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Fantástico mundo novo! – Volume II – Capítulo VIII – Grupo viaja ao espaço.

  1. Grupo viaja ao espaço.

 

 

Durante dois anos e meio Mink se encarregou de transmitir, ao grupo selecionado, os ensinamentos recebidos de Arki. Ao constatar que haviam atingido um nível aceitável de firmeza na fé, domínio nos assuntos espirituais, fraternidade na convivência, comunicou esses dados ao anjo, no próximo encontro. Ao encontrar-se com o amigo, depois da apresentação inicial, falou:

– O grupo está em condições de prosseguir. Tudo que eu podia lhes transmitir, creio que está feito. É possível planejar a próxima etapa. Pensei que poderíamos fazer uma espécie de teste, apenas não sei como fazer isso.

– Estivemos acompanhando o comportamento de cada um deles. Não sei se havia falado, mas há um contingente de seres considerados intermediários. Não são visíveis, mas são permanentes no planeta, até o dia em que for alcançado o estágio de Luz e Vida. Eles prestam serviços importantes para nós.

– Então é assim que ficam sabendo de tudo? Quer dizer que estão a par do estado do grupo. E o que podemos fazer? Ou ainda é preciso mais tempo de instrução?

– Eles estão ótimos. Vamos preparar a vinda de um grupo de ajudantes para conviver com eles por um tempo. Dentro de uma semana, irão aparecer cinco dos nossos ajudantes, assumindo a forma humana temporariamente e irão conviver com o grupo. Irão se apresentar inicialmente como viajantes, mas irão trazer mensagens complementares. Eles irão procurar você. Fica a seu cargo leva-los ao grupo. Vão ficar quatro semanas e acompanharão o grupo na viagem ao planeta Orient. Depois irão embora.

– Depois disso os dez farão a seleção dos novos grupos?

– Exatamente. Vamos começar a terceira etapa do programa.

– Convém eu avisar ao grupo da chegada desses instrutores ou é melhor ficar quieto até eles chegarem?

– Diga-lhes que se preparem para acontecimentos extraordinários, mas não fala o que irá acontecer. Os “instrutores” como você os chamou, terão uma identificação que permitirá serem reconhecidos pelo grupo.

– E qual é essa identificação? Posso saber ou também terei que esperar?

– Alguma vez ouviu falar no Sacerdote Melquisedec de Salem?

– Vagamente. Fala-se muita coisa, mas muita contradição é passada para frente.

– Ele usava uma vestimenta com três círculos concêntricos no peito. É o símbolo da Trindade do Paraíso. Eles virão com esse mesmo símbolo. Irão se apresentar como estudantes vindos de longe. Mas deixe que os membros do grupo tentem adivinhar o significado do símbolo.

– Se todos usarem o mesmo símbolo, ficará fácil perceber que são membros de alguma ordem ou religião. Eles vão perguntar com certeza o que significam esses círculos. Vão ter que adivinhar ou vai ser explicado a eles?

– Vamos deixar a cargo dos cinco decidir a maneira de dar essa informação. Se o grupo descobrir por dedução, melhor. O provável é que receberão indicações indiretas sobre o assunto para ver se descobrem o significado.

– Acho que vai ser divertido acompanhar essa fase. O povo vai ficar curioso também sobre a origem desses personagens.

– Eles saberão explicar sua função, sem revelar o que não podem dizer. Não se preocupe com isso.

– Fico mais sossegado assim. Pensei que seria eu o encarregado de fazer esse trabalho. Eles todos me conhecem bem demais.

– Você fica apenas observando e dando apoio aos “instrutores”. Se for preciso você entra em cena.

– Voltando ao caso do sacerdote Melquisedec, ele foi portador de uma etapa da revelação?

– A fé na Trindade estava correndo o risco de ser perdida completamente. Um dos doze administradores temporários de Urantia, Maquiventa Melquisedec, viveu 98 anos num corpo de carne, reforçando a mensagem que foi trazida antes pelo Príncipe Planetário, depois por Adão e Eva. Os erros cometidos por eles, causaram a desordem religiosa, levando os homens a retroceder para as práticas de eras passadas.

– Faz muito tempo que ele esteve na Terra?

– Menos de mil anos. Ainda existem grupos de seguidores, embora tenham se desviado um pouco dos ensinamentos originais que ele deixou.

– Isso significa que a humanidade, se não receber um “empurrão” de vez em quando, retrocede para a ignorância?

– A verdadeira religião só será atingida depois de sucessivas revelações, somadas à evolução. Haverá de chegar o dia em que todos falarão a mesma língua, seguirão a mesma religião, viverão como irmãos e haverá apenas um governo geral no mundo todo.

– Acho que isso vai demorar muito ainda.

– Vai demorar sim. Mas não pode esquecer que para a eternidade, um milênio é um nada. A pressa é inimiga da perfeição. O próprio Soberano do Sistema, Lúcifer, se rebelou por causa de sua impaciência. Queria imediatamente o que lhe seria de direito no momento oportuno.

– Por isso que você insiste tanto na paciência. Os jovens geralmente são mais impacientes que os mais velhos. A experiência leva a desenvolver as virtudes. Faz sentido.

– Nunca esqueça. Paciência, confiança e fé, são as bases de tudo, no caminho para o Paraíso.

– Já aprendi bastante nesses anos. Minha infância ficou para trás e estou chegando aos 18 anos. No ritmo que vamos, iremos para Orient quando estiver perto dos 30 anos de idade.

– Seria conveniente que estivesse casado na época da transferência. Apenas precisa ser cuidadoso na escolha da mulher para dividir a vida com você.

