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Mineiro sovina! – Capítulo XIV

 

Exposição se aproxima.
        Diante da proposta trazida por Estevão, José Silvério sentiu necessidade de visitar seu cliente. Mandar recado e pedir que ele viesse até o escritório, estando ele ainda em recuperação das consequências do atentado, era inconveniente. Também estava com vontade de rever a bela Isabel. Saber em que estágio estava a questão da exposição de seus quadros. Até mesmo ouvir sua voz melodiosa lhe fazia bem. Verificou sua agenda para o outro dia. Remanejou uma entrevista que estava marcada para as últimas horas da tarde para um pouco mais cedo.
            Com isso poderia sair às 4 h e haveria tempo de discutir com o coronel a questão do acordo proposto e também matar a vontade de ver a filha. Fazia esforço para colocar maior empenho nos aspectos profissionais da visita, mas não conseguia êxito por muito tempo. Logo a imagem inconfundível de Isabel ocupava seus pensamentos e ficava difícil concentrar-se em outra coisa. Pegou em sua gaveta, numa caixa trancada à chave, algumas fotos da moça e assim passou um tempo contemplando os traços delicados, que em sua opinião eram perfeitos. Pouco lhe importaria se outrem tivesse opinião diferente. Para ele era a mulher ideal, perfeita.
            Na manhã seguinte, uma quarta feira, tinha um cliente detido para entrevistar e preparar sua defesa na audiência preliminar com o juiz, além de um cliente que viria para tratar de outra questão de litígio de divisas. Assim a manhã passaria voando. Logo depois do almoço tinha a entrevista remanejada que seria, em vista do andamento do processo, coisa rápida, mas tinha que encaminhar alguns documentos de processos em andamento. Não costumava deixar que ficassem acumulados papeis em sua mesa, esperando destino. Se isso acontecesse, uma hora se veria enterrado em uma pilha de papéis e teria dificuldades para por tudo em ordem. Evitava assim o risco de deixare documentos sem o devido encaminhamento, que resultaria em prejuizos no resultado dos processos.
            Às 4 horas avisou que visitaria o cliente na fazenda. Voltaria ao escritório na manhã seguinte. A família estava avisada de sua pequena viagem, sendo provável que retornasse tarde, ou talvez passasse a noite na fazenda. Dependeria de um convite do coronel. Evitaria forçar uma situação que poderia se voltar contra ele na questão de aplainar o caminho para o coração de Isabel.
            Sentou-se ao volante de seu Opala, modelo especial de luxo, recentemente adquirido e percorreu calmamente os poucos quilômetros até a fazenda. Chegou faltando um pouco para as 5 h da tarde e encontrou o coronel sentado tranquilamente na varanda, em sua rede. Vira a pequena nuvem de poeira levantada pelo automóvel e ficara atento para ver de quem se tratava. Ao se aproximar logo percebeu ser o carro do advogado. Empertigou-se na rede e ficou a espera. Logo lhe acorreu a lembrança da ação cuja sentença lhe for a favorável e do inquérito do atentado. Ficou curioso em saber de que assunto o advogado vinha tratar.
            Deixando o belo carro, todo branco com frisos cromados, estacionado à sombra de uma frondosa mangueira, sem frutas nessa época. Se estivesse com carga alguma poderia se desprender e causar danos à lataria do veículo. Nesse momento não corria esse risco. Ao chegar perto da varanda, foi saudado alegremente:
            – Uai! Que ventos lhe trazem aqui hoje, doutor?
            – Vim trazer novidades, coronel.
            – Venha sentar-se aqui e vamo conversa então. Fiquei curioso sobre que novidade o senhor vem trazer.
            Subiu um degrau e sentou-se em uma cadeira de vime que havia ali, à distância conveniente do coronel. Este permaneceu sentado, apenas estendeu a mão ao recem chegado em cumprimento.
            – Pois então, coronel. As novidades são notícias de seu vizinho Juvenal.
            – Qui é que ele está inventando agora?
            – Para lhe dizer sinceramente, eu também não sei ao certo. Mas ontem o advogado dele, doutor Estevão me procurou para fazer uma proposta. Contou uma história engraçada e confesso, fiquei com a pulga atrás da orelha. Mas a decisão é sua e vim lhe contar o que aconteceu. Depois o senhor decide se aceita ou não. Isso é coisa sua. Não quero influenciar. Não me sinto confortável em fazer isso.
