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Incursão ao futuro.

Pesquisa histórica no futuro.

Nos últimos dias me peguei pensando, procurando imaginar a vida de um pesquisador, daqui a um século, pouco mais ou menos, revirando os arquivos escritos, virtuais, ou sejam os meios então disponíveis, no afã de escrever sua Tese de Doutorado em história. Na sequência imaginei que ele tenha escolhido o período da história nacional, envolvendo as duas primeiras décadas do século XXI.

Isso imediatamente me levou a recordar as peripécias descritas nas teses de vários doutorandos, de diferentes universidades, mas todos escolheram como tema algum enfoque sobre o evento denominado Guerra do Contestado. Quase todos eles, principalmente nas décadas finais do século XX e começo do XXI, optaram por investigar do ponto de vista dos derrotados no conflito, o que tornou bem mais difícil a pesquisa. Todos os registros existentes narravam a visão dos vencedores, onde os derrotados são sempre denominados caboclos, fanáticos e outras denominações carregadas de sentido pejorativo. Em suas teses eles descrevem as dificuldades que enfrentaram para obter as informações que lhes permitiram elaborar os trabalhos. Não bastasse a pouca disponibilidade de documentos escritos, registros fotográficos, ainda havia (e são cada vez mais raros) a escassez de testemunhas visuais. Os adultos da época estavam há muito no pó ou cinzas. As crianças, reproduziam o que haviam ouvido contar dos pais, tios, vizinhos ou outros conhecidos. Raros foram os depoimentos colhidos de pessoas que viveram algum episódio da guerra. Mesmo estes se limitavam a falar o mínimo possível, sempre temendo alguma forma de represália, mesmo depois de décadas.

Essas dificuldades certamente não existirão, pelo menos não na mesma proporção, para o possível pesquisador do futuro. Terá sim, dificuldade em separar o que é digno de fazer parte e o que não, de suas pesquisas, uma vez que existe um limite para o conteúdo de uma tese de doutorado. A multiplicidade de fontes de pesquisas, leva a um problema que permite a ocorrência de dubiedade sobre o valor da tese. Haverá documentos contraditórios, alguns com fundamentação mal feita sobre as bases legais atuais; outros radicais em um sentido ou em outro. Uma análise detalhada irá revelar um quadro aterrador. De um lado um grande grupo de pessoas, de variadas camadas sociais, tendo na liderança alguns políticos oposicionistas, buscando remover do governo os integrantes de um partido, vencedor nas últimas quatro eleições gerais. De outro lado, os líderes do partido que está no poder, seus representantes e uma imensa massa de pessoas que foram beneficiadas por programas sociais nos últimos anos. Muitos tiveram acesso ao ensino superior graças as políticas de inclusão, quer sejam por questões raciais, quer por classe social na qual nasceram por mera questão do acaso.

Se esse pesquisador estiver vivendo em uma época mais avançada, onde a prática política seja de redução das desigualdades, igualdade de direitos para todos os cidadãos, independente de sua origem racial, credo religioso ou categoria de trabalho dos seus pais, ficará, com certeza abismado. Irá registrar em sua tese as disparidades que encontrará nos documentos consultados. Mas, uma coisa é certa. A opinião que irá formar sobre os dias de hoje e irá relatar em sua tese, se estenderá à população atual como um todo, não apenas aos líderes mais destacados. A estes caberá certamente o lugar de honra, mas a todos nós, sobrará nossa parcela.

Se nesse futuro incerto, o clima político/econômico e social for semelhante ao de hoje, quiçá um pouco mais complicado, talvez suas palavras sejam de censura aos defensores das conquistas sociais que hoje buscamos manter. Oro com fervor para que essa opção não se concretize. Mesmo correndo o risco de ser taxado postumamente de fraco, conivente ou coisa parecida, aos que querem eliminar os benefícios concedidos aos menos favorecidos da sorte, prefiro essa opção, pois sei que o país e talvez o mundo, tenham alcançado uma condição de vida mais igualitária, menos injusta e cruel para com os mais fracos, quando essa hipotética pesquisa estiver em curso.

