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Gaúcho de São Borja! – Capítulo VIII

 

 

 

 

Área de manobras e cargas.

 

 

Vista do Salgado Filho.

 

 Conhecendo a capital
Num belo dia de sol, Gaudêncio das Neves, depois de sofrer um pouco durante os momentos mais críticos de um voo num avião comercial, desembarcou no aeroporto Salgado Filho, na capital Porto Alegre. Era seu primeiro voo mais longo. Havia feito algumas experiências em voos panorâmicos sobre as fazendas da região, em companhia do padrinho Joaquim. O aparelho em que agora voara, era equivalente a uma porção daqueles em que tivera oportunidade de fazer sua estréia nos ares do Rio Grande.
Estava pilchado com seu traje típico e olhou assustado para a quantidade nunca imaginada de aviões, as dimensões do aeródromo, o pátio de manobras e estacionamento. Tudo era gigantesco. Estava acostumado às amplidões do pampa, onde as coxilhas se estendem a perder de vista, alternando pastagens, capões de mato, plantações e aqui ou ali uma sede de fazenda. O aeroporto de São Borja, mesmo não sendo pequeno, parecia um campinho de várzea perto de um Beira Rio, Olímpico ou Maracanã. Orientado pelos funcionários da companhia aérea, dirigiu-se para a área de desembarque, onde recebeu sua bagagem. Após perguntar pela saída, encontrou finalmente um taxi que o levou para o hotel previamente reservado pelo padrinho.
Entrou no hotel, olhando curiosamente para todos os lados. Suas estadias anteriores em hotéis haviam ocorrido em lugares menos imponentes. Era ali que Joaquim se hospedava nas raras ocasiões em que vinha para a capital. Era suficientemente bom para satisfazer as exigências de um homem rico, não excessiamente sofisticado. O registro foi preenchido, um adiantamento de duas diárias foi exigido e depois encaminharam o hóspede para o seu aposento. Localizava-se no 7º andar, com vista para a Av. Farrapos. Era estranho observar os carros e as pessoas dali de cima. Os primeiros se assemelhavam a chapas mais ou menos planas que deslizavam pelas ruas. Já as pessoas pareciam bonecos, tendo em destaque a cabeça e os braços, deslocando-se pelas calçadas. Aqui e ali se viam toldos de vendedores de rua. Carrinhos de cachorro quente, sanduiches e outras iguarias.
Guardou suas roupas no guarda-roupa, os objetos de uso na cômoda, onde havia um amplo espelho. Foi até o banheiro e aliviou a premência de suas necessidades fisiológicas. Olhou no relógio e viu que era hora de ir almoçar, do contrário perderia a hora e depois teria que esperar a janta, ou então comer alguma coisa num boteco. Conferiu se tinha no bolso os documentos, dinheiro e objetos de uso constante, depois desceu e pediu informação na portaria. Indicaram lhe um restaurante situado a duas quadras dali, onde poderia encontrar uma refeição de seu gosto. Sua forma de trajar denunciava a orígem e indicava o tipo de lugar escolheria para almoçare.
Chegou lá e encontrou uma churrascaria bastante movimentada. Apesar de já serem 13h 15 min, ainda estava cheio, tendo poucas mesas livres. Escolheu uma que dava visão de todo o ambiente e uma parte da rua. Queria saborear a refeição enquanto prestava atenção no movimento geral, nas atitudes dos demais clientes, o movimento da rua. Estava em viagem de aprendizado, portanto tudo que fosse novidade lhe interessava nesse sentido. Um garção lhe trouxe o cardápio e ele não demorou na escolha. O prato principal seria a costela no espeto, tendo por acompanhamento um pouco de salada, arroz, feijão e algum petisco como uma linguicinha, um miudo de frango.
Enquanto esperou correu o olhar por sobre todo povo sentado, ocupado em dar conta de seus pedidos, mantendo com os companheiros de mesa frações de conversa em momentos de interrupção da mastigação. Em seu íntimo ficou pensando no fato de que, na hora de comer, não existe grande diferença entre ricos, pobres, humildes, letrados ou qualquer outra diferenciação. O importante era colocar a comida para dentro, mastigando e engolindo num vai-vem ininterrupto. Seu pedido chegou e interrompeu seus devaneios, pondo-se também a fazer o mesmo que os demais faziam. A carne estava muito boa e esqueceu completamente seus pensamentos de há pouco. A preocupação principal era dar cabo daquele naco de costela, duas linguiças e um pouco de feijão com arroz que pusera no prato. O espeto com carne passou mais uma vez e deixou uma segunda porção, ao cabo da qual ele sentiu que estava farto. Comer mais seria exagero e poderia passar mal.
Pagou a conta, mas antes pediu o cafezinho. Enquanto aguardava o seu “pretinho fresco passado no saco”, pegou um palito e discretamente removeu de entre os dentes alguns nacos de carne que ali haviam ficado presos. Depois saiu caminhando lentamente pela rua, observando todos os pormenores. Estava na capital e ali, como em qualquer outra cidade, havia detalhes característicos próprios, dificilmente encontráveis em outra. Queria reter o máximo de informações na mente. Era segunda feira e o encontro com os agentes financeiros do padrinho estava marcado para a manhá de terça. Tinha pois a tarde livre para passear, conhecer o que desse tempo de ver. Voltou ao hotel, trocou de roupa, colocando uma que chamasse menos atenção.