            – Uai, home! Desembucha logo então. Aceita uma xícara de café, um biscoito?
            – Pensando bem, não comi nada depois do almoço, um café com biscoito vai cair bem, enquanto conversamos.
            – O Lourdes! …. O Lourdes! Isabel!
            – O que foi meu velho? – perguntou da porta a esposa, atraida com o chamado dele.
            Nisso viu o advogado e cumprimentou:
            – Boa tarde, doutor José Silvério. Como tem passado?
            – Trabalhando bastante. Mas isso faz parte do negócio.
            – Ajuda a tornar a vida melhor eu penso.
            – Exatamente, dona Lourdes. E a senhora como vai?
            – Vou bem graças a Deus. Agora mais tranquila com o fim dessa pinimba com o processo.
            – Ele ainda não terminou totalmente. Mas pode ser que acabe logo.
            – Isso seria ótimo. Essa angústia de não saber o que vai acontecer me deixa muito aflita. Esse atentado sofrido pelo Onofre então, foi a gota d’água para completar.
            – As coisas vão melhorar.
            – O Lourdes! Serve um café aqui pro doutor e traz também uns biscoitos ou um pedaço de bolo.
            – Esperem só um cadinho. Vou providenciar. Dá licença.
            Ela se dirigiu para a cozinha e se pôs a preparar o café, separar os biscoitos, bem como alguns pedaços de bolo que fizera há pouco. De passagem avisou Isabel no atelier que o doutor estava ali. Ela prometeu vir cumprimentá-lo, tão logo terminasse umas coisas que estava fazendo.
            Enquanto o café era providenciado, José Silvério narrou ao coronel o teor da proposta de acordo que recebera e expos suas dúvidas quanto à mudança de atitude do oponente. Ao que o coronel falou:
            – Quem conheceu o pai dele, não diz que esse é filho dele. Homem honesto, trabalhador, direito nos negócios dele, estava ali. O filho parece fruto que caiu e rolou para longe do pé. Devia ser uma ribanceira forte para haver tanta distância.
            – É uma coisa realmente estranha. Os filhos normalmente saem bastante aos pais, salvo algumas excessões. Talvez estejamos diante de uma delas.
            – Lembro como se fosse hoje o pai reclamando dos descaminhos do filho. Quando tinha uns 16 para 18 anos, começou a fazer estrepolias junto com uns maus elementos mais velhos, gente de má conduta mesmo. Diversas vezes o pai teve que tirare le de apuros. Sempre aconselhou e inclusive botou de castigo. Mas diantou não. Parecia que tinha o tinhoso no couro. Não obedecia, fugia de casa e voltava a fazer das suas. Quando o pai morreu, pouco antes ele voltou para casa. Parecia adivinhar que o velho estava no fim. Veio e assumiu a fazenda. Logo deixou claro seu mau gênio.
            – Quanto tempo faz isso, coronel?
            – Coisa de cinco a seis anos se estou bem alembrado.
            – O pai tinha muitas dívidas?
            – Tinha algumas, principalmente por conta dos prejuízos causados pelo Jerônimo. Um par de processos em que foi condenado tendo que pagar indenização. Foi então que eu emprestei aquele dinheiro de que falou na audiência.
            – Em sua opinião ele pode ter se arrependido? Ter lembrado dos conselhos do pai e estar mudando de verdade?
            – Sei não, doutor. Nois costumamo dizer qui pau que nasce ou cresce torno, num endireita.
            – Isso diz o ditado popular. Mas há casos em que a pessoa envereda por um caminho errado e um dia acorda, muda de atitude, passando a ter comportamento exemplar.
            – Contece, mais é dificil. Eu inté qui torço pra qui ele se endereite. Era tão bão no tempo do pai dele. Des que ele veio tocar a fazenda, virou um inferno. Nunca mais tive sossego de verdade.
            – Imagino, coronel. Eu vou deixar o senhor pensar bem no assunto e decidir o que pretende fazer. Vou seguir suas determinações à risca.
            – Vamo tomar um café e comer uns biscoito, antes que esfrie.
            Serviram-se de café que acabara de ser colocado numa mesinha à sua frente, junto com uma luxuosa travessa replete de biscoitos e uma tigela com pedaços de bolo. Comeram alguns instantes em silêncio, que foi quebrado por José Silvério:
            – Esses biscoitos de dona Lourdes são impagáveis. Muito bons. O bolo então é uma delícia.
