Raízes do Piaui
Terminei de ler o livro que leva o título acima, de autoria do amigo Adrião Neto. De acordo com o próprio autor, é um Pararomance. Em suas palavras define esse gênero como um misto de história com ficção. É realmente isso. O interessante é que ele é provido de uma habilidade tal que entretece os fatos históricos com os ficcionais de forma a tornar quase impossível separar uma da outra. Não houvesse as observações e esclarecimentos prévios feitos por Adrião, alguém menos avisado tomaria o livro como história pura, embora não exista uma cronologia exata dos fatos, ou então veria o todo como uma ficção.
É possível entrever um intenso trabalho de pesquisa em documentos e relatos da época do Brasil colônia, principalmente abrangendo o final do século XVII até a independência na segunda década do XVIX. Relata com realismo incomparável a conquista do território do atual estado do Piaui pelos colonizadores portugueses. A atrocidade no trato com os indígenas, sistematicamente trucidados, escravizados ou submetidos à cristianização forçada. Tais fatos provocaram um efeito de rebelião sob a liderança de Mandu Ladino. Alfabetizado e batizado depois de ver sua família e demais membros da tribo serem todos aniquilados sem a menor consideração. Num momento de rebeldia, matou com uma paulada o padre jesuita encarregado de sua educação e preparação para ser enviado a um seminário onde receberia a ordem sacerdotal.
Um lento trabalho de contato e convencimento levou um grande contingente de populações nativas a rebelião, causando sérios problemas aos fazendeiros e autoridades. Matavam, saqueava e incendiavam as propriedades, como forma de vingar as sevícias que vitimaram seus antepassados. Ao final de oito anos de intensas lutas, finalmente foram derrotados e os sobreviventes submetidos ao aldeamento forçado.
Os padres jesuítas serviram em grande parte aos intentos dos conquistadores, convencendo os índios com promessas que frequentemente eram quebradas pelos fazendeiros e autoridades. Uma tentativa de união dos aldeamentos do norte/nordeste aos demais existentes ao longo do território brasileiro até os Sete Povos das Missões no Rio Grande do Sul. O Marquês de Pombal foi o ministro do reino português responsável pela expulsão da Companhia de Jesus do território português e suas colônias.
Um grupo de jesuítas ambiciosos usaram de meios ilícitos para serem considerados como herdeiros de um grande proprietário de terras, de modo que transformaram a Companhia de Jesus de grande parte do atual território do Piaui. Com a expulsão pelo Marquês de Pombal, toda essa propriedade reverteu para a corte portuguesa.
A complementação da independência do Brasil ocorreu na Batalha do Jenipapo, onde foi decidida a independência da província do Piaui e sua adesão ao império do Brasil. São de autoria de Adrião Neto várias iniciativas para valorizar e tornar essa batalha, bem como os personagens centrais em figuras importantes na história do Piaui.
Falando de Adrião, é preciso dizer que se trata de alguém com vastíssimo cabedal cultural, tanto a nível de literatura, história e diversas vertentes culturais. Seria longo demais citar um a um os comentários tecidos sobre seu trabalho de literatos de todos os cantos do país, inclusive do exterior. Viajou o mundo inteiro, trazendo pois em sua bagagem um vasto conhecimento internacional. É invejável sua vasta obra literária.
Realmente vale a pena ler seus livros. Por ora li esse e o outro com o título Parangolé, sobre o qual teci comentários em artigo anterior. Espero futuramente ter ocasião de ler outras obras de tão laborioso autor.
Curitiba, 04 de agosto de 2015.
Décio Adams
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