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Na senda dos Monges! – Cap. III – Unindo as famílias.

  1. Unindo as famílias.

 

A visita do monge não tinha dia da semana para acontecer. Era o caso de aproveitar o momento de sua aparição, nada de escolher dia ou hora. Ele não aceitava imposições nem horários. Fazia sua própria hora e o dia era o “hoje”, não importando em que dia da semana se estava. Desse modo o batismo ocorreu em plena quinta-feira. Algumas semanas depois o padre residente em Curitibanos fez uma visita na região. Fora transferido recentemente para a paróquia e estava empenhado em congregar o rebanho da igreja. Era franciscano, ordem que recentemente assumira o trabalho de evangelização da região.

O padre era consciente da presença de benzedores, curandeiros, o monge João Maria e outros nos seus domínios. Sabia de antemão da dificuldade que iria enfrentar. O povo havia criado seu catolicismo, misturando os ritos oficiais da igreja com uma série de procedimentos nada ortodoxos. Decidira fazer seu trabalho por etapas. Se atacasse o problema de frente, numa investida direta, seria rechaçado sem dúvida. A igreja matriz tinha pouca frequência de fiéis, salvo nos dias de festas, batizados dos filhos de gente importante, casamentos ou mortes. Eram esses os momentos de grande afluência do povo, lotando todos os lugares habitualmente vazios no templo. Estava sinceramente preocupado e diariamente passava longo tempo em oração diante do sacrário, pedindo a Nosso Senhor luz para guiar seus passos.

Empenharia toda sua energia na reconquista do rebanho, mas com calma e persistência. Sabia de colegas em outras paróquias que atacaram o afastamento e certa frieza do povo como uma carga de cavalaria. Haviam caído do cavalo, como se costuma dizer. O povo ignorara solenemente seus esforços e continuava a praticar “sua santa religião”. O duplo batismo, feito primeiro na família, por um membro mais destacado, ou alguém da comunidade com algum conhecimento no assunto. Só depois, quando o padre aparecia, faziam o batizado oficial, registrando os filhos como membros da igreja. Não raro havia dois e mesmo três deles para batizar ao mesmo tempo, devido a um longo período de ausência de padre na região onde moravam.

Ao chegar na região, achou que a propriedade dos irmãos Batista era a mais apropriada para reunir os moradores das redondezas. A seu pedido, foram enviados dois peões para avisar a todos os vizinhos que sabiam existir por perto, inclusive da outra margem do Rio do Peixe. Marcaram a manhã do dia seguinte para a celebração da eucaristia, os batizados e mesmo algum casamento que estivesse faltando realizar. Era comum nestes tempos os casais conviverem por alguns anos e só realizar o casamento na ocasião de algum padre aparecer na redondeza. Era esse o dia de “legalizar” todas as situações pendentes.

A hora marcada era 9h. Quando eram 8h 30 minutos já havia um bom número de homens, mulheres e crianças no pátio. Alguns jamais haviam se visitado e aproveitaram o momento para se apresentar mutuamente. Em todas as famílias havia mais de uma criança por batizar.  Vários casamentos estavam pendentes. Inclusive o de Pedro e Maria Rosa. João Maria e Luz Serena haviam sido casados pelo padre em Passo Fundo, quando da visita aos pais. As crianças corriam e brincavam no amplo pátio enquanto suas mães conversavam em grupos, sem, no entanto, desgrudar os olhos dos pequenos. O padre arrumou uma cadeira com uma cortina improvisada no canto da varanda, sentando-se ali para ouvir confissões de quem quisesse pôr em dia a vida perante a igreja. Havia quem sequer primeira comunhão houvesse feito e não sabia do que se tratava. Não havendo mais candidatos à confissão, o padre começou os preparativos para realizar a missa. Uma mesa foi colocada na varanda, coberta com uma toalha, não branca, mas limpa. Maria Rosa correra a colher algumas flores para colocar como enfeite do altar improvisado.