– Há uma jovem que conheço. Penso que ela gosta de mim, pois sempre fica encabulada quando estou por perto. Suas faces ficam ruborizadas. Ela é de uma família vinda da região da Mesopotâmia. Vou ver se converso com ela. Sondar o que pensa a respeito de mim. Depois vou precisar ensinar tudo que sei a ela.

– Para isso há bastante tempo. Ela precisará, acima de tudo, confiar em você e isso a fará aceitar a fé. O amor faz milagres.

– Sempre ouvi dizer isso. Vamos ver se é verdade essa afirmação.

– Se for verdadeiro, o amor sempre é capaz de realizar coisas maravilhosas. Se não for, torna-se um problema em muitos casos.

– Mais um motivo para tomar cuidado.

– E não esqueça do que falei. Avisa ao grupo que irão receber visitas extraordinárias e estão perto de nova etapa. Nos veremos daqui a um mês, na ocasião da viagem do grupo e os “instrutores”.

– Vou meditar muito para saber como dar essas informações. Tentarei entrar em sintonia com a “fagulha” e saber como dizer as coisas.

– Ela irá lhe ajudar, pode ter certeza.

Um flash luminoso percorreu o céu e desapareceu na estrela. Mink ficou sozinho. Passou algum tempo parado, pensando na nova fase prestes a começar. Lembrou rapidamente os oito anos que havia transcorrido desde a primeira vez que vira Arki. Mesmo tendo passado muito tempo, era capaz de lembrar praticamente todas as palavras do amigo. Pensou em registrar em pergaminhos os ensinamentos que recebera. Nunca tivera essa ideia e agora teve um momento de arrependimento pelo descuido. Desceu do penhasco e caminho para casa. A mãe, acostumada com suas frequentes excursões noturnas e sempre voltando tarde, deixara de esperar por ele. Apenas deixava a porta em condições de ser aberta para que pudesse entrar. Deitou e tentou meditar um momento. Lembrou do imenso amor e misericórdia do Pai Universal. De seu poder ilimitado, da imensidão dos universos, da multidão de seres celestiais que o serviam, desempenhando as tarefas administrativas de tudo.

Adormeceu sem demora e acordou cedo, apesar de dormir tarde. Ficou conversando com os pais, reparando que os dois estavam visivelmente envelhecidos. Durante os últimos anos pouca atenção prestara à aparência física de seus genitores. Os cabelos estavam ficando grisalhos, a pele do rosto e das mãos ficava enrugada, mostrando que o tempo estava em ação. Por quanto tempo mais eles estariam ali para conviver com ele. Por enquanto não haviam apresentado qualquer sinal de doenças que pudessem sugerir uma morte prematura, mas subitamente lhe ocorreu que isso não deixava de ser uma possibilidade. A morte raramente manda aviso previamente. Ela vem sorrateiramente e ceifa a vida das pessoas, sem lhes dar chance de discutir. Esse sentimento lhe causou um estremecimento, que não passou despercebido da mãe Muhn.

– Que há com você, filho? Está doente?

– Não mãe. Estou muito bem. Apenas me ocorreu um pensamento bobo e senti um estremecimento.

– Posso perguntar que pensamento foi esse?

– Lembrei que um dia todos temos que morrer e isso me fez estremecer.

– Mas você está tão jovem. Eu estou bem mais velha e ainda não estou pensando em morrer tão logo. Nem seu pai, penso eu.

– Sei que isso é bobagem. Apenas me ocorreu esse pensamento.

– Você nem se casou ainda. Está na hora de pensar numa moça para se casar. Seus irmãos e irmãs estão todos com suas famílias. Falta só você.

– Está tão bom assim, mãe. Gosto de estar com vocês dois. Quero cuidar de vocês enquanto puder fazer isso.

– Há lugar suficiente para morar aqui com a mulher que escolher. Não vou me intrometer na vida de vocês.

– Nem eu, meu filho, – disse Sock.

– Vou pensar nisso. Serei cuidadoso na escolha, para não trazer aborrecimentos.

Depois do desjejum, ele falou aos pais que iria dar uma volta na praça.

– Aproveite para observar as moças. Quem sabe não encontra alguma que lhe agrade e possa vir a ser sua esposa.

Saiu com um sorriso nos lábios. A mãe adivinhara sua intenção. Sabia que a jovem que tinha em mente, bem provavelmente estaria nas cercanias da praça. Se fosse possível estabeleceria uma conversação. Nada sério para começar, apenas iniciar um conhecimento. Na praça encontrou alguns integrantes dos amigos e logo estava envolvido com assuntos sérios. Deu-lhes a entender que coisas grandiosas estavam por acontecer. Depois pediu que deixassem os detalhes para outro momento. Tinha outro interesse no momento. Vira a jovem passeando nas proximidades em companhia de sua irmã e uma amiga. Buscou em sua mente uma ideia para pôr em prática no caso. Nunca praticara e decidiu deixar tudo por conta da inspiração momentânea.

Caminhou até as proximidades e se deteve a observar uma flor, recém desabrochada. Era extremamente bela e perfumada. Ao lhe aspirar o aroma, aproximando o rosto, ouviu um risinho às suas costas. Virou-se e flagrou as três jovens em atitude de surpresa. Haviam ficado surpresas com o fato do rapaz cheirar a flor e parecer encantado com ela. Agora que se viam descobertas, estavam sem palavras. Ele delicadamente falou:

– Já viram essa flor e seu perfume? Simplesmente maravilhoso.

Vieram para perto e se deliciaram também com o odor, além de admirar a beleza das cores de suas pétalas. Depois de alguns segundos, a jovem que interessava a Mink, falou:

– Realmente é inebriante.

– Vejo que aprecia flores, tal como eu. Na casa dos meus pais há um belíssimo jardim, com muitas flores.

