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O que significa Elite?

Qual é o significado da palavra ELITE?

Diante de alguns questionamentos, decidi dirimir as dúvidas, se é que existiam e agora vou compartilhar o que apurei. Desde a época em que fiz o antigo curso Ginasial, sabia que esta palavra tem um significado ideal, ou seja, que o define enquanto vocábulo de nossa língua e que é usado, com pequenas variações de escrita e pronúncia em um bom número de línguas estrangeiras. Sua origem remonta ao tempo dos filósofos gregos, principalmente Sócrates, e significa:

“Elite é o que existe de melhor em uma sociedade ou grupo social”. Tem como sinônimos e significados semelhantes: escol, fina flor, nata, extrato superior.” Em francês “le Crème de la Crème”.

Como eu disse acima, este é o significado ideal, que deu origem ao vocábulo. Mas existe um porém. Sendo algo ideal, significa que é, na verdade inalcançável, pois requer um elevadíssimo grau de perfeição em tudo. São pouquíssimas pessoas que se poderia colocar nessa categoria, o que equivale a dizer que elas praticamente inexistem, na grande maioria dos grupos sociais. Dessa forma, acabamos por denominar elite, ao grupo dominante, que detém o maior volume de riquezas, um elevado nível de conhecimentos, frequentam os melhores clubes, as lojas mais chiques, os restaurantes mais requintados, possuem as residências mais bacanas, andam nos melhores automóveis e em geral ocupam os cargos políticos ou de gestão pública. Seria interminável enumerar os aspectos todos em que se destacam, ou desejam se destacar.

Até aí tudo bem. Nada de errado. O que acontece entretanto, é que muito dessa aparência externa, se fundamenta em uso de meios pouco recomendados para obtenção dessa situação. Não significa que ser rico ou chique é por si só motivo de condenação. Oxalá todos pudessem ter a mesma condição, o que também é inviável, pois há quem não se importe nem um pouco em ter coisas, vestir as melhores roupas, gastar dinheiro como bem entender. Preferem viver sua vida de modo simples e tranquilo, o que também não é motivo para recriminação.

Em todas as fontes consultadas como: Dicionário Aurélio, Michaelis, Priberam, Dicionário Online de Português, dicionário informal, Wikipedia e outras, aparece também, ao lado do conceito enunciado acima, uma segunda definição, menos lisonjeira do que essa ideal, que é:

“Minoria social que se considera prestigiosa e detém algum poder e influência”.

“Grupo social que detém mais privilégios, é mais culta ou mais forte, dominando o grupo”.

Certamente que sempre houve na humanidade, desde os pequenos grupos, até as nações, pessoas que ocuparam a posição de liderança, comando, tomada de decisões. A história está cheia de exemplos de líderes cruéis, radicais, impondo sua vontade pela força física, aliada as armas. Por outro lado há um imenso contingente de líderes bondosos, que obtiveram o direito de decisão e comando através de sua grandiosidade de espírito, conquistando o respeito e amor de seus liderados. Sempre houve os mais espertos que dispunham de posição e os menos favorecidos que foram explorados pelos primeiros. Inclusive, até pouco mais de um século passado, convivíamos com o instituto da escravidão em boa parte do mundo. Fomos inclusive o último país a abolir a escravidão negra em nosso território. No entanto, os senhores de escravos, que exploravam o trabalho dessas pessoas, eram tidos como pertencentes à elite da sociedade, pouco importando que suas mãos estivessem sujas do sangue dos negros, açoitados até perto da morte, como punição por pseudo mau comportamento, preguiça e outros motivos dispensáveis de enumeração.

Na idade média, os senhores feudais, exploravam o trabalho dos camponeses ao máximo, mal lhes permitindo obter o suficiente para sobreviver miseravelmente, sendo porém obrigados a integrar-se às tropas do senhor, não como combatentes, mas nas tarefas consideradas indignas aos cavaleiros. Nem por isso os senhores deixavam de ser tidos membros da elite da sociedade, enquanto os servos eram a ralé, o populacho, a gentalha, os miseráveis.