            – Sempre falo pra Lourdes. Ela me pegou foi pelo estômago e ela diz qui usou a arma que tinha, pra mode mi pega.
            – Além de tudo tem senso de humor invejável.
            – Sempre fois assim. Num tem tempo triste com ela. Memo nas hora mais dificil, ela consegue ficar animada, fazer a gente rir e esquecer um pouco as preocupação.
            – Feliz do senhor em ter uma companheira dessas. Conviver com alguém sempre triste, lamentosa deve ser complicado. Sei minha mãe e pai são parecidos nesse sentido. Um anima o outro nos momento de dificuldades.
            – Eu sempre digo que tenho tudo que pedi a Deus. Meu cafezal, uma muié qui nem a Lourdes, e a fia Isabel. Posso pidi mais arguma cosa? Ach’qui não.
– De fato, preciso concordar com o senhor.           
– É bom saber que o senhor está feliz, pai. – falou Isabel que estava parada à porta da varanda.  
– O fia! Tu tava aí? Num tinha percibido.
– Boa tarde, doutor. Como vai o senhorr?
– Eu estóu ótimo, senhorita. E a exposição, quase tudo pronto?
– Parece que sim. Mas sempre aparece alguma coisa a mais. Acho que nunca se consegue lembrar de tudo, mas tudo mesmo. É bem complicado esse mundo da arte.
– Não é só o mundo da arte. Em toda atividade há os problemas. Mas a superação deles traz no final a alegria da vitória.
– Parabéns pelo seu trabalho na defesa de papai. Soube que foi brilhante!
– Obrigado. É bondade de coronel Onofre.
– Bondade nada! Pura verdade, das verdadeiras mesmo.
– Fico lisonjeado com isso. Senhorita precisa de alguma ajuda, algo que eu possa fazer para facilitar as coisas?
– O organizador está providenciando tudo. Nunca vi alguém com tanta energia, apesar da idade. Parece que tem um motorzinho nele. Não para. Toda hora lembra de algo, apresenta de uma novidade.
– Precisando é só falar.
– O senhor já fez muito me pondo em contato com ele. Espero contar com sua presença na inauguração da exposição.
– E eu iria perder essa oportunidade? Estou curioso por conhecer seus trabalhos um por um. Só vi alguns e foi suficiente para ficar encantado.
– Dentro de quatro semanas é o grande dia. Deve vir gente de Bel Zonte, São Paulo e até Rio de Janeiro. Imagina! Vou ficar perdida no meio de tanto grão fino.
– Vai é brilhar igual uma estrela no meio de uma porção de planetas.
– Agora é o senhor que está exagerando. Mas obrigado pelas suas palavras. Vou buscar o álbum de fotos que foi feito. Foram mandadas cópias para um monte de gente importante e veio uma porção de cartas elogiando, confirmando presença.
– Se me fizer o favor, eu agradeço. Vai ser diferente de ver os quadros ao vivo, mas serve de aperitivo.
Ela levantou e foi até o atelier, voltando em seguida trazendo um álbum volumoso com fotografias ampliadas dos quadros. José Silvério abriu e começou a admirar os trabalhos um a um, soltando um assobio, arregalando os olhos a cada página que virava. Podia-se ver a história artística da jovem. Nítidamente era possível ver o crescimento, apesar do vigor presente desde o princípio. A cada quadro a harmonia do traço, o contraste de cores, enfim o aperfeiçoamento acompanhava a evolução da primeira à última imagem.
– Só de ver o álgum já fico emocionado. Estou imaginando o que dirão os críticos, os apreciadores de arte quando virem seu trabalho na galeria. Já há preços mínimos estabelecidos?
– Sim. Estabelecemos algo não exagerado, para evitar espantar os possíveis compradores. Mas não vai ser colocado a mostra, somente vai ser informado aos interessados em adquirir. Dependendo do efeito isso poderá ser modificado no decorrer da exposição.
– Boa ideia, pois se a aceitação for elevada, é possível pedir algo a mais, pois certamente haverá quem pague o preço.
– Vou querer que escolha um para ser seu presente, doutor.
– Eu estava pensando em economizar para comprar um ou dois ao menos. Vou esperar vê-los na exposição e iluminados adequadamente para fazer a opção.
