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Gaúcho de São Borja! – Capítulo XVI

 

Amanhecer em São Borja.

 

Instalações ficam prontas.
Nos arrozais os peixes cresciam a olhos vistos. Já eram visíveis nadando aos cardumes por toda parte. As bocas pareciam não parar de abocanhar pequenos bichinhos, praticamente invisíveis. Ficava fácil de imaginar o dano que alguns deles poderiam causar ao arroz, diminuindo seu desenvolvimento pleno, reduzindo no final a produtividade. Enquanto isso as obras da empresa de engenharia avançavam rapidamente. A estrutura estava pronta, faltando apenas o acabamento. Isso estava sendo facilitado agora que o telhado estava colocado. Assim, mesmo em dias chuvosos era possível continuar trabalhando sem problema. O final de janeiro estava perto e faltavam alguns pequenos detalhes. Testar as instalações de água, aguardar a secagem de rebocos e pisos recentemente preparados.
Gaudência, diante disso, dirigiu-se ao representante local da empresa venderora dos equipamentos. Indagou da disponibilidade deles para realizar a instalação. Na semana seguinte poderiam vir para realizar a última etapa, antes de poderem iniciar a implantação da ordenha mecânica. Em minutos o representante falava com a matriz na capital. Informou o número do pedido, confirmou os ítens adquiridos, encontrando tudo em ordem. Desligou e dirigiu-se ao cliente:
– Até no máximo dia 10 de fevereiro estará tudo instalado. Devem despachar as máquinas antes do final do mês pela ferrovia e os técnicos vem depois de caminhonete. Está bem assim?
– Ótimo. Até lá o cimento seca direito e não vai haver mais problema. Estou ansioso por ver isso tudo funcionando, mas sei que tem necessidade de esperar até ficar pronto.
– Isso é assim mesmo, Gaudêncio. Todo mundo quer ver as novidades implantadas e funcionando. Não é só você que passa por isso.
– Eu não quer atropelar as coisas, pois isso pode causar mais danos do que esperar mais um pouco.
– Está certo.
– Me avise quando chegarem as máquinas ou vocês providenciam o transporte até a fazenda?
– Nós cuidamos disso. Não se preocupe.
– Até logo e obrigado.
Saiu dali e foi resolver um compromisso no banco. Na verdade queria verificar a disponibilidade do dinheiro para cobrir os custos financiados pelo banco. Não que o valor fosse ser depositado em conta, mas saber se estava tudo em ordem para que o valor fosse creditado à empresa vendedora no momento da conclusão da instalação. Estava tudo certo. O contrato for a assinado, os cadastros todos preenchidos, dados da empresa vendedora informados. Bastaria levar o comprovante de entrega do material e sua instalação e o dinheiro seria liberado.
Saindo do Banco ele foi até o colégio ver a situação de sua matrícula para dar continuidade nos estudos. Aproveitara todos os momentos livres nos últimos meses para estudar, revisar os conteúdos. Além disso literalmente devorara uma porção dos livros que haviam sido de sua madrinha. Além do primeiro, encontrara um mais interessante que o outro. Em várias ocasiões se pegou pensando que estivera perdendo tempo por uma porção de anos. Aqueles mesmos livros que agora devorava avidamente, haviam estado ali, na mesma estante durante praticamente toda sua vida e só agora lhes dera importândcia. Mas não adiantava chorar o tempo perdido. Urgia não perder mais dali por diante.
As matrículas estavam abertas e ele providenciou a sua. Encontrou com a secretária que lhe emprestara as apostilas para revisar o conteúdo e lhe falou de seus progressos. Ela lhe deu boas vindas ao colégio e parabenizou pelo fato de também ter se interessado pela leitura. Ali estava um excelente sinal. Sem dúvida iria fazer progressos rapidamente. Era mais que notório que o interessi do aluno pelos conteúdos representava mais de meio caminho andado rumo ao aprendizado. Ele se despediu para retornar à fazenda, depois de passar pela casa do padrinho que lhe pedira para olhar se tudo estava em ordem por lá. Fazia dias não vinha para a cidade.
A governanta lhe pediu algumas coisas que ele providenciou no comércio para abastecer o que estava em falta. Depois, já um pouco passado da hora do almoço, tomou o caminho de casa. Almoçaria em casa, pouco importando se fosse preciso requentar a comida. Não seria a mesma coisa que sentar-se para comer no momento de tirar as panelas do fogo, mas não havia como fazer tudo na hora desejada. Ao chegar a mãe o esperava com um prato ainda quente na beira do fogão a lenha. A fome estava grande e ele sentou-se sem cerimônia. Maria Conceição recomendou que comesse mais devagar. O prato não fugiria dali.
