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Na senda dos monges! – João Maria de Jesus, José Maria de Agostinho e os caboclos do contestado. Cap. II

 

  1. Começa construção da EFSPRG.

 

A construção da estrada de ferro, ligando Itararé, no estado de São Paulo, à Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul, teve início em 1890, partindo de Santa Maria, rumo ao norte. Em meio a muitas dificuldades da nova república, foi possível inaugurar os primeiros 142 km, ligando Santa Maria e Cruz Alta no decorrer de 1894, apesar do conflito da revolução federalista. Em 1897 foi iniciada a construção do trecho paranaense, partindo de Ponta Grossa, rumo ao sul e também rumo ao norte. Em 1900 inaugurou-se os primeiros 132 km de trilhos, unindo Ponta Grossa e Rebouças, seguindo-se outro trecho de 132 km ligando Rebouças com Ponto União, às margens do Rio Iguaçu, em 1904.

Em 1905 inaugurou-se novos 196 km ligando Cruz Alta com Passo Fundo, apenas 11 anos depois do primeiro trecho inaugurado. Em 1906 foi inaugurado o trecho entre Joaquim Murtinho e Jaguariaíva no Paraná. Nessa época o grupo econômico liderado por Percival Farquhar, conhecido depois como Sindicato Farquhar, disputava acirradamente a aquisição da concessão dessa ferrovia, além de outras concessões públicas em território brasileiro. A transação foi realizada e fixado o prazo de conclusão do trecho faltante, para dezembro de 1910.

A influência de Percival foi fundamental para alavancar os recursos necessários para a execução da obra. Um imenso contingente de cerca de 8000 homens nos momentos de maior intensidade dos trabalhos, conseguiu realizar a inauguração no dia limite do prazo estipulado em contrato, com a conclusão da ponte provisória em treliças de madeira sobre o Rio Uruguai. Ponte essa que foi arrastada por uma enchente menos de um ano depois, sendo reconstruída em estrutura metálica, vinda da Europa. Entre a assinatura do primeiro decreto de concessão ao engenheiro Teixeira Soares e a inauguração, haviam transcorrido 21 anos.

No final do livro anterior, deixamos João Maria Batista, sua esposa Lua Serena, o irmão Pedro Batista com a esposa Maria Rosa, iniciando uma criação de gado na margem direito do Rio do Peixe, em plena área do território contestado na demarcação de limites dos estados de Paraná e Santa Catarina. Parte do dinheiro que João havia trazido em sua viagem ao Rio Grande, havia sobrado e os irmãos decidiram investi-lo na legalização de sua propriedade. A dificuldade era saber a que autoridades se dirigir para encaminhar o processo. Buscaram informações entre os moradores mais antigos e praticamente todos aconselharam deixar o tempo passar. Quando ficasse resolvida a questão dos limites de estados seria hora de tratar dessa questão.

Não contente com essa situação, João convenceu Pedro a apoiar a sua ida a Curitibanos, cidade mais próxima e com representação de órgãos públicos. Ali seria possível ao menos obter mais detalhes sobre o assunto. Ter em mãos um documento de propriedade, em qualquer caso, seria uma forma de defender seus direitos. Deixou o irmão cuidando da propriedade e tomou o caminho da cidade. Ali se dirigiu à administração municipal e pediu informações. Foi orientado a procurar o cartório de registro público, para fazer o requerimento. Para finalizar o processo depois, seria preciso também contratar um agrimensor, fazer a medição e demarcação da propriedade.

– E aqui eu encontro um agrimensor para fazer esse serviço?

– Tem até dois. O problema vai ser que eles sempre estão bem ocupados. Vai demorar um bocado para terem uma folga para fazer o serviço para o senhor.

– Além deles, existe na região toda um outro capaz de fazer esse serviço?

– Eu sei que há um em Canoinhas. Só não sei se ele tem mais tempo. A todo momento tem gente procurando legalizar posses e sempre estão ocupados demarcando áreas de mato por esse sertão.

– Meu irmão e eu começamos uma criação de gado e plantação na outra margem do Rio do Peixe. Pensamos até em procurar as autoridades do Paraná, já que a terra está dentro da região contestada. Mas preferimos aqui por ser mais perto e fiquei sabendo que existe decisão judicial a favor de Santa Catarina.

– Isso é verdade. Ainda vamos conseguir essa demarcação dos limites de acordo com aquela sentença do tribunal.

– Eu vou tentar falar com um dos agrimensores daqui. Se não der, vou até Canoinhas para ver se tenho mais sorte.