Beira Rio, vista interna.
Vista aérea do Beira Rio.


Desceu e perguntou se era muito longe dali o estádio do Beira Rio, bem como do Olímpico. Era torcedor do Colorado, mas não do tipo fanático. Respeitava a liberdade de cada qual ter sua preferência. Afinal, o que seria dos outros clubes, se todos resolvessem torcer para o mesmo? Não teriam de quem fazer troça nos casos de vitória ou derrota. Nem mesmo adversário teriam mais, uma vez que isso implicaria na extinção dos outros. Tinha por lema: “Na hora do jogo, torcer até ficar rouco e quase sem fôlego. Depois, confraternizar pouco importando que havia sido vencedor.” Foi informado que poderia tomar um ônibus na esquina e desembarcar ao lado do Beira Rio. Depois num outro coletivo chegaria ao Olímpico. Estava munido da filmadora Super 8 do padrinho, adquirida na recente viagem à Europa. Registraria as imagens de sua visita aos dois monumentos dos maiores clubes de futebol do Rio Grande do Sul.
Decidiu por tomar um taxi, pois assim chegaria mais depressa e poderia dedicar mais tempo a visita que iria fazer. Saiu para a rua e logo um veículo era parado ao seu sinal. Embarcou e deu o endereço onde queria ir. Partiram e em cerca de vinte minutos era deixado diante do estádio conhecido como o Gigante do Beira Rio. Havia visto fotografias de página interia nos jornais, imagens na TV a cores na casa do padrinho, mas nada poderia dar a noção exata da majestosidade do imenso bloco de concreto e aço que via a sua frente. Caminhou lentamente ao redor, olhando cada detalhe, sempre de camera em punho, ou batendo instantâneos para o álbum que faria da viagem. Demorou cerca de uma hora até se dar por satisfeito. Quando pudesse viria assistir a um jogo, de preferência um Grenal. Seria a realização de um sonho acalentado há muito tempo.
Vista aérea do Olímpico Monumental.
Olìmpico Monumental, vista interna.






Tomou outro taxi, rumando para o Estádio Olímpico. Lá chegando, seus olhos também se admiraram da imponência da obra. Forçoso era reconhecer que o estádio do principal adversário de seu Colorado, também tinha sua grandiosidade. Nova sequência de filmagens, fotografias e novas sequências de filme. Teria muito que mostrare ao pai, aos amigos, aos peões com quem convivera durante os anos de sua infância e adolescência. Entre eles havia os colorados como também os gremistas. Chegavam a formar dois times para disputar peladas nas tardes de domingo ou feriado, numa área que for a limpa e era própria para jogar uma bola.

