UTOPIA.
A palavra Utopia traz em sua etimologia o significado de algo irrealizável, pelo menos num dado momento. É corriqueiro ouvirmos falar que a segurança nacional, pública, mundial, depende da quantidade de armas disponíveis. Uma arma serve para que? Qualquer objeto, capaz de ferir e por último matar, pode, em circunstâncias particulares, ser considerado como arma. Se a arma serve para ferir e matar, como é possível acreditar que a segurança dependa da quantidade de armas disponíveis?
Ao longo dos milênios, vemos registrados na história humana, muito mais eventos bélicos, exaltações de atos de heroísmo, louvação de estratégias de combate, habilidades no manejo de determinada espécie de arma, do que histórias de amor, altruísmo e desprendimento em favor do próximo. Para falar apenas da época mais recente, vejamos a quantidade de conflitos bélicos ocorridos no decorrer do século XX. Vamos começar com o que ocorreu no território nacional. O século XIX terminou com uma revolução federalista, surgida no Rio Grande do Sul, em oposição ao novel governo republicano, recém implantado. Nem bem terminou o conflito no sul, eclodiu outro fato conhecido como Guerra de Canudos, no nordeste. Sem dúvida, o custo material e humano de ambos foi elevado. Ainda no começo do século XX, 1912/16, o território em litígio limítrofe entre Paraná e Santa Catarina, conhecido como Contestado, foi assolado pela Guerra do Contestado, onde novo dispêndio material e humano foi realizado.
Partindo para o âmbito mundial, temos de 1914/1917 a Europa assolada pela Primeira Guerra Mundial, um verdadeiro massacre em vidas humanas e com um custo material exorbitante. Ao encerrar a guerra, já grassava em solo russo a revolução bolchevique, culminando com a deposição e execução da família imperial. Em seu lugar seguiu-se a implantação do governo comunista, com um longo corolário de violências e mortes nos campos de concentração da Sibéria. Em nenhum momento houve verdadeira paz. Para cúmulo, em 1938 ocorreu a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista, dando início a um dos mais sangrentos e mortíferos conflitos. As estatísticas com certeza passam longe do número real de mortos de alguma forma, em consequência da guerra. O custo material, o ingente esforço de guerra, atingiu praticamente o mundo inteiro, causando danos de toda ordem. Mesmo após a rendição alemã, o conflito continuou no Pacífico, entre Japão e EUA, ocorrendo a rendição após o lançamento sobre Hiroshima e Nagasaki de duas bombas atômicas por aviões americanos. O número de mortos só não foi maior por serem cidades de dimensões menos expressivas. Caso houvesse ali uma concentração maior de contingente humano, poderíamos ter, só nesses dois momentos, milhões de mortos em poucos segundos.
Impossível citar todos os conflitos, mas vamos aos que mais são conhecido. Em meados de 1950, teve início a Guerra da Coréia, terminada em 1953. Nesse meio tempo, o recém criado organismo internacional ONU, aprovou resolução criando o Estado de Israel. Faltou supervisionar a instalação do mesmo, uma vez que a região era dominada anteriormente pelo Reino Unido, havendo grande contingente de judeus, provindos principalmente do leste europeu e outras regiões, ocupando grandes extensões de território palestino. Com uma milícia autônoma, armas de diversas origens e mesmo algumas improvisações de fabricação quase artesanal, conseguiram por em fuga um grande contingente de habitantes palestinos. Surgia o Estado de Israel de fato, com as casas, prédios e instalações abandonadas, sendo ocupados pelos judeus. A região, em mais de sessenta anos, jamais conheceu um dia de paz completa.