A celebração começou, com o padre dispensando a presença de coroinhas, uma vez que ninguém saberia o que fazer nessa função. Deixou tudo em posição fácil de ser alcançado e iniciou a celebração. Os mais devotos, rezavam terços, ladainhas decoradas ou simplesmente repetiam o Pai Nosso e Ave Maria inúmeras vezes. A maioria se mantinha em respeitoso silêncio enquanto o padre, de costas para o povo, recitava as orações em latim. Vez ou outra se voltava e dizia:

– Dominus vobiscum!

– Et cum spirutu tuo! – Acrescentava no lugar dos coroinhas.

Os meninos olhavam espantados para aquela cerimônia, aparentemente sem sentido, pois ninguém entendia patavina do que o padre dizia. Por que ele não falava em português? Que raio de língua era essa que falava durante a missa?

Os mais instruídos sabiam que se tratava do Latim, língua oficial da Igreja, usada em todas as orações litúrgicas. Só no momento das leituras das epístolas e do evangelho, lidos primeiro em Latim, só depois, voltado para o povo, foi que o sacerdote se dignou a dizer umas palavras em português. Leu um trecho de uma carta de São Paulo e alguns versículos de evangelho de São Marcos. Terminadas as leituras, apoiou o pesado livro de missa sobre a mesa, preparando-se para falar ao povo.

Fez uma rápida explanação sobre os textos lidos e depois pôs-se a discorrer sobre a importância da vida cristã, com todas suas implicações. Não atacou em momento algum os pequenos desvios que sabia existirem na vivência dos presentes em relação a ortodoxia dos ritos religiosos. O seu objetivo era cativar o povo, conquistar-lhe a alma e só depois realizar o trabalho de conversão. Esperava ter tempo suficiente para tal tarefa, pois eram frequentemente transferidos de paróquia. Se conseguisse trazer para si o povo, poderia legar ao sucessor a tarefa de catequese e gradual conversão. Não estendeu demais sua prédica. Logo perguntou aos presentes sobre as crianças a batizar, bem como casamentos a realizar. Pediu que os candidatos ao batismo ficassem à sua direita e os que queriam casar a esquerda.

Havia oito crianças de idades diferentes a batizar e três casais para regularizar a situação conjugal perante a igreja. Nesse momento João Maria foi de ajuda importante. Como sabia escrever, foi encarregado de anotar os nomes, as datas de nascimento e demais informações, tanto dos noivos, como das crianças por batizar. Havia quem não tivesse escolhido os padrinhos e isso foi feito na hora, ocorrendo uma troca entre os presentes. Esses sacramentos seriam realizados após o término da missa. Enquanto o padre continuava sua litania em Latim, João Maria conseguiu anotar todas as informações necessárias. Esperava não haver esquecido nada. Se faltasse alguma coisa, seria coisa de pouca monta.

Terminada a missa, o padre se dispôs a realizar os casamentos. Nesse meio tempo, antes mesmo do término da missa, o filho de Francisco, que não desgrudava o olhar de Isabel, chegou-se para perto dela. Depois de alguma hesitação, vendo o rubor cobrir o rosto da jovem como se fosse um pêssego maduro, criou coragem e lhe perguntou sem rodeios:

– Senhorita Isabel, você aceita casar comigo?

– Casar? Mas nós não nos conhecemos direito. Isso vai dar certo?

– Aproveitamos a presença do padre e esperamos até fazermos uma casa e depois vamos viver juntos.

– Mas eu preciso perguntar ao meu pai. E você já falou com seus pais?

Ela fora tomada de surpresa, mas não podia negar que sentia uma imensa alegria em seu íntimo. Desde o dia da presença do monge, ela sonhava com o dia em que ouvisse dele essas palavras, mas imaginava que seriam ditas em um dia mais para frente. Era algo para o futuro. Sentiu-se um pouco hesitante e depois de pensar por alguns segundos, respondeu:

– Se meu pai autorizar, eu caso com você. Mas ao menos me diga seu nome, pois nem sei isso ainda.

– Alfredo Schröder, é meu nome. Sou de origem alemã, como já deve ter notado pelo meu jeito de falar.