– Eles moram perto daqui. Um é seguindo para direita, perto da praça. O outro é em frente um pouco antes da Igreja.

– Obrigado por informar. Vou encontrar um deles e resolver esse assunto.

Saiu e foi procurar os profissionais. O primeiro estava longe, fazendo uma demarcação. Voltaria dali a mais de uma semana. Já o segundo, casualmente estava na cidade, mas estava de partida para a região do Rio do Peixe.

– Se ele está indo para o Rio do Peixe, pode aproveitar e fazer minha demarcação. A propriedade fica na margem de lá.

– Ele volta daqui a pouco. Se quiser esperar, pode sentar-se aí na varanda. Aceita um copo de água? – Era a mulher do homem informando a um provável cliente do marido.

Aceitou a água e sentou-se para esperar. Realmente em questão de meia hora o homem chegou, aparentando estar com pressa. Estranhou a presença de um estranho na varanda, mas cumprimentou:

– Boa tarde, amigo. Está à minha espera?

– Se for o agrimensor, estou.

– Vai ter que ser rápido, pois estou de saída para fazer um serviço para os lados do Rio do Peixe. A caminhada é longa.

– Acho que vamos unir a fome com a vontade de comer. Venho lhe trazer mais um serviço naquela região.

– O senhor já tem a área demarcada ou só uma posse sem limites estabelecidos?

– Eu e meu irmão somos os proprietários. Fizemos uma demarcação meio a olho. Mas é preciso fazer um mapa, com tudo indicado direito, onde começa e termina. Isso só quem sabe pode fazer.

– De fato. Qual é seu nome?

– João Maria Batista.

– Tem algo a ver com o tal Monge João Maria que andou por aqui e agora tem outro com o mesmo nome?

– Meu avô, Afonso Batista, se curou de uma bronquite que trouxe quando voltou da Revolução Farroupilha, lá em 1945. Isso foi lá no Cerro do Campestre, perto de Santa Maria.

– E o senhor herdou o nome como homenagem ao primeiro Monge João Maria, estou certo?

– Exatamente.

– E como foi que veio parar nesse sertão?

– Eu vim com os maragatos. Estive no cerco da Lapa, cheguei até Curitiba. Na retirada fui ferido e consegui me safar vindo até a cabana de um velho índio, que morava perto do rio com uma neta. Ele retirou a bala do meu quadril e me curou. Hoje sou casado com a neta e o velho índio morreu.

– Eu ouvi falar de um tal Trovão Distante. Por acaso é dele que estamos falando?

– Exatamente. Nossa propriedade fica na área da cabana e arredores. Conhece o lugar?

– Conheço. Estive por lá anos atrás, quando ainda era mais jovem. Estou indo alguns quilômetros rio acima para fazer o serviço. Podemos combinar de fazer o seu serviço depois que terminar esse. Aproveito a viagem.

– Isso seria ótimo.

– Tem algum peão que possa me ajudar no serviço?

– Eu mesmo ou meu irmão. Até mesmo os dois ser for preciso.

– Estou partindo daqui a pouco. Nesse caso preciso reforçar algumas coisas que estou levando. Vai viajar para lá também, ou ainda tem assuntos a resolver aqui?

– Eu vim só por isso. Apenas vou passar no cartório para avisar que estou levando o senhor para fazer a medição e demarcação. Depois venho com o mapa e faço o registro para legalizar a terra.

– Vão lhe cobrar uma taxa, que não é muito barata. É bom se informar do valor.

– Obrigado. Já sei disso e estou preparado. Acho que temos o suficiente para cobrir os gastos.

Voltou ao cartório. Avisou do sucesso de suas gestões e deixou combinado a feitura do encaminhamento do registro, tão logo estivesse de posse do mapa e memorial descritivo do agrimensor. Encontrou o homem terminando os preparativos para viagem. Nem João pensara que seria tão breve sua estada na cidade. Mal chegara na véspera e já estava de partida. Passou rapidamente pelo comércio e adquiriu alguns objetos que para mimosear sua Luz Serena, bem como aos filhos e sobrinho. Era fácil agradar pessoas simples, pois tudo lhes causava alegria, mesmo as coisas mais insignificantes.

Era o meio da tarde quando se puseram a caminho. Havia uma propriedade a alguns quilômetros de distância, onde pretendiam passar a noite. Seguiram a passo seguro, nos primeiros quilômetros onde a estrada era boa e bem conservada. Assim alcançaram o local do pouso ainda antes do anoitecer. O proprietário era amigo de Feliciano Duarte, o agrimensor. Recebeu-os com hospitalidade, acomodando as montarias e providenciando local para dormirem. Depois disso foram convidados a participar do jantar. A dona da casa reforçara o arroz, botara mais leite na panela, além de farinha e pão. Linguiça havia sempre pendurada sobre a área do fogão, servindo para qualquer emergência.