– E lá há dessa espécie de flores?

– Não lembro. Creio que não. Mas vou procurar encontrar uma muda ou sementes dela.

A irmã e a amiga retrocederam um passo, deixando os dois a conversar. Sabiam que ela, que se chamava Edite, estava interessada no jovem. Queriam dar-lhe a oportunidade de estabelecer o contato. Depois de mais algumas palavras, despediram-se amavelmente. Ele declinara seu nome e ela também dissera o seu. O gelo estava quebrado. Poderiam se cumprimentar quando se encontrassem pelas ruas, dentro de um clima de respeito e dignidade. A jovem se reuniu com as companheiras e seguiu para sua casa, depois de lançar um olhar demorado na direção de Mink. Ele esboçou um sorriso e ela enrubesceu visivelmente. Ambos caminharam, virando-se a intervalos para ver um ao outro. Antes de virarem na próxima esquina, houve tempo para um último olhar. Depois ficaram ocultos aos olhos um do outro.

No caminho de casa, Mink encontrou novamente os amigos do grupo e lhe perguntaram sobre o sorriso que trazia em seu rosto. Parecia transfigurado. Tentou disfarçar, mas logo alguém lembrou que ele deveria ter visto uma mulher bonita e sentido o coração pular de alegria. Ele falou:

– Como foi que você adivinhou?

– Isso acontece com todos. Quando o coração acelera, ficamos com cara de bobos e rimos à toa.

– Bem, acho que estou em idade de pensar nisso também. Não acham?

– Mas é claro. Nós passamos por isso e sabemos como é.

– Desejo a vocês um bom almoço. Nos veremos a tarde no teatro.

Haveria, no teatro recentemente inaugurado, a representação de uma peça longamente ensaiada por um grupo de atores. Haviam combinado fazer-se presentes à primeira representação. Caminhou rapidamente para casa, encontrando suas irmãs com as famílias reunidas para a refeição do meio dia. Saudou a todos alegremente e Muhn não deixou de notar a diferença na expressão do filho. Alguma coisa acontecera no curto intervalo de tempo que ficara fora de casa. Deixaria para perguntar-lhe em outro momento, ou esperaria que ele mesmo lhe contasse. Seu coração de mulher e mãe não a enganava. Tinha certeza de que algum belo par de olhos, um rosto bonito e suave, haviam deixado no rosto do caçula aquela expressão beatífica. Disse-lhe:

– Venha comer, filho. Estávamos esperando você.

– Vou me lavar e já venho.

Foi lavar o rosto e as mãos. Em poucos instantes estava pronto para sentar-se junto aos demais para a refeição. Comeram alegremente. Mink fazia pilhérias com os cunhados e também com os sobrinhos, ainda crianças. Pensou em como seriam os filhos que um dia teria, com a mulher escolhida. Uma sombra passou pelo seu rosto, apenas um instante. Logo estava novamente risonho e alegre.

Tomaram uma caneca de chá, servida por Muhn. As crianças corriam por todos os cantos da casa ampla dos avós. Song e Xing, ficavam atentas as traquinagens dos pequenos. Não desejavam que seus filhos danificassem nada na casa dos pais. Muhn pouco ligava. Não fazia questão de luxos supérfluos. Não tivera tais coisas quando os filhos eram pequenos. Nem tinha importância se esses enfeites dispensáveis deixassem de existir. Ficava exultante vendo os netos dispondo do amplo espaço. Logo depois eles saíram para o patio, onde havia mais lugar e menos coisas a danificar. Havia sim as flores, mas estas a natureza se encarregava de fazer crescer novamente se algum galho lhes fosse quebrado. Por volta do meio da tarde, Mink despediu-se da família, dizendo que iria assistir à representação teatral.

Caminhou apressadamente, levando no coração a esperança de encontrar Edith no caminho. Não se encontrou. Quando se aproximou das amplas portas de acesso, viu-a de longe, junto à família, no momento de entrar no teatro. Trazia na mão seu comprovante de ter pago o custo da entrada. Os atores precisavam ser remunerados, já que dedicavam a vida a atividade de representar e com isso trazer entretenimento ao povo. Nada mais justo do que os assistentes arcarem com esse ônus. Tentando ver onde a jovem iria se acomodar, não percebeu os integrantes do grupo que estavam logo atrás dele. Haviam percebido o destino de seus olhares e cochichavam entre eles sobre a beleza da jovem.

Conseguiu colocar-se em posição de ver Edith e logo percebeu os amigos próximos dele. Disfarçou, tentando fazer com que seus sentimentos passassem despercebidos, mas não adiantou. Bem antes eles haviam surpreendido seus olhares. A representação começou e atraiu a atenção de todos. Tratava-se de uma peça dramática, levando os presentes às lágrimas. O diretor do grupo soubera ensaiar todas as cenas de modo primoroso. Os atores pareciam viver na realidade o que representavam. O tempo transcorreu e os aplausos foram calorosos quando a encenação terminou. Custaram a decidir-se por sair e retornar às suas casas. No meio do tumulto, o olhar de Mink encontrou o de Edith e ambos sentiram o coração aquecer-se no peito. Ele se esforçou por ficar um pouco para trás, na tentativa de chegar mais perto, até o momento de sair pela porta. Os amigos estavam logo à sua frente e também aguardavam o desenrolar dos fatos.

No momento de pôr o pé do lado de fora a jovem estava a dois passos dele, precedendo sua família. Um pouco de empurra, empurra, próprio dessas situações, colocou-os lado a lado e ele lhe sorriu discretamente. Dessa forma caminharam por alguns metros juntos. Ele lhe indagou:

– O que achou da representação?