– Tem razão mãe. Às vezes me ponho a comer depressa, pensando que vou terminar antes e dar tempo de fazer mais coisas.
– Não adianta nada. Comer depressa causa é indigestão depois. E então como fica?
            Passou a comer mais devagar, mastigando bem os alimentos. Ao terminar, sentiu-se refeito e o alimento não estava pesando no estômago. Sentou-se alguns minutos e respondeu às perguntas da mãe que queria saber em que pé estava a instalação das máquinas. Satisfeita a curiosidade da genitora, ele foi cuidar dos afazeres. Primeiro passou pela casa grande, trocando a roupa que usare na ida a cidade, por outra mais adequada às andanças pela fazenda. O padrinho igualmente queria saber como estava a entrega e ele lhe satisfez a vontade. Por fim Joaquim quis ir junto percorrer a propriedade. Ficara por algumas semanas na cidade no começo do ano e viera no último final de semana.
            O resto da tarde foi gasto em vistoriar o desenvolvimento do arroz. A presença dos peixes era importante no controle dos insetos nocivos, até mesmo algumas plantas ficavam mais controladas. Cada vez se convenciam mais do acerto de sua decisão em trazer os alevinos. Ao mesmo tempo a associação dos pescadores estava procedendo à adaptação de um prédio antigo e sem uso para ali processar o pescado que seria oriundo das fazendas de arroz. As mesmas instalações serviriam para armazenar os excedentes de peixe pescado no rio em ocasiões especiais. Isso tornaria a possibilidade do abastecimento ao longo do ano mais uniforme. Haveria variação das espécies, mas não faltaria o peixe.
            Até aquele momento, em algumas ocasiões, era preciso trazer o produto congelado de longe. O frete elevava o custo e consequentemente o consume caia muito. Dessa forma a vida financeira dos pesacadores oscilava continuamente, nunca passando muito tempo em equilíbrio razoável. O Banco do Brasil havia usado uma linha de crédito especial para que fosse possível fazer as instalações e modificações necessárias. Grupos de pescadores e seus familiares, foram treinados para assumir as tarefas específicas dessa nova atividade.
            Tinham intenção de percorrer as áreas de pastagem, mas anoiteceu antes que tivessem tempo de faze-lo. Fariam isso na manhã seguinte. Haviam se entretido apreciando a beleza do viço e excelente sanidade observado na plantação do arroz. A área destinada à forragem das produtoras de leite também haviam vistoriado. O plantio de milho e outras forrageiras como sorgo, havia ocorrido um pouco mais tarde. No entanto haveria tempo para o corte e produção de silagem. Isso garantiria a alimentação dos animais no período de pastos deficientes. Teriam uma manutenção do nível de produção de leite no inverno. O veterinário e também o agrônomo do sindicato rural haviam contribuido com orientações para levar isso tudo a efeito.
            No dia 02 de fevereiro receberm o aviso do representante de São Borja de que as máquinas estavam na estação de carga/descarga. Fariam o transporte no dia seguinte ou no máximo até o dia 05. Igualmente lhes foi informado que no dia 04 a equipe encarregada da instalação estaria chegando para fazer sua parte na transação. Um caminhão trouxe o equipamento. Um trator, equipado com concha de carregadeira, foi usado para facilitar a retirada de cima do veículo. Mesmo havendo trabalhadores suficientes para fazer o trabalho, o uso da máquina tornou o processo mais fácil e seguro.
            Como as obras de engenharia haviam sido executadas em conformidade com as recomendações do fabricante, foi possível colocar as máquinas de imediato no lugar da instalação. Isso facilitaria o trabalho dos técnicos e apressaria a conclusão de sua tarefa. No próprio dia 03 ao entardecer, o grupo chegou e foi acomodado em quartos existentes na casa grande. Ficaram satisfeitos pois assim não teriam que ir e voltar da cidade, ganhando tempo com isso.
            Realmente, em pouco mais de três dias estava tudo instalado. Fizeram os testes costumeiros e avisaram aos proprietários de que no dia seguinte poderiam fazer a primeira ordenha mecânica. Os empregados foram avisados e em princípio, todos ficaram prontos a receber as instruções de uso dos novos equipamentos. Quando se iniciuou o procedimento, os animais estranharam primeiro o novo local onde iriam ser tratados e submetidos ao processo de retirada do leite. Depois chegou o momento de colocar as teteiras em lugar das mãos. Era preciso imobilizar as pernas para evitar os coices e danos nos equipamentos. Faixas para isso acompanhavam a ordenhadeira.