Antes da refeição saborearam um trago de pinga, produzida na propriedade em um pequeno alambique artesanal. Fora envelhecida em pequenos barris e tinha um sabor agradável. Praticamente não se percebia o álcool, dominado pelo sabor da madeira absorvido do barril. Era preciso ir devagar com o aperitivo, do contrário chegariam ao jantar embriagados. A refeição foi farta, embora simples, o que era habitual naquelas paragens. Prevendo um dia de caminhada cansativa ao amanhecer, foram dormir logo. Era importante estar com o corpo descansado para suportar longas horas de cavalgada. Previam chegar até o anoitecer, numa propriedade não muito distante do vale do Rio do Peixe. Assim no dia seguinte João Maria alcançaria a sua casa e o agrimensor Feliciano, poderia pousar ali ou seguir em frente, rumando para o destino do serviço que tinha em vista.

O resto da viagem transcorreu normalmente. Pernoitaram na outra noite, a cerca de 35km da casa de João. Na manhã do outro dia seguiram até o ponto em que era possível vadear o rio, sem muita dificuldade. O agrimensor seguiu pela mesma margem até o seu destino. João chegou em casa pouco depois do meio da tarde. A família estranhou o retorno tão breve. Haviam imaginado que a demora seria maior. Depois de distribuir os pequenos mimos trazidos, sentou-se para conversar com o irmão. Narrou os detalhes dos trâmites que seriam necessários. Com um pouco de sorte em alguns meses estariam com o título de propriedade nas mãos. Pedro ficou eufórico com as notícias. Haviam pintado o processo com cores tão tenebrosas que julgara seria infrutífera a viagem de João para tratar da legalização. Diante das notícias alvissareiras estava mudava tudo de figura.

Depois de uma semana o agrimensor chegou à casa, depois de terminar a demarcação e medição da propriedade anterior. Havia concluído o mapa e memorial, deixando tudo nas mãos do proprietário. Levava consigo o registro detalhado de todos os dados, para eventuais consultas em data posterior. Chegou ao entardecer e foram providenciadas acomodações para ele e o ajudante. Poderiam começar a fazer os trabalhos na manhã seguinte. Jantaram peixe assado, acompanhado de farofa de pinhão, com pão de fubá. Uma caneca de café, misturado com leite para quem queria, acompanhou a refeição.

Um dos peões foi chamado para acompanhar os trabalhos. Era necessário fazer picadas, cortar algumas pequenas árvores para permitir o alinhamento correto das cabeceiras e laterais da área. A dificuldade maior ocorria nas áreas de morro, onde a caminhada ficava dificultada por vezes, devido à lugares íngremes, pedras e barrancos abruptos. Em alguns trechos poderiam gastar um ou dois dias para definir curtas distâncias de divisa. Por outro lado, nos locais mais planos isso ocorria com maior velocidade. Em menos de uma semana a área estava demarcada, os limites fixados, descritos no mapa e memorial descritivo. Em cada ponto extremo, um marco feito em madeira de lei, além de outros menores, colocados a cada 200 metros ao longo da linha de divisa.

Feito todo o levantamento, anotados detalhadamente os pontos de divisa, orientações das linhas limítrofes, Feliciano sentou-se à mesa de refeições e elaborou um mapa detalhado, bem como descreveu tudo no memorial. Assinou tudo, discutiram o custo final e o acerto foi feito. Nesse meio tempo, o vizinho Francisco decidira também fazer a legalização de sua propriedade. Feliciano, aproveitando a sua presença ali, não perdeu tempo e fez também esse serviço. Matava três coelhos com uma cajadada. Em uma só viagem realizaria três demarcações, o que lhe trazia uma grande vantagem do ponto de vista financeiro. Muitas vezes era obrigado a percorrer grandes distâncias para fazer um único serviço. Voltava para casa e talvez no dia seguinte fizesse novamente o mesmo percurso ou quase isso para fazer outro. Fazia parte de seu ofício. Nesse caso podia perfeitamente fazer uma boa diferença no preço, pois ganhava na economia de tempo.