– O papai está cada vez mais envaidecido com isso. Até parece que o pintor é ele.
– I num era pra ficar orgulhoso? De um dia pro outro toda hora tem gente estranha aí vendo, saindo admirada e falando um montão de coisa. Só podia ficar estufado iguar sapo boi.
– Até eu ficava envaidecido no seu lugar, coronel. Acho que vou andando. O senhor me avisa de sua decisão em relação à proposta do Jerônimo e se for o caso, marcamos um encontro para acertar os ponteiros.
– Mas o senhor não espera a janta? Temo inté um quarto de hospede e pode dormi aqui. Manhã cedo volta pra cidade.
– Não quero incomodar, coronel.
– Incomodo nada, doutor. Senhor é de casa. Vai sê uma honra lhe dar pouso por uma noite. Fia, avisa a sua mãe que o doutor vai pousar aqui. Manda por mais água no feijão.
– Um convite tão gentile u não posso recusar. Mas preciso sair bem cedo amanhã para não chegar atrasado ao escritório.
– Vai ver como nois levanta cedo aqui no mato. O galo canta e nóis alevanta.
Isabel pediu licença e foi até a cozinha, ficando por lá. Ajudava a mãe nos afazeres de preparar a janta. Levou com ela o bule com o resto frio do café, os biscoitos e bolos sobreviventes. Era ótimo respirar o ar do anoitecer ali em meio à natureza. Os cafeeiros estavam terminando de florir e o perfume ainda era perceptivel no ar. Isso dava ao lugar um aspecto peculiar. Era diferente de outras propriedades com criação de animais que tivera oportunidade de visitar. Não havia cheiro de sour, estrume e tal. Não que esses fossem essencialmente desagradáveis, mas as flores deixavam um aroma levemente adocicado no ar.
José Silvério instigou o coronel a contar causos dos tempos de antigamente e ele prontamente atendeu ao seu pedido. Estava próximo dos 60 anos e tinha em sua memória muitas histórias para contar. Contou de como era o trabalho nos tempo de sua infância. Tudo era manual, mais rústico e difícil. Mas era a forma conhecida de fazer tudo e ninguém reclamava. Hoje, com boa parte modificada para automatização, máquinas assumindo o trabalho mais monótono e demorado do processo de produção, havia quem reclamasse das tarefas minimamente cansativas. Precisavam estar aí antigamente para ver como é que a coisa ia.
Uma história puxa a outra e mais outra. O tempo passou e quando viram, a janta estava na mesa. Lourdes veio chamar e permaneceu um momento à porta ouvindo, antes de falar:
– Deixa um pouco de histórias pra contar depois e venham jantar.
– Uai! Mais já tá na hora? Tinha nem reparado que o tempo passou.
– É, coronel. Contando histórias o tempo voa sem a gente ver. Igual o vento. Quando vê, já foi.
– Mas vamo si lava e depois come.
Levantaram e foram até o lavatório instalado ao lado da cozinha para lavarem as mãos. A casa fora construida em tempos passados, ficando devendo um pouco no quesito funcionalidade. Mas coronel Onofre nem queria ouvir falar em trocar de casa. Essa estava é muito boa. Por quê mudar?
Sentaram-se, agradeceram a Deus pelo alimento e começaram a refeição. Nada de especial e as palavras do coronel de botar mais água no feijão faziam sentido. Realmente havia feijão, arroz e salada, além de pão, queijo, nata e melado. Praticamente tudo produto da terra, produzido ali mesmo ou nas redondezas. Comeram devagar, intercalando garfadas de comida com algumas palavras, mais histórias iam sendo contadas, comentários tecidos, observações feitas.
Sentaram-se na sala, onde havia um toca discos e também um televisor. O coronel aderira à modernidade, instalando uma antenna parabólica próximo da casa e também puxara a rede de energia elétrica, tornando as coisas mais fáceis. Assistiram ao noticiário e depois de mais um pouco de conversa, José acompanhou Isabel até o atelier para ver o trabalho inédito que estava elaborando para apresentar na exposição. Não constaria no catálogo. Era algo desconhecido até do organizador. Ele o veria no momento de levar para a galeria.