– Eu gostei demais. Cheguei a verter lágrimas, de tão real que foram as cenas.

– Os atores são bons e foram bem treinados pelo mestre de teatro.

– É verdade. Merecem nossos respeitos e aplausos.

– Pelo visto hoje, ficarão por um bom tempo representando essa peça antes que o povo todo tenha assistido.

– Ninguém deveria deixar de assistir.

– Realmente, vale a pena ver. Até hoje eu havia visto apenas pequenas pantominas de curta duração. É a primeira peça de envergadura que assisto.

– Creio que aqui deve haver pouca gente que tenha assistido a algo assim antes. Talvez ninguém mesmo. Pode ser um ou outro que tenha visto antes de vir morar aqui.

Nesse momento o pai de Edith notou que ela conversava com um jovem e não o identificou de imediato. Aproximou-se e perguntou:

– Quem é o jovem com que você conversa tão animadamente, minha filha?

– Ele é irmão do administrador da cidade, meu pai. Ele se chama Mink e é mestre de línguas na escola pública, além de outras atividades.

– Tão jovem e já com tantas aptidões! Deve ser dotado de uma inteligência extraordinária.

– Comecei meu aprendizado bem jovem, meu senhor. Sua filha é encantadora, se me permite.

– Obrigado. Nos acompanha no caminho de casa?

Era o convite esperado. E foram caminhando lado a lado o homem maduro e o jovem, pretendente à mão da sua filha. Logo atrás iam a mãe e as filhas, conversando em voz baixa e prestando atenção ao que diziam os homens em sua palestra. A moradia da família era bem conhecida de Mink e ficava nas proximidades da praça, não longe da casa de seus pais.

– Então o senhor é irmão de Sumok, o nosso administrador. Um homem de excelente tino administrativo. Está fazendo um trabalho admirável ao continuar o que Komboo havia começado e dando novas orientações a vários projetos.

– Fico satisfeito em que aprecie o trabalho de meu irmão. Ele começou bem criança a trabalhar duro no porto, junto com nosso pai. Depois foi legislador e presidente da junta legislativa. Seu desempenho o qualificou para o novo cargo.

– Ele deu um magnífico exemplo de integridade nos últimos dias, ao recusar um estipêndio mais elevado, como queriam estabelecer os legisladores. Ele parece que adivinhou haver outros interesses por trás dessa proposta.

– E que interesses eram esses, senhor? Eu sempre estou ocupado com minhas lições de leitura e escrita, além de atividades afins. Não fico sabendo tudo o que acontece.

– Os ocupantes dos cargos de comando dos setores em geral, não podem receber remuneração acima do valor percebido pelo cargo mais alto. Queriam na verdade ter o direito de elevar seus próprios rendimentos, uma vez que o administrador principal estivesse com sua remuneração reajustada.

– A ganância das pessoas é algo maléfico. Iriam gastar boa parte do que é arrecadado em benefício próprio. Há tantas coisas a serem feitas e eles pensam apenas em sua própria bolsa.

– E depois iriam sugerir elevar os tributos para compensar o aumento das despesas. Eis que estamos chegando. Aceita tomar uma caneca de chá com nossa família?

– Eu não seria capaz de recusar convite tão gentil.

A um sinal de Abud, era esse o nome do homem, as mulheres se dirigiram para o interior e os dois foram para a entrada principal. Logo na entrada havia vários móveis de fino acabamento, servindo apenas para enfeitar. Foram sentar-se em confortáveis poltronas, feitas de plumas de ganso, apoiadas sobre bases de madeira. Em alguns minutos entraram as filhas Edith e Ruth, seguidas da mãe. Traziam os utensílios com o chá, além de canecas onde a bebida fumegante foi vertida. Havia mel silvestre, trazido de longe, para adoçar o chá.

Depois de sorver o chá em pequenos goles, este aos poucos esfriava, permitindo que fosse tomado em porções um pouco mais generosas. Estava muito bom. Enquanto servia o chá de Mink, Edith trocou olhares cúmplices com ele. Ficou evidente que a jovem estava vivamente impressionada com ele, da mesma forma que ele se encantara com sua voz e boas maneiras. Foi servida uma bandeja contendo biscoitos de trigo e aveia, com manteiga, além de frutas secas para acompanhar. Depois de comer moderadamente, Mink fez menção de levantar-se para sair e foi instado a esperar pelo ceiar. Buscou em sua memória uma desculpa válida para escapar, mas não a encontrou. Acabou aceitando mais esse convite. Abud e a esposa Leila tinham as duas filhas. A natureza lhes negara um filho homem, mas estavam contentes com o que tinham. Haviam prosperado, principalmente depois de mudar-se para Kibong.

Na hora da ceia, coincidiu que Mink e Edith sentaram-se frente a frente. Saltava aos olhos o enlevo da jovem com a presença daquele por quem há muito seu coração pulsava mais forte. Uma flor na praça os aproximara com a beleza de suas pétalas e o perfume que exalava. Agora estavam sentados um em frente ao outro, mal disfarçando seu acanhamento diante dos demais familiares. Ruth sabia do que ocorria e aproveitou o momento em que a mãe foi até a cozinha buscar um tempero que esquecera para lhe segredar o que sabia. Voltaram ambas com um sorriso cúmplice nos lábios, levando Abud a indagar:

– O que minha rainha e princesa estão sorrindo? Viram alguma coisa engraçada na cozinha?

– Não papai. Nós lembramos de uma cena no teatro que os fez rir.

– A peça foi ótima e não senti vontade alguma de rir. Em muitos momentos precisei segurar as lágrimas para não ficar mal diante dos outros.

– Ora, papai! Nós encontramos do que rir. Talvez estivesse distraído no momento em que a cena engraçada aconteceu.

