valores variados. Preferiam os chefes ou donos das tropas, pois tinham a carteira mais recheada, estando mais dispostos a ser generosos com quem lhes servia na cama. Mesmo assim, em alguns lugares conseguiu companhia, dispondo-se a gastar o mínimo possível, ou então dar de presente algum berloque que trazia para revender. Depois de descobrir o sabor da “fruta”, passou a ser apreciador assíduo. Diante disso o amigo que o colocara nessa vida de tropeiro, aconselhou a ser moderado no assunto mulheres, pois havia, além do custo em dinheiro, o risco de contrair doenças e isso seria algo bem complicado.
A erva que conseguira trazer, comprada de um desses extratores do produto era especialmente bem preparada. O sabor suave e agradável, tornava o ato de sorver o amargo um verdadeiro prazer. Passaria a trazer em todas as viagens alguns quilos para abastecer a família. Nos dias em que ficou de folga, João Maria, seu pai Antônio e tio João, cavalgaram até Passo Fundo onde foram ver a terra que seria sua futura estância. Em princípio não seria nada comparável com a Fazenda Ribas, mas aos poucos poderiam crescer e adquirir outras áreas para juntar a essa inicial.
João Maria ficou entusiasmado. Embrenhou-se no meio do mato, descobrindo em pouco tempo o lugar ideal para instalar as moradias, estábulos, estações de cruzamento dos jumentos com as éguas, para obter o máximo de rendimento. Tudo tinha que ser previsto e planejado. Antes de iniciar a nova viagem para Sorocaba, dessa vez um pouco mais retardada, receberam o documento que os tornava donos da posse de uma área de terras no caminho de Passo Fundo. Dispunham de carência de dois anos para dar início à ocupação e instalação do sistema de produção. Pretendiam, bem antes disso, ter ali uma residência de boa qualidade para começar e uma área inicial para algumas éguas e jumentos.
João Maria reservou a quantia que pretendia investir na aquisição de mercadorias a serem levadas para Sorocaba, entregou o resto ao pai para juntar às economias que usariam na abertura e instalação na futura propriedade da família. Não via a hora de terem sua própria estância, como ele costumava dizer. Ainda iriam ouvir falar da família Batista. Começara como peão de fazenda, capataz e agora proprietária de uma próspera estancia nos campos de Passo Fundo. O pai o chamou à realidade. Era válido sonhar, mas não alto demais, para não se decepcionar depois.
Décio Adams
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Emerson Ghislandi04/04/2015 at 3:13 PM
Décio, parabéns pela vigorosa obra literária! Vou lendo, em doses homeopáticas. Abraço e sucesso sempre ao nobre amigo.
Décio Adams04/04/2015 at 6:23 PM
Obrigado pelos elogios. Não hesite em criticar quando encontrar falhas. Isso irá me ajudar em muito no aperfeiçoamento, que é a meta de todo escritor. Quando quiser ler algo já publicado, veja na fan page. Tem a loja virtual dos oito livros já publicados.
Um abraço e tudo de bom.
Disponha do amigo.