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O homem cheiroso

Um homem cheiroso.

 

O homem cheiroso!

 

No decorrer da década de 50, vivia na linha Abrantes, município de Santa Rosa, uma jovem de rara beleza. Filha de mãe descendente de alemães e pai de origem austríaca, Marlene Spies tinha dois admiradores em especial.

O primeiro era Fredolino Bamberg, filho do comerciante local que estudara no colégio interno em Santo Ângelo e ostentava, com muito orgulho, o título de contador. Recebera educação esmerada, usava perfumes caros e se vestia muito bem. Já o segundo era Roberto Schuster, filho de um casal de pequenos agricultores. Frequentara apenas a escola primária e trabalhava na roça, ajudando os pais. Era de seu habitual usar roupas simples, perfume nem sabia o que era e apenas cuidava bastante de sua higiene.

Tanto um quanto outro não desperdiçavam ocasião para fazer a corte à jovem donzela. Nos bailes ela concedia uma dança aos dois alternadamente. Recebeu propostas de namoro de ambos e não sabia por quem se decidir. Fredolino lhe agradava por sua fineza de modos, boa posição financeira e demonstrações de afeição sincera. Roberto por sua vez era simples, franco e aberto igual um livro que qualquer um poderia ler. Era divertido, tendo sempre alguma coisa engraçada pronta para dizer em qualquer situação. Ao seu lado não era possível ficar triste, pois ele não permitia. Era essa sua característica mais marcante. Mesmo enfrentando o trabalho pesado da roça, muitas vezes na terra alheia, procurando ganhar algum dinheiro para reforçar o orçamento familiar, nunca era visto sem um sorriso no rosto.

Um dia a mãe de Marlene lhe disse:

– Minha filha, você está há tempo brincando de gato e rato com esses dois rapazes. Acho que seria bom decidir-se de uma vez por um deles. Eles podem cansar-se do jogo e procurarem outra pessoa e se casar. Isso a deixaria em situação desvantajosa.

– Eu sei, mãe. Mas não consigo decidir. Se pudesse fundir os dois em um só, seria o ideal. Mas sei que isso não é possível.

– Pense bem e aceite namorar com um deles. Se depois descobrir que não é ele que quer, ainda será tempo de terminar e mudar a opção por algum outro.

– Eu tive uma ideia. Veja se concorda mãe. Convido os dois para jantar aqui em casa e faço eles conversarem, converso com eles e no final eu decido com quem vou namorar. Você me ajuda a preparar o jantar?

– Pode convidar eles para o outro domingo. Aproveita o baile desse final de semana e faz o convite.

No domingo à noite, durante o baile ao qual todos compareceram, ela aproveitou para fazer o convite. Os dois ficaram satisfeitos. Finalmente teriam uma posição definitiva para suas pretensões. Passaram a semana eufóricos, cada um contando suas vantagens. O mais entusiasmado era Fredolino. Cantava vitória por antecipação e já se considerava namorado definitivo da jovem. O domingo chegou. Mãe e filha passaram a tarde na preparação do jantar. A família de Marlene, sua irmã, os dois irmãos e o pai, foram avisados do que iria acontecer e receberam recomendação no sentido de não deixar os rapazes constrangidos.

Por volta das sete e meia da noite, chegou primeiro Fredolino, trazendo um lindo ramalhete de flores que fora comprar em Santa Rosa, onde conhecia uma senhora que cultivava flores em seu terreno e vendia em situações especiais. Pouco depois chegou foi a vez de Roberto, que veio trazendo um ramalhete, com flores colhidas no jardim de casa, onde frequentemente ajudava a mãe e irmã a cultivar diversas flores. O ramalhete era simples, mas muito bem arrumado, de modo que formou um efeito muito delicado. Sentaram-se por alguns minutos até o momento em que Marlene anunciou a todos:

– O jantar está servido. Vamos jantar.

Foram todos para a mesa e tomaram seus lugares. Tudo transcorreu sem grandes novidades, com todos ocupados em comer os excelentes pratos servidos. Terminado o jantar, Marlene convidou os dois a sentarem-se na saleta. A mãe e irmã se ocupavam de lavar a louça. Em dado momento, Roberto sentiu que suas chances iam pelo ralo. Percebera atemorizado um flato silencioso escapar-lhe, contra todos os cuidados que tomara. Marlene perguntou:

– Quem está com esse cheiro tão “bom”? (Ironizava a situação).

Fredolino sabendo que o oponente não usava perfume, apressou-se em responder:

– Sou eu, senhorita Marlene!

Como ela perguntara de quem viera o odor desagradável resultante do flato silencioso, nesse momento decidiu-se, falando:

– Pois pode pegar seu chapéu e retirar-se!

Sem entender nada, ele obedeceu, enquanto Roberto sentia um suor gelado escorrer por suas costas. Depois que Fredolino se retirou, Marlene lhe disse:

– É com você que vou namorar, Roberto. Espero que seja sempre o homem alegre e divertido que foi até hoje. Sei que vou me divertir muito ao seu lado. Venha, vamos dizer aos meus pais o resultado.

Dirigiram-se até o outro cômodo e ali encontraram os pais de Marlene. Ao verem a filha de mão dada com Roberto, souberam que ela se decidira pelo rapaz mais pobre, porém trabalhador, honesto e de alma simples. Não precisariam se preocupar com alguma falsidade proveniente da parte dele.

 

Curitiba, 19 de julho de 2015. (Republicado em 12 de outubro de 2017)

 

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