            Deram um pouco de trabalho, mas sendo de índole em geral pacífica, não foi difícile fazer a transição. Elas, desacostumadas à novidade, custavam um pouco para soltar o leite. Depois que superavam essa rejeição, tudo começou a fluir naturalmente. Sem dúvida havia alguns animais menos dóceis que davam mais trabalho, mas nada que impedisse a realização da ordenha ao final. Quando viu o leite colocado no resfriador, de onde seria transferido para o veículo de transporte, Maria Conceição não quis acreditar. Em muito menos tempo, sem quase nenhum esforço, um volume de mais de 1200 litros de leite estava ali, pronto para lhe ser dado destino.
            Procedeu-se à destinação das quantidades necessárias para atender a todos os trabalhadores, além de confecção de algumas peças de queijo, muito apreciado. Mesmo assim sobravam perto de 1000 litros. Esse volume, reunido ao tirado na noite anterior e guardado no resfriador já em uso, daria mais de 2000 litros. Em alguns meses, com a entrada em produção das novilhas compradas, esse volume seria significativamente reforçado. Os técnicos ainda permaneceram mais dois dias no local, acompanhando a adaptação dos animais e dos trabalhadores ao novo modo de proceder. Depois que tudo estava fluindo normalmente, eles se despediram e retornaram à capital. Antes tinham mais duas fazendas para fazer a amesma instalação. Uma delas em Uruguaiana e outra na região de Santa Maria, já no caminho de volta.      
            Quando tudo ficou estabelecido, os melhor adaptados ao novo modo de ordenha, foram efetivados nessa tarefa. Os demais temeram ser demitidos, chegando a ficar grandemente preocupados. Mas antes que isso acontecesse, alguns dos mais antigos foram aposentados e os demais foram realocados em novas tarefas. Houve quem fosse treinado nas tarefas de operação de máquinas como tratores, trituradores para silagem e outras. Também foram treinados, especialmente mulheres, para atuar na produção dos queijos. Gaudêncio tinha como objetivo produzir uma variedade de queijo colonial com qualidades especiais. Isso requeria especialização de funcionários.
            Dessa forma Maria Conceição teve seus temores removidos. Ninguém perdera o emprego. Os poucos que tinham alcançado idade para aposentadoria e tempo de contribuição suficiente passaram a perceber sua aposentadoria. Além disso lhes foi concedido o direito de permanecerem vivendo nas casas que ocupavam. Todos eles tinham filhos ou filhas trabalhando em algum serviço dentro da propriedade. Dessa forma passavam a fazer parte do serviço em suas casas, aliviando o fardo dos outros membros. Assim ficavam com atividades, compatíveis com suas forças. Isso era resultado da implanação do INPS. Além disso tinham direito ao FGTS, permitindo que dispusessem de um pecúlio para suprir alguns anseios há muito acalentados.
            Em poucos dias tudo retomou sua rotina. As vacas não mais estranhavam o local, nem o uso das teteiras. Pareciam até mais calmas agora, não sofrendo com as constantes trações para baixo por parte de alguns ordenhadores. Em alguns dias, houve até um pequeno aumento na produção.
            Nesse meio tempo, as semanas passavam e os cachos de arroz começavam a “engordar”. Os grãos inicialmente magros, aos poucos ficavam recheados. Mais alguns dias e começaram a pintar levemente de dourado. Em pouco os campos se cobriram de uma cor amarelada. Era hora de começar a retirar a água das áreas mais adiantadas e assim deixare a área pronta para a colheita. Do contrário as máquinas teriam problemas em se movimentar para fazer o trabalho. Na fazenda Santa Maria e também na Santana, havia ainda outro problema. A água que seria retirada, implicava na remoção de muitas toneladas de peixes ali colocados alguns meses antes na forma de minúsculos pontos. Agora estavam medindo entre 15 e 20 cm de comprimento.
            Era a primeira vez que isso seria feito e logicamente requeria um período de aprendizado. Nas semanas anteriores Gaudêncio viajara para uma fazenda em Uruguaiana que usava a técnica e o arroz ficara maduro um pouco antes. Foi aprender como seria mais adequado fazer esse trabalho. Levou consigo dois auxiliares para poderem trabalhar em mais de uma equipe. Os pescadores estavam esperando para fazer o processamenrto. Se preciso fosse, trabalhariam em turnos alternados, durante as 24 horas do dia. Depois dos primeiros dias e alguns pequenos acidentes, dominaram o procedimento e toneladas atrás de toneladas os peixes foram levados para o frigorífico dos pescadores.
 
