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A guerra do Paraguai.
A família Batista continuou crescendo, reunindo netos periodicamente aos primeiros que haviam nascido. Ao despontar a década de 60, Roque e Alice eram pais de mais quatro pequenos, sendo três meninos e duas meninas. Júlio e sua mulher tinham tido mais dois meninos e uma menina. Já Antônio e Isabelita haviam acrescentado mais dois meninos. Afonso e Zulmira eram avós de peito estufado. Aos domingos era habitual reunirem a maioria dos netos. Os meninos geralmente pediam ao avô para contar histórias do tempo da Guerra dos Farrapos. Ele se fazia de rogado, apenas para tornar os pedidos mais insistentes. Depois punha-se a narrar suas aventuras daquele período de quase 10 anos que passara nos campos de batalha.
Todos os anos na época da Páscoa em especial, Afonso fazia questão absoluta de levar a família, desde o mais novo ao mais velho, para participar, ao menos uma vez ou duas durante a Quaresma, de uma via sacra na encosta do Cerro do Campestre. As crianças ouviam atentamente a narração de sua estadia ali, nos primeiros tempos, quando João Maria ainda se encontrava na região. O afluxo de romeiros em busca de cura nas Águas Santas, arrefecera com a ausência do Monge, mas jamais deixou de existir. A primitiva organização da comunidade prescrita por João Maria ainda se mantinha. Os doze zeladores, a aplicação das oferendas seguia em termos gerais o preconizado pelo documento “Aos do Campestre”.
Os padres responsáveis pela paróquia de Santa Maria prestavam o atendimento da celebração dos sacramentos, com ao menos uma visita mensal. O povo da região fazia questão de contribuir na medida de suas possibilidades, para a conservação da ermida, capela e a trilha da via sacra remanescente da época do Monge Santo. O neto João Maria Ibarra Batista, aprendeu cedo ser o seu nome uma homenagem ao monge que ali estivera anos passados. Sentia-se assim especialmente como parte integrante das vivências religiosas praticadas. Ficava em todos os momentos de oração e realização dos rituais em respeitoso silêncio, prestando atenção a tudo que era dito e feito. Dessa forma criou em seu íntimo uma ligação especial com o seu padrinho espiritual.
Em 1862, Francisco Solano Lopez, sucedeu ao pai no governo do Estado independente do Paraguai. Vinham há longos anos, sob o comando de dois dirigentes, adotando um modo especial de conduzir os assuntos econômicos. Alcançaram excelente nível de desenvolvimento, baseando-se unicamente em seus recursos nacionais e trabalho dos habitantes. Por outro lado, os vizinhos, em especial Brasil, Argentina e Uruguai, estavam na esfera de influência econômica Inglesa. A “metrópole” britânica não tinha interesse na existência de um território livre de sua influência no continente sul americano. Como o Paraguai dependia dos cursos fluviais da bacia do Rio da Prata para comerciar com o resto do mundo, era facilmente constrangido a submeter-se às exigências dos vizinhos. Essas exigências eram em parte sugeridas pela coroa britânica.
Disso tudo resultou um clima de tensão crescente. Diversos episódios de apreensão de embarcações ocorreram de parte à parte. Não devemos esquecer que o Brasil usava a mesma via de navegação fluvial para alcançar o interior da Província de Mato Grosso, sendo assim obrigado a passar pelo território paraguaio, bem diante da capital Assunção. O que haviam vivido na década de 40 os moradores da Província de São Pedro do Rio Grande, com relação às pretensões de Juan Manuel Rosas e seu cunhado aliado Manuel Oribe, agora atingia igualmente ao Brasil, Argentina e Uruguai.
A influência britânica nas três nações circundantes, colocava o Paraguai, desalinhado e avesso à influência da “metrópole” em uma espécie de Xeque Mate. A uma ordem dos “patrões” ingleses, Solano Lopez estaria recluso em seu território, sem disponibilidade de acesso ao oceano. Por todos os lados estava rodeado de obstáculos intransponíveis, além da Cordilheira dos Andes para o lado do Pacífico.