– Filha, não tente me engambelar. Isso não passa de conversa mole. Diga, minha rainha, de que riam vocês duas?

Leila não viu saída. Nunca mentira ao marido e não seria agora que iria começar. Ele não merecia isso. Era um companheiro maravilhoso, pai extremado e trabalhador. Não deixava lhes faltar nada. Nem os menores desejos ficavam sem realizar. Com o rubor subindo-lhe à face disse:

– Meu querido marido! Nota-se que vocês homens não tem mesmo a sensibilidade das mulheres para perceber algumas coisas.

– E o que eu não percebi?

– Olhe para sua frente. Vê aí duas pessoas jovens, no pleno gozo de seu vigor, que mal conseguem disfarçar o que sentem um pelo outro. Sua filha está enamorada e tenho certeza de que o jovem sento o mesmo por ela. Basta olhar com atenção.

Abud lançou um olhar severo para Mink e depois mirou detidamente a filha, antes de falar:

– Isso é verdade, minha filha?

– Eu ainda não sei ao certo, papai. Nós conversamos hoje na praça, ao olhar uma flor e fiquei encantada com ele. Depois nos encontramos na saída do teatro e o senhor viu que conversávamos.

– Então foi isso que fez você quase arrumar um torcicolo de tanto olhar para a esquerda durante a peça. Acho que perdeu boa parte da representação.

Edith corou violentamente e baixou a cabeça. Do outro lado da mesa Mink estava perplexo. A coisa toda saíra de seu controle, sem ao menos lhe dar uma chance para tentar reagir. Tentou falar alguma coisa, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Abud aproveitou o embaraço dele para dizer sorridente:

– Meu jovem! Eu também já tive sua idade e passei por situações semelhantes. Isso várias vezes, até encontrar minha rainha, Laila. Não precisa ficar assim encabulado. Não posso dizer que conheço sua família a fundo, mas o que sei é suficiente para confiar na sua pessoa.

– Obrigado, senhor Abud. Já que o assunto não é mais segredo, aproveito para pedir a mão de sua filha, se ela não estiver comprometida.

– Acho que, se estivesse comprometida, diante da situação eu seria obrigado a fazer um arranjo para romper o compromisso. Mas graças aos deuses ela é livre e sem impedimento. Minha rainha, traga um odre de vinho, lá da adega para comemorarmos essa ocasião.

Leila e Ruth levantaram-se e foram em busca do que Abud pedira. Pouco depois voltaram trazendo um odre, com sinais de ser bastante velho. Isso significava que o conteúdo tinha envelhecido em seu interior e ele teria um sabor todo especial. Recebendo o recipiente, Abud abriu o e sentiu o aroma do líquido em seu interior. Inspirou profundamente e depois soltou o ar devagar. Seu rosto se iluminou e disse:

– Esse vinho ainda é dos que trouxemos ao virmos morar aqui. Tem alguns anos de idade e está em excelente estado. Vamos brindar.

Todos haviam recebido um cálice especial para o momento. O dono da casa verteu uma porção generosa no cálice de Mink e no próprio. Para as mulheres foi mais comedido e falou:

– As mulheres precisam moderar no consumo de vinho. Nós homens podemos nos permitir abusar um pouco.

Pegou o próprio cálice, ergueu-o, intimando todos a fazer o mesmo, dizendo:

– À saúde e felicidade desses dois jovens que estão iniciando a vida a dois. Em alguns meses ou um ano talvez, estaremos celebrando seu casamento. Que vivam vida longa e abençoada.

Todos tocaram os cálices dos demais e depois beberam um gole do delicioso vinho. Era de uma qualidade como Mink jamais experimentara. O seu provável sogro era apreciador de boa bebida e comida. Sabia viver bem, trabalhando para isso com afinco. Não era sovina e partilhava com os amigos e vizinhos.

– Minha filhinha! Você amanheceu uma menina hoje e agora está noiva. Seja muito feliz em sua vida com o futuro marido. Espero que tenha a mesma sorte que eu tive ao me unir ao seu pai. E você meu jovem, faça de minha filha uma mulher feliz. É só o que peço.

– De minha parte prometo me esforçar ao máximo para que nunca se arrependa de me aceitar, Edith. Prometo isso diante de seu pai, sua mãe e irmão.

Levantou-se e pegando delicadamente a mão da jovem depositou nela um beijo suave e quente. Sentiu que ela estremecia e ouviu-a balbuciar:

– Confia na sua promessa, Mink. Desde que o vi pela primeira vez sempre sonhei com o dia em que pedisse minha mão aos meus pais. Esse sonho hoje se realizou. Estou muito, mas muito feliz mesmo.

– Agora é hora de o noivo dar o primeiro beijo na noiva, – falou Ruth.

– Pode beijar sua noiva. Como pai dela dou minha permissão.

Ele saiu do lugar e foi até junto de Edith que se virou de frente para ele. Ele lhe depositou um beijo suave na testa e depois nos lábios. Os dois sentiram seus corpos estremecer de emoção. Os sentimentos se atropelavam em seu íntimo, deixando-os meio apalermados. Edith encostou o corpo no peito forte e másculo de Mink, ficando um longo momento a sentir seu coração bater forte. Ele acariciou suavemente seu cabelo. Depois afastou-se um pouco, segurou-lhe o rosto com as duas mãos e tornou a beijar seus lábios, dessa vez com mais intensidade. Antes que seus desejos mais ardorosos o levassem além de um limite seguro, afastou-se e a contemplou longamente, sorrindo de modo sereno. Estava em estado de graça. Naquele momento sentiu a “fagulha” lhe mostrando que estava no caminho certo. Fizera uma escolha primorosa e tinha certeza disso. Ela seria a mãe de uma geração de homens e mulheres fortes, cheios de fé no Pai Universal.