Os irmãos Batista, bem como as esposas, olharam com orgulho o mapa e o memorial descritivo. Ali estava o documento que seria registrado e se transformaria em comprovante de propriedade daquela área de terra. Estariam garantidos contra eventualidades futuras. Era comum nesses tempos aparecerem grupos de grileiros, dizendo-se proprietários, inclusive apresentando falsos documentos, expulsando os legítimos donos pelo uso e cultivo das terras. Trabalhariam com mais tranquilidade dali para frente. Haviam demarcado uma área bastante grande, pensando no futuro dos filhos. Não saberiam se, quando eles chegassem à idade de formar suas famílias, haveria ainda alguma terra possível de ser ocupada.

Corria nesses tempos o ano de 1898, com a primavera indo ao meio. As crianças cresciam fortes e sadias. A criação de gado aumentara, as áreas plantadas tinham se tornado mais produtivas com os cuidados dispensados, além do uso de sementes melhores. Assim realizavam colheitas abundantes, bem como havia a perspectiva de disporem de um belo lote de bois para corte em mais um ou no máximo dois anos. Logo tratariam de construir uma outra casa para moradia de Pedro, Maria Rosa e família. Não havia problemas de relacionamento, mas existem sempre pequenos detalhes de gostos diferentes. Dessa forma, cada qual teria sua própria morada, onde seria soberano e sem interferências externas.

Lua Serena, ano final de 1898, anunciou nova gravidez e, alguns meses depois Maria Rosa seguia seus passos. As famílias cresciam, enchendo aos poucos o pátio de crianças. Junto com a casa para Pedro e Maria, também construíram um alojamento para os peões, dando ênfase ao conforto dos mesmos. Era justo que, depois de dias inteiros de lide no campo, tivessem um lugar seguro, seco e protegido para descansar. Com a demarcação das terras, as propriedades dos Batista e de Francisco tornaram-se contíguas, pois o vizinho também reservara terra suficiente para os filhos e a filha. Assim haveria onde todos pudessem trabalhar e ganhar seu sustento.

Viajaram juntos, João e Francisco para Curitibanos onde deram entrada no registro de imóveis dos documentos de propriedade de seus lotes. Pagaram os emolumentos exigidos e se prontificaram a voltar dentro de algum tempo para pegar o documento de propriedade, que seria emitido pelo órgão competente do governo estadual em Florianópolis (antiga Desterro). O que poderiam fazer estava feito, restava esperar a volta do documento desejado. Aproveitaram para conhecer um pouco a cidade de Curitibanos, visitaram a igreja, caminharam pelas ruas e, na hora do almoço, sentaram-se à uma mesa em um estabelecimento que tinha na fachada uma placa informando: Refeições.

Pediram um almoço e esperaram ser servidos. Estranharam um pouco o tempero, pois estavam habituados ao de suas casas. Mas não passaram fome. Passaram a tarde percorrendo outros pontos da cidade, além de pequenas propriedades na vizinhança. À tardinha recolheram-se a estalagem onde se hospedavam. Jantaram e foram dormir. Pretendiam percorrer no dia seguinte o suficiente para no outro chegar em suas casas. Para isso era preciso levantar bem cedo e iniciar a viagem. Foi o que fizeram e no entardecer do segundo dia, chegaram em casa. Traziam alguns objetos encomendados pelos familiares e encontrados à venda na cidade. Nem tudo haviam encontrado, por isso seria necessário esperar nova oportunidade.

Durante a ausência o plantio e trabalho geral haviam continuado em ritmo normal. No pasto as os animais novos cresciam dia a dia, enquanto as matrizes gestavam os novos filhos, que nasceriam no início do próximo ano, bem antes do rigor do inverno. As novilhas nascidas no primeiro ano, já estavam entrando no cio. Para estas os touros ainda serviam, pois eram filhos das vacas que chegaram em gestação na vinda para a propriedade. Isso aumentava mais um pouco o plantel de matrizes. Em poucos anos teriam um número suficiente delas para manter um nível de produção condizente com o tamanho da propriedade.

Havia vários vizinhos das redondezas esperando por novilhas para implementar sua própria criação. Isso seria liberado quando o próprio plantel estivesse completo. Por ora apenas cediam uma, no máximo duas, para finalidades de produção de leite, mesmo não sendo animais com essa aptidão específica. Para o consumo doméstico era suficiente.