Era diferente de tudo que produzira até ali. Estava enveredando por uma nova vertente. Pensava em acompanhar a tendência atual da pintura. Faltava uma boa parte do trabalho, mas era possível antever o efeito final. Seria um impacto diferente sobre os críticos e aficionados do mundo da pintura. Isabel explicou as ideias que tinha em mente para a conclusão do trabalho e deixou José de boca aberta. Pelo que ouviu, percebeu que o resultado seria realmente surpreendente. Demonstrou claramente com o brilho no olhar o que sentia.
– O que achou da ideia, doutor?
– Vai ser um sucesso, senhorita.
– A ideia é surpreender. Estou iniciando uma nova fase em meu trabalho.
– Com jeito de ser arrasadora essa sua nova fase. Imagino o que virá no futuro.
– Vou me esforçar para corresponder às espectativas. Tenho que lhe agradecer sempre pelo fato de levar meus trabalhos para serem vistos.
– Isso vai ser orgulho para mim. Ter descoberto um talento tão promissor é compensador o suficiente.
– Vou descansar, pois passei o dia em pé pintando, ou ajudando a mãe na cozinha. Quase não tive tempo de sentar hoje.
– Precisa dar descanso às pernas para não sentir os efeitos mais tarde.
– Costumo fazer pequenas caminhadas a cada duas ou três horas. Movimentar o sangue para não inchar os pés.
– Isso mesmo. Não se descuide e sofrerá menos daqui a alguns anos.
Ao retornarem à sala o coronel tivera tempo de trocar ideias com a esposa Lourdes e falou:
– Doutor! Pode marcar o encontro com o homem, mas no seu escritório. Em outro lugar eu não confio. Vou dar um voto de confiança a ele, mas nunca é demais ser prevenido.
– Com certeza, coronel. Precaução nunca é demais. Em se tratando que gente de passado pouco recomendável, mais cuidado ainda é necessário. Vou marcar a data e lhe mando aviso. Dependendo do caso, venho aqui lhe avisar.
– Estou esperando que a telefônica puxe a linha até aqui para por um telefone. Faz falta.
– Certamente. O telefone poupa muito tempo, evita despesas.
– Enquanto não vem esse dia, temo que levar como dá.
– Tudo ao seu tempo. Um dia ele chega e a coisa se resolve.
– Hora de velho ir para cama. Se quiser ver o filme que vai passar, fica a vontade.
– Acho que vou dormir cedo. Tenho um livro comigo. Leio um pouco e logo adormeço.
– Boa noite, doutor.
– Boa noite, coronel.
Mãe e filha ficaram vendo o começo do filme. José lhes fez companhia e depois foram dormir. Logo cedo estavam todos em pé e por volta de 7 h 30 min. estavam de café tomado. José embarcou no seu carro e percorreu a estrada para Sete Lagoas. Chegou em casa e rapidamente tomou banho, trocando de roupas. Tinha audiência naquele dia e não convinha chegar diante do juiz de roupa amassada. A apresentação pessoal era muito importante. Não podia descuidar desse particular.
Ainda pela manhã ligou para o colega Estevão e agendaram o encontro entre os dois vizinhos para a terça feira da semana seguinte. Daria tempo de avisarem aos clientes e estes se fazerem presentes no escritório da Advogados Associados. José antegozava o momento de rever Isabel. Não se importava com o fato de se necessário levar o recado ao coronel pessalmente. Bendita telefônica que ainda não puxara a linha até lá. Isso lhe dava uma desculpa para visitar a fazenda.
O final de semana chegou depressa entre audiências, entrevistas, pareceres e montage de processos. No sábado à tarde, após tomar banho, barbear-se e passear um pouco pela cidade, enveredou pela estrada, indo parar na fazenda. Por sorte encontrou o coronel antes de ele sair com a família para visitar um primo alguns quilômetros dali. Ficariam na outra propriedade, retornando somente no domingo a tardinha. Entregou o recado e logo depois voltou para casa. Vinha um pouco frustrado por não ter tido tempo para gozar da presença de Isabel por um período maior do que alguns minutos apenas. Era parte do processo. Ela não estaria sempre ao seu dispor.
Passou a noite de sábado em casa, conversando com os pais e vendo televisão. Nas últimas semanas deixara a desejar em sua atenção à família. Precisava cuidar para não esquecer de quem lhe dera tudo o que era. Boa parte do mérito era seu, mas as condições para por tudo em prática, havia sido providas pela família. Nunca deveria olvidar tal fato.

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