Naquele momento sentiu que, embora ela ainda não soubesse nada do destino que a aguardava, seria sua companheira pelo resto de seus dias. Lhe traria filhos e desses viriam os netos, talvez mesmo bisnetos se alcançasse idade suficiente para tal. Depois de esvaziar o odre de vinho, estavam todos, homens e mulheres, bastante embriagados. Não que a bebida fosse muito forte. O problema era a quantidade ingerida fora significativa. Abud sentiu a tontura e falou:

– Mulher, eu estou bêbado! Pela primeira vez, depois de casado, eu estou bêbado. O pior que isso está acontecendo em minha casa, diante da mulher, das filhas e do noivo de uma delas.

– Não fique preocupado, senhor Abud. Todos estamos bêbados. É melhor nos sentarmos e esperar o porre passar um pouco.

– Eu vou preparar um chá que ajuda a curar bebedeira. Deixe que eu já volto.

– Ruth, vá com sua mãe. Cuide para ela não se queimar no fogo.

– Eu estou sóbria. Enquanto vocês bebiam, eu apenas fazia de conta que tomava e mal molhava os lábios – disse a senhora.

– Eu bem sei como é esse teu molhar de lábios, – falou Abud.

Após isso deu uma sonora gargalhada. Todos riram como costumamos rir em meio a uma leve embriaguez. Qualquer coisa é razão para um riso solto e alegre. Alguns minutos depois Leila voltou, acompanhada de Ruth, trazendo o bule com chá fumegante e mel para adoçar. Serviu as canecas e distribuiu a cada um. A de Abud era especial. Ele sempre usava a mesma caneca há anos. Chegava a estar desgastada de tanto usar.

Realmente o chá era um bom remédio para curar embriaguez. Logo depois de ingerir a bebida quente, os vapores do álcool começaram a evaporar de suas cabeças. Com mais um pouco, sentiam-se dispostos para, pelo menos no caso de Mink, caminhar até em casa para dormir. Ele levantou e deu alguns passos, sentindo as pernas mais firmes e aptas a carregar o seu peso até em casa. Agradeceu a hospitalidade da família, deu um leve beijo no rosto de Edith, fez uma mesura diante de Leila e Ruth, depois saiu e foi para casa. Ainda um pouco “leve” devido à bebida, caminhou lentamente até em casa. Lá chegando, encontrou a mãe a espera. Ela tivera um pressentimento e decidira falar com o filho antes de dormir. Como ultimamente ela não mais tinha o costume de esperar por ele de pé, ficou apreensivo, imaginando que alguma coisa estava errada.

– Aconteceu alguma coisa, mãe?

– Eu que pergunto a você o que aconteceu. Você não voltou do teatro junto com seus amigos. Eles passaram por aqui e disseram que você havia saído acompanhando uma jovem e o perderam de vista. Fiquei preocupada.

– Eu apenas estava fazendo o que a senhora mesma me sugeriu. Fui procurar uma jovem para ser minha esposa.

– E encontrou alguém? Pelo jeito sim. Ou então andou em um prostíbulo, pois seu rosto está deixando dúvidas. Parece que bebeu.

– Mamãe! A senhora acreditaria que eu fui a um prostíbulo? Estive até agora na casa do Senhor Apud e Senhora Leila, pais da jovem Edith. Precisa ver como ela é linda e educada. Uma verdadeira joia rara, mamãe.

– E vocês se conheceram hoje?

– Faz algum tempo que ela me olha sempre que pode e eu também não consigo deixar de olhar. Hoje, lá na praça, eu falei com ela. Depois nos encontramos na saída do teatro e o pai dela me convidou para acompanha-los. Quando chegamos me convidou para tomar chá e depois para jantar. Nós ficamos frente a frente. Nos sentimos encabulados e eu acho que a irmã dela falou para a mãe, que revelou tudo ao pai.

– E ele não lhe expulsou de casa?

– Não. Já havíamos nos conhecido na caminhada e depois durante o chá. Ele admira meu irmão Sumock. Fez lhe muitos elogios. Isso tornou tudo mais fácil.

– Se estou entendendo direito, você conheceu a moça hoje e agora está noivo. Estou certa?

– Certíssima mãe. Logo eu trago ela para conhecer a senhora e o papai.

– Precisamos convidar a família para um almoço aqui em casa. Durante a semana conversamos com seu pai. Convidamos seus irmãos e irmãs. Assim já conhecem a família toda.

– Vamos devagar, mãe. Não há por que ter pressa agora. Eu sei que ela me ama e eu também a amo. Somos as chamadas “almas gêmeas”.

– Que os deuses abençoem o amor de vocês dois. Principalmente me dando muitos netos.

– Disso cuidaremos no devido tempo. Agora vamos fazer os preparativos, sem muita pressa. Aprendi que ter pressa não é bom em nada na vida.

– Você sabe que pode contar comigo e com seu pai. Não temos mais preocupações, além de você. Seus irmãos e irmãs estão bem, têm seu trabalho, suas casas e vivem bem. Falta só você para concluirmos nossa missão.

– Vocês ainda têm muito a viver, principalmente se alegrar com os netos.

– Depois de cumprir nossa missão, tudo que vier é lucro. No dia que a morte nos buscar, estaremos prontos.

– A senhora não existe, minha mãe. Quem dera todas as mães fossem como a senhora.

– Mas que barulheira é essa, a uma hora dessas? – Falou Sock aparecendo na porta.

– Acordamos seu pai, filho. Agora vamos contar a ele a novidade.

– E que novidade é essa que vocês têm para me contar? Por que não estão dormindo ainda?