Tão logo terminaram o plantio e o trabalho mais urgente nos pastos, prepararam as toras para serem transportadas até a serraria. Não havia pressa, mas era importante aproveitar o tempo para fazer esse serviço. Só assim teriam o material de construção pronto na época em que queriam trabalhar na edificação. As mulheres se revezavam no trabalho doméstico, ajudando no que era possível o trabalho externo. Só mais tarde, com o avanço da gravidez ficariam mais resguardadas para proteger os filhos que traziam no ventre. Com as toras prontas, João tornou a procurar Fritz Keller para tratar da serragem e Carlos Albuquerque para o transporte. Combinaram tudo e em poucos dias começou o transporte das toras para a serraria. Uma bela pilha de madeiras se formou no pátio, antes do início da serragem. Quando as últimas toras iam ser carregadas, as madeiras das primeiras já estavam prontas e vieram para serem descarregadas.

Logo viriam as telhas e as demais madeiras. Enquanto isso os trabalhos na propriedade iam sendo desenvolvidos, havendo sempre alguma coisa a mais para fazer, além do que parecia possível. Não raro o cansaço do final do dia, deixava a impressão de que seria impossível aguentar o ritmo. Mas, uma noite boa de sono, revigorava o corpo, estimulava a alma para tornar a enfrentar novo dia de batalha. Dessa forma, o tempo passava e tudo se ajeitava aos poucos. Quando menos se esperava, tudo ficava pronto afinal, no tempo certo para atender as novas etapas que se sucediam a cada dia.

Em meados de 1899, nasceu a filha de Luz Serena, trazendo à mãe uma imensa alegria, assim como também ao pai. Isabel que ficara com o pai e madrasta, estava perfeitamente adaptada. Pensava mesmo em encontrar um rapaz que lhe arrebatasse o coração para formar sua família. Era uma preocupação nova para João Maria. Estava criando seus filhos pequenos e ao mesmo tempo logo se veria as voltas com os primeiros netos que a filha já quase adulta, lodo iria lhe providenciar. Por sorte a região era pobre em rapazes casadouros. Isso o fazia pensar que tal assunto ficaria para bem mais tarde. O que ele não lembrava eram os filhos do vizinho Francisco. Especialmente o caçula dos rapazes. Era bem possível que ele se encantasse com a beleza um pouco exótica de Isabel, mistura de sangue espanhol, português e índio. Resultara uma tez de um moreno especial, os olhos pouco menos que negros, cabelos lisos e longos, brilhando ao sol. Ainda desabrochava em sua adolescência, mas deixava prever a bela mulher em que se transformaria em breve.

Deixaria essa preocupação para o momento certo. De tempo em tempo ouviam-se rumores sobre a construção da estrada de ferro que iria passar não longe dali, na outra margem do rio. Havia rumores de que a empresa havia recebido em concessão uma ampla faixa de terras de cada lado do leito da estrada, para explorar a madeira, bem como colonizar como bem quisesse. Esse era um dos motivos que haviam levado João a tratar da legalização de seu pedaço de terras. Se tivesse em mãos o documento de propriedade, seria mais difícil ser desalojado. Teriam que indenizá-lo adequadamente ou encontrar terra em outro lugar para dar à empresa em troca da que lhe pertencia.

Uma nova primavera estava às portas, as construções planejadas haviam sido parcialmente executadas, faltando alguns detalhes para concluir. Mas no momento era preciso cuidar dos afazeres mais urgentes. Quando concluíssem o plantio haveria tempo para concluir as obras. Estavam terminando o alojamento, além dos móveis da casa de Pedro e Maria Rosa, quando esta entrou em trabalho de parto, dando à luz, dessa vez um menino robusto e saudável. Mais uma ocasião para uma visita do monge que sabiam andava nas redondezas. Se o encontrassem pediriam para lhes fazer uma visita e assim batizar as crianças. O batismo com o padre poderia ficar para mais tarde. Não tardou para o esperado João Maria de Jesus aparecer. Os vizinhos se reuniram e o batismo foi realizado. Logo depois ele se retirou, recomendando a todos muita oração, penitência e cuidado com a natureza.

Nesse dia foi o momento de ocorrer o encontro entre a filha de João Maria e o filho de Francisco. Ela estava em vias de completar 15 anos e o rapaz tinha 21 nessa época. Ao ver a menina-moça, sentiu o coração palpitar e não conseguiu desviar os olhos. Ela sentiu que era observada intensamente e ficou levemente encabulada, mas sustentou o olhar. Quando ele chegou perto e a cumprimentou, ela devolveu o cumprimento. Em poucos minutos estavam conversando com relativa animação. Quando a família se retirou, eles se separaram como bons amigos. Mas em cada coração nascera um germe que se transformaria no decorrer do tempo em planta vigorosa, vindo a florescer em forma de árvore frondosa. Ainda não sabiam, mas estava nascendo uma paixão que os uniria inapelavelmente.

Décio Adams

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