Em 1955 eclodiu no Vietnã novo conflito, encerrado somente em 1975, após 20 anos de sangrentos combates. O dispêndio de vidas humanas, além do custo financeiro foi imenso. Ao longo das últimas décadas do século XX, assistimos a inúmeros conflitos internos em várias regiões africanas, sempre de alto custo humano e material. Isso continua até os dias atuais, quando vemos repetidas agressões entre Israel e o Estado Palestino, duas Guerras do Iraque, a invasão do Afeganistão em caçada à Osama Bin-Laden, após o ataque às torres gêmeas no centro financeiro de Nova York, em 11 de setembro de 2001. Temos nos dias atuais conflitos na Ucrânia, no Iraque, Síria com o Estado Islâmico.
Olhando esse panorama de verdadeira calamidade, com muitos milhões de vidas humanas ceifadas por ações de guerra, campos de extermínio, fome em decorrência dos conflitos, bem como o descomunal custo material de tudo isso, quero perguntar:
– É consistente a crença de que as armas garantem a segurança?
Para mim quer parecer que, se a resposta fosse positiva, deveríamos, há muito tempo, viver em total e completa paz, em todos os recantos do mundo. Infelizmente não é isso que vemos e não existe uma previsão, nem entre os mais otimistas de que isso irá acontecer em futuro próximo. De que valeu então, gastar volumes exorbitantes de recursos, obrigar imensas massas humanas a trabalhar no esforço de guerra, em condições precárias, se não colhemos os frutos tão insistentemente buscados, pelo menos no dizer dos gestores mundiais. Estarei tão errado em considerar falsa a premissa de que o armamento garante a segurança mundial?
Vamos fazer uma breve digressão. Imaginemos, apenas por um breve momento, que ao menos a metade desses recursos gastos em armas, seja aplicado no desenvolvimento da agricultura para prover alimentos, na construção de moradias, geração de empregos, enfim melhorar as condições gerais da população. Será que haveria tanta violência como a que vemos nos noticiários de TV, jornais e redes sociais a cada dia que passa? Quero crer que, estaríamos em situação bem mais favorável. Que o meu questionamento, minha sugestão é utopia, neste mundo que vivemos, eu sei. Mas houve exemplos que provam ser isso possível.
Tomo por base algumas pessoas de grande destaque nesse século de tantas guerras, revoluções e atrocidades. Tomo como exemplo uma figura ímpar, representante do povo indiano: Mahatma Gandhi. Um homem franzino, jamais usou sequer um canivete de dois centímetros de lâmina. Apenas fazendo os seus jejuns, em momentos decisivos, obrigou o todo poderoso Império Britânico, a conceder gradativamente a independência ao povo indiano, injustamente subjugado no passado pela força das armas.
Uma Madre Tereza de Calcutá, que dedicou a vida a amenizar o sofrimento das pessoas carentes, dos menos favorecidos. Enfrentou adversidades das mais variadas origens, porém jamais fraquejou em seus intentos. Deixou um legado de grande valor à posteridade. Irmã Dulce da Bahia, mesmo com 30% da capacidade pulmonar que seria normal a uma pessoa de seu porte, passou anos trabalhando e dando amor, carinho, assistência aos moradores das palafitas em terras baianas.
Martin Luther King, deu a vida pelo ideal da igualdade entre negros e brancos no território americano. Nunca fez uso de violência.
A médica pediatra Zilda Arns, fundadora da pastoral da criança, deixou um legado valioso, implantado em muitos países, tirando um imenso número de crianças do drama da desnutrição. Libertou esse contingente quase incontável, de uma vida de dor, sofrimento e sem perspectivas.
Há certamente muitos outros exemplos que poderiam ser citados, mas bastam esses. Tenho há muitos anos, desde que tomei conhecimento da vida de Mahatma Gandhi que o caminho da redenção mundial é a via da não violência. O caminho sem armas, sem guerras, onde a paz e prosperidade sejam a tônica de todos. Em cada rosto um sorriso, em cada face um olhar brilhante e esperançoso, caminhando rumo ao seu destino. Não estou falando da eliminação total do sofrimento. Nunca iremos alcançar as delícias do paraíso, enquanto estivermos presos ao nosso invólucro material que nos prende a este mundo.
Décio Adams
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