– O Mink demorou a chegar e eu esperei por ele. Imagine o que ele esteve fazendo?

– Se fosse algum filho de qualquer um, eu diria que esteve deitado com uma prostituta. Mas sendo o meu filho, sei que não foi isso. Vamos, contem logo e vamos dormir.

– O nosso caçula conheceu uma moça hoje e já ficou noivo. É filha de gente boa, marido.

– Quem é a felizarda?

– Ela se chama Edith e é filha de seu Apud e dona Leila, os donos do comércio de tecidos lá do centro. Moram aqui perto.

– Acho que conheço ele. Só não sabia que moram aqui perto.

– Dá pouco mais de duas quadras daqui. Na esquina da praça.

– E como você conseguiu entrar para uma família rica como eles?

– Nós nos conhecemos na praça, depois nos encontramos na saída do teatro e conversamos. O pai me convidou e eu aceitei ir a casa deles. Ele admira meu irmão Sumock. Fez muitos elogios a ele e isso me ajudou.

– Muita sorte tem você, meu filho. Mas deixa o resto para me contar amanhã, pois estou com sono e quero dormir.

– Boa noite, pai. Vamos dormir sim. Amanhã conversamos.

– Durma bem filho, – disse Muhn.

Foram dormir e Sock ficou acordado por algum tempo, pensando no filho. Não fazia muito tempo e ele ainda era criança, sempre deixado de lado na hora do trabalho mais pesado. Agora estava lhe anunciando que ficara noivo de uma jovem rica. A vida estava lhe pregando uma peça. Mesmo assim, logo dormiu um sono agitado.

No primeiro dia da semana Mink foi procurado, primeiro por um homem, vestido em uma túnica em tom azul, tendo no peito três círculos brilhantes. Imediatamente ele identificou quem era. O homem se apresentou como Sun. Não foram feitas perguntas e os dois ficaram conversando nos momentos de folga de Mink. Pouco depois mais um, em trajes semelhantes, apenas com a túnica em um tom diferente de azul. Disse chamar-se Somar e logo estavam conversando entre si. A mesma cena se repetiu por mais três vezes. Ao final da tarde estavam junto com Mink os cinco instrutores prometidos por Arki. Os membros do grupo haviam sido avisados e se reuniram em casa de um deles. Foi para lá que Mink levou os cinco.

A primeira coisa percebida por todos foi a presença do símbolo que todos traziam no peito. Imediatamente souberam tratar-se de seres especiais. Eram os acontecimentos extraordinários anunciados pelo líder. Ficaram várias horas conversando e os instrutores, Sun, Somar, Samir, Samuk e Sensik. Sun assumiu naturalmente a liderança do grupo, como se isso fosse algo previamente estabelecido. Para começar, reforçaram as palavras ouvidas de Mink em inúmeras oportunidades. Fixavam-se nos pontos essenciais, insistindo, cada um por sua vez, em um ponto fundamental. Pareciam dotados de um poder de convencimento especial que tornavam suas palavras como que providas de uma seta que penetrava no fundo da mente de cada um.

Na verdade, eram as fagulhas nas mentes deles que agiam, encarregando-se de fazer ressoar com mais intensidade as palavras dos instrutores. As quatro semanas passaram rapidamente e chegou o dia de fazerem a grande viagem. Tal informação lhes foi transmitida na véspera. Ficaram entusiasmados, mas um pouco apreensivos. Como fariam essa viagem? Sentiriam o vento batendo em seus rostos durante o deslocamento? Veriam as estrelas passando igual riscos luminosos, uma vez que a velocidade deveria ser algo espantoso. Sun lhes disse:

– Vamos viajar num transportador interplanetário. Ele não alcançará a velocidade máxima que pode desenvolver, pois vocês não suportariam. Vocês vão ficar levemente atordoados por conta de um efeito narcótico que lhes faremos sentir. Mas não se preocupem. Não perderão a capacidade de ver e raciocinar claramente.

– Precisamos vestir alguma roupa especial, diferente?

– Podem usar roupas normais. Vamos nos reunir na beira da praia. Ali o transportador irá aterrar e embarcaremos. Não estranhem as luzes fortes. Isso é parte do processo.

– E se alguém aparecer no lugar no momento do embarque?

– Daremos um jeito de evitar que isso aconteça.

Sanadas as dúvidas, todos foram dormir cedo. O outro dia seria de trabalho e queriam estar prontos para a grande viagem. O dia transcorreu sem contratempos. A novidade que ocorreu é que surgiu, vindo não se sabe de onde, um grupo de artistas ambulantes. Instalou-se numa parte da praça e fazia apresentações diversas. Isso atraiu a atenção de boa parte da população, no começo da noite. Dessa forma o grupo pode dirigir-se à praia sem problemas. Mink estava sempre junto, apenas assistindo. Quando todos estavam reunidos, os cinco estenderam as mãos aos outros e formaram um círculo. Fez-se silêncio absoluto. Em poucos segundos ouviu-se um zumbido intenso, acompanhado de um forte foco de luz azul. Um gigantesco objeto luminoso pousou na praia suavemente.

Imediatamente uma espécie de plataforma desceu do lado e nela apareceu Arki, nosso velho conhecido. Ele falou:

– Bem-vindos a bordo!

Os cinco instrutores deram o exemplo, caminhando na direção da plataforma. Os demais seguiram-no e logo estavam no interior, difusamente iluminado e sentiram um leve perfume floral. Uma leve sonolência tomou conta de todos. Arki ajudou os instrutores a supervisionar a acomodação de todos os membros. Quando todos estavam bem, eles também se colocaram em posições estratégicas para serem vistos claramente. Iriam explicar o que seria visto, especialmente no planeta Orient, destino do grupo no futuro. Seria diante do planeta desabitado que saberiam ser esse seu lar em alguns anos. Ali criariam seus filhos e dariam origem a uma nova humanidade, semelhante àquela que por ignorância, havia causado a própria extinção. O progresso científico não fora acompanhado por uma contrapartida religiosa, capaz de trazer o equilíbrio suficiente para evitar o desastre.