Com o advento do comércio e revolução industrial, muita gente com espírito de aventura e iniciativa, conseguiu amealhar um volume de riquezas além da maioria dos denominados nobres, formando novo grupo que foi denominado burguesia, entre os quais surgiram os capitalistas, donos de indústrias, grandes estabelecimentos comerciais, proprietários de terras. Do outro lado os camponeses ou agricultores, os operários das fábricas e empregados do comércio, extinguindo-se gradativamente a atividade artesanal, que perdeu terreno para as máquinas industriais. De nada adianta ao proprietário de terras ter uma extensa área de terreno fértil, se não houver mãos para a cultivar e fazer produzir. Ele necessita de camponeses para trabalhar. Tampouco basta ao capitalista dispor de uma bem equipada indústria, matéria prima em profusão, energia para por as máquinas em funcionamento, se não tiver à disposição os operários para executar as tarefas manuais exigidas no processo de fabricação. Uma imensa e bem sortida loja de produtos variados, não serve de nada ao comerciante, se não houver vendedores aptos a atender aos compradores de seus produtos.

Notamos que sempre existem os dois lados, onde um precisa do outro e o ideal é que haja um ajuste, ou acordo, que satisfaça as pretensões de ambas as partes. Se o proprietário de terras quiser cobrar um arrendamento demasiadamente alto, o agricultor não terá como sobreviver de seu trabalho. Se o industrial pagar ao operário um salário injusto, este não terá como prover as condições para repor suas energias e viver condignamente com sua família. O vendedor da loja, tem suas necessidades a serem satisfeitas e isso depende de seu ganho na atividade de vender. O que em geral acontece, é que o acordo não é satisfatório nem para um, tampouco para o outro. Por que? Ocorre que, via de regra, salvo algumas exceções sem dúvida, é que os detentores dos chamados “meios de produção”, ou seja o proprietário de terras, o industrial e o comerciante, querem acumular sempre mais capital, pouco se importando se seus empregados vivem mal, não têm o suficiente para uma vida digna. Surge o conflito, que normalmente é mediado por autoridades governamentais. Os donos do poder econômico, sempre são em menor número, porém dispõe de recursos financeiros. Estes, não raramente, são empregados para subornar os agentes públicos, conseguindo assim relatórios favoráveis somente a eles.  Por outro lado os trabalhadores, sejam camponeses, operários ou comerciários, aprenderam a se aliar na forma do que veio a ser chamado de Sindicato. Poderia ter um outro nome qualquer, que não faria diferença alguma. O importante é o papel desempenhado. Também aí há os que extrapolam suas funções, passando a usar da liderança entre seus colegas, para proveito próprio, o que também é indesejável.

Pode-se aqui questionar: Quem faz parte da elite dessa sociedade?

Tenho certeza de que a maioria irá responder que são aquela minoria, detentora do poder econômico, dos meios de produção e comércio. É comum considerarem seus empregados quase que uma sub-espécie, de categoria inferior. Esquecem-se que, a maioria de seus produtos, quem irá comprar para o consumo final, são exatamente estes trabalhadores. O que eles ganham trabalhando aqui, gastam acolá, comprando o que necessitam, formando assim uma corrente infinita de interdependências. Dessa forma, seria de esperar que, tanto os trabalhadores fossem menos intransigentes em suas reivindicações, como por outro lado os capitalistas fossem menos gananciosos aceitando dividir um pouco dos seus lucros com os empregados. Uns precisam dos outros, de um modo impossível de separar. Por que motivo tanta ambição? Ou tanto ódio de classes? Ainda resta longo caminho a percorrer até que se alcance o equilíbrio nesse aspecto. Será que algum dos “donos do poder econômico” pensa que haverá na eternidade, após a morte terrena, bancos, caixas eletrônicos, clubes, hotéis de luxo, cassinos e outros lugares onde poderão usufruir de seu dinheiro acumulado?