As vitórias se alternavam ora para um lado, ora para outro, mas sempre no final matavam a sede com uma ou duas grades de gasosa, quando não umas Serramaltes, Brahmas, Casco Escuro ou coca-cola. Sempre resultavam alguns esfolões, vez ou outra um tornozelo inchado, até mesmo um braço quebrado durante uma queda ou choque no calor da disputa. Poderia mostrar a todos que não se importara em visitar apenas o estádio de um dos dois clubes. Levaria imagens dos dois e assim ficaria em bons ares com uns e outros. Terminada sua incursão aos estádios, verificou no relógio de pulso, presente do padrinho trazido da Europa, que já eram 5h30min. Não teria mais tempo para dar um passeio até o rio Guaiba. Deixaria para outra hora, pois havia visto do algo, na hora em que o avião estava fazendo a aproximação para pousar no aeroporto. Fora uma vista impressionante.
Retornou ao hotel e decidiu tomar banho, barbear-se com capricho. Queria fazer bela figura e não podia descuidar da aparência. Ao desembarcar do taxi viu ao lado do hotel a existência de uma barbearia e foi até lá para aparar o cabelo, dar um jeitinho no bigode, do qual se orgulhava bastante. Teve que agurdar alguns minutos até ser atendido. O professional que o atendeu foi gentil e realizou seu desejo de fazer um corte de cabelo que melhor se ajustasse ao tipo do cliente. Deu pequenos retoques no bigode e colocou nas mãos de Gaudêncio um espelho para observar de perto. Olhou demoradamente para sua imagem, conferiu o cabelo e se deu por satisfeito. Pagou o serviço, deixando uma gorjeta e voi para o hotel. Estava barbeado e de cabelo cortado, faltava apenas o banho.
De banho tomado, uma roupa nova tirada do guarda-roupa, agora desamassada depois de ficar pendurada no cabide durante a tarde. Vestiu-se com calma, calçou o sapato e desceu para jantar no próprio hotel. Uma refeição leve para a noite era suficiente. Ainda sentia o peso da carne ingerida no almoço. Enquanto esperou a refeição, pensou no que faria na primeira noite na capital. Pensou em procurar uma boate para tomar contato com a vida noturna, mas sua inexperiência o colocaria em risco de passar por experiências desagradáveis. Na manhã seguinte tinha compromissos importantes e não seria conveniente se apresentar de ressaca ou quem sabe coisa pior. Quando o garção trouxe a comida, perguntou de modo discreto sobre um cinema nas redondezas. Queria ver um bom filme para depois ir dormir uma boa noite de sono.
O interpelado lhe disse que o melhor cinema das proximidades ficava na rua paralela, descendo uma quadra. Pelo que sabia estavam levando uma fita muito boa. Um bang-bang inédito, e ouvira falar muito bem. No que lhe dizia respeito, aconselharia o amigo a assistir.
Agradeceu e se pos a comer com calma. Tinha tempo suficiente. Eram agora pouco mais de sete horas e o filme teria início somenta as 8 h 30min. Poderia gastar todo o tempo necessário para a sua refeição e depois ir até o cinema. Terminou de comer e pediu um café. Tomou a bebida e levantou-se para sair. Em pouco mais de dez minutos ele se encontrava diante do moderno cinema, onde em grandes cartazes era anunciada a fita que estaria sendo exibida em sessões contínuas naquele e nos próximos dias. Havia uma fila onde as pessoas ficavam para adquirir seus ingressos. Gaudêncio não esperou e entrou na fila. Pouco depois recebia o bilhete e foi para a porta de entrada. Ao chegar no interior, mantido em semiobscuridcade, procurou um lugar para sentar. Escolheu a posição que permitiria boa visão da tela e sentou-se no assent confortável.
Alguns minutos depois o filme começou. Gaudêncio procurou manter o controle, pois era a primeira vez que estava em uma sala de cinema de semelhantes dimensões. Prestou atenção aos demais assistentes para não cometer gafes, dizer algo inadequado, rir nas horas indevidas. Se divertiu bastante e após duas horas, que passaram sem perceber, levantou satisfeito e voltou para seu quarto no hotel. Ali chegando aproveitou para ver a última edição do jornal que estava passando na TV na sala de estar no hall. Depois subiu e foi dormir.
Terça feira cedo estava a caminho do endereço da empresa de investimentos, localizada a alguma distância, para ter o seu primeiro contato com o mundo dos investimentos. Ia imaginando o que iria encontrar. Chegou e foi introduzido na sala do agente de Joaquim sem demora. Ouviu por mais de meia hora o homem discorrer sobre diversos investimentos do padrinho. Falou de ações, Petrobrás, Banco do Brasil, depósitos a prazo fixo, investimento em fundos de ações, e uma enorme variedade de nomes que eram desconhecidos até aquele momento. Recebeu um relatório da rentabilidade dos últimos seis meses de todos os investimentos, percebendo que dinheiro gera dinheiro, bastando ser aplicado de maneira conveniente. Claro que havia riscos. Para evitar isso existiam pessoas especializadas em fazer o acompanhamento diário e orientar os investidores na sua tomada de decisões. Ao final da manhã, em torno das 11 horas, a entrevista foi dada por encerrada. Gaudêncio não fez alterações significativas pois temia tomar, por inexperiência, decisões erradas e causar prejuízos. O padrinho o deixare tranquilo nesse particular, mas fazia questão de não ter essa responsabilidade.