Arroz no ponto de colher.

 

Arroz amadurecendo.
 
 
 
Quando foi a hora de iniciar a colheita, o solo estava seco o suficiente para as máquinas poderem entrar na área. A colheita foi farta. Os cachos estavam pesados e as colhedeiras enchiam caçambas e mais caçambas do precioso cereal. Os caminhãos se revezavam em transportar o produto para os silos onde ficaria armazenado até o processamento pelas indústrias. O carnaval dera à família do general ocasião para voltar à fazenda. Gaudêncio deixou para viajar à capital por ocasião da páscoa. Até lá o arroz estaria colhido em sua maior parte. Estava, paralelamente, envolvido agora com a sua presença às aulas.
 
Colheita em andamento. Ainda se vê água no solo.

 

Arroz sendo colhido e ao lado os canais de irrigação.

 

Moderna ceifedeira de arroz.
 
            Notou com satisfação que ao seu lado estavam homens, rapazes, moças e mesmo senhoras com idades variando de 16 a algo em torno dos 40 anos de idade. Uma verdadeira miscelânia de idades. Isso deixava o problema da sua adaptação ao ambiente escolar, relegado à insignificância. Não era nem o mais jovem, muito menos o mais velho na sala. Em poucos dias estavam integrados, considerando-se, antes de mais nada, todos colegas. Tinham deixado a formação escolar de lado em sua época própria e agora corriam atrás do bonde. Era frequente ouvir a expressão: Antes tarde que nunca.
            Como em todas as turmas, existem os elementos destoantes. De 35 integrantes da turma, havia quatro que gostavam de questionar tudo, contestar, inquirir por quê estudar essa ou aquela disciplina; por quê não estudar aquela outra, para que serviria determinado assunto, onde seria usado. Dessa forma irritavam os professores e também os colegas. Era necessária muita paciência para se acostumar com a constante perturbação que esses elementos causavam. Em questão de poucos dias os professors de pulso mais firme haviam conseguido colocá-los em seus lugares. Já os mais frágeis nesse particular começaram a apelar para aplicação do regulamento da escola. Avisavam uma vez, duas vezes e na Terceira convidavam o alauno a se retirar da sala.
            Em geral isso resultava em suspensão por um dia, dois dias, com o documento sendo afixado no edital para todos verem. Gaudêncio sentia vontade de pegar os jovens, tinham todos menos de 20 anos, pelo gasnete e lhes aplicar umas boas palmadas no traseiro. Foi preciso controle para não extrapolar suas atribuições ali. Não estava na fazenda, onde os peões lhe obedeciam sem discutir. Era um igual e não poderia se salientar. Tentou mesmo conversar com eles tentando levá-los à conscientização, mas pouco adiantou. Por alguns dias até ficaram mais sossegados, mas depois voltavam à velha rotina. O mês de março passou e chegou abril. Nas primeiras semanas era a semana santa. Havia aulas só até a quarta feira.
            Na quinta feira cedo, Gaudêncio estava no aeroporto para ir à capital. Estava com saudades de sua amada. O mesmo acontecia com ela. Pelo menos duas vezes por semana se falavam por telefone, mas nada é igual a presença física da pessoa amada. Os pais lhe havia desejado boa viagem, dado sua benção e o padrinho o deixara no aeródromo. Pouco depois do meio dia estava no apartamento, sentado serenamente e almoçando com a família de Ângela. Estava disposto a falar com ela naquela ocasião sobre o noivado. Se ela aceitasse a levaria a uma joalheria para comprar as alianças e um anel de noivado. Faria o pedido aos pais oficialmente na noite de Páscoa.
            Os dias foram curtos para matar a saudade e depois de irem a uma joalheria na manhã de sábado, os dois estavam aparentemente cheios de segredos sobre o que haviam feito durante o passeio. Ângela todavia havia contado a novidade à mãe e recebera dela total apoio. O único que parecia estar por for a do assunto era o general. À noite todos se dirigiram à igreja mais próxima e assistiram à celebração da ressurreição. Terminada a cerimônia, chegaram à casa pouco antes da meia noite.