Em determinado período ocorreu uma brutal substituição de mão de obra humana, por máquinas robotizadas. Essas não necessitam de descanso. Podem executar a mesma tarefa rotineira, com precisão e sem se distrair, tornando o resultado mais preciso e com menor grau de defeitos. Chegou-se a temer um desemprego em massa, o que seria catastrófico. Porém, encontrou-se a saída no setor de serviços, onde a mão de obra humana é insubstituível, pelo menos por ora. Ultimamente tem ocorrido um movimento em sentido contrário, por exemplo em indústrias automobilísticas. Os consumidores tornaram-se mais exigentes e gostam de escolher cada detalhe do produto que irão usar. Assim, chegou-se ao ponto de ser necessário produzir uma série de veículos do mesmo modelo, porém com inúmeros detalhes diferentes um do outro. É impossível programar um robô para tal diversidade de tarefas. Isso levou indústrias de ponta a substituir linhas de robôs por homens, onde cada um pode executar um determinado detalhe, na cor, forma e acabamento desejado. Assim conseguem atender a imensa variedade de combinações que se tornaram possíveis.

A indústria automobilística Ferrari, por exemplo, até hoje não usa em sua linha de produção muita coisa automatizada. Ela não visa produzir grandes quantidades, porém seu objetivo é produtos de altíssima qualidade. Seus trabalhadores formam uma autêntica “famíglia”, levando-os a sentir orgulho de integrar o time Ferrari. Sem dúvida, isso gera uma fidelidade à marca, impossível de obter numa indústria, onde o trabalhador está sempre com a espada da demissão, em caso de turbulência econômica, suspensa sobre sua cabeça. Essa insegurança, gera em contrapartida, uma fidelidade de marca muito reduzida. O resultado é que ocorre uma rotatividade bem mais acentuada.

Especialmente nos EUA e algumas outras localidades, há empresas, mais notadamente na área de tecnologia da informação, que passaram a dar a seus trabalhadores uma forma de assistência e flexibilidade de condições muito diferentes. O objetivo é fazer com que cada um produza o máximo, com o mínimo de stress. Assim, seus horários são flexíveis, as preocupações com detalhes do dia a dia, são executadas por auxiliares mantidos pela empresa, dando a cada um a tranquilidade que ele não encontra em outros lugares de trabalho. Os resultados tem sido animadores. Talvez isso não seja viável em determinadas áreas de produção, porém pode servir de exemplo aos gestores para que busquem meios de amenizar as agruras de seus operários. Se eles se sentirem satisfeitos, tranquilos e felizes, com certeza irão trabalhar com mais disposição e também estarão mais dispostos a transigir com alguma perda, em momentos de crise. No entanto, quem trabalha sempre no limite de suas forças físicas e morais, dificilmente terá ânimo para aceitar algum sacrifício, por menor que seja.

Há o uso da palavra elite, para designar diversos grupos de pessoas, que preenchem determinado requisito com grande habilidade. Vamos enunciar apenas alguns deles, bastante conhecidos.

  1. Atiradores de elite: – são grupos, em geral de militares ou policiais, altamente treinados e dotados de equilíbrio emocional invejável, capazes de acertar um alvo, à grande distância com uma chance desprezível de errar.
  2. Tropa de elite: – quem não assistiu ou pelo menos ouviu falar do filme Tropa de Elite, depois Tropa de Elite 2? Uma película rodada no Brasil, tomando por base um grupo de policiais militares, igualmente treinados, além de serem dotados de porte físico destacado. Destinada a ações de extremo risco e onde é exigida habilidade especial para haver chance de êxito.
  3. Elite do futebol: – o Brasil quase sempre pertenceu ao que se costuma denominar de Elite do futebol mundial, embora ultimamente tenha deixado à desejar, dentro da concepção de torcedores fanáticos que grande parte da população nacional é. Igualmente alguns clubes de diversos lugares, fazem parte desse grupo, por suas conquistas de títulos.
  4. Elite esportiva: – atletas destacados, medalhistas de ouro em competições internacionais e olímpicas.
  5. Soldados de elite: – já Hitler tinha sob seu comando uma tropa, chamada de elite, os mal afamados integrantes das tropas SS, que tanto temor inspiravam em todos os povos que estiveram à sua mercê, até mesmo os próprios soldados da Wehrmacht e demais cidadãos alemães. Que dirá dos judeus, ciganos ou qualquer outra minoria que tivesse caído no desagrado do Führer.
  6. Os “mariners” americanos especialistas em ações específicas, principalmente em território inimigo, costumam ser chamados de grupos de elite, embora recebam denominações diversas em ocasiões especiais. Poderíamos ficar enumerando páginas e páginas de grupos em que seus integrantes apresentam características especiais, aprimoradas por treinamento, esforço pessoal e de grupo, no desempenho de determinadas atividades. Empresas há em profusão que usam a palavra elite em seu nome fantasia  ou mesmo em sua razão social, querendo com isso chamar atenção para a diferenciação de qualidade de seus produtos ou serviços.