– Isso não tem importância. Apenas espero que seja um bom marido e isso será suficiente.

– Vamos falar com seu pai, antes que seja tarde.

Foram juntos até onde estava João Maria, falando com o padre, dando-lhe todas as informações que anotara. Isabel falou:

– Papai, o Alfredo quer falar com o senhor!

– O que foi? Não pode esperar para depois?

– Seu João Maria! Se eu esperar para depois vai ser tarde. Tem que ser agora.

O padre ficou com a curiosidade aguçada e prestou atenção no diálogo.

– Mas o que está acontecendo que não pode esperar para depois?

– Eu quero pedir sua permissão para casar com sua filha. Quero aproveitar a presença do padre.

João Maria ficou estupefato. Sabia que um dia isso iria acontecer, mas não imaginava jamais que fosse ser assim de repente, sem nenhum aviso. Sua menina, sua criança, estava sendo pedida em casamento, sem a menor cerimônia. Nem haviam namorado e já queriam se casar. Perguntou, olhando para a filha:

– E você minha filha, o que me diz disso?

– Ele me pegou de surpresa também, mas não acho uma má ideia.

– Isso quer dizer que se eu autorizar, você quer casar com esse alemãozinho?

– Não importa de que raça ele é. Importa se é um homem honesto e trabalhador, não acha pai?

– Isso é verdade.

Nesse momento os pais de Alfredo estavam chegando perto. Haviam visto o filho caçula falando com João Maria e decidiram ir verificar o que acontecia. Nem eles sabiam de nada. Quando chegavam perto, ouviram as últimas palavras e olharam interrogativamente para o filho. Este logo falou:

– Pai, mãe! Eu vou me casar com a filha do vizinho, a senhorita Isabel.

Mais dois rostos de olhos arregalados, diante da surpresa. Não haviam jamais ouvido o filho falar em casamento e agora essa notícia. O mais velho estava noivo e o segundo tinha iniciado o namoro com uma moça da redondeza. Agora o caçula vinha com essa novidade. João Maria e os pais de Alfredo se olharam, mudos sem saber o que dizer.

– Pai, vamos terminar logo com isso que o padre está esperando para começar a cerimônia.

– Se vocês dois estão dispostos a casar, o que posso dizer? Sejam felizes e me deem muitos netos. Não é isso seu Francisco.

– Para mim isso é surpresa, mas o padre está aí, é só aproveitar então, já que querem se casar.

Sem demora deram ao padre as informações dos jovens que iriam contrair matrimônio. Logo a novidade se espalho por todo grupo reunido. Os irmãos e depois os vizinhos vieram cumprimentar. Na mesma hora foram eleitos os padrinhos e madrinhas. Não tardou e as sucessivas cerimonias de casamento foram realizadas. Depois foi o momento dos batizados, entre eles até um menino de oito anos. Uma bela colheita fizera o padre. Saiu dali satisfeito, com o fato de ter regularizado várias uniões conjugais, tirado do paganismo diversos inocentes e também casado um casal de jovens. Vira como isso se passara e era evidente que a decisão ocorrera ali mesmo, naquela manhã. Rezaria especialmente pela felicidade do jovem casal.

Terminadas as cerimônias, alguns que moravam mais longe iniciaram o retorno para suas casas. Outros vieram congratular-se com João Maria, Luz Serena, além de seu Francisco e esposa, antes de cumprimentarem os jovens, agora casados. Queriam saber onde seria a festa, mas não havia como preparar nada naquele momento. João Maria prometeu que haveria uma pequena festa, mas seria em um dia marcado, quando seria possível organizar tudo. Fora pego de surpresa, bem como os pais do genro. Até mesmo a noiva ficara sabendo de tudo naquela manhã, durante a missa. Todos admiravam a coragem e disposição do jovem. Sentira um impulso e seguira seus sentimentos sem hesitar.