            Haviam comido uma refeição leve antes da ida à igreja. Ao retorno os aguardava uma ceia de alimentos frios, acompanhados de uma taça de champanha. Foi nesse momento que Gaudêncio resolveu fazer o pedido ao pai da amada. Tomado de surpresa o general olhou de olhos arregalados por um instante. Volveu os olhos para a esposa depois para a filha como a interrogar o que deveria fazer. Dona Lourdes falou:
            – Não vai responder ao Gaudêncio, meu bem?
            – A sim! Fiquei tão surpreso que esqueci de responder.
            – Ele está esperando pela sua resposta. Vai dar ou não sua permissão?
            – Dou sim, com certeza. É que essa é a primeira vez que pedem minha filha em noivado. Vamos celebrar a essa oportunidade.
            As taças foram enchidas novamente, as alianças foram colocadas nos dedos da mão direita. Depois, antes de ser erguido o brinde, o noivo retirou do bolso um outro estojo e o entregou à noiva, dizendo:
            – Quero deixar uma lembrança inesquecível para Ângela, minha querida noiva.
Ela abriu o estojo e retirou de dentro o belíssimo anel de diamantes, finamente trabalhado. As pedras faiscavam sob à lus das velas que iluminavam o ambiente nesse momento. O anel foi colocado no dedo da outra mão e exibido para todos verem. Só então ergueram o brinde, desejando vida longa ao casal, muita felicidade e no futuro casamento.
Depois disso atacaram os alimentos que estavam postos na mesa e aguardavam os comensais. Eram apenas os quatro. A parte social ficaria para o almoço de domingo que passariam no clube. O general havia reservado churrasco para a família e os demais sócios ficavam orgulhosos sempre que podiam contar com a presença de seu comandante. Foram dormir mais tarde. Na manhã seguinte não haveria necessidade de levantarem muito cedo. Não precisariam se preocupar em preparar o almoço. O café poderia ser apenas um leve belisco para não estragar o apetite no almoço.
Dormiram e levantaram já em torno das 09 h da manhã. Dona Lourdes havia preparado um bule de café, fervido um litro de leite. For a na esquina buscar um pão fresquinho da panificadora que ali havia. Os três sentaram e precisaram se conter para não exagerar no desjejum. O general vestiu sua farad de gala para esse dia. Estariam reunidos também alguns oficiais das outras armas como aeronáutica, marinha e brigade militar. Era pois dia de trajar roupas de acordo com a ocasião. Os outros três, dado o clima já mais ameno nessa época, vestiram roupas sem exagero, mas condizentes com situação.
Às 11 h 30 minutos chegaram ao clube. A maioria dos oficiais das várias unidades militares estava no recinto quando o quarteto fez sua entrada. Foram cumprimentados com deferencia por todos e não tardou para as amigas mais chegadas de Ângela vissem a aliança na mão direita e o anel de noivado na esquerda. Foi cercada e cumprimentada de todos os lados. O almoço, apesar de ser servido o tradicional churrasco gaucho, foi festivo. Os enormes espetos eram carregados por vigorosos garçons por entre as mesas, convenientemente distanciadas para não criar problemas de locomoção. Ainda havia muita carne para ser consumida, mas ninguém mais tinha lugar no estômago para tanto. Sem esquecer que ainda havia a sobremesa por ser servida.
Dessa forma, por volta de quatro horas da tarde a família chegou de volta para o apartamento. Gaudêncio tinha marcado sua passagem para a segunda feira na primeira hora depois do almoço. O feriado chegava ao fim e os, agora noivos, se despediram prometendo não demorar demais em se casarem. Simplesmente não saberiam mais viver longe um do outro por muito tempo. Gaudêncio contara orgulhoso seu êxito na escola. A forma como mergulhara nos livros de literatura e isso o deixara encantado. Teria muito a recuperar do tempo perdido nos anos vindouros.
Os dois foram ao aeroporto acompanhados da mãe dona Lourdes, para fazer companhia à filha na volta. Beijaram-se ternamente no momento da separação e acenaram na hora de entrar na aeronave. Levariam no coração a lembrança daquele momento. Serviria de console até o próximo encontro.

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