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Lembranças a infância.

Teor de um E-mail que enviei à uma amiga em resposta a uma crônica que ela fez sobre lembranças da infância, especialmente sobre a existência ou não de Papai Noel. A publicação foi sugestão dela. Então aqui vai.

Décio Adams <[email protected]>ter., 17 de dez. 11:02 (há 1 dia)
para Urda

Essa história de acreditar em Papai Noel, eu vivi uma experiência um tanto diferente. Como vivi, da idade de um ano e dois meses ou um ano e meio, até aos 12 anos na casa dos meus avós, rodeado de meus tios e tias maternas, chegou o momento em que, ao ingressar na escola um dos tios, pouco mais novo que minha mãe, decidiu me convencer de que Papai Noel não existe. Chegou a prometer me comprar uma bicicleta, coisa que eu ambicionava ardentemente. Mas as tias e a avó foram unânimes em defender a posição contrária. Como eu era ligado muito aos avós e tias, elas levaram a melhor na disputa. Lembro que alguns colegas de escola, um pouco mais adiantados, cochichavam a respeito de minha credulidade, mas eu não me deixei abalar. Perdi a bicicleta prometida e continuei até chegar próximo aos 10 anos, se não me engano. Certa noite, algum tempo antes do Natal, eu percebi uma espécie de clima de conspiração entre as tias e a avó. Qual não foi minha surpresa quando, de um momento para outro uma delas me disse do modo mais suave a “triste verdade”: Papai Noel e Coelhinho da Páscoa não existem. São os pais, tios, irmãos mais velhos e vizinhos que encenam a história toda para alegrar as crianças. Uma falou e as outras corroboraram, completando os detalhes. Parece-me que aquele momento foi uma das maiores decepções de minha vida. Havia sido enganado por longo tempo. Outras crianças já sabiam da verdade há tempo e faziam troça comigo. Perguntas capciosas eram-me feitas por pessoas adultas que sabiam do que ocorria. Se existe um momento de minha vida em que perdi o chão, com certeza foi aquele. Um belo castelo de sonhos, feito apenas de papel, ruiu sem nem mesmo fazer barulho. Murchou como um balão furado. 

Alguns dias depois eu fiquei ansioso por contar a novidade aos outros e geralmente recebia de volta um sorriso que parecia dizer:”Viu? Eu avisei, mas você não acreditou.” Como não sou de ficar de “baixo astral” por muito tempo, logo me refiz e passei a participar dos preparativos, que antes me eram completamente vedados. O dia da feitura das famosas bolachas, cobertas de glacê e açúcar colorido, bolinhas, era dado um jeito de me afastar de casa. A cada ocasião encontravam um novo pretexto para me manter fora de casa, sem saber o que ocorria na verdade. Depois me era contado que o Papai Noel havia vindo fazer as bolachas e eu recebia algumas para experimentar. O mesmo ocorria antes da Páscoa. Dessa vez era o Coelhinho que vinha para fazer as tais bolachas. Não sei como ele encontrava tempo para passar em todas as casas. Deviam ser uma verdadeira “legião” para dar conta de tudo.

Minha decepção foi como chuva de verão. Deu e passou. Logo encontrando novos assuntos para despertar meu interesse. Passei alguns anos, dos 12 aos 16, interno num Seminário e depois de dois anos já era adulto, indo prestar o serviço militar. Enquanto isso minha família mudou-se lá do RS para o interior de Foz do Iguaçu, onde meu pai havia comprado terra. Em outubro de 1967 faleceu meu irmão Genésio, o segundo, aos 17 anos. Em dezembro nasceu o caçula, completando 52 anos depois de amanhã.

Meus filhos souberam desde cedo da verdade e nem por isso ficavam menos ansiosos aguardando os presentes de Natal e Páscoa. Não sei dizer se o que eu vivi foi bom ou ruim para minha vida, apenas tenho certeza de não querer ver meus filhos passando pela decepção que passei quando me foi revelado. O pior foi ter deixado de poder cobrar do tio a tal bicicleta, nem sei se ele falava a sério ou se apenas brincava. Será que naqueles dias, final da década de 50, existiam bicicletas para crianças?

Faz bem recordar as reminiscências de nossa infância. Nos trazem à memória um pedaço de nossas vidas há muito passado, mas faz parte de nosso Eu de hoje certamente. Reitero os votos de Feliz Natal e Ano Novo venturoso.
Saudações 

Décio Adams

PS.: Nas semanas que precedem a Páscoa, era comum participar do descascamento de amendoins, para fazer paçoca e uma farofa de amendoim com açúcar. Era para ajudar o Coelhinho que levaria o amendoim para encher as casquinhas de ovos, acumuladas por longos meses para a ocasião. Não foi uma nem duas vezes que fui agraciado com o “achado” de um ninho, cheio de algumas dessas casquinhas, bem coloridas, tampadas com uma rodela de papel, também colorido. Era uma forma de me cativar para alguma tarefa a ser executada. A justificativa era de que isso contaria “pontos” junto ao tal Coelhinho da Páscoa, na hora de preparar minha cesta, recheada de ovos e outras guloseimas. Lembro que eu ficava eufórico e antegozava as delícias que me esperavam dali a alguns dias, na manhã do dia da ressurreição de Jesus.

Nos dias que precediam o Natal, a partir de certo ano, era momento de preparar a base para colocação das figuras componentes de um pequeno presépio. Ajudei a fazer casinhas e as pintávamos, buscar musgo e a famosa “barba de pau”, algumas plantinhas que cresciam nos troncos das árvores de dois pequenos bosques existentes no pasto das vacas e bois. Eram sem dúvida dias felizes. Depois de pronto, o presépio ficava a espera do momento da noite de Natal, quando em um momento mais silencioso, minha tia Hedda Dewes Czapla se encarregava de colocar o Menino Jesus, Maria, José, os pastores e outras figuras completando o presépio, num momento em que eu não estava presente.

Quanta alegria a ver tudo completo, as velinhas fixadas em prendedores, semelhantes aos usados para prender roupas no varal, apenas feitos de metal, eram fixadas nos galhos do pinheirinho. Era um galho de pinheiro ou um pinheirinho especialmente cultivado para tal finalidade.

Fazendo um balanço, minha infância foi repleta de momentos alegres e felizes. Acho que, se tivesse a ocasião, faria tudo novamente.

Curitiba, 18 de dezembro de 2019.

Décio Adams

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