Quando tudo estava pronto, Arki falou alto:

– Podemos partir.

A plataforma se fechou e as luzes se apagaram por um pequeno intervalo de tempo. Todos sentiram o efeito da aceleração gigantesca do grande transporte interplanetário. Pouco depois a luz voltou ao normal e apenas um zumbido suave era ouvido. Sun, líder dos instrutores, ia falando por onde estavam passando. Os sistemas planetários, sóis e cometas passavam em vertiginosa sequência. Depois de algum tempo, que ninguém saberia avaliar corretamente, inverteu-se o processo de aceleração. A velocidade diminuiu até atingir um nível mais baixo. Novamente Sun fez-se ouvir:

– Olhem para esse planeta.

Estavam voando a baixa altura sobre uma floresta, depois passaram por rios, lagos, um oceano com um arquipélago, um vulcão em atividade, algumas áreas desérticas, outras de vegetação mais pobre, prados verdes e exuberantes, onde animais semelhantes aos que conheciam na Terra, pastavam. Peixes eram visíveis nas águas transparentes de lagos límpidos. Apenas não havia seres humanos. Esse fato chamou a atenção do grupo e eles se entreolharam apreensivos. O que estaria acontecendo nesse planeta? Em tudo era semelhante à Terra e por que motivo não havia vida inteligente? Nenhuma casa era visível. Viram uma grande família de símios na floresta, mamíferos nas pradarias, répteis nos lagos e áreas alagadas. Foi Arki que falou dessa vez:

– Sei que vocês estão se perguntando por que não há gente nesse planeta. Num passado não tão distante, pouco mais de mil e quinhentos anos, havia aqui uma civilização bem avançada, especialmente nas ciências físicas, químicas e biológicas. Sabiam construir armas poderosas, meios de transporte eficientes, mas a religião não tinha evoluído de modo suficiente. Num ímpeto de loucura, os governantes usaram armas de destruição em massa e provocaram a extinção de toda humanidade do planeta. Hoje ele está em condições de ser novamente habitado.

Fez um intervalo, esperando que suas palavras produzissem o efeito esperado. Olhares espantados cruzaram o interior do transportador e foi Sun que falou agora:

– Vocês estão sendo preparados para serem os líderes de um grande contingente de humanos da Terra que será transportado para cá. Aqui ficarão para repovoar o planeta, recriar uma humanidade nesse lugar que já foi um exemplo de progresso e desenvolvimento. Faltou pouco para ultrapassarem o ponto crítico que os levaria a um nível diferente, de onde iriam alcançar facilmente o estágio de Luz e Vida. Infelizmente isso ficou inviável e precisamos recomeçar de um ponto não tão no começo.

O transportador pousou em um local desprovido de plantas e perto de um rio. As luzes foram desligadas e a rampa se abriu. Arki convidou:

– Venham conhecer o futuro lar de vocês.

Lentamente todos caminharam para fora e viram que havia um sol iluminando tudo. Poderiam perfeitamente estar em um ponto diferente da superfície terrestre, desconhecido de todos. O que lhes mostrou ser um lugar diferente, foi um resto de uma base de lançamento de foguetes que existia nas proximidades. Dali haviam sido lançadas muitas bombas de alto poder destruidor que contribuíram com o desastre. Ao ver os restos das instalações, perceberam que nada na Terra se parecia com aquilo. Partes de metal retorcido, peças bastante intactas de veículos de lançamento e diversos objetos estranhos.

Beberam água de uma fonte que existia nas proximidades. Experimentaram frutas que existiam e que lhes foram indicadas como próprias para consumo. Surgiram inúmeras perguntas, mas nem todas tinham resposta no momento. Arki concluiu a visita dizendo:

– Estamos projetando um alojamento para receber entre 10 e 15 mil pessoas no momento inicial. Depois irão se espalhar por diversos lugares, cultivar, domesticar animais e criar. Irão desenvolver uma nova civilização. Desejamos que o grupo a vir para cá esteja bem preparado para a missão. Vocês vieram apenas para uma breve visita. No dia em que vierem para ficar, será diferente.

– Lembrem-se que eu sempre falei para confiar, ter fé. Essa é a razão disso. – Falou Mink.

– Você havia vindo para cá antes? – Indagou um do grupo.

– Apenas pelo ar. Não descemos aqui no chão.

– Agora eu entendi as coisas extraordinárias que você falou, Mink. E que coisas extraordinárias! Quem poderia imaginar algo assim?

– Essa é a verdade. Agora sabem o que os espera e o que esperamos de vocês. Ninguém é obrigado a aceitar. Podem desistir e nós procuraremos outros para substituir.

– E o que aconteceria com quem desistisse?

– Nada demais. Apenas seriam apagados de sua mente todas essas coisas e ele voltaria à vida normal.

– Eu estou pronto. Se quiserem, fico aqui a partir de agora. – Falou uma das moças.

– Vocês devem escolher agora dez membros para fazer o que Mink fez com vocês. Serão cem novos. Esses irão depois escolher outros mil e por fim eles escolherão dez mil. No total esperamos ter mais de onze mil pessoas para trazer para cá.

– Vai esvaziar Kibong.

– Até lá haverá muita gente nova na cidade. Não irão nem perceber a diferença.

Subiram no transportador e iniciaram o retorno sem demora.

Décio Adams

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