O tio Pedro e Maria Rosa que serviram de padrinhos de Isabel, estavam até agora boquiabertos. Haviam visto na outra ocasião o jovem olhar insistentemente para Isabel, mas nem podiam imaginar um enlace tão repentino. Esperavam um pedido de namoro, algum tempo para o noivado e depois casamento. Lembraram do próprio casamento, que fora mais ou menos no mesmo estilo. Pedro chegara, escolhera e fizera o pedido. Ela aceitara e haviam se casado, sem arrependimento até o dia de hoje. Fizera uma ótima escolha. Esperava que a sobrinha tivesse a mesma sorte. Alfredo tinha aparência de bom moço, apesar da juventude evidente.

Quando todos se retiraram, estando somente o padre que ficaria para almoçar, antes de seguir alguns quilômetros rio acima, ao encontro de outro grupo de moradores, era hora da conversa sobre a situação dos jovens. Francisco, esposa e João Maria sentaram-se na varanda e se puseram a tratar da vida dos dois jovens. Onde iriam morar, do que iriam viver. No final, João Maria sugeriu:

– Na parte dos fundos da nossa propriedade, existe um belo pedaço de chão. Bom pinheiral, pastos naturais abundantes, o faxinal é bom para fazer roça. Há erva mate em abundância. Podemos fazer ali a propriedade deles. Vai bastar demarcar e chamar o agrimensor para fazer o mapa e depois registrar.

– Bem, eu havia reservado um pedaço para cada filho, mas se pudermos requerer a propriedade dessa área, sobra um pouco mais para cada um dos outros. Resta saber se o Alfredo concorda.

– Vem aqui, meu genro! – Falou João Maria.

– Pode falar, seu João Maria. Estou às ordens.

– Eu sugeri ao seu pai que deveríamos demarcar um pedaço de chão que tem bastante pinheiros, erva mate e erva nativa. Fazemos a demarcação e chamamos o agrimensor para legalizar. Você o que acha?

– Para mim está ótimo. Vontade de trabalhar não me falta. Tendo a terra, eu me viro. A Isabel vai me ajudar no que puder, pois ainda é muito nova.

– Mas não sou de vidro. Pode contar comigo para o que for preciso.

– Então acho que estamos combinados. A primeira providência é providenciar uma casinha para vocês. Aqui temos uma sobra de madeira e telhas. Com mais um pouco, pode-se construir uma casinha pequena, que assim por enquanto é suficiente. Depois, aos poucos melhoramos.

– Por enquanto a Isabel fica aqui, com vocês. Estamos casados, mas vamos viver juntos quando tivermos nossa casa. Isso eu prometi a ela.

– Não há problema. Admiro a tua disposição. Está demonstrando que não quer apenas dormir com minha filha. Está preocupado em formar família, construir um lar. Fico contente com isso.

– Pode ter certeza, seu João Maria. Eu amo sua filha, mesmo que não tenhamos tido tempo de nos conhecer muito. Foi amor à primeira vista.

Tudo decidido, combinaram ir na sexta-feira fazer a demarcação da terra e logo mandar buscar o agrimensor para tratar da legalização. Talvez já pudessem retirar os comprovantes das próprias áreas, requeridas há algum tempo. A família Schröder levantou-se e seguiram para casa. Os pais iam sorridentes, vendo o filho caçula casado, mas tomando decisões inteligentes e sábias. Quisera cuidar da questão de regularização da situação primeiro, para depois pensar na convivência conjugal, quando tivessem um telhado para abriga-los. Sentiam-se orgulhosos, pois ele escolhera uma jovem de rara beleza. Seus traços apresentavam a mistura de raças que compunham sua genética. Isso a transformava em uma joia rara, difícil de encontrar em muitos quilômetros ao redor.

Chegaram em casa e Alfredo foi objeto de chacotas dos irmãos e da irmã. Ele, que sempre ficara quieto, nunca falara em ter interesse em alguma mulher, pegara a todos de surpresa. Aprontara uma daquelas. Ele, por sua vez, estava radiante. Nem em seus sonhos mais loucos esperara que Isabel fosse concordar. Naquela manhã, quando a vira, sentira que se ela não fosse sua, não iria querer nenhuma outra. Fizera a tentativa e tivera sorte. Eram agora marido e mulher, perante a Igreja. Ninguém poder- ia dizer que haviam vivido ajuntados. Aproveitava para provocar os irmãos nesse aspecto. Queria ver eles casarem com tudo certo, antes de deitarem com as moças que escolhessem para casar.