O que me parece ser de especial dificuldade para o pesquisador do futuro, é distinguir, no imenso aglomerado de documentos que irá encontrar, o que é verdadeiro, o que merece crédito e o que não passa de lixo, escrito por quem não tinha nada melhor a fazer, ou simplesmente o fez por encomenda de quem tinha interesse em espalhar o máximo de notícias falsas, meias verdades, calúnias e até xingamentos sem fundamento. Não podemos esquecer que, na era das redes sociais, das comunicações instantâneas, tudo é registrado, tudo é armazenado, graças ao aumento gigantesco da capacidade de registro dos meios digitais. Consegue-se arquivar informações em quantidade inimaginável em um espaço tão pequeno que foge à nossa capacidade de percepção. Dessa forma, é possível que esse nosso pesquisador do futuro, se depare com comentários, textos os mais diversos, deixados em nossas andanças no mundo virtual. Imagens, fotografias, desenhos, enfim tudo que é possível criar e arquivar nos meios digitais. O que ele irá pensar de nossas palavras? Irá ver-nos com que olhos? Serão olhos de admiração pela qualidade ou firmeza de nossas palavras ou serão olhos reprovadores, diante da forma inadequada de expressão, as palavras de baixo nível que tivermos usado nos momentos de maior exaltação? Devemos imaginar que tudo que dizemos (digitamos) hoje, ficará registrado por longo período, talvez mesmo milênios ou para a eternidade.

Haverá certamente quem diga: Já estarei morto mesmo e não saberei o que será dito. Mas podemos observar hoje, como os feitos de pessoas na antiguidade, mesmo não dispondo de nada para registrar tudo como hoje, há os conhecidos como verdadeiros heróis, como pessoas que fizeram grandes ações nos dias longínquos da história. Assim como também há os vilões, com seus atos de maldade, suas injustiças e crueldades. Nós os lembramos e imaginamos suas feições, seus gestos e atitudes. Assim ficará fácil imaginar que as pessoas do futuro poderão não apenas imaginar nossas ações, gestos e posturas. Elas poderão ver nossa imagem, que fica registrada em muitas fotografias que publicamos nas redes sociais. Queremos ser associados com uma ideia de pessoa má, pervertida, cruel, violenta? Ou desejamos ser vistos como alguém que espalhou amor, distribuiu sorrisos, amou e foi amado pelas pessoas com quem nos relacionamos?

Se alguém pensa que no futuro, nossas ações de hoje deixarão de ser lembradas, pode esquecer. Se hoje há quem passe a vida escavando sítios arqueológicos em busca de objetos e restos das populações que ali viveram há muitos séculos, tentando reconstruir a história, juntando os fragmentos recolhidos nas escavações, fica fácil imaginar o que não farão com um farto estoque de imagens, textos, vídeos e toda sorte de arquivos que ficarão guardados. Cada dia da história, será recontado em detalhes. Não haverá tempo para um estudante absorver tudo isso em sua vida, mas não é necessário chegar a tanto. Bastará acessar um arquivo e, em instantes, terá diante dos olhos um  enorme volume de informações sobre tudo que desejar, relativa aos dias de hoje e de muito mais.

Os historiadores terão o imenso trabalho de compilar tudo isso,  colocar nas devidas perspectivas, legando esse imenso cabedal de informações às gerações que virão depois. Haverá, é certo, muita informação que parecerá supérflua, mas isso apenas representará o ponto de vista de um grupo, enquanto outros verão nas mesmas informações, algo de muita importância. Essa avaliação do valor de cada fragmento de informação, dependerá do indivíduo ou grupo de indivíduos que o acessar.

Para ser sincero, acho que não sentirei inveja alguma das perspectivas que esse pesquisador do futuro irá ter pela frente. Vivo hoje uma era, muito à frente do que havia quando nasci. Não havia nem telefone em minha infância, apenas um ou outro rádio, televisão nem pensar. Hoje, estou sentado diante de meu notebook, digitando comentários, mensagens ou textos que, em poucos segundos poderão ser vistos e lidos por pessoas nos quatro cantos do mundo. Tudo isso ocorreu no decorrer de minha vida, que hoje alcança os 67 anos. Posso aquilatar o que estará disponível daqui a um século ou algo parecido. Provavelmente estaremos tão avançados em tecnologia, que hoje nem podemos imaginar. Levaríamos um susto se nos fosse permitido fazer um rápido salto no tempo, passando algumas horas, ou mesmo minutos num dia qualquer daqui a um século. Acho bem bom que isso não seja possível, pois poderíamos perder o juízo.

Estou apenas fazendo especulações, tentando perscrutar o que poderá acontecer em nosso mundo, a continuar no ritmo que estamos caminhando nos dias atuais. Ou teremos esgotado nossas possibilidades de crescimento, desenvolvimento? Nosso planeta terá condições de sustentar tanto esforço? Poderemos continuar explorando os recursos e consumindo desenfreadamente, sem pensar no amanhã? Vale a pena fazer alguns exercícios de “futurologia”, pois corremos o sério risco de atingirmos rapidamente a condição de exaustão dos nossos recursos. Então será, talvez tarde demais para tentar retroceder, parar ou pisar no freio.

Curitiba, 11 de abril de 2016

Décio Adams

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