Quando estivesse mais inteirado de tudo, poderia começar a tomar algumas decisões mais audazes. Pensou na sugestão de Joaquim sobre voltar a escola. Estava com 23 anos e iria fazer figura estranha no meio da juventude, mas isso pouco importava. Sabia que não seria o único nessa situação. Era bastante comum as pessoas descobrirem a encessidade de estudar e retornarem aos bancos escolares. Queria poder julgar melhor por seu próprio entendimento. Mesmo os profissionais mais conceituados estavam sujeitos ao erro e também a ações menos honestas. Sem fazer julgamentos, mas sendo cauteloso, preferia errar por sua própria cabeça do que pela dos outros.
Ao sair, cabeça meio tonta de tanto ouvir números e nomes, cifras e percentuais, caminhou algumas quadras e no meio do caminho encontrou um amplo terreno sem construções. Bem no meio estava armada a lona de um circo, pelo que se podia visualizar, em boa situação. Devia ser uma apresentação digna de ver. Fora assistir diversas sessões de circo em São Borja em ccomapnhia da madrinha e padrinho. A diferença era que aqui o tamanho da lona do circo dava o equivalente a pelo menos umas duas ou mesmo três das que apareciam na cidade natal. A portaria ficava próxima à rua e por toda parte cartazes anunciavam os horários das sessões e os preços. Decidiu almoçar e depois assistir a sessão da tarde. Provavelmente estaria cheio de crianças e adolescents, mas isso não importava. Tinha quase certeza que nesse horário seria mesmo mais divertido.
Encontrou um restaurante a la carte nas proximidades e almoçou. O cardápio constava de uma feijoada e isso lhe atiçou o apetite. Gostava do prato, frequentemente preparado por Maria Conceição, sua mãe nos anos antecedents. O odor vinha da cozinha próxima até as narinas de quem passava na porta. Sentou-se e fez o pedido. Em pouco chegou uma generosa terrina cheia de feijão com os tipos de carne próprioss do prato. Em pequena travessa veio arroz, farinha de mandioca e salada. Era comida suficiente para satisfazer alguém com fome de leão. Certamente haveria sobras a recolher após deixá-lo satisfeito.
Ao sair do restaurante, caminhou até uma praça que ficava perto, sentou um pouco na sombra esperando a hora de ir tomar seu lugar no circo. Alguns minutos antes foi até a bilheteria, adquiriu o ingresso e foi ao local de acesso. Entregou o bilhete e entrou, encontando um lugar em uma cadeira, lugar mais confortável que havia adquirido. Um toca discos estava rodando um LP de Teixeirinha. No picadeiro dois palhaços faziam evoluções, contavam piadas e aprontavam estrepolias diversas, mantendo os assistentes já sentados entretidos com suas ações.
A sessão foi deveras divertida. Nos momentos das apresentações de trapézio os peitos se comprimiam com o receio de uma queda. A equipe era muito boa. Faziam numerous de alta complexidade. Exigiam alto grau de agilidade e força física. Os equilibristas também eram formidáveis. Os números com elefantes, com tigres e leões eram igualmente de forte emoção. O tempo passou sem perceber e ao sair do interior, Gaudêncio constatou que eram quase cinco horas. Iria para o hotel e depois sairia para jantar. Talvez aproveitasse para ir a um teatro. Ouvira dizer que uma companhia estrangeira estava se apresentando no teatro municipal. Pediria informações a respeito no hotel. Chegou e logo obteve a informação que desejava.
Depois de jantar pegou um taxi e foi até o teatro. A fila par aquisição de ingressos era um pouco grande e pensou em desistir. Enquanto esperou um pouco, decidindo o que fazer notou que a fila estava andando bem depressa e resolveu enfrentar. Alguns minutoss depois chegava ao guichê e adquriu o ingresso. O preço era alto, mas o padrinho lhe dissera que deveria tomar um “banho de cultura” para aos poucos se ajustar a sua nova posição. Entrou e aos air tinha plena convicção de que valera a pena. A peça representada era de autoria de Scheakespeare e a companhia espanhola. Ficara emocionado nas cenas mas fortes.
Na volta ao hotel viu na televisão a informação de que no dia seguinte, quarta feira á noite haveria jogo no Beira Rio. O seu Colorado iria enfrentar o Flamengo do Rio de Janeiro. Os amigos e conhecidos o chamariam de bobo se contasse não ter ido assistir ao jogo, estando na capital. Procurou se informar sobre a disponibilidade de ingressos e lhe foi informado que era possível adquiri-los ali perto em uma agência conveniada. Teria apenas que esperar a manhã seguinte quando o local abrisse o expediente. Subiu para dormir e descansou das andanças do dia. Não fizera nenhum esforço, mas rira a valer no circo e pouco antes no teatro for a levado aos extremos da emoção. Isso deixava uma leve lassidão aos membros, prevendo por isso uma boa noite de sono.