– Você foi bem esperto. Aproveitou que o padre estava aqui e logo fechou o laço. Isso é jogo sujo.

– Por que jogo sujo? Eu corri o risco de receber um não, mas arrisquei. Dei sorte.

– Mas agora vamos tratar de cuidar da terra do Alfredo. Amanhã, vamos em três, junto com o seu João Maria, demarcar a terra. Depois precisamos abrir um pedaço de roça, construir uma casinha para eles irem morar.

– Não era para separar um pedaço da nossa terra para cada um, pai?

– A ideia era essa, mas seu João Maria sugeriu que a gente demarque um pedaço na parte dos fundos da fazenda deles. Andei por lá e é um lingo pedaço de chão. Terra boa e muito pinheiro, além de erva mate.

– Vai sobrar mais para cada um de nós, – falou o irmão mais velho.

– Isso é verdade, mas temos que pensar na irmã de vocês. Ela pode precisar de terra, pois não sabemos com quem irá se casar.

– Está certo pai. Pensou bem e pode contar com a gente.

Terminaram o serviço da tarde e depois foi hora de jantar. O dia seguinte seria de atividade, pois Francisco, Alfredo e um dos irmãos iriam trabalhar na demarcação da terra. Caberia aos outros dois cuidar de todos os afazeres acumulados, pois a quinta feira fora perdida, quase totalmente.

Na manhã da sexta-feira chegaram cedo à casa de João Maria. Este já estava terminando de tomar seu mate, antes de tomar café. Convidou o genro e os acompanhantes para tomarem café, mas eles já haviam feito o desjejum antes de sair de casa. Isabel cumprimentou o marido, dando-lhe um beijo no rosto, ao que ele correspondeu igualmente. Os corações disparavam quando estavam perto um do outro. Eram jovens e os hormônios estavam em plena ebulição, mas sabiam manter o controle. Teriam a vida inteira pela frente para viver seu amor.

Tão logo terminaram o café, saíram para o campo. Tinham que cavalgar um bom trecho até o ponto em que estava localizada a divisa da área demarcada por João e Pedro. Observaram bem e concluíram que deveriam começar pelo canto sul da propriedade. Dali seguiriam em linha reta, até onde fosse terra boa e depois virariam em ângulo reto para norte. Pelo que se podia descortinar do lugar em que estavam, era previsível a existência de um belo pedaço de terra. Este pertenceria ao jovem casal, onde levariam vantagem, pois provavelmente seria de área bem maior que a terra da família Schröder dividida em partes iguais.

Não havia problema. Se no futuro ainda existisse terra para demarcar, poderiam requerer mais um pedaço, no nome de um dos outros filhos de Francisco. Pensando bem, até dava vontade de requerer logo uma porção a mais para destinar a um dos outros filhos que logo estaria pensando em casar. Ainda mais agora que o caçula dera a partida.

Começaram o trabalho e abriram uma picada, alinhando-a com a divisa bem visível na área dos Batista. Estacas foram cortadas e colocadas a cada 50 m, medidos com uma corda, especialmente destinada para esse fim. Tinham que compensar os desníveis existentes, o que era feito um pouco à olho. Ficaria por conta do agrimensor depois a determinação das medidas exatas. Avançaram por cerca de um quilômetro, virando em ângulo reto. Uma picada feita para o outro lado serviu de referência para abertura da nora etapa. Logo estava na hora do almoço e haviam trazido pão, carne defumada, bananas e farofa de pinhão. Sentaram-se à beira de um córrego de água cristalina de onde beberam água para matar a sede.