Tudo isso nos mostra que o significado da palavra tem muito pouco à ver com seu uso de maneira geral. Vejamos o caso de um atirador de elite. Para que é treinado? Somente para acertar em alvos distantes e difíceis, conquistando medalhas? Com certeza a resposta é não. Ele é treinado especificamente para matar. Embora isso seja algo necessário em situações especiais, esse indivíduo, no dia em que deixar de fazer parte desse grupo, por um motivo qualquer, não perde sua habilidade. Ela pode decair pela falta de continuidade do treino, mas, ainda assim poderá ser de grande periculosidade, se decidir usar isso para praticar crimes. Um exemplo típico de alguém, treinado com primor pelos militares e órgãos de inteligência dos EUA e que se rebelou foi Osama Bin Laden. Na época anterior ao fim da Cortina de Ferro, durante a invasão do Afeganistão pela URSS, ele foi integrante de grupos de combate especializados infiltrados em território inimigo. E todos sabemos o que ele infligiu aos antigos “patrões” no episódio do 11 de setembro de 2001, além de inúmeros outros atentados por toda parte. Ele era de elite, para uma coisa, porém usou mal suas habilidades. No rigor da palavra, ele não era realmente de elite. Carecia de uma porção de qualidades em grau suficiente para tal.

Um atleta de elite, conquista medalhas, troféus e glórias para si e também para sua pátria. Quantos deles, perdem o controle sobre suas vidas, por deixar que a fama lhes transtorne os pensamentos? Podemos dizer, mesmo assim, que eles pertencem à elite  do país? Creio que não, pois lhe faltam qualidades para isso.

Que tal perguntarmos aos sobreviventes dos campos de concentração nazista, se ainda houver algum deles vivo nos dias de hoje, o que acham dos SS? Irão dizer que eram da elite das tropas de Hitler? Me arrisco a afirmar que não será essa a resposta. No entanto os livros estão cheios de situações em que se fala nas tropas SS, como as tropas de elite  do Führer do IIIº Reich.

Trazendo tudo isso para os dias atuais, quando se usa essa palavra para designar os grupos políticos, especialmente os representantes dos grupos econômicos, como fica a questão? Essas pessoas merecem ser incluídos no que seria a elite brasileira, tomando a palavra no seu sentido mais restrito e elevado? Talvez haja alguns que estariam em condições de ser assim classificados, mas a imensa maioria, creio que não sobreviveria a criteriosa seleção necessária. Nem mesmo as pessoas que usam as roupas, os carros, sapatos, jóias mais caros e elegantes, frequentam os lugares mais requintados são todas realmente pertencentes à elite? Elas fizeram alguma coisa para ocuparem a posição em que se encontram? Ou apenas tiveram a sorte de nascer filhos de pais abastados, acostumando-se desde crianças à vida de glamour, de modo a considerar isso algo natural e portanto lhes pertence de modo inquestionável? Não quero colocar todos na mesma cesta. Os exemplos são identificáveis, em geral com muita facilidade. O pior de tudo é que, os menos merecedores dessa qualificação, acabam se destacando e ocupando posições estratégicas, onde podem por em prática suas inclinações menos nobres e éticas, geralmente desfavorecendo os mais fracos.

Curitiba, 07 de junho de 2016.  Revisto em 25 de setembro de 2018.

Décio Adams

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