 Guaiba, ao fundo Porto Alegre.
Outro ângulo, mais abrangente do Guaiba.

 
Na manhã de quarta feira foi comprar sua entrada para assistir ao jogo da noite e depois foi de taxi até as margens do rio Guaiba. Andou de canoa durante algum tempo, sentindo o balanço da água, depois caminhou ao longo da margem e encontrou um local meio ao ar livre onde podia comer peixe frito. Sentou-se e pediu uma porção. Depois pediu uma segunda e mais uma Terceira. Gostava muito de peixe e como não estava comenda nada além disso, a carne leve não lhe pareceu excessive. Depois de satisfeito, iniciou o retorno, caminhando. Pensou ser possível voltar a pé, mas chegou o momento em que cansou e não queria chegar de pernas moles ao estádio para o jogo. Fez sinal a um taxi e voltou ao hotel. Vestiu uma camisa do time do coração, uma calça leve com calçado combinando. Jantou mais cedo e foi para o estádio.
Com o ingresso na mão chegou ao portão de entrada e logo estava no interior. Levava consigo a filmadora e a camera fotográfica. Mostraria imagens do jogo para provar que não era conversa sua quando contasse ter assistido ao jogo. Sentou-se em um lugar que considerou adequado. Faltava ainda pouco mais de uma hora para o incício da partida, mas as arquibancadas estavam bastante ocupadas. Alguns setores estavam ainda vazios, mas os que chegavam primeiro escolhiam os lugares considerados melhores para assistir o espetáculo. Os últimos teriam que se contentar com o que restasse livre.
Gaudencio se prevenira com uma garrafa de água e alguns biscoitos para o caso de a fome atacar. O jogo começou. Era decisive no Campeonato Nacional daquele ano e os dois times lutavam pela vitória. O placar não sofreu movimentação até o minute final do primeiro tempo. O juiz apitou e encerrou o jogo. Restava esperar pelo segundo tempo para haver uma decisão. No interval foram trocadas algumas palavras com os circundantes. Ao saberem de onde ele era, lhe deram boas vindas e quiseram que participasse da torcida organizada. Prometeu pensar no assunto. Não estava interessado em arrumar compromissos que não saberia se teria como honrar. Quando o cronômetro indicava 43 minutos do segundo tempo ainda estava em 0x0. Nesse momento uma falta cometida por um zagueiro do Flamengo nas proximidades da área e o juiz marcou. 
A barreira foi formada, os jogadores se postaram para a continuação da jogada após a cobrança da falta. Mas o encarregado da cobrança foi perfeito em sua tarefa. Mandou a bola no canto esquerdo do goleiro, naquele lugarzinho que dizem ser o dormitório da coruja e a assistência explodiu em delírio. Colorado estava à frente no marcador: 1 x 0. Houve os acréscimos e o jogo foi encerrado aos 49 minutos do segundo tempo. A vitória fora suada mas valera a pena. Pouco importava ganhar de 1, 2 ou mais. Bastava ganhar o jogo e isso havia ocorrido. A volta para o hotel foi demorada devido à grande movimentação de pessoas na rua. 
 
         No outro dia voltou ao escritório dos agentes financeiros para saber se tudo estava em conformidade com o que ficara combinado.

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