No final de 1962, passou por Santa Maria, um dos inúmeros pesquisadores/viajantes europeus que percorriam os territórios do novo mundo, buscando informações diversas. Era um francês preocupado em identificar plantas e especialmente insetos desconhecidos na Europa. Começara sua peregrinação pelo Canadá, atravessara os EUA de lado a lado, saindo no México pouco antes de ser deflagrada a Guerra de Secessão Americana. Enquanto percorria o México, topara com um viajante italiano, vestido como membro de alguma congregação religiosa. Haviam trocado informações, contando mutuamente as peripécias vividas até aquele momento. Foi seguindo seu conselho que o italiano desistira de ingressar no território americano, visando assim fugir ao conflito entre nortistas e sulistas.
Depois de se separarem, o francês descera pela costa do Pacífico até a altura abaixo da capital chilena, onde conseguiu cruzar a Cordilheira e ingressar em território argentino. Em meados de 1862 entrara no Rio Grande pela cidade de São Borja, passando pela região das missões. Seria impensável semelhante viagem sem conhecer a famosa região dos aldeamentos indígenas, promovidos pelos jesuítas no século XVII e XVIII. Por último chegara a Santa Maria. Havia localizado sinais da passagem de João Maria de Agostini em vários pontos por onde passara. Bastava descrever o italiano, especialmente ao falar de seu problema na mão direita, para ser imediatamente identificado.
Tratava-se do mesmo eremita que encontrara em sua passagem pelo México. Fez questão de visitar o Cerro do Campestre assim como o Botucaraí. Em todos os lugares visitara os pontos associados ao pregador itinerante. A última visita fora no Cerro del Monje do outro lado do Rio Uruguai, não longe de São Borja. Era notável a semelhança das marcas deixadas em todos os lugares por onde o eremita havia passado. Habitação em grutas, uma sequência de cruzes formando a via sacra desde o sopé do morro até o topo. Tudo isso associado em geral a uma fonte de água que brotava das rochas em algum ponto do caminho. A população circundante, mesmo de pontos mais remotos, acreditava em poderes curativos das águas, na santidade do lugar que servira de abrigo ao monge.
Coincidiu que sua visita ao Campestre se deu quando por lá estava a família Batista em uma de suas habituais excursões às Águas Santas. Apesar de alguma dificuldade com a língua, conseguiram se entender e o viajante ficou imensamente satisfeito em colher o depoimento de uma testemunha dos eventos ali ocorridos há mais de uma década. Eventos estes que permaneciam vivos na memória de boa parte da população, especialmente aqueles que haviam sido agraciados com alguma forma de benefício, considerado sobrenatural. O viajante, dispunha de um aparelho fotográfico, fazendo questão de colher uma imagem da família, tendo João Maria Ibarra Batista, como destaque. Fora assim batizado em homenagem ao monge, considerado santo.
Nesse clima cresceu o menino, que se aproximava de seus 10 anos. Houve momentos em que parecia disposto a seguir vida de eremita, imitando o padroeiro de quem herdara o nome. O que veio interferir nesses planos, foi o início da Guerra do Paraguai. A intervenção armada do Brasil na República Oriental do Uruguai, pondo fim à guerra civil pela deposição de Atanásio Aguirre, do partido Blanco e colocando em seu lugar o colorado Venâncio Flores, serviu de estopim par o início das hostilidades.
Temendo o desmantelamento dos pequenos países do cone sul pelas grandes potências, Solano Lopez aprisionou o Vapor Marques de Olinda, conduzindo o recém nomeado presidente da província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos e seus assessores diretos. Jamais chegaram ao destino, vindo a morrer na prisão paraguaia. Na segunda quinzena de dezembro o exército paraguaio invadiu o sul da província de Mato Grosso. Embora o clima estivesse tenso há vários anos, esses atos hostis causaram surpresas. Pouco depois outras invasões ocorreram agora na região sul, abrangendo parto da província de São Pedro do Rio Grande, Uruguai e Argentina.
O resultado foi a formação da Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai. Em todas províncias brasileiras foram arregimentados combatentes, inclusive um grande número de escravos, com a promessa de serem livres ao final do conflito. Do lado brasileiro o comando coube principalmente a Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), Almirante Tamandaré na marinha. O comando geral ficou com Bartolomeu Mitre da Argentina.