Depois de mais um quilômetro, tornaram a virar à direita. Após o meio da tarde, chegaram à linha da divisa. Estava demarcado exatamente um quilômetro quadrado. Seria uma bela propriedade. Francisco observou a terra que ficara em frente. Ali mesmo tomou a decisão de demarcar nos próximos dias uma área para o outro filho. Se esperasse muito tempo, alguém chegaria primeiro e perderia a chance. Aproveitaria para tratar disso nos próximos dias. O filho que estava junto concordou e ficou satisfeito com a perspectiva de ser proprietário de uma bela área ali ao lado do irmão.

Retornaram ao local onde estavam os cavalos, justamente perto da área destinada às mangueiras e local de manejo do gado. Um peão foi junto com os rapazes pegar os animais que pastavam nas proximidades. Em poucos minutos tinham selado os quatro. Se despediram dos peões e voltaram para casa. No meio do caminho separaram-se indo João Maria para a própria casa. Encontrou a filha a espera. Queria saber se tudo correra bem. Foi informada de que seriam proprietários de uma bela fazenda. Haveria espaço para criar bastante gado, bem como produzir erva mate, plantar milho, feijão e mandioca. Ela agradeceu ao pai pela providência. Teriam o futuro com uma razoável garantia de prosperidade, se tudo corresse como esperado.

Naquela noite sentaram-se juntos João Maria e Pedro, para planejar uma casinha para os filhos. Fizeram o orçamento da madeira, das telhas e demais coisas necessárias. No sábado verificariam o que havia disponível e o que faltaria providenciar. Francisco havia dito que dispunha de alguma sobra que poderia ser usada para completar a construção. Se faltasse pouca coisa, poderiam até comprar em lugar de mandar serrar. Dessa forma poderiam começar logo a construção. Bastaria limpar um lugar, de preferência onde não existissem madeiras grossas para derrubar. Perto da água para facilitar o abastecimento. Veriam isso na semana seguinte. Haveria tempo suficiente para fazer isso, pois os dois haviam casado e não demonstravam pressa em ter uma casa.

A madeira que dispunham em casa dava para fazer praticamente tudo que tinham planejado. Umas poucas tábuas e peças de madeira grossa bastariam para completar a construção. Pedro, na tarde de sábado, iria até a casa de Francisco verificar se ali havia o que faltava de madeira. Aproveitariam para combinar a limpeza do local para construir a casa. Levariam o casal para participar da escolha do local. Quando anoitecia, Pedro estava voltando e trazia o resultado de sua empreitada. As madeiras disponíveis eram suficientes para construir com folga o que pretendiam. Até sobraria um pouco para uma varanda, não prevista inicialmente.

Na segunda feira a família Schröder iria demarcar mais um pedaço de terra e os demais ajudariam na limpeza do local da construção. Em poucas semanas teriam a casa pronta e o casal poderia finalmente iniciar sua vida de casados. O tio Pedro faria os móveis, mas isso iria demorar um pouco mais, pois era trabalho demorado. Além disso tinha outras ocupações a ser atendidas na fazenda. Não poderia dedicar o tempo integralmente à confecção dos móveis. Para os dois, pouco importaria. Se fosse preciso dormirem no chão nas primeiras semanas, não haveria problema.

Na segunda-feira o trabalho foi intenso e se estendeu até a terça-feira até concluírem a limpeza do local. Ao anoitecer estava pronto o espaço para construção. Agora poderiam transportar o material ao local e depois iniciar a construção. Com as carroças de ambas as famílias, esse transporte se realizou em pouco tempo. Algumas semanas depois havia uma nova casa, onde antes havia apenas vegetação do tipo faxinal, intermediária entre os campos de pastagem e os pinheirais. Isabel foi até o local ao encontro do marido Alfredo. Ao olhar a pequena casa, sentiu-se uma princesa, prestes a tomar posse de seu castelo. Era o que parecia a casinha de madeira, em meio a muita vegetação existente ao redor. Ali perto havia uma vertente, onde era possível canalizar água para usar na lavagem de roupa, bem como no uso doméstico em geral.

 

Décio Adams

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