Se na guerra contra Juan Manuel Rosas Antônio fora recusado e depois atuara como espião, agora não havia quem o segurasse. Nem mesmo os filhos. Tinha o sangue quente da família Batista. Foi um dos primeiros a se apresentar. Era hábil no manejo das armas de fogo e também de arma branca. Sem demora foi aceito, deixando para trás a esposa e os quatro filhos, estando o mais velho João Maria, com pouco mais de 11 anos. Ao se integrar na tropa, em pouco veio à tona sua atuação no conflito contra Rosas como agente infiltrado no meio dos inimigos. Seu desejo de combater, foi relegado ao plano secundário.
O comandante o designou para o corpo de inteligência, onde ficou sob o comando mais direto do próprio Luiz Alves de Lima e Silva. Realizou diversas missões de espionagem em território inimigo, estando na iminência de ser descoberto por pouco em seguidas oportunidades. No último momento algum fato fortuito o livrara e conseguia retornar em segurança às linhas de vanguarda amigas. Os combates se sucederam, durante longos cinco anos, sendo inicialmente necessário expulsar o invasor dos territórios ocupados. Isso feito, os mandatários da Argentina e Uruguai, hesitaram em invadir o território paraguaio. Por sua vontade teriam estabelecido os novos limites e encerrado o conflito.
Houve batalhas em terra e navais nos rios, onde combates encarniçados determinaram a sorte ora para um lado, ora para o outro. São dignas de nota as de Itororó, Riachuelo, Curupaiti, Avaí, Tuiutí, Cerro Corá e algumas outras. Houve muitos heróis anônimos de lado a lado nesses combates, cujos resultados foram determinados mais pela audácia, valentia e coragem dos combatentes do que pela força das armas. Se quiséssemos erigir um monumento a cada herói que tombou em combate, necessitaríamos de um imenso espaço para tal finalidade.
O Brasil, tendo maior área exposta aos ataques paraguaios, colocou Luiz Alves de Lima e Silva no comando geral das tropas e invadiu o Paraguai, conquistando a capital Assunção. O ditador Lopes fugiu, com tropas de adolescentes e grande número de inválidos por idade ou ferimentos anteriores, para a região norte. Luiz Alves de Lima e Silva, renunciou ao comando e um contingente de menor número perseguiu o remanescente paraguaio. O combate definitivo foi travado nas proximidades de Cerro Corá, próximo à divisa com o Brasil. Ali Solano Lopes preferiu morrer a se render, assim como seus oficiais, inclusive o filho Panchito de 16 anos, ostentando a patente de Coronel.
Antônio, que na fase anterior havia atuado sempre no setor de inteligência, participou da perseguição à Solano Lopes. Depois da vitória final, um grande número de militares brasileiros se dedicaram ao saque, execução sumária e violências contra mulheres em especial. Mancharam o nome do exército brasileiro que escreveu páginas de glória nos anais históricos durante as sangrentas batalhas na fase inicial da guerra. Antônio, não concordando com essa atuação, proibiu aos homens sob seu comando a participação nessa ação bárbara. Foi obrigado a enfrentar um grupo revoltado, correndo risco de vida. Foi alvejado por um tiro de fuzil que lhe inutilizou o ombro esquerdo.
Nesse momento o grosso da tropa que estava com ele, se interpôs entre os revoltados e ele, protegendo-o. Assim, foi transportado para a retaguarda, enquanto o grupo rebelde foi levado preso e entregue para julgamento em conselho de guerra. A continuação do processo lhe fugiu do controle, pois estava lutando para sobreviver. Quando teve forças para pedir contas do que ocorrera, os acusados já haviam sido desmobilizados e enviados de volta ao território nacional. Dessa forma, ainda com o braço na tipoia, posição que o acompanharia pelo resto dos seus dias, iniciou o lento retorno a pátria. Embarcou em um vapor que o deixou em Buenos Aires. Dali embarcou em outro de menor porte, vindo até São Borja.
Finalmente, depois de vários anos fora do solo nacional, tornava a pisar território brasileiro. Em viagem a cavalo, em poucos dias chegou à Santa Maria. Quando ninguém mais o esperava vivo, eis que um Antônio magro, barbudo e ligeiramente desfigurado pelos anos de privações passados, apeou diante da casa. Os filhos acorreram em alegre algazarra, a esposa o abraçou carinhosamente, enquanto os pais esperavam afastados pelo momento de rever o filho, que pela segunda vez os deixara para ir lutar em terras estranhas. O braço estava cicatrizado, mas ainda doía um pouco, pois o ferimento era recente. Ao lhe ser dado desligamento da tropa, recebeu uma condecoração, além de uma declaração do direito a uma pensão vitalícia por serviços prestados à pátria, atos de bravura e invalidez decorrente da guerra.
Encontrou os filhos crescidos. João Maria já era praticamente homem feito, um bigodinho discreto estava visível sobre o lábio superior, além de alguns fios de barba esparsos pela face. Encarnación estava transformada em uma encantadora morena, mistura de espanhol com português, tendo atributos para transtornar o juízo de muitos rapazes. Os outros dois, mais jovens, estavam também na adolescência. Durante os intermináveis dias da guerra, quando diariamente indagavam do avô Afonso sobre o que poderia estar acontecendo com o pai, este lhes contara e recontara infindas vezes as batalhas de que participara. As armadilhas em que caíra e conseguira se safar, bem como as que armara e fora bem sucedido. Um velho fuzil bem como duas espadas de madeira, haviam servido para dar aos netos os primeiros ensinamentos militares.
Num barranco existente no lado de um pequeno morro, haviam montado alvos e os meninos treinaram tiro, até cansarem de sentir cheiro de pólvora. Quando o pai voltou, estando inválido do braço esquerdo, passaram a ter na família dois membros com sequelas da guerra. Antônio lhes narrou suas peripécias no serviço de inteligência durante praticamente a guerra inteira. Viera a participar de combates só na última fase de perseguir Solano Lopes e um bando de maltrapilhos pelo Chaco e depois na região montanhosa do norte. Fora ferido pelos próprios comandados, rebelados contra suas ordens de não cometerem atos de barbárie contra os soldados e cidadãos vencidos.
Ensandecidos pela ânsia de vingança, haviam lhe alvejado. Não fora a intervenção de um tenente e o resto dos homens fiéis, certamente o teriam morto sem a menor consideração.
– Mas esses homens foram punidos papai?
– Que importância tem isso meu filho?
– O vovô contou que na Guerra dos Farrapos era hábito degolar os prisioneiros inimigos. Nessa guerra também fizeram isso, papai? – perguntou o mais novo.
– Infelizmente acho que sim meu filho. Não havia onde manter tantos soldados presos. Faltavam soldados nossos para vigiar a todos. Mas não pense que os do outro lado não fizeram o mesmo. Muita gente ficou nos campos de batalha, com a garganta cortada. De todos os que morreram nessa guerra, um bom número foi degolado depois de se render.
– Mas isso é injusto, não acha papai? O vovô disse que nunca conseguiu concordar com isso.
– Por sorte meu trabalho no serviço de inteligência não me obrigava a assistir ou fazer isso. Não vi nenhuma sessão de execução de prisioneiros. Mas sei que era coisa bem comum. Há muitos milhares de anos os homens fazem isso. Levam os prisioneiros que podem ter algum valor. Os demais são mortos para não se tornarem peso morto e dar despesas para alimentar.
– Eu acho que a guerra é uma coisa muito má. Os homens deveriam ser mais inteligentes e resolver as desavenças conversando, discutindo, talvez até se xingando, mas no fim chegando a acordos, sem fazer guerra. – disse o mais novo.
– Meu neto, seria muito bom se todos pensassem assim. Infelizmente os que começam as guerras, raramente vão para a linha de frente combater, – falou Afonso que até esse momento se mantivera quieto, apenas ouvindo.
– Isso mesmo meus filhos. Se fosse possível resolver as divergências conversando, argumentando, fazendo concessões, exigindo compensações e chegando a acordos aceitáveis para ambas as partes, o custo final seria com certeza bem menor. Principalmente se evitaria essa mortandade.
– Ouvi dizer que do Brasil morreram mais de 50000 soldados, da Argentina uns 15000 a 20000 e mais alguns milhares do Uruguai. Já do Paraguai, parece que sobraram poucos homens e mulheres. A maioria que ficou são ou velhos ou crianças.
– A estimativa é que morreram ao todo, entre soldados, de doenças e de fome mais ou menos 300000 pessoas. Isso dá um monte de mortos a cada dia durante esses cinco anos de guerra.
Enquanto João Maria ficava pensativo, os dois menores falavam em jamais quererem participar de uma guerra. Era muita crueldade. Só de pensar e ver tanta gente morta, ficavam arrepiados.
– Vamos conversar sobre coisas mais amenas agora. Assim vocês vão ter pesadelos durante a noite e não vão conseguir dormir, – falou Antônio.
– Vamos brincar um pouco, – disse João Maria.
– Vamos, – falaram os dois ao mesmo tempo.
O avô e o pai ficaram olhando os meninos se retirarem para voltar aos seus folguedos ainda juvenis. Afonso, lembrando seus praticamente 10 anos de batalhas e correrias pela campanha. Antônio, lembrando os cinco anos de guerra, quase sempre entre rodeado de inimigos, a cada passo sujeito a ser descoberto e sumariamente fuzilado. Esse temor constante deixara em seu rosto, ainda jovem, marcas profundas, fazendo-o parecer mais idoso do que realmente era. Os dias começaram a se arrastar e chegou o dia em que deveria ir a Rio Pardo para requerer seu benefício como ferido de guerra.
Seguiram pai e filho. Aquele também fora ferido, mas por ser uma guerra fratricida, não fizera jus a uma pensão por invalidez. Já o filho lutara pela pátria, estaria amparado em sua velhice. Para seu bem, Afonso vivia com os filhos e os antigos patrões permitiram que continuasse a morar na casinha que ocupava desde o tempo em que se casara com Zulmira. Isso fora há cerca de 40 anos passados. Não tinha do que reclamar da vida. Mesmo o ferimento nos momentos derradeiros do conflito, embora lhe tivesse tirado os movimentos da perna, não o impedira de fazer a maior parte das suas tarefas.
Chegaram a Rio Pardo e foi preciso tomar aposento num albergue para esperar o dia seguinte. Havia um grande número de combatentes, agora inválidos, requerendo seus benefícios. Significaria uma sangria razoável nos cofres da união, mas a pátria tinha por obrigação amparar aos filhos que sacrificaram suas vidas ou seus corpos pela defesa do território.
No dia seguinte Antônio conseguiu encaminhar seu pedido e os dois empreenderam o retorno. Antes de voltarem à casa, passaram pelas águas do Campestre para se lavarem. Um reforço do sobrenatural nunca é demais. Dessa forma, chegaram em casa somente no outro dia. Os familiares estavam preocupados com a demora, mas depois de explicar tudo, se acalmaram. Afonso, em todos esses anos nunca negligenciara seu compromisso com o lado divino da vida. Sempre que possível passava no Campestre, acendia uma vela diante da imagem de Santo Antão, embora a subida até a ermida, no alto do Cerro exigisse um esforço significativo. Ele sabia que devia isso ao santo. Sem a interferência sobrenatural, tinha certeza de que seus pulmões há muito teriam deixado de funcionar a contento. De modo que, um pequeno esforço, nada significava diante do muito que tinha recebido.
Assim sendo, infundia também nos filhos e netos o mesmo sentimento. Por mais difíceis que fossem os caminhos da vida, nunca deveriam esquecer dos sentimentos de gratidão para com o altíssimo, nem os santos, intermediários entre os homens e Deus.
Evandro Adams02/04/2015 at 7:30 PM
Guerra é guerra, nunca será 100% limpa! Por ser guerra e nascida da intransigência, geralmente descamba na estupidez e na falta de seguimento dos códigos de guerras. Até por que, pra ganhara uma guerra, a esperteza, a estratégia e a inteligência são necessárias. Portanto, contra astucia, geralmente o mais forte se enfurece e as repreensões